Entenda como uma anomalia no campo magnético da Terra pode atrapalharzeppelin pixbetCopa do Mundo:zeppelin pixbet

Campo magnético da Terra

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Regiãozeppelin pixbetmenor intensidade do campo magnético da Terra, situada acima do continente sulamericano, tem efeitos que podem ser sentidos a partirzeppelin pixbetcem quilômetroszeppelin pixbetaltitude

Ela foi identificada há cercazeppelin pixbetum século e, apesarzeppelin pixbetafetar o funcionamentozeppelin pixbetsatélites artificiais - com impacto econômico e humano -, a anomalia é pouco conhecida e não recebe a atenção merecida por parte da comunidade científica internacional, dizem cientistas brasileiros.

Em entrevista à BBC News Brasil, três pesquisadores do Instituto Nacionalzeppelin pixbetPesquisas Espaciais (Inpe),zeppelin pixbetSão José dos Campos (SP), se revezam para explicar o que é o fenômeno - e por que ele nos interessa. Se você gostazeppelin pixbetfutebol, vale a pena ler até o fim.

O que é?

"A Terra é envoltazeppelin pixbetum campo magnético gerado internamente no planeta e que nos protegezeppelin pixbettudo o que vem do espaço", diz o físico Antônio Lopes Padilha.

Esse campo magnético, explica Padilha, é gerado no núcleo líquido da Terra, a milhareszeppelin pixbetquilômetroszeppelin pixbetprofundidade. O núcleo é formado, basicamente, por ferro e níquel. As condições do local, onde a temperatura e a pressão são altíssimas, geram uma grande quantidadezeppelin pixbetelétrons livres que circulam constantemente.

"O movimento desses elétrons gera uma corrente elétrica e essa corrente gera o campo magnético da Terra."

O campo magnético, porém, não é igualzeppelin pixbettoda a superfície do planeta. Em algumas regiões ele é mais forte quezeppelin pixbetoutras.

Amigos assistindo a partida na TV

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Imagine se o satélitezeppelin pixbetcomunicações deixassezeppelin pixbettransmitir neste exato momento? Satélites são muito mais vulneráveis a precipitaçõeszeppelin pixbetpartículas quando passam pela Anomalia Magnética da América do Sul

"A região da Anomalia da América do Sul, historicamente chamadazeppelin pixbetAnomalia do Atlântico Sul, é a regiãozeppelin pixbetmenor intensidade do campo magnético na superfície da Terra", diz Padilha.

"Ela cobre grande parte do continente sulamericano. Sua presença acarreta alguns fenômenos, principalmente na região conhecida como ionosfera, acimazeppelin pixbet100 kmzeppelin pixbetaltitude."

As dimensões desse "buraco" variamzeppelin pixbetacordo com a altitude, explica a equipe do Inpe.

A 500 kmzeppelin pixbetaltura (órbita aproximada da Estação Espacial Internacional), a área da AMAS se expande entre -50° e 0°zeppelin pixbetlatitude geográfica e -90° e +40°zeppelin pixbetlongitude. Ou seja,zeppelin pixbetcálculo aproximado, a anomalia teriazeppelin pixbettornozeppelin pixbet90 milhõeszeppelin pixbetquilômetros quadrados.

Como somos afetados?

Periodicamente, mudanças repentinas no campo magnético do Sol provocam a liberação súbitazeppelin pixbetgrandes quantidadeszeppelin pixbetenergia. Esses fenômenos, conhecidos como explosões solares, liberam radiação eletromagnética que se propaga na velocidade da luz, chegando à Terrazeppelin pixbet8 minutos. E também aceleram partículas para fora do Sol, podendo gerar as chamadas nuvens magnéticas, ou Ejeções Coronaiszeppelin pixbetMassa (CME, na siglazeppelin pixbetinglês). A nuvem viaja pelo espaço e, às vezes, atinge a Terra.

Ali dentro há partículas - prótons e elétrons. É uma massazeppelin pixbetplasma que demora entre um e três dias para chegar à Terra e, quando chega, provoca tempestades magnéticas, levando à precipitação dessas partículas, que são altamente energéticas, sobre o planeta.

"O efeito mais bonito das tempestades magnéticas são as auroras (polares). Quando tem aurora, pode pesquisar, alguns dias antes houve uma explosão solar", explica à BBC Brasil o engenheiro eletricista e doutorzeppelin pixbetCiência Espacial Clézio Marcos De Nardin, gerente geral do Programazeppelin pixbetClima Espacial do Brasil, Embrace/INPE.

