Os irmãos que perderam os paisgreen bets 3+tsunami e criaram projeto que construirá escola no Brasil:green bets 3+

Família Forkangreen bets 3+estaçãogreen bets 3+trem

Crédito, Gandys London

Legenda da foto, Rob (de pé) e Paul (de camisa verde)green bets 3+uma das estações por onde passaram na Índia, com a mãe Sandra e os irmãos Mattie e Rosie

Mas "nunca tinha imaginado que seria pego por um, que sentiria a forçagreen bets 3+um, até aquele dia", diz ele,green bets 3+entrevista à BBC News Brasil 15 anos depois do desastregreen bets 3+que diz pensar "todos os dias", ainda com "dor".

Ele e o irmão assistiram juntos uma grande "muralha d'água" atingir o resort onde estavam, destruir as janelas do quarto e interrompergreen bets 3+forma trágica a viagem que haviam começado quatro anos antes com a família.

Kevin e Sandra Forkan, o pai e a mãe deles, foram identificados três meses depois entre os cercagreen bets 3+230 mil mortos registradosgreen bets 3+14 países banhados pelo Oceano Índico.

Paul e Rob, assim como Mattie e Rosie, os irmãos mais novos, sofreram ferimentos leves e voltaram para o Reino Unido com a ajuda da embaixada britânica.

Mas esse não foi o fim da história.

Inspirados na jornada que viveram, anos depois, Paul e Rob idealizaram um projeto para transformar a realidadegreen bets 3+órfãos egreen bets 3+outras crianças pelo mundo por meio da educação, investindo na construçãogreen bets 3+escolas.

A iniciativa foi chamada de Orphans for Orphans (ou,green bets 3+português, De órfãos para órfãos) e é apresentada como homenagem aos pais. A intenção, diz Paul, é "abrir o máximo possívelgreen bets 3+escolas".

No roteiro que eles traçaram até agora, uma no Sri Lanka e outra no Malauí já viraram realidade. Mais duas abrirão as portas este ano: no Nepal e no Brasil. Já os próximos passos deverão incluir a Índia, o lugar onde começou toda essa história.

Paul Forkan, que perdeu os paisgreen bets 3+um tsunami e criou projeto com o irmão, depois disso, para ajudar crianças pelo mundo

Crédito, Renata Moura / BBC News Brasil

Legenda da foto, "Nós passamos por muita dor. Mas não ficamos parados. Nós ficamos mais fortes", diz Paul, maisgreen bets 3+uma década após o tsunami

A jornada até o tsunami

O ano era 2000. Paul tinha 11 anos e chegou com a família para morargreen bets 3+Goa, o menor estado da Índia.

A mudança aconteceu depoisgreen bets 3+passarem "o melhor Natalgreen bets 3+todos" no país egreen bets 3+terem decidido vender o que tinham no Reino Unido para voltar,green bets 3+uma nova jornada que teria esse estado como base, mas que também os levaria a outros destinos.

Foi um períodogreen bets 3+que o cheirogreen bets 3+tempero, misturado com incensos e a fumaçagreen bets 3+fogão das casas, eram "adorados" pelo menino. Mas era das pessoas que ele mais gostava. É que "muitas viviam com pouco e pareciam felizes".

E lá também tinha o somgreen bets 3+tuk tuk, o triciclo que transporta passageiros e que cobre parte do seu rosto, com o retrovisor,green bets 3+uma fotogreen bets 3+2001 onde a mãe sorri, os irmãos posam e o pai estava, como sempre, por trás da câmera.

Familia Forkan na Índia, posa para foto junto a um Tuk Tuk, espéciegreen bets 3+triciclo usado como meiogreen bets 3+transporte

Crédito, Gandys London

Legenda da foto, Os irmãos com a mãegreen bets 3+Goa, estado indiano escolhido como principal base deles na viagem que durou pouco maisgreen bets 3+quatro anos

No quarto ano dessa jornada,green bets 3+23green bets 3+dezembrogreen bets 3+2004, a família desembarcou na praiagreen bets 3+Waligama, no Sri Lanka, um lugar onde encontraram águas cristalinas bem ao lado da Índia e que haviam escolhido como o destinogreen bets 3+mais um Natal reunidos.

Os dias - na memóriagreen bets 3+Paul - foram "completamente surreais".

"A cidade estava movimentada e cheiagreen bets 3+vida", com gente vendendo peixe e outras coisas no mercado, ou andando pelas ruas com roupagreen bets 3+praia egreen bets 3+meio, mais uma vez, ao barulho dos tuk tuks.

Na manhã do dia 26, pouco restaria desse cenário. A cidade foi uma das atingidas por ondas que, segundo estudos divulgados na época, chegaram a alcançar entre três e 11 metrosgreen bets 3+alturagreen bets 3+algumas áreas do país.

