'Eu me divorciei aos 27 anos e os homens da minha religião me rejeitam':

E outras pessoas reforçavam esse sentimento. Minha avóLondres me disse que eu deveria ter me esforçado maismeu casamento, mesmo depoissaber o que havia acontecido.

A famíliameu pai na Índia também deixou bem claradecepção. Eu havia voltado para a casa dos meus pais, e isso era uma desonra para eles. Meus pais me apoiaram 100%, mas eu senti que os havia decepcionado.

Durante cinco anos, eu praticamente não saícasa, mas,2013, comecei a buscar um novo relacionamento. Quando perguntava às pessoas se elas podiam me ajudar a encontrar um homem adequado para mim, as respostas eram sempre positivas.

Primeiro, vinham as perguntas habituais sobre minha idade, onde vivia e com o que havia trabalhado, mas, no momentoque comentava que era divorciada, a expressãoseus rostos mudava. Era um olhar que dizia "não podemos te ajudar". "Nós te avisaremos se soubermosalguma coisa", falavam.

'Os homens divorciados são os únicos adequados para você'

Meu casamento foicerta forma arranjado. As pessoas me diziam que estava ficando velha demais e me pressionavam a casar, por isso, pedi a um temploLondres que me apresentasse a alguém.

Depoismeu divórcio, quando comecei a buscar um novo marido, fui a outro templo para me registrarseu livro matrimonial. Sabia que só me apresentariam a pessoas da mesma casta, ainda que isso não fosse importante para mim.

O que eu não sabia é que, por ser divorciada, só me apresentariam a homens que também haviam se divorciado. Quando o voluntário olhou o formulário que eu havia preenchido, ele me disse: "Aqui há dois homens divorciados, eles são os únicos adequados para você".

Mas,ao menos dois templos, eu havia visto homens divorciados serem apresentados a mulheres que não haviam se casado antes.

Por que, então, mulheres divorciadas não podiam ser apresentadas a homens que nunca haviam se casado? É como se os homens nunca fossem responsáveis por um divórcio. A culpa é sempre das mulheres.

E, quando pedi ao responsável pelo serviço matrimonial que me explicasse isso, ele disse que não havia sido uma decisão- eram os homensbuscauma noiva e seus pais que diziam não querer uma divorciada.

"Eles não vão aceitar uma divorciada, porque isso não deveria acontecer na comunidade sikh entre quem segue a religião", disse.

Divórcio não é uma questão tão importante para os jovens

Mas é um fato que os sikh se divorciam, sim. Segundo os registros2018, 4% dos sikh do Reino Unido são divorciados e 1% são separados. Mas tenho certezaque muitos divorciados dizem que são solteiros por causa deste tabu.

Isso mudará conforme ocorrerem mais divórcios. Há jovens que me disseram que não é uma questão importante para eles, mas,minha geração, há pessoas que têm uma irmã ou filha divorciada e, mesmo assim, seguem julgando quem não é dafamília.

Este é o mesmo tipogente que me diz hoje que sou muito velha para ter filhos e que será muito difícil encontrar alguém com quem me relacionar agora, porque é tarde mais para isso.

"Deveria encontrar uma pessoa qualquer e se casar", me dizem.

Com 38 anosidade, não sou velha demais para ter filhos. Isso é apenas mais um preconceito.

Quando minha mãe perguntou a um dos filhosuma amiga se ele conhecia alguém para mim, ele nos disse que eu sou como um "carro batido".

Sei que facilito minha vida ao buscar não apenas um homem sikh, mas um que use turbante. Há mais22 mil sikhs na região do meu templo, então, provavelmente 11 mil são homens. Apenas uma pequena parte deles está na faixa etária adequada e não estão casados - e muitos destes não usam turbante.

Mas, para mim, usar um turbante é importante, assim como a fé sikh, que diz que homens e mulheres são iguais e não deveriam julgar uns aos outros.

Não me interessam homens que só estãobuscadiversão, mas também não quero aqueles que buscam uma empregada e não uma esposa e perguntam "você sabe cozinhar?" no primeiro encontro. Sou uma pessoa independente que deseja ter um parceiro.

No mês passado, fui apresentada a um homem por um amigo. E a história se repetiu. Ele disse que não estava interessadouma divorciada. Estava na casa dos 40 anos e esperava encontrar uma mulher que não tivesse um passado amoroso.

Depoisconhecer cerca40 homens diferentes nos últimos dez anos, comecei a considerar a possibilidadeque meu parceiro venha a ser um homem sikh que não use turbante ou mesmo um que não seja sikh. Algumas amigas deram esse passo.

Ao contar minha história, espero que ajude a acabarvez com esse estigma que existe sobre as mulheres divorciadas e anime outras a falar sobre o assunto.

Se há mulheres presascasamentos abusivos só pelo tabu do divórcio, insisto que elas devem deixar seus maridos. Somos seres humanos e merecemos ser tratadas como tais.

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