Algoritmos das rede sociais promovem preconceito e desigualdade, diz matemáticaflamengo sportingbetHarvard:flamengo sportingbet
A obra é recheadaflamengo sportingbetexemplosflamengo sportingbetmodelos matemáticos atuais que ranqueiam o potencialflamengo sportingbetseres humanos como estudantes, trabalhadores, criminosos, eleitores e consumidores. Segundo a autora, por trás da aparente imparcialidade desses sistemas, escondem-se critérios nebulosos que agravam injustiças.
É o caso dos segurosflamengo sportingbetautomóveis nos Estados Unidos. Motoristas que nunca tomaram uma multa sequer, mas que tinham restriçõesflamengo sportingbetcrédito por moraremflamengo sportingbetbairros pobres, pagavam valores consideravelmente mais altos do que aqueles com facilidadeflamengo sportingbetcrédito, mas já condenados por dirigirem embriagados. "Para a seguradora, é um ganha-ganha. Um bom motorista com restriçãoflamengo sportingbetcrédito representa um risco baixo e um retorno altíssimo", exemplifica.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
flamengo sportingbet BBC Brasil - Há séculos pesquisadores analisam dados para entender padrõesflamengo sportingbetcomportamento e prever acontecimentos. Qual é novidade trazida pelo Big Data?
flamengo sportingbet Cathy O'Neil - O diferencial do Big Data é a quantidadeflamengo sportingbetdados disponíveis. Há uma montanha gigantescaflamengo sportingbetdados que se correlacionam e que podem ser garimpados para produzir a chamada "informação incidental". É incidental no sentidoflamengo sportingbetque uma determinada informação não é fornecida diretamente - é uma informação indireta. É por isso que as pessoas que analisam os dados do Twitter podem descobrirflamengo sportingbetqual político eu votaria. Ou descobrir se eu sou gay apenas pela análise dos posts que curto no Facebook, mesmo que eu não diga que sou gay.
A questão é que esse processo é cumulativo. Agora que é possível descobrir a orientação sexualflamengo sportingbetuma pessoa a partirflamengo sportingbetseu comportamento nas redes sociais, isso não vai ser "desaprendido". Então, uma das coisas que mais me preocupam é que essas tecnologias só vão ficar melhores com o passar do tempo. Mesmo que as informações venham a ser limitadas - o que eu acho que não vai acontecer - esse acúmuloflamengo sportingbetconhecimento não vai se perder.
flamengo sportingbet BBC Brasil - O principal alerta do seu livro éflamengo sportingbetque os algoritmos não são ferramentas neutras e objetivas. Pelo contrário: eles são enviesados pelas visõesflamengo sportingbetmundoflamengo sportingbetseus programadores e,flamengo sportingbetforma geral, reforçam preconceitos e prejudicam os mais pobres. O sonhoflamengo sportingbetque a internet pudesse tornar o mundo um lugar melhor acabou?
flamengo sportingbet O'Neil - É verdade que a internet fez do mundo um lugar melhorflamengo sportingbetalguns contextos. Mas, se colocarmos numa balança os prós e os contras, o saldo é positivo? É difícil dizer. Dependeflamengo sportingbetquem é a pessoa que vai responder. É evidente que há vários problemas. Só que muitos exemplos citados no meu livro, é importante ressaltar, não têm nada a ver com a internet. As prisões feitas pela polícia ou as avaliaçõesflamengo sportingbetpersonalidade aplicadasflamengo sportingbetprofessores não têm a ver estritamente com a internet. Não há como evitar que isso seja feito, mesmo que as pessoas evitem usar a internet. Mas isso foi alimentado pela tecnologiaflamengo sportingbetBig Data.
Por exemplo: os testesflamengo sportingbetpersonalidadeflamengo sportingbetentrevistasflamengo sportingbetemprego. Antes, as pessoas se candidatavam a uma vaga indo até uma determinada loja que precisavaflamengo sportingbetum funcionário. Mas hoje todo mundo se candidata pela internet. É isso que gera os testesflamengo sportingbetpersonalidade. Existe uma quantidade tão grandeflamengo sportingbetpessoas se candidatando a vagas que é necessário haver algum filtro.
flamengo sportingbet BBC Brasil - Qual é o futuro do trabalho sob os algoritmos?
flamengo sportingbet O'Neil - Testesflamengo sportingbetpersonalidade e programas que filtram currículos são alguns exemplosflamengo sportingbetcomo os algoritmos estão afetando o mundo do trabalho. Isso sem mencionar os algoritmos que ficam vigiando as pessoas enquanto elas trabalham, como é o casoflamengo sportingbetprofessores e caminhoneiros. Há um avanço da vigilância. Se as coisas continuarem indo do jeito como estão, isso vai nos transformarflamengo sportingbetrobôs.