Paul e Rob dividiam o mesmo quarto e se viram dentrogreen bets 3+uma espéciegreen bets 3+"redemoinho".

Escapando com vida

Eles conseguiram sair do local empurrando a porta e, com a ajudagreen bets 3+barrasgreen bets 3+ferro, escalaram até o telhado, o lugar mais alto que encontraramgreen bets 3+buscagreen bets 3+refúgio.

Rosie e Mattie, que tinham oito e 11 anos, foram salvos pelos pais.

"Eles sacrificaram as próprias vidas para salvá-los", diz Paul.

"Nós encontramos meu irmão agarrado a um coqueiro e a minha irmãzinha seis horas depois,green bets 3+um albergue". Ela havia sido localizada por surfistas tambémgreen bets 3+uma árvore e contou que foi retirada do quarto pelos pais.

O casal, depois disso, teria sido arrastado pela água.

Rob e Paul chegaram a procurá-los debaixo dos escombros, mas por onde passavam só encontravam gentegreen bets 3+choque, aos prantos, e outros corpos, segundo descrevem no livro Tsunami Kids (Crianças do tsunami,green bets 3+tradução livre), que assinam com o escritor britânico Nick Harding.

Os irmãos foram retirados do Sri Lanka e voltaram para casa com a ajuda da embaixada britânica. Joanne, a irmãgreen bets 3+19 anos que havia se juntado a eles no Natal, no momento do tsunami voavagreen bets 3+volta para o Reino Unido, onde Marie, a irmãgreen bets 3+22, já estava.

Encarando a morte

"Eu fiquei meses pensando que meu pai e minha mãe iam voltar. Porque eles não podiam nos deixar. Eram tudo para a gente", disse Paul à BBC News Brasil. Na última vezgreen bets 3+que falou com eles - no Natal - se despediu com "boa noite".

Em vezgreen bets 3+lembrar a morte deles, no dia do funeral, os irmãos decidiram lembrar a vida, segundo descrevem no livro. "Eles não iam querer ver ninguém triste."

Para a cerimônia, eles decidiram então não vestir preto e contam que houve lágrimas, mas também sorrisos.

Uma das músicas que ouviram no dia foi Always Look on the Bright Side of Life, ou "Sempre olhe para o lado bom da vida", do grupogreen bets 3+comédia britânico Monty Python - uma das favoritasgreen bets 3+Kevin.

O poema Footprints in the Sand, ou Pegadas na Areia, cuja autoria é atribuída a Margaret Fishback Powers, foi lido por Marie.

O verso "era sobre alguém que descreve a própria vida como uma jornada retratada por pegadas na praia".

'Seguindogreen bets 3+frente'

"Meus pais sempre diziam que se você cairgreen bets 3+bicicleta, não deve ficar só reclamando. Você deve subir nelagreen bets 3+novo e seguirgreen bets 3+frente", diz Paul, agora com 29 anos.

"Foi mais ou menos isso que o tsunami fez com a gente. Nós passamos por muita dor, por um trauma enorme. Mas não ficamos parados. Nós ficamos mais fortes."

O café onde ele conta essa história à BBC News Brasil fica a poucos metrosgreen bets 3+uma das três lojas que ele e Rob abriramgreen bets 3+Londres para ajudar a financiar o projeto das escolas.

Este chega ao Brasil e ao Nepalgreen bets 3+2019 - após ter fincado bandeira no Sri Lanka e na África.

Ele foi idealizado sete anos depois do tsunami, quando, após viajarem separadamente pelo mundo, os irmãos se reencontraram e Rob apresentou a ideia a Paul.

A proposta era eles criarem uma empresa para fazer chinelos, o tipogreen bets 3+calçado que costumavam usar "na estrada".

Paul e Rob Forkan segurando o primeiro pargreen bets 3+chinelos que criaram para a Gandys. Foto tiradagreen bets 3+2012

Crédito, Gandys London

Legenda da foto, Cercagreen bets 3+sete anos após tsunami, irmãos tiveram a ideiagreen bets 3+criar a Gandys para ajudar órfãos e outras crianças

Os produtos nasceram sob a marca Gandys, cujo nome foi originalmente inspirado no ativista indiano Mahatma Gandhi, que lutou pela independência do país e pelos direitos dos pobres indianos - normalmente calçado com chinelos.

A marca se popularizou no Reino Unido junto com a históriagreen bets 3+vida deles. A ideia, que colocaramgreen bets 3+prática, era que as vendas ajudassem a financiar a construção do que chamamgreen bets 3+kids campus no Sri Lanka e os demais que construíssem.

