O que podemos aprender com os povos mais isolados do mundo, como a tribo que matou o americano John Chau:bets nordeste

Indígena do povo Jawara

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Integrante da tribo Jawara, que vive nas proximidades da ilha onde o americano John Allen Chau foi morto

Lições

Protegidas, mas não "demonizadas", segundo os especialistas.

Um antropólogo entrevistado pela BBC News disse que há o riscobets nordestea morte do americano criar a impressãobets nordesteque todos esses povos são "cruéis, brutos e violentos", ebets nordestefazer com que outros aspectos deixembets nordesteser considerados.

Em vezbets nordestedemonizar esses povos, todos poderíamos aprender algo com eles, diz o antropólogo. Ele argumenta que princípios e filosofias que seguem podem revelar algumas lições para o "mundo desenvolvido".

A seguir, ele apresenta algumas dessas lições:

Rahuenicha, um xamã da tribo piaroa, atravessando um rio.

Crédito, AFP

Legenda da foto, Os Piaroa não têm sensobets nordestepropriedade ou competição. São como uma "sociedadebets nordesteiguais"

Paz e igualdade como lema

O povo Piaroa, com maisbets nordeste14 mil habitantes, vive perto do rio Orinoco, no Estadobets nordesteAmazonas, na Venezuela.

Eles vivembets nordestecompleta igualdade ebets nordesteforma pacífica.

Um dos segredos, segundo o especialista, é a ausênciabets nordestequalquer formabets nordestegoverno, lideranças ou hierarquias.

Vivem comobets nordesteuma 'sociedadebets nordesteiguais'bets nordesteque existe apenas o indivíduo ebets nordestevontadebets nordestefazer o que quer.

Os Piaroa também rejeitam a violência e não castigam fisicamente as crianças da comunidade.

Eles consideram que a paz é alcançada eliminando-se ideias como propriedade, competição, vaidade e ganância. Nesse contexto, ninguém da tribo pratica esportes nem é dono, por exemplo,bets nordesteum pedaçobets nordesteterra.

Um estímulo que existe é para as pessoas aprenderem umas com as outras, independentebets nordesteserem ou não idosas.

Para eles, a ideia do indivíduo é fundamental e isso não tem a ver com estimular o egoísmo. Cada indivíduo, acreditam, deve escolher o que fazer e como. E as decisões dos outros não são julgadas.

Em um ensaio acadêmicobets nordeste1989, a professora norte-americana Joanna Overing escreve:

"Os Piaroa expressam diariamente o direitobets nordesteescolherbets nordesteforma individual e o direitobets nordesteserem livresbets nordesteuma ampla variedadebets nordesteassuntos: residência, trabalho, desenvolvimento pessoal e até o casamento".

Imagem mostra mulher integrante da tribo dos Piaroa.

Crédito, AFP

Legenda da foto, Homens e mulheres compartilham o mesmo status entre os Piaroa

Pelo fatobets nordesteser uma sociedadebets nordesteiguais, homens e mulheres compartilham o mesmo status.

"Cada mulher é dona dabets nordesteprópria fertilidade, da qual só ela é responsável: a comunidade não tem nenhum direito legal sobre seus filhos, nem seu marido, se eles se separarem", diz Overingbets nordesteseu texto.

O valor do que é diferente

Os Bayaka são uma tribobets nordestecaçadores-coletores que vive nas florestas tropicais da África Central.

Para eles, a música é uma parte centralbets nordestesua identidade e os especialistas acreditam que o modo como desfrutam dela também condiciona seu comportamento.

"As músicas que os Bayaka cantam são polifonias densas e isso significa que cada membro vai cantar uma melodia diferente, combinando-a para criar uma canção", diz Jerome Lewis, antropólogo que estuda a tribo há maisbets nordesteduas décadas.

O jeitobets nordestecada pessoa cantarbets nordesteprópria melodia, explica Lewis, reflete a grande importância que os Bayaka dão ao indivíduo. Eles também não têm líderes.

"Eles te ensinam a ser diferente e esta sociedade valoriza muito a autonomia", diz ele.

"Uma vez que as crianças começam a andar, elas são livres para decidir onde dormem e com quem se relacionam. Você não tem o direitobets nordestepedir a alguém que faça qualquer coisa por você", observa Lewis.

Mas uma vez que há líderes e todos são livres para fazer o que querem, como os Bayaka aprendem a trabalhar juntos?