Mas eu não quero pensar nisso como um fato inevitável - que os algoritmos vão transformar as pessoasflamengo sportingbetrobôs ou que os robôs vão substituir o trabalho dos seres humanos. Eu não quero admitir isso. Isso é algo que podemos decidir que não vai acontecer. É uma decisão política. Essa ideiaflamengo sportingbetque os robôs vão substituir o trabalho humano é muito fatalista. É preciso reagir e mostrar que essa é uma batalha política. O problema é que estamos tão intimidados pelo avanço dessas tecnologias que sentimos que não há como lutar contra.
flamengo sportingbet BBC Brasil - E no caso das companhiasflamengo sportingbettecnologia como a Uber? Alguns estudiosos usam o termo "gig economy" (economiaflamengo sportingbet"bicos") para se referir à organização do trabalho feita por empresas que utilizam algoritmos.
flamengo sportingbet O'Neil - Esse é um ótimo exemploflamengo sportingbetcomo entregamos o poder a essas empresas da gig economy, como se fosse um processo inevitável. Certamente, elas estão se saindo muito bem na tarefaflamengo sportingbetburlar legislações trabalhistas, mas isso não quer dizer que elas deveriam ter permissão para agir dessa maneira. Essas companhias deveriam pagar melhores remunerações e garantir melhores condiçõesflamengo sportingbettrabalho.
No entanto, os movimentos que representam os trabalhadores ainda não conseguiram assimilar as mudanças que estão ocorrendo. Mas essa não é uma questão essencialmente algorítmica. O que deveríamos estar perguntando é: como essas pessoas estão sendo tratadas? E, se elas não estão sendo bem tratadas, deveríamos criar leis para garantir isso.
Eu não estou dizendo que os algoritmos não têm nada a ver com isso - eles têm, sim. É uma forma que essas companhias usam para dizer que elas não podem ser consideradas "chefes" desses trabalhadores. A Uber, por exemplo, diz que os motoristas são autônomos e que o algoritmo é o chefe. Esse é um ótimo exemploflamengo sportingbetcomo nós ainda não entendemos o que se entende por "responsabilidade" no mundo dos algoritmos. Essa é uma questãoflamengo sportingbetque venho trabalhando há algum tempo: que pessoas vão ser responsabilizadas pelos erros dos algoritmos?
flamengo sportingbet BBC Brasil - No livro você argumenta que é possível criar algoritmos para o bem - o principal desafio é garantir transparência. Porém, o segredo do sucessoflamengo sportingbetmuitas empresas é justamente manterflamengo sportingbetsegredo o funcionamento dos algoritmos. Como resolver a contradição?
flamengo sportingbet O'Neil - Eu não acho que seja necessária transparência para que um algoritmo seja bom. O que eu preciso saber é se ele funciona bem. Eu precisoflamengo sportingbetindicadoresflamengo sportingbetque ele funciona bem, mas isso não quer dizer que eu necessite conhecer os códigosflamengo sportingbetprogramação desse algoritmo. Os indicadores podem serflamengo sportingbetoutro tipo - é mais uma questãoflamengo sportingbetauditoria do queflamengo sportingbetabertura dos códigos.
A melhor maneiraflamengo sportingbetresolver isso é fazer com que os algoritmos sejam auditados por terceiros. Não é recomendável confiar nas próprias empresas que criaram os algoritmos. Precisaria ser um terceiro, com legitimidade, para determinar se elas estão operandoflamengo sportingbetmaneira justa - a partir da definiçãoflamengo sportingbetalguns critériosflamengo sportingbetjustiça - e procedendo dentro da lei.
flamengo sportingbet BBC Brasil - Recentemente, você escreveu um artigo para o jornal New York Times defendendo que a comunidade acadêmica participe mais dessa discussão. As universidades poderiam ser esse terceiroflamengo sportingbetque você está falando?
flamengo sportingbet O'Neil - Sim, com certeza. Eu defendo que as universidades sejam o espaço para refletir sobre como construir confiabilidade, sobre como requerer informações para determinar se os algoritmos estão funcionando.