Como o campo magnético que protege a Terra dessas partículas é mais fraco na região da AMAS, quando ocorrem explosões solares, os riscoszeppelin pixbetque as partículas energéticas liberadas pelo Sol atravessem o campo magnético naquela área são muito maiores.

Resultado: satélites passando pela anomalia são bem mais afetados pelas partículas radioativas - e precisamzeppelin pixbetproteção extra.

Satélites

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Transmissões via satélite podem ser afetadas pela anomalia

"A quantidadezeppelin pixbetpartículas atingindo os satélites que estão passando na anomalia é muito maior aqui do quezeppelin pixbetqualquer outra parte do globo, excetuando as regiões das auroras", explica De Nardin.

"Sabemos, por exemplo, que os satélites austríacos são desligados quando entram na anomalia magnética e são religados quando saem na outra ponta. Isso é feito para prevenir problemas no computador dos aparelhos, porque uma partícula dessas pode danificar o computador ou mudar a atitude do satélite, levando àzeppelin pixbetperda."

Foi o que aconteceu com o satélite japonês Hitomi, explicam os pesquisadores.

"Era um satélitezeppelin pixbetraios-x, satélite astrofísico. Passou na anomalia e ali sofreu tanto bombardeamentozeppelin pixbetpartículas que se perdeu. Começou a girarzeppelin pixbetvolta do próprio eixo e se espatifou. Depois, a Agência Espacial Japonesa veio a público explicar por que havia perdido o satélite. Não levaramzeppelin pixbetconta as previsões do clima espacial, que previam a chegadazeppelin pixbetnuvem magnética, o que aumentaria a precipitaçãozeppelin pixbetpartículas na anomalia", diz De Nardin.

Até onde se sabe, para nós, humanos, a importância da anomalia magnética está associada aos riscos potenciais que ela traz para a redezeppelin pixbetsatélites do planeta - explica o cientista.

E à medida que as sociedades modernas se baseiam cada vez maiszeppelin pixbetsatélites artificiais para atividades múltiplas - comunicações, navegação, meteorologia, defesa, observação da Terra e exploração do Universo - a buscazeppelin pixbetestratégias para driblar a anomalia torna-se cada vez mais vital.

"Nos últimos dez anos, temos desenvolvido muito a previsão do clima no espaço", explica De Nardin. O programa Embrace, liderado por ele, está entre os cinco mais importantes do mundo na previsão do clima espacial.

Driblando a anomalia

Prever o clima espacial é importante para todo o planeta - mas é fundamental próximo aos polos (onde as tempestades magnéticas podem afetar os sistemaszeppelin pixbettransmissãozeppelin pixbetenergia) e na região da anomalia magnética.

Na AMAS, o que estázeppelin pixbetjogo é a grande quantidadezeppelin pixbetsatélites que circulam pela área ou são estacionários ali.

"Por exemplo, ézeppelin pixbettorno do equador geográfico que reside a maior parte dos satéliteszeppelin pixbetcomunicação e outros satélites geoestacionários meteorológicos", explica De Nardin. Proteger esses equipamentos é fundamental.

Aurora boreal
Legenda da foto, Aurora boreal ocorre após explosões solares, que porzeppelin pixbetvez geram as tempestades magnéticas. Os polos norte e sul são as regiõeszeppelin pixbetmenor intensidade do campo magnético da Terra. Em seguida, está a região da AMAS.

"Imagine ficarmos sem a previsãozeppelin pixbettornados no Golfo do México e nos EUA?"

Então, especialistaszeppelin pixbetsatélites usam três estratégias principais para "driblar" a anomalia.

"Primeiro, construir sistemas mais robustos e resistentes à precipitaçãozeppelin pixbetpartículas. Segundo, projetar computadoreszeppelin pixbetbordo que permitam ao satélite operar por mais tempo sem necessidadezeppelin pixbetcontrole, com discos internos maiores e capazeszeppelin pixbetarmazenar mais informação. E terceiro, controlar as operações para não coincidirem com tempestades magnéticas (o que é feito com base na previsão do clima espacial)", diz De Nardin.

Aviões são mais afetados na anomalia?

"Avião voa muito mais baixo, jamais chega a uma altitude dessa. Chegam a 10 ou 12 kmzeppelin pixbetaltitude no máximo - estou falando dos voos comerciais."

