Antes dos portugueses, SP teve floresta tropical, Cerrado e mini-Pantanal:bwin app download

Legenda da foto, A BBC Brasil elaborou um mapa inédito da flora paulistana original marcada pela diversidadebwin app downloadbiomas antes da colonização | Ilustração: Leandro Lopesbwin app downloadSouza

"São Paulo era um local extraordinário porque justamente havia essa contraposiçãobwin app downloadcampos, florestas, rios produtivos e muita caça - não por acaso os índios escolheram viver aqui", afirma o pesquisador, que está finalizando um livro sobre a vegetação original da cidade.

Legenda da foto, Cerrado e araucárias eram parte da vegetação paulistana | Ilustração: Leandro Lopesbwin app downloadSouza

No linguajar botânico, São Paulo era um ecótono, ou seja, um pontobwin app downloadencontrobwin app downloaddiferentes biomas. Cardim diz que havia na cidade trechos da Mata Atlântica, vegetação característica do litoral brasileiro,bwin app downloadmatas mistasbwin app downloadaraucárias, bioma típico do Sul, e do Cerrado, formação predominante no Centro-Oeste.

Ele afirma ainda que nos cerrados paulistanos se achavam plantas do Pampa, bioma do Rio Grande do Sul, e que as várzeas dos rios Tietê e Pinheiros - os maiores da cidade - se assemelhavam ao Pantanal mato-grossense.

A localizaçãobwin app downloadSão Paulo - entre a costa e o Planalto Central brasileiro e no limite entre as zonas tropical e subtropical - favoreceu a diversidadebwin app downloadbiomas. Também contribuírambwin app downloadvariedadebwin app downloadsolos e topografia irregular (a diferença entre o ponto mais alto da zona urbanizada da cidade, a Vila Mariana, e as águas do Tietê chega a 109 metros, segundo um estudo do geógrafo Aziz Ab'Sáber).

Legenda da foto, Guarapiranga, onde há hoje uma represa, vem da união entre guará (garça) e piranga (vermelha), provável referência à espécie Eudocimus ruber | Ilustração: Leandro Lopesbwin app downloadSouza

Moldada por incêndios

Quando os primeiros exploradores portugueses venceram a Serra do Mar, encontraram na futura capital paulista três aldeias indígenas, do povo Tupiniquim.

Em Negros da terra: índios e bandeirantes nas origensbwin app downloadSão Paulo, o historiador americano John Manuel Monteiro conta que os povoados não eram fixos: conforme o solo empobrecia e a caça rareava, as comunidades buscavam outras áreas.

Segundo o botânico Ricardo Cardim, sucessivos incêndios - naturais e provocados pelos indígenas - ajudam a explicar a presençabwin app downloadcerrados na paisagem original paulistana. O fogo impedia o adensamento da vegetação e favorecia a sobrevivênciabwin app downloadárvores resistentes, com troncos grossos, típicas do bioma.

Cardim diz que os indígenas recorriam ao fogo para abrir clareiras para roças, encurralar animais na caça ou renovar a vegetação campestre. A rebrota atraía herbívoros, entre os quais cervos, que também eram caçados pelos grupos.

Legenda da foto, A extraordinária variedade da flora nativa atraía para a região um conjunto igualmente diversobwin app downloadanimais, entre os quais onças-pintadas, tucanos-de-bico-verde, micos-leões-pretos e veados-catingueiros | Ilustração: Leandro Lopesbwin app downloadSouza

Os incêndios comiam as bordas das florestas e as deixavam com formato circular - daí, segundo o botânico, o nome do bairro Capão Redondo, na zona sul da cidade. Havia muitos outros capões (do tupi kaa'pãu, ilhabwin app downloadmato) pelo território.

No início do século 17, a fauna local ainda parecia bem preservada. Segundo o pesquisador, moradores eram alertados sobre os riscosbwin app downloadcaminhar nas vias paulistanas "porque havia onças que comiam gente".

Dizia-se que várias delas moravam na serra da Cantareira e desciam até a várzea do Tietê para caçar. Há relatos sobre a presença dos felinos até na região da atual avenida Paulista, então coberta por uma floresta densa, chamada pelos indígenasbwin app downloadcaaguaçu (matagal,bwin app downloadtupi). Um trecho da antiga mata deu origem ao Parque Trianon, um dos raros locais na zona urbana que preservam a vegetação original.

Outra áreabwin app downloadmata fechada ficava no vale do Anhangabaú, no atual centro da cidade, onde índios escravizados costumavam buscar refúgio. Dessa floresta, nada restou.

Legenda da foto, | Ilustração: Leandro Lopesbwin app downloadSouza

Árvores-bairros

Cambucis e araucárias, que antes cobriam várias partes da cidade, também desapareceram. A primeira espécie, comum nas matas ciliares paulistanas, atraía antas ao frutificar e batizou um bairro da região central.

A segunda, hoje restrita à região Sul e a algumas serras do Sudeste, se espalhava por todos os biomas da cidade. Resistente a incêndios brandos e importante para a alimentação dos indígenas, que consumiambwin app downloadsemente, o pinhão, a árvore é a razão por trás do nome do bairro Pinheiros.

