Decreto1xbet pixTemer cria duas maiores reservas marinhas do Brasil:1xbet pix

ilha1xbet pixTrindade
Legenda da foto, Pesquisadores estudaram a cordilheira submersa entre Vitória e a ilha1xbet pixTrindade, a 1.200 km do continente; ela é composta por 30 montes submarinos1xbet pixorigem vulcânica (crédito: João Luiz Gasparini/Divulgação)

"Os limites (das unidades) poderiam ser melhores, o desenho das áreas poderia ser mais representativo e ter incorporado áreas que ficaram1xbet pixfora, mas é inegável o ganho e o avanço que tivemos hoje", afirmou.

'Floresta no fundo do mar'

Uma das reservas criadas abarca uma formação que o biólogo capixaba João Luiz Gasparini define como "uma floresta tropical no fundo do mar" – a cordilheira composta por cerca1xbet pix30 montes submarinos1xbet pixorigem vulcânica entre a cidade1xbet pixVitória e a ilha1xbet pixTrindade, a 1.200 km do continente.

A proteção da cordilheira – dona da maior variedade1xbet pixespécies que vivem1xbet pixrecifes entre todas as ilhas brasileiras – era uma demanda antiga1xbet pixpesquisadores, que a consideram essencial para a manutenção1xbet pixestoques pesqueiros1xbet pixáguas vizinhas e um dos melhores laboratórios naturais do mundo. A cadeia ganhou visibilidade global1xbet pixagosto1xbet pix2017, quando um estudo baseado na formação1xbet pixsua fauna foi capa da revista científica Nature.

Coautor do artigo, João Luiz Gasparini descreve o espanto1xbet pixsua primeira visita a Trindade,1xbet pix1995. Logo após desembarcar na ilha, diz ter encontrado numa poça1xbet pixmaré uma espécie que jamais havia sido catalogada pela ciência - um peixe azulado com uma mancha amarela no topo. "De cara percebi que existia ali um universo fantástico para ser explorado", ele diz.

Mapa batimétrico da cadeia1xbet pixmontes submarinos entre Vitória e Trindade
Legenda da foto, Cadeia1xbet pixmontes submarinos entre Vitória e a ilha1xbet pixTrindade guarda "floresta tropical no fundo do mar" | Imagem: Museu Nacional - UFRJ

O animal, batizado Stegastes trindadensis, integra o grupo1xbet pix13 espécies1xbet pixpeixes recifais endêmicas (restritas ao local) registradas na cordilheira até agora. Somando-as às que também habitam outras regiões, a lista alcança 270 espécies1xbet pixpeixes recifais – 24 delas ameaçadas1xbet pixextinção –, uma das mais altas taxas1xbet pixdiversidade entre todas as ilhas do Atlântico.

Também habitam a cordilheira cerca1xbet pix140 tipos1xbet pixmoluscos, 281xbet pixesponjas, 871xbet pixpeixes1xbet pixmar aberto, 171xbet pixtubarões e 121xbet pixgolfinhos e baleias.

Para Gasparini, há muitas outras espécies a descobrir. "A gente ainda mal arranhou a casca do ovo da biodiversidade da cadeia Vitória-Trindade."

Pesquisadores tentam agora ultrapassar pela primeira vez o ponto no fundo do mar a partir do qual a temperatura cai drasticamente, uma variação conhecida como termoclina. Por enquanto, alcançaram no máximo 80 metros1xbet pixprofundidade.

Peixe da reserva
Legenda da foto, A reserva tem 40 tipos1xbet pixmoluscos, 281xbet pixesponjas, 871xbet pixpeixes1xbet pixmar aberto, 171xbet pixtubarões e 121xbet pixgolfinhos e baleias (Crédito: João Luiz Gasparini/Divulgação)

Abaixo dessa zona, sobre montes mais distantes da superfície, esperam encontrar espécies distintas das vistas até agora. "Os recifes mais profundos são o novo éden, a próxima fronteira para quem quer fazer mergulho científico no mundo", diz Gasparini.

Mergulho desafiador

Há muitos anos pesquisadores tentam chegar às águas frias da cordilheira, mas a distância entre a costa e os montes submersos mais fundos torna a missão complexa.

Navios da Marinha costumam levar três dias para chegar a Trindade, onde o Brasil mantém uma base militar. E para mergulhar até as profundezas com segurança, é preciso contar com equipamentos caros.