Eles já atenderamgreen bets 3+média 800 crianças no Sri Lanka. Na unidade que funciona desde 2016 no Malauí, país africano que está entre os mais pobres do mundo, foram cercagreen bets 3+200 até agora.

O campus é uma casa onde crianças órfãs ou não têm aulasgreen bets 3+reforço, cursos profissionalizantes, estudam informática e inglês, praticam esportes, comem e recebem atendimento médico básico.

"Tudo isso funciona como incentivo para os pais não fazerem as crianças trabalharem, para que mantenham elas na escola, já que não precisam gastar com a alimentação delas nem elas precisam procurar trabalho para comprar a própria comida", diz Paul.

Ele conta que 10% do lucro da marca - que hoje também inclui roupas e acessórios - são destinados à fundação que criaram para investir no projeto. "100% dos recursos da fundação vão para a iniciativa", diz.

O montante, segundo Paul, também inclui doações que recebemgreen bets 3+empresas e pessoas físicas, principalmente britânicas, e, sobretudo, a receitagreen bets 3+palestras que fazem para clientes corporativos com liçõesgreen bets 3+como superar adversidades.

Riogreen bets 3+Janeiro

Imagem mostra crianças tendo aula dentro do Project Favela, do Riogreen bets 3+Janeiro

Crédito, Milene Fernandes / Project Favela

Legenda da foto, No Brasil, irmãos estão construindo casa permanente para o Project Favela, que atende criançasgreen bets 3+comunidade do Riogreen bets 3+Janeiro

A ideiagreen bets 3+construir uma das escolas no Brasil surgiugreen bets 3+uma parceria com a equipe britânicagreen bets 3+Fórmula 1 McLaren, que teve o brasileiro Ayrton Senna entre os pilotos mais famosos e chegou a estampar a marca dos irmãosgreen bets 3+peças dos carros.

São Paulo, segundo Paul, seria inicialmente a escolha do projeto, mas houve dificuldadesgreen bets 3+contato com instituições locais.

A necessidadegreen bets 3+comunicaçãogreen bets 3+inglês foi apontada como barreira.

A saída que esperavam foi então encontrada no Riogreen bets 3+Janeiro,green bets 3+um projeto tocado desde 2010 pelo americano Scott Miller - com aulas e outras atividades gratuitas oferecidas a crianças, com a ajudagreen bets 3+voluntários. É o chamado Project Favela.

"Nós estamos construindo uma sede permanente para eles e vamos fornecer recursos para que as crianças tenham alimentação no local e atendimento básicogreen bets 3+saúde (um sistema semelhante ao do Sri Lanka e do Malauí)", diz Paul.

"A intenção é que as pessoas do projeto não precisem mais se preocupar com 'onde vão arrumar o dinheiro' nem com o futuro das atividades. Elas vão poder focar simplesmente no bem-estar das crianças egreen bets 3+como deixar o projeto melhor."

Destino: comunidade Tabajaras

A casa onde ele e o irmão depositam suas libras ganha formagreen bets 3+um terreno na comunidade Tabajaras, um morrogreen bets 3+Copacabana onde moram "pessoasgreen bets 3+situaçãogreen bets 3+vulnerabilidade", segundo descrição da prefeitura.

A área abriga o Project Favela atualmentegreen bets 3+um imóvel alugado.

Criança desenhando um planeta,green bets 3+atividade realizada pelo Project Favela

Crédito, Milene Fernandes / Project Favela

Legenda da foto, "As crianças têm o sonhogreen bets 3+entrar na universidade e queremos levá-las até lá", diz Scott Miller, fundador do Project Favela

"Esse investimento muda completamente o jogo para a gente", diz à BBC News Brasil o idealizador da iniciativa, Scott Miller.

Um dos planos, segundo ele, é buscar o reconhecimento oficial da escola como instituiçãogreen bets 3+ensino junto às autoridades. Ter um endereço próprio era um requisito.

"Nosso foco é ser uma fábricagreen bets 3+crianças que vão entrargreen bets 3+universidades federais. Nós queremos estar ao lado delas e prepará-las até o vestibular, oferecendo educação gratuita dentro da comunidade", frisa o americano.

O espaço que o projeto deverá ocupar a partirgreen bets 3+julho, quando estimam que a obra estará pronta, é quase quatro vezes maior que o atual.

Nele estão sendo construídas quatro salasgreen bets 3+aula, salagreen bets 3+informática, espaço para apresentaçõesgreen bets 3+teatro, música, dança e capoeira, banheiros, jardim e refeitório.

Canteirogreen bets 3+obras da nova sede do Project Favela, no Rio

Crédito, Project Favela

Legenda da foto, Canteirogreen bets 3+obrasgreen bets 3+nova sedegreen bets 3+projeto socialgreen bets 3+Tabajaras, Copacabana: espaço para crianças será quase quatro vezes maior

O projeto atende 43 criançasgreen bets 3+6 a 12 anos - estudantesgreen bets 3+escolas públicas ou que ainda estão fora da escola regular.