Outros endereços paulistanos com nomesbwin app downloadtupi dão pistas sobre a riqueza das paisagens nativas, conforme o dicionário tupi-portuguêsbwin app downloadLuiz Caldas Tibiriçá (curiosamente, também se chamava Tibiriçá o cacique da antiga aldeia Inhapuambuçu, nas imediações do atual Pateo do Colégio).

Legenda da foto, Ilustraçãobwin app downloaduma murici; hoje, segundo o botânico Cardim, o cerrado paulistano sobrevivebwin app downloadapenas três faixasbwin app downloadterra na zona oeste | Ilustração: Leandro Lopesbwin app downloadSouza

Guarapiranga, onde há hoje uma represa, vem da união entre guará (garça) e piranga (vermelha), provável referência à espécie Eudocimus ruber. M'Boi Mirim, atual estrada na zona sul, é uma possível derivaçãobwin app downloadmboia mirim, cobra pequena.

Ibirapuera pode vir da junçãobwin app downloadybyrá, árvore, e puera, sufixo que indica passado, algo "que foi" - possível menção ao charco com troncos secos (que já foram árvores) onde se criou o principal parque da cidade, drenado após o plantiobwin app downloadeucaliptos australianos.

Legenda da foto, Localizaçãobwin app downloadSão Paulo favoreceu a diversidadebwin app downloadbiomas e a presença do jerivá | Ilustração: Leandro Lopesbwin app downloadSouza

Ipiranga, cujas margens plácidas ouviram o brado retumbante, é rio vermelho - e que, como tantos outros cursos d'água paulistanos, foi canalizado conforme a cidade crescia.

O bioma paulistano mais golpeado pela urbanização foi o Cerrado, que, segundo Cardim, se estendia por boa parte da cidade atual, incluindo trechos dos bairros do Ipiranga, Bela Vista, Luz, Butantã, Vila Mariana e a região do aeroportobwin app downloadCongonhas.

Legenda da foto, Cambucis e araucárias, que antes cobriam várias partes da cidade, também desapareceram | Ilustração: Leandro Lopesbwin app downloadSouza

A formação foi descrita no fim do século 16 por um antepassado do botânico - e que, embora padre, deixou herdeiros no Brasil -, o jesuíta português Fernão Cardim. Em visita à então vilabwin app downloadPiratininga, embrião da São Paulo contemporânea, ele comparou a vegetação à do país natal.

"É terrabwin app downloadgrandes campos e muito semelhante ao sítiobwin app downloadÉvora, na boa graça, e campinas, que trazem cheiabwin app downloadvacas, que é formosurabwin app downloadver", descreveu numa carta ao superior eclesiástico. "Esta terra parece um novo Portugal", concluiu, encantado.

Hoje, segundo o botânico Cardim, o cerrado paulistano sobrevivebwin app downloadapenas três faixasbwin app downloadterra na zona oeste - duas delas na Cidade Universitária e uma no Jaguaré.

Uma boa amostra da formação original está no Parque Estadual do Juquery, no município vizinhobwin app downloadFranco da Rocha. Para Cardim, trata-se da "última joia incrustada (na região metropolitanabwin app downloadSão Paulo) que conserva o cerrado perfeito", onde se encontram espécies como pequizeiros, palmeiras macaúbas e muricis.

Legenda da foto, Mesmo que São Paulo ficasse desabitada e suas construções fossem demolidas, jamais recuperaria os biomas originais; na imagem, cambucis | Ilustração: Leandro Lopesbwin app downloadSouza

Floresta cultural

Ao longo do desenvolvimentobwin app downloadSão Paulo, as árvores nativas foram cedendo espaço não só para construções, mas também para espécies exóticas. Hoje,bwin app downloadacordo com Cardim, 90% das plantas da cidade são estrangeiras.

"Somos como aqueles cariocas que há cem anos andavambwin app downloadcartola e casacobwin app downloadpele na beira da praia porque queriam ser franceses. O paulistano, no que se refere ao paisagismo e às áreas verdes, quer ser tudo, menos brasileiro."

Por isso, diz o botânico, mesmo que São Paulo ficasse desabitada e suas construções fossem demolidas, jamais recuperaria os biomas originais.

Legenda da foto, No linguajar botânico, São Paulo era um ecótono, um pontobwin app downloadencontrobwin app downloaddiferentes biomas; acima, jabuticabeira | Ilustração: Leandro Lopesbwin app downloadSouza

Ele afirma que as antigas áreasbwin app downloadCerrado seriam sufocadas por capins estrangeiros e que não haveria mais incêndios para manter o equilíbrio do bioma.

Com o tempo, diz ele, a cidade seria tomada por uma floresta densa - "mas não uma Mata Atlântica natural, e sim uma floresta cultural, que refletiria nossas escolhas enquanto sociedade e serviria como um registro da nossa passagem por aqui".

Legenda da foto, A localizaçãobwin app downloadSão Paulo - entre a costa e o Planalto Central brasileiro e no limite entre as zonas tropical e subtropical - favoreceu a diversidadebwin app downloadbiomas | Ilustração: Leandro Lopesbwin app downloadSouza