O biólogo capixaba Hudson Pinheiro, principal autor do artigo na Nature e que faz pós-doutorado na California Academy of Sciences, diz que as eras glaciais ajudam a explicar a biodiversidade da região.

Naqueles períodos, enquanto os habitats costeiros eram afetados pela redução do nível da água, os montes submarinos ficaram expostos como ilhas, tornando-se refúgios para a vida marinha.

Conforme o nível do mar subiu nos últimos 10 mil anos, muitas dessas espécies permaneceram isoladas e se adaptaram aos novos ambientes, agora submersos. Mesmo assim, a cadeia jamais perdeu a conexão com o continente, pois muitas espécies costeiras usam os montes como trampolins, deslocando-se pela cadeia1xbet pixuma extremidade à outra, no meio do Atlântico.

Hoje ao menos dez desses montes têm entre 30 metros e 150 metros1xbet pixprofundidade. O elo da cordilheira com o continente, diz Pinheiro, é o que torna a formação brasileira única no mundo. Há outras cadeias montanhosas1xbet pixorigem vulcânica no meio do oceano, como o Havaí. Mas, como estão distantes do continente, o deslocamento das espécies nessas áreas é limitado.

Outra explicação para a riqueza da fauna na cordilheira é variedade1xbet pixalgas calcárias, um tipo1xbet pixplanta marinha responsável pela formação1xbet pixrecifes naturais. Há na cadeia 16 espécies dessas algas, que criam nichos e habitats para centenas1xbet pixoutras espécies.

Pinheiro era um dos principais entusiastas da criação da reserva marinha. Hoje, diz ele, a área está ameaçada pela pesca comercial e pela mineração.

Há na região relatos sobre a ação1xbet pixbarcos com redes presas a grandes rodas, do tamanho1xbet pixpneus1xbet pixcaminhão, que são arrastadas sobre os recifes.

Cardume1xbet pixpeixes na reserva Vitória-Trindade
Legenda da foto, O Ministério do Meio Ambiente enviará um decreto à Presidência para a criação1xbet pixuma unidade1xbet pixconservação1xbet pixtorno da cordilheira (Crédito: João Luiz Gasparini/Divulgação)

Outro tipo1xbet pixpesca que preocupa os pesquisadores é a feita com espinhel, quando anzóis são enfileirados para capturar peixes maiores. Tubarões são muito vulneráveis a esse método1xbet pixcaptura; como geram poucos filhotes, podem ser rapidamente aniquilados.

Não só barcos brasileiros atuam na cordilheira. Parte da cadeia Vitória-Trindade fica1xbet pixáguas internacionais, por onde transitam barcos estrangeiros. Segundo os pesquisadores, há relatos1xbet pixque esses barcos também estariam pescando no mar territorial brasileiro, o que é ilegal.

Em nota à BBC Brasil, a Marinha disse realizar patrulhas regulares na cordilheira para inspecionar e apreender embarcações irregulares.

Outro temor dos pesquisadores era a mineração submarina. Segundo um estudo no site do ICMBio, o Departamento Nacional1xbet pixProdução Mineral (DNPM) já concedeu duas licenças para a exploração1xbet pixbancos1xbet pixrodolito (crostas1xbet pixalga calcária e outros organismos) e recifes1xbet pixcorais na cadeia Vitória-Trindade.

A atividade durou três anos, e o material extraído foi usado como fertilizante1xbet pixplantações1xbet pixcana-de-açúcar. No site do DNPM há registro1xbet pixnovos pedidos1xbet pixlicença na região.

Peixe da reserva
Legenda da foto, Os pesquisadores registraram 13 espécies1xbet pixpeixes recifais endêmicas (restritas ao local) na cordilheira até agora (crédito: João Luiz Gasparini/Divulgação)

Segundo Pinheiro, a atividade destrói formações que levam milhares1xbet pixanos para se desenvolver e põe1xbet pixrisco muitas espécies endêmicas e ameaçadas1xbet pixextinção.

O pesquisador disse esperar que a criação da reserva ponha fim à atividade e que a proibição da pesca1xbet pixpartes da cordilheira ajude a repor estoques1xbet pixpeixes1xbet pixáreas vizinhas sobrexploradas.