A função que cumpre, segundo Miller, vai alémgreen bets 3+oferecer simples aulasgreen bets 3+reforço. "Algumas dessas crianças chegam sem ter níveis mínimosgreen bets 3+leitura, nem saber operações básicas, como multiplicar e dividir. Nós precisamos ensinar tudo."

O métodogreen bets 3+ensino é "desenhado e redesenhado" por ele e por outros educadores americanos.

Ensinando 'fazedores'

Hoje, o programa inclui Matemática, Geografia, Ciências, História, Redação, Leitura, e lições práticasgreen bets 3+Físicagreen bets 3+um módulo chamado fazedores. As aulasgreen bets 3+português ganharam prioridade sobre o inglês, dadas, segundo ele, as necessidades mais urgentes dos alunos.

Crianças tendo aulas com mapas, dentro do project Favela, no Riogreen bets 3+Janeiro

Crédito, Milene Fernandes / Project Favela

Legenda da foto, Aulasgreen bets 3+geografia estão entre as que o projeto no Riogreen bets 3+Janeiro oferece a crianças brasileiras

O programa envolve ainda atividades como futebol e artes marciais abertas à comunidade, assim como ioga e meditação - um retrato parecido ao que Paul e Rob encontraram na parte da infância vivida na Índia.

Irmãos Forkan ao ladogreen bets 3+um trem. Os quatro sobreviveram a um tsunamigreen bets 3+2004 no Sri Lanka

Crédito, Gandys London

Legenda da foto, Irmãos Forkangreen bets 3+viagemgreen bets 3+Mumbai para Goa, na Índia,green bets 3+2001: época é descrita como "incrível"

Outras histórias

Atualmente os voluntários da iniciativa são da Inglaterra, Itália, França, Colômbia, Estados Unidos e do Brasil - a carioca Milene Fernandes.

"É uma escola americana com voluntários reais, que preparam as aulas, ensinam, limpam a escola, levam as crianças para conhecer a cidade e compartilham suas experiênciasgreen bets 3+vida", diz ela.

Miller criou o projeto há cercagreen bets 3+dez anos, após viajar ao Brasil e perceber carências na área.

O trabalho começou na Rocinha, mas acabou migrando para Tabajaras por conta da violência.

"Nós ficamos na Rocinha por oito anos. Construímos uma escola, crescemos, fomos para uma maior e depoisgreen bets 3+novo, mas o prédio acabou cravadogreen bets 3+balas. Muitas famílias que moravam lá se mudaram."

O projeto está na nova comunidade desde fevereirogreen bets 3+2018.

A maioria das crianças que atende vive sem o paigreen bets 3+casa. É criada pelas mães, por avós ou tios.

"Eu trabalheigreen bets 3+várias ONGs no Rio, conheci as comunidades e vi quegreen bets 3+todas elas têm crianças que querem entrar na universidade e que querem ser médicas, engenheiras, jornalistas... Elas têm esse sonho, e nós queremos ser um caminho para que cheguem até lá", diz ele. "As crianças têm fomegreen bets 3+aprender. Elas vêm para estudar, haja chuva, um calorgreen bets 3+40 graus ou bala."

Imagem mostra prédio onde vai funcionar a nova sede do project Favela, no Riogreen bets 3+Janeiro

Crédito, Project Favela

Legenda da foto, Imagem feitagreen bets 3+abril mostra andamento da obragreen bets 3+escolagreen bets 3+que britânicos investem no Rio: intenção é inaugurar espaçogreen bets 3+julho

'Melhores lembranças'

Ainda a quilômetrosgreen bets 3+distância, os irmãos ingleses se preparam para viajar pela primeira vez ao Brasil para inaugurar a casa do projeto na comunidade.

Sentado no cafégreen bets 3+Londres, Paul aponta para a imagem no forro do casaco que veste - uma das peças que criou com o irmão para as lojas - e explica:

"Esse é um mapa da Índia", diz. "Algumas pessoas talvez olhem e pensem que é só um mapa. Mas não é só isso. É um mapagreen bets 3+um lugar muito especial para nós, onde estão todas as nossas melhores lembranças."

No braço do casaco, ele aponta para a marca Gandys, desenhada por Mattie. E continua:

"Nesse A nós pusemos uma onda. É a onda do tsunami."

"O A representa superar adversidades". E o slogan que escolheram diz: "não apenas exista".

Os outros irmãos, segundo ele, "seguiram os próprios sonhos".

Línea

green bets 3+ Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube green bets 3+ ? Inscreva-se no nosso canal!