Estudo traz novas pistas sobre sofisticada sociedade que ergueu enigmáticas estátuas gigantes da Ilhabet35Páscoa:bet35
Até então, se acreditava que essa sociedade tivesse sido destruída logo após a construção dos moais,bet35decorrênciabet35guerras e fome, causadas pela exploração excessiva dos recursos naturais.
Mas a história não foi bem assim, conforme mostram os cientistas. Eles analisaram a composição química dos resquícios das ferramentas utilizadas pelos rapanui na construção dos moais. E descobriram que as relações dessa sociedade eram complexas, uma vez que encontraram evidênciasbet35compartilhamentobet35informações e colaboração.
"Essa ideiabet35competição e colapso na Ilhabet35Páscoa pode ser exagerada", afirma o principal autor da pesquisa, o antropólogo e arqueólogo Dale Simpson Jr., da Universidadebet35Queensland. "Para mim, a organização industrial das esculturasbet35pedra é uma evidência sólidabet35que havia cooperação entre famílias e gruposbet35artesãos."
Em conversa com a BBC News Brasil, o cientista detalhou essas evidências. Basicamente, o usobet35materiais não origináriosbet35determinada região da ilha indica que havia uma troca entre diferentes grupos. Além disso, os padrõesbet35distribuiçãobet35determinados elementos mostram que havia uma organização hierárquica clara. "Nosso estudo sugere um mínimobet35supervisão sociopolítica e econômica e competição por recursos significativa entre membrosbet35cada clã", comenta Simpson.
Pesquisa
O grupobet35está há 35 anos pesquisando na Ilhabet35Páscoa – deste total, Simpson participoubet3517 anos.
O cientista lembra ainda que a análise do tamanho e da quantidade dos moais também mostra que era necessária uma sociedade complexa para a construção. A maior parte dos quase 900 moais medebet354 a 6 metrosbet35altura, e seu peso médio ébet3514 toneladas; o mais alto deles tem quase 10 mbet35altura e há uma estátua inacabada que, pronta, teria cercabet3521 metrosbet35altura.
"Os antigos rapanui tinham chefes, sacerdotes e se organizavambet35associaçõesbet35profissionais que pescavam, cultivavam o solo e esculpiam", afirma. "Era preciso um certo nívelbet35organização sociopolítica, ou não seria possível esculpir quase mil estátuas."
O trabalhobet35Simpson, Dussubieux e o restante da equipe consistiubet35analisar detalhadamente 21 das cercabet351,6 mil ferramentasbet35pedra – feitas basicamentebet35basalto – recolhidasbet35escavações arqueológicas na ilha. Na essência do trabalho, estava a ideiabet35que o estudobet35tais ferramentas poderia revelar a maneira como elas eram usadas e, consequentemente, como era a interação entre os escultores ancestrais. Além disso, trazia pistasbet35como funcionava a "indústria" rapanuibet35produçãobet35estátuas.
Dussubieux conta que, com o trabalho, foi possível descobrirbet35onde vinham as matérias-primas usadas para a fabricação dos artefatos e, então, compreender as relações entre diferentes comunidades da ilha – seriam pelo menos três pedreirasbet35basalto as fontes do material. "Como todo mundo usava o mesmo tipobet35pedra, fica claro que eles tinhambet35colaborar. É por isso que foram bem-sucedidos: eles trabalhavam juntos", argumenta Simpson.
Para Dussubieux, o estudo ainda pode oferecer insights sobre o funcionamentobet35outras sociedades, antigas ou contemporâneas. "O que acontece no mundo é cíclico. Ou seja: o que já aconteceu no passado acontecerá novamente. A maioria das pessoas não vivebet35uma pequena ilha – mas o que aprendemos sobre as pessoas e as interações no passado são muito importantes para nós agora, porque o que molda nosso mundo é como interagimos", afirma.
Segundo os cientistas, o estudo desmente a narrativa oficialbet35que os habitantes da Ilhabet35Páscoa acabaram ficando sem recursos e, portanto, entradobet35colapso.
A civilização rapanui já estava decadente quando os europeus chegaram à ilha,bet351722. Havia entre 2 mil a 3 mil rapanuis vivendo nela. Doenças europeias, escravidão e emigração para outras ilhas acabaram reduzindo drasticamente a população nativa. Quando a ilha foi anexada pelo Chile,bet351888, havia pouco maisbet35100 descendentesbet35rapanuis vivendo nela.
Outras explicações
Não faltam teorias nem para o que seriam os moais, nem para o que teria causado o desaparecimento dos rapanui.
A explicação mais aceita sobre as estátuas é abet35que seriam monumentosbet35homenagem a líderes mortos. Mas há ainda quem veja nos moais uma espéciebet35reprodução da distribuição astronômica das estrelas ou mesmo que eles funcionariam como para-raios nas constantes tempestades da ilha.
Quanto ao desaparecimento dos rapanui, muito também já se falou. Em 2016, o biólogo espanhol Valentí Rull, autor do livro La Islabet35Pascua: Una Visión Cientifica e membro do Conselho Nacionalbet35Pesquisa da Espanha, publicou um estudo no qual propunha uma reavaliação holística sobre o que teria acontecido com a sociedade rapanui.
Ele levantou todas as hipóteses correntes – o esgotamento dos recursos da ilha, a ideiabet35que eles teriam sido dizimados por doenças europeias e por tráficobet35escravos, a devastação do ecossistema – e propunha uma resposta consistente na somabet35todas elas.
"As diferentes interpretações podem ser complementares, mas não excludentes. Na última década, houve um boombet35novos estudos, e eles exigem que reconsideremos as questões climáticas, ecológicas e culturais que ali ocorreram", defendeu o cientista.
Rull lembrou que amostras sedimentares propiciaram um estudo sobre os últimos 3 mil anos do clima da ilha, demonstrando como a alternânciabet35secas com estações chuvosas pode ter influenciado nas populações. Ao mesmo tempo, análises arqueológicasbet35artefatos e restos humanos também estão cada vez mais mostrando como era essa sociedade.
Nome
Pesquisas científicas à parte, o governo chileno anunciou, no início deste mês, que deve rebatizar a Ilhabet35Páscoabet35referência ao passado ancestral do local. Assim, seguindo uma proposta apresentada por parlamentares chilenosbet352016, a ilha deve se chamar Ilha Rapa Nui.
A justificativa governamental para a mudança diz que Ilhabet35Páscoa lembra um "passadobet35invasão, saqueamento, escravidão e fimbet35sua cultura".
Rapa Nui, que significa "Ilha Grande", era o nome ancestral do local. Ilhabet35Páscoa foi o nome dado pelo explorador holandês Jakob Roggeveen (1659-1729), oficialmente o primeiro europeu a pisar na ilha – como ele chegoubet35um domingobet35Páscoa, resolveu dar-lhe este nome.