flamengo sportingbet BBC Brasil - Quando vieram a público as revelaçõesflamengo sportingbetEdward Snowdenflamengo sportingbetque o governo americano espionava a vida das pessoas através da internet, muita gente não se surpreendeu. As pessoas parecem dispostas a abrir mão daflamengo sportingbetprivacidadeflamengo sportingbetnome da eficiência da vida virtual?
flamengo sportingbet O'Neil - Eu acho que só agora estamos percebendo quais são os verdadeiros custos dessa troca. Com dez anosflamengo sportingbetatraso, estamos percebendo que os serviços gratuitos na internet não são gratuitosflamengo sportingbetmaneira alguma, porque nós fornecemos nossos dados pessoais. Há quem argumente que existe uma troca consentidaflamengo sportingbetdados por serviços, mas ninguém faz essa trocaflamengo sportingbetforma realmente consciente - nós fazemos isso sem prestar muita atenção. Além disso, nunca fica claro para nós o que realmente estamos perdendo.
Mas não é pelo fatoflamengo sportingbeta NSA (siglaflamengo sportingbetinglês para a Agênciaflamengo sportingbetSegurança Nacional) nos espionar que estamos entendendo os custos dessa troca. Isso tem mais a ver com os empregos que nós arrumamos ou deixamosflamengo sportingbetarrumar. Ou com os benefíciosflamengo sportingbetseguros eflamengo sportingbetcartõesflamengo sportingbetcrédito que nós conseguimos ou deixamosflamengo sportingbetconseguir. Mas eu gostaria que isso estivesse muito mais claro.
No nível individual ainda hoje, dez anos depois, as pessoas não se dão conta do que está acontecendo. Mas, como sociedade, estamos começando a entender que fomos enganados por essa troca. E vai ser necessário um tempo para saber como alterar os termos desse acordo.
flamengo sportingbet BBC Brasil - O último capítulo do seu livro fala sobre a vitória eleitoralflamengo sportingbetDonald Trump e avalia como as pesquisasflamengo sportingbetopinião e as redes sociais influenciaram na corrida à Casa Branca. No ano que vem, as eleições no Brasil devem ser as mais agitadas das últimas três décadas. Que conselho você daria aos brasileiros?
flamengo sportingbet O'Neil - Meu Deus, isso é muito difícil! Está acontecendoflamengo sportingbettodas as partes do mundo. E eu não sei se isso vai parar, a não ser que fechem o Facebook - o que, a propósito, eu sugiro que façamos. Agora, falando sério: as campanhas políticas na internet devem ser permitidas, mas não deveriam ser permitidos anúncios personalizados, customizados - ou seja, todo mundo deveria receber os mesmos anúncios. Eu sei que essa ainda não é uma proposta realista, mas acho que deveríamos pensar grande porque esse problema é grande. E eu não consigo pensarflamengo sportingbetoutra maneiraflamengo sportingbetresolver essa questão.
É claro que isso seria um elementoflamengo sportingbetum conjunto maiorflamengo sportingbetmedidas porque nada vai impedir pessoas idiotasflamengo sportingbetacreditar no que elas querem acreditar - eflamengo sportingbetpostar sobre isso. Ou seja, nem sempre é um problema do algoritmo. Às vezes, é um problema das pessoas mesmo. O fenômeno das fake news é um exemplo. Os algoritmos pioram a situação, personalizando as propagandas e amplificando o alcance, porém, mesmo que não existisse o algoritmo do Facebook e que as propagandas políticas fossem proibidas na internet, ainda haveria idiotas disseminando fake news que acabariam viralizando nas redes sociais. E eu não sei o que fazer a respeito disso, a não ser fechar as redes sociais.
Eu tenho três filhos, eles têm 17, 15 e 9 anos. Eles não usam redes sociais porque acham que são bobas e eles não acreditamflamengo sportingbetnada do que veem nas redes sociais. Na verdade, eles não acreditamflamengo sportingbetmais nada - o que também não é bom. Mas o lado positivo é que eles estão aprendendo a checar informações por conta própria. Então, eles são consumidores muito mais conscientes do que os da minha geração. Eu tenho 45 anos, a minha geração é a pior. As coisas que eu vi as pessoas da minha idade compartilhando após a eleiçãoflamengo sportingbetTrump eram ridículas. Pessoas postando ideias sobre como colocar Hilary Clinton na presidência mesmo sabendo que Trump tinha vencido. Foi ridículo. A esperança é ter uma geraçãoflamengo sportingbetpessoas mais espertas.