A resposta está, mais uma vez, na música.

Mulheres da tribo Bayaka cantando

Crédito, Gill Conquest / Jerome Lewis

Legenda da foto, A música é uma das marcas da tribo Bayaka

"Através do seu canto, eles aprendem o jeitobets nordestecoordenarbets nordestevida cotidiana", diz o antropólogo.

"Você tem que manterbets nordesteprópria melodia enquanto outras pessoas cantam outras diferentes", observa ele.

"Para cooperar e ser eficazes juntos, é preciso fazer algo diferente. Esta é uma autonomiabets nordesteque as pessoas são muito conscientes das necessidades dos outros e do seu direitobets nordesteserem diferentes".

Proteção contra doenças

Os Yanomami são uma tribo indígena que vive nas florestas tropicais do norte do Brasil e do sul da Venezuela e que pode ajudar a entender melhor nosso próprio corpo.

Pesquisas sobre a tribo, que permaneceu isolada do mundo exterior até pelo menos 1950, forneceram novos insights sobre como a vida moderna pode estar mudando a composição do corpo humano.

Um estudobets nordeste2015 examinou uma sériebets nordesteintegrantes da tribo e revelou a mais diversa coleçãobets nordestebactérias já encontradasbets nordestepessoas, incluindo algumas que nunca haviam sido detectadasbets nordesteseres humanos,bets nordesteacordo com os cientistas.

Para eles, a conclusão foi que as dietas modernas, os antibióticos e a higiene podem reduzir a variedadebets nordestebactériasbets nordestenosso corpo.

Criança da tribo yanomami no Amazonas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Criança yanomami no Amazonas: Estudo realizado na tribo trouxe insights sobre como a vida moderna pode estar mudando a composição do corpo humano

"Talvez até mesmo uma exposição mínima a hábitos modernos (...) possa resultarbets nordesteuma drástica perda da diversidade bacteriana", disse um dos autores do estudo, José Clemente, ao jornal Toronto Star.

"A cada passo dadobets nordestedireção à ocidentalização, parece que estamos perdendo a diversidade".

O estudo também contribuiu para uma maior compreensão sobre a resistência aos antibióticos.

Durante anos, profissionais da área médica têm alertado que o uso excessivobets nordesteantibióticos torna as infecções mais difíceisbets nordestetratar, criando superbactérias resistentes aos próprios medicamentos que visam matá-las.

O estudo descobriu que os Yanomami tinham genes únicos resistentes aos antibióticos, apesarbets nordestenunca terem tomado os medicamentos.

Foi mais uma provabets nordesteque as bactériasbets nordestenosso corpo podem resistir ao tratamento mesmo antesbets nordesteterem sido expostos aos antibióticos.

Des-pa-cito…

Mark Plotkin passou 35 anos estudando como tribos remotas por todo o Amazonas usam as plantas com fins medicinais e, segundo ele, elas também poderiam nos ensinar que uma vida mais desacelerada pode ser uma vida mais feliz.

"As pessoas dessas tribos remotas não sofrembets nordesteestresse, doenças cardíacas,bets nordesteinsônia e passam mais tempo com suas famílias", diz o pesquisador.

Pesquisador Mark Plotkin com um membro da tribo Sikiy

Crédito, Mark Plotkin

Legenda da foto, O pesquisador Mark Plotkin com um membro da tribo Sikiy, na fronteira do Brasil com o Suriname

"Pode ser que não estejamos prontos para desistirbets nordestenossos iPhones e iPads e comer comida tailandesabets nordestevezbets nordestequando, mas as lições são claras: desacelere, não perca tempo se preocupando com coisas sobre as quais você já não pode fazer nada. Eu mesmo tento viver minha vida seguindo estas recomendações", comentou ele.

Plotkin, que lidera o grupobets nordestedefesa da Equipebets nordesteConservação do Amazonas, pondera, no entanto, que embora os países desenvolvidos possam aprender muito com estilosbets nordestevida mais simples, é preciso ter cautela.

"Não é necessário romantizar a ideiabets nordestecomo essas tribos remotas vivem, mas sim aprender com elas. Assim como há coisas boas que podem ser aprendidas na religião ocidental", diz ele e acrescenta:

"Assim como não devemos superestimar os indígenas, não devemos demonizar missionários como John Allen Chau."