Brasileiro acha que artesanato é coisaaplicativoda betanopobre, diz Ronaldo Fraga:aplicativoda betano
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
aplicativoda betano BBC Brasil - Sua nova coleção traz trabalhos das bordadeiras da regiãoaplicativoda betanoBarra Longa, atingida diretamente pela tragédiaaplicativoda betanoMariana (em 2015, o rompimentoaplicativoda betanouma barragem da mineradora Samarco inundouaplicativoda betanolama diversas comunidades da cidade mineira). Há uma preocupaçãoaplicativoda betanoque esse ofício se perca nesse local? Qual seu objetivo com isso?
aplicativoda betano Ronaldo Fraga - Gerar emprego e renda com reafirmação e apropriação cultural. É isso que faz com que mantenha-se o corpo e a musculatura do saber. E mais: que estimule a geração que está por vir a enxergar isso como valor.
aplicativoda betano BBC Brasil - Mas o artesanato brasileiro é visto dessa forma pela nossa sociedade? Há algum tipoaplicativoda betanopreconceito?
aplicativoda betano Fraga - Claro. Há muito preconceito do brasileiro com nosso artesanato. O artesanato brasileiro é visto como coisaaplicativoda betanopobre, feito para comprar para ajudar gente pobre. As pessoas não têm a educação, o saber e a boa vontade para poder ter o mínimoaplicativoda betanoesforçoaplicativoda betanoenxergar a ancestralidade, a formaçãoaplicativoda betanoum povo ali. Isso é muito característicoaplicativoda betanoum país colonizado, porque eternamente vai achar uma renda europeia infinitamente mais bonita do que uma renda brasileira, quando essa renda brasileira conta a história desse povo.
Esse bordadoaplicativoda betanoBarra Lagoa por exemplo, ele veio para o Brasil através dos portugueses no século 18, nos áureos tempos (das cidades mineiras)aplicativoda betanoMariana e Ouro Preto. E Barra Lagoa era o polo dessa produção. Após essa tragédia ambiental nós corremos o riscoaplicativoda betanouma tragédia cultural porque, estigmatizadas, essas pessoas estão largando suas terras, mudandoaplicativoda betanocidade. Corremos o riscoaplicativoda betanoesse saber desaparecer. Então é preciso que as novas gerações entendam esse valor.
(...) Quando resolvi trabalhar com esse grupoaplicativoda betanoMariana, falei: não quero reportar a tinta da tragédia. A marca da tragédia já está aí, você não precisa ir até lá. Mas nós vamos falaraplicativoda betanouma população que, passada a tragédia, é estigmatizada por ter feito parte daquilo. As pessoas estão recebendo dinheiro para ir embora e deixaraplicativoda betanoterra. Por isso, o riscoaplicativoda betanoesses saberes desaparecerem é muito grande.
aplicativoda betano BBC Brasil - Você trata da moda como um vetor cultural. Mas a semanaaplicativoda betanomodaaplicativoda betanoSão Paulo também olha para o mercado. Há uma divisão entre a moda mais conceitual, artística e cultural e essa mais comercial?
aplicativoda betano Fraga - As pessoas costumam dizer: "moda é arte". E eu digo: "alto lá!". Nem sempre a moda é arte, nem sempre a gastronomia é arte, nem sempre a arquitetura é arte. Dependendendoaplicativoda betanoquem a faz ou a forma como é feita, ela pode ser arte. Mas nem é essa a questão que interessa. O que interessa é a moda ser entendida como cultura - isso é indiscutível. Então a moda que está sendo feita nas lojasaplicativoda betanodepartamento, a moda que é feita por X ou Y: o que está sendo feito ali é cultura, porque o vestir é um documento eficiente do tempo.
(...) Eaplicativoda betanoum país tão diverso como o Brasil é importante que uma semanaaplicativoda betanomoda tenha essa diversidade. Eu acharia ruim se houvesse só o aspecto comercial e acho que as novas marcas que estão entrando na SPFW têm um apelo bem comercial, mas isso também é uma cara desse tempo. Basta olhar as escolasaplicativoda betanomoda, onde você esperaria ver algo novo, (mas) acontece o contrário: é justamente ali que os alunos estão reproduzindo vitrinesaplicativoda betanolojas internacionais.
aplicativoda betano BBC Brasil - Você já fez uma coleção inspirada na Zuzu Angel, estilista que usou a moda não apenas como cultura, mas como uma formaaplicativoda betanofazer política, crítica. Hojeaplicativoda betanodia, pensando no momentoaplicativoda betanocrise que o Brasil enfrentaaplicativoda betanodiversos segmentos, inclusive o político, há espaço para essa discussão na nossa moda?
aplicativoda betano Fraga - Eu sempre defendi que o atoaplicativoda betanovestir é um ato político, tanto para quem cria como para quem veste. E as minhas coleções têm delineado uma linha trajetória política.
Nós estamos vivendo um momentoaplicativoda betanoebulição,aplicativoda betanomudança,aplicativoda betanodesenhoaplicativoda betanouma nova época, então acho quase impossível ignorar isso. E entender que não é essa política que ficaaplicativoda betanobrigaaplicativoda betanopartido não, entendeu? Temos que pensar a políticaaplicativoda betanouma forma mais ampla.
aplicativoda betano BBC Brasil - Há uma outra questão "política" no universo da moda que é o consumo exacerbado, influenciado pelas marcasaplicativoda betano aplicativoda betano fast fashion aplicativoda betano , muitas denunciadas por trabalho escravo. Você acha que isso vem sido discutido da maneira como deve na moda aqui do Brasil?
aplicativoda betano Fraga - Claro que não! E é muito difícil que seja porque a gente tem um déficitaplicativoda betanoeducação eaplicativoda betanocultura geral gigantesco. Como você vai dizer para uma menina pobreaplicativoda betano15 anos que quer um sapatoaplicativoda betanouma loja onde o par custa 20 reais e um vestidinho 30 reais que essas peças podem até não terem sido produzidas com mãoaplicativoda betanoobra escrava no Brasil, mas na Ásia? Ela quer simplesmente esse vestido com o pouco dinheiro que tem.
(...) E mais: a gente não precisaaplicativoda betanomais roupa. Se o mundo parasseaplicativoda betanoproduzir roupas, a gente teria roupa para mais 300 anos. Então é preciso que a gente compre menos eaplicativoda betanoforma mais consciente. Quanto mais se produz, mais se polui, e esse é o impacto que a gente está gerando.