Farra do Boi: mesmo proibida por lei, prática sangrenta ainda é comumesportiva apostaSanta Catarina:esportiva aposta

Rebanho no pasto

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Na Farra do Boi, animal é visto como representaçãoesportiva apostaJudas, traidoresportiva apostaCristo

'Eventos comunitários'

De acordo o historiador Walter Piazza, especialista no tema, as farras são eventos comunitários. Envolvem homens, mulheres, velhos, crianças, cachorros. Há registro histórico da Farra do Boiesportiva aposta23 cidades do litoral catarinense.

A organização da Farra do Boi pressupõe algumas etapas. O primeiro passo é fazer uma lista dos chamados "sócios". Cada um pagará o que tem no bolso para custear o prejuízo do dono do boi. Há listas apreendidas pela PM com maisesportiva aposta300 sócios.

Mas há também quem banque a Farra para ganhar o apoio e a simpatia da comunidade. De acordo com Maria Helena Machado, presidente da Comissãoesportiva apostaDireitos dos Animais da Ordem dos Advogados do Brasil/SC, alguns bois são doados para a prática por políticos, comerciantes ou mesmo por traficantes locais.

O passo seguinte é designar a "comissãoesportiva apostaembaixadores", normalmenteesportiva apostatornoesportiva apostaseis homens. Eles são os responsáveis por buscar um boi bravo e bom corredoresportiva apostafazendasesportiva apostamunicípios como Biguaçu, Antônio Carlos e Angelina. Após horasesportiva apostanegociações - por ser crime federal, o preço sobe para os farristas - é escolhido o animal e arrancado seu brincoesportiva apostaidentificação, para que o fazendeiro que o vendeu não seja descoberto, caso a polícia apareça.

O bicho então é transportado para a comunidade. Ele é sempre recebido com foguetes e buzinas durante o trajeto. Multidões aguardam o animal nos locais mais desertos. Matos, pastos, morros, praias, mangueirões. E atéesportiva apostapraças e ruas centrais das cidadezinhas do interior. A farra não cessa cedo. Às vezes atravessa a noite e a manhã.

Boi na água

Crédito, Divulgação/Ecosul

Legenda da foto, Animais vítimas da Farra do Boi muitas vezes fogemesportiva apostadireção ao mar e se afogam

Há casosesportiva apostabois que morreramesportiva apostasusto. Mas poucos têm essa sorte. Esses animais são perseguidos por horas, até a exaustão, são espancados com paus, espetos, têm olhos furados, rabos e orelhas arrancados, alguns quebram os ossos no desespero da fuga. Outros vãoesportiva apostadireção ao mar e se afogam. A diversão sangrenta persiste há quase 300 anos no Sul do Brasil.

Crueldade ou cultura?

Halem Guerra Nery, 71 anos, começou a denunciar a Farra do Boi nos anos 70, época que foi transferido do Rio Grande do Sul para Florianópolis para trabalhar na Eletrosul. Desde lá são 40 anosesportiva apostaativismo. Ele já tomou muitos chutes e pedradasesportiva apostafarristas, mas nunca recuou.

"O que chamamesportiva apostatradição é o obscurantismo. Não os vejo se preocupar com a cultura açoriana que está desaparecendo, o Pão por Deus, a Ratoeira, o Boiesportiva apostaMamão, brincadeiras saudáveis", diz, citando outras tradições dos migrantes.

O ativismo do grupo pautou o assunto no STF e favoreceu a criação da lei que criminalizou a prática. Nery, no entanto, denuncia que, embora a lei exista, ninguém a cumpre.

"E se cumprem, passam, no máximo, dois ou três diasesportiva apostaprisão e depois pagam uma cesta básica ou prestam serviço comunitário", diz. O valor da multa pode chegar a até R$1500.

Boi ferido

Crédito, Divulgação/PM

Legenda da foto, Segundo a polícia,esportiva aposta2017 houve 147 ocorrências relacionadas à Farra do Boi

Vaquejadas nordestinas e rodeios

Diferentementeesportiva apostaNery, os defensores da prática afirmam que extingui-la seria destruir parte da cultura local. Em 2007, o municípioesportiva apostaGovernador Celso Ramos chegou a aprovar legislação municipal que elevava a Farra do Boi à condiçãoesportiva apostapatrimônio cultural. A lei, no entanto, foi suspensa pelo Tribunalesportiva apostaJustiçaesportiva apostaSanta Catarina.

Debate semelhante tem acontecido no nordeste. Em novembro do ano passado, o presidente Temer (MDB) sancionou a lei que torna as vaquejadas e os rodeios patrimônios imateriais. No entanto, a lei está sendo questionada por entidadesesportiva apostadefesa aos animais no STF, que já decidiu pelo entendimento que a vaquejada é uma prática cruel.

A vaquejada acontece numa arena. Dois vaqueiros montados a cavalo tentam derrubar o boi, puxando o animal pelo rabo. O destino dos animais utilizados nas vaquejadas é o abatedouro.

Em 2016, o STF julgou uma ADI (Ação Direitaesportiva apostaInconstitucionalidade), questionando a lei cearense que regulamentava a vaquejada no estado. No entendimento dos ministros, os animais são submetidos a maus-tratos. A Corte pode manter ou mudaresportiva apostaposiçãoesportiva apostauma nova votação.

Já os rodeios haviam sido regulamentados por duas leis federaisesportiva aposta2002, que estabeleceram regras para minimizar os maus-tratos aos animais. No rodeio, vence o peão que ficar mais tempoesportiva apostacima do boi ou cavalo, que salta para o derrubar, irritado pela pressãoesportiva apostaum cinto preso aesportiva apostavirilha.