Ainda assim, existem estudoszeppelin pixbetandamento sobre o tema, acrescenta o físico e doutorzeppelin pixbetGeofísica Espacial Marcelo Banikzeppelin pixbetPádua.

"Há pesquisaszeppelin pixbetandamento, tentando medir os efeitos (da AMAS) sobre a aviônica. Mas não se espera encontrar variações relevantes. É normal haver uma dose maior quando se está voando, porque você está mais alto e tem menos atmosfera para te proteger. Também espera-se que as doses sejam um pouquinho acima na nossa região (sob a anomalia), nada muito impressionate, mas é o que se quer medir."

Estação Espacial

O que se sabe é que o efeito é grandezeppelin pixbetgrandes altitudes - por exemplo, na Estação Espacial Internacional.

Quando a ISS passa na região da anomalia, é comum os astronautas verem explosõeszeppelin pixbetluz, como estrelas cadentes - mesmo quando estãozeppelin pixbetolhos fechados.

"Isso não acontece apenas na anomalia, mas ali acontece mais vezes", diz Banikzeppelin pixbetPádua.

Módulozeppelin pixbettreinamento da ISS Columbus

Crédito, SPL

Legenda da foto, Durante a passagem da ISS pela região da AMAS, aumentam também os riscos associados às explosões solares

Uma possível explicação para esse fenômeno é que o nervo óptico, no fundo do olho dos astronautas, seria afetado pelas partículas precipitadas ali.

Durante a passagem da ISS pela região da AMAS, aumentam também os riscos associados às explosões solares.

Ou seja, ocorrida uma explosão solar, se o tempozeppelin pixbetchegada da nuvemzeppelin pixbetpartículas coincidir com a passagem da ISS na anomalia, as chanceszeppelin pixbetque chovam partículas sobre a estação aumentam muito. Nesse caso, a equipe da ISS temzeppelin pixbettomar cuidado redobrado, explica De Nardin.

"Há uma sala blindada na ISS para os astronautas permanecerem durante previsõeszeppelin pixbetchegadaszeppelin pixbetCME - daí a importânciazeppelin pixbetcentroszeppelin pixbetprevisão do clima espacial, como o Embrace/INPE", ele diz.

Atividades extra-veiculares são proibidas nesses períodos.

"Se houver uma atividade extra-veicular na estação espacial - ou seja, se o astronauta sair da nave para fazer reparos ou experimentos - e coincidirzeppelin pixbethaver uma tempestade magnética nesse momento, o astronauta ficará bem mais vulnerável."

De Nardin enfatiza que explosões solares - e, por consequência, tempestades magnéticas - são sempre um risco para a ISS ezeppelin pixbetequipe. Mas são bem mais perigosas quando a ISS passa na região da AMAS.

"Logo após uma explosão solar, as primeiras partículas que chegam são aquelas que foram aceleradas para fora do Sol imediatamente após a radiação. Elas são tão violentas que foram batizadaszeppelin pixbet'killing particles', ou 'partículas matadoras'."

"Elas podem cruzar a blindagem da ISS como uma faca corta a manteiga. Podem cruzar os circuitos eletrônicos, queimarzeppelin pixbetmemória, atingir os instrumentoszeppelin pixbetbordo, destruir os processadores dos computadores, ou seja, o 'cérebro' da ISS."

Brasil

De Nardin conta que, nas palestras que faz, uma pergunta comum é: que efeito a anomalia teria sobre os seres humanos - zeppelin pixbetparticular, no Brasil?

"Em princípio, a precipitaçãozeppelin pixbetpartículas não afetaria diretamente a gente aqui embaixo. Não há nenhum vínculo com câncerzeppelin pixbetpele, nada disso. Estamos falandozeppelin pixbetcoisas que são importantes acimazeppelin pixbetcem quilômetros (de altitude)."

Mas há, ao menos, um tipozeppelin pixbetimpacto possível. "Porque o cidadão comum está cada vez mais conectado ao mundozeppelin pixbettempo real. Tome como exemplo a Copa do Mundo da Rússia e imagine que a Seleção Brasileira está fazendo a disputazeppelin pixbetpênaltis do jogo final - lembra dos pênaltiszeppelin pixbetCopazeppelin pixbet1994?", diz De Nardin.

"Você gostaria que o satélitezeppelin pixbetcomunicações deixassezeppelin pixbettransmitir neste exato momento?"

"Pois é, se tiver uma tempestade magnética e ele não estiver preparado para isso, e se não houver outro satélitezeppelin pixbetbackup, isso pode ser uma realidade", conclui o pesquisador.