Como os médicos têm se preparado para o pior momento da carreira: dar más notícias:extreme bet sign up

Atriz aguarda profissionais que passarão por cursoextreme bet sign upmás-notícias do Hospital Albert Einstein
Legenda da foto, Curso busca aprimorar habilidades como empatia e objetividadeextreme bet sign upmédicos e estudantes | Foto: Keila Guimarães

"Há médicos considerados frios, insensíveis, que não olham nos olhos do paciente. Você vê as pessoas se queixarem, 'me deu a notícia na porta da UTI'. Ou há o médico que envia um profissional da equipe para dar a notícia e nem mesmo vai falar com o paciente. Não é ser simpático - é ser empático, se colocar no lugar do paciente", afirma Cláudia Bacelar Batista, professora na Faculdadeextreme bet sign upMedicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), instituição que há alguns anos incluiu técnicasextreme bet sign upcomunicaçãoextreme bet sign upmás notícias na grade curricular do curso.

Lágrimasextreme bet sign upverdade e pacientesextreme bet sign upmentira

Assim como na aviação, a Medicina tem utilizado cada vez mais simulações realísticas para treinar seus profissionais, sejaextreme bet sign upprocedimentos médicos, seja para comunicar notícias ruins.

Para Batista, que leciona no eixo ético-humanístico do cursoextreme bet sign upmedicina da UFBA, a teatralização ajuda a resgatar a relação empática entre médico e paciente.

Médica segura a mãoextreme bet sign uppaciente
Legenda da foto, Dar uma notícia ruim têm impacto tanto nos pacientes quanto nos profissionaisextreme bet sign upsaúde | Foto: Getty

"No início da Medicina, era mais fácil comunicar a má notícia porque o médico geralmente conhecia a família, estavaextreme bet sign upalguma maneira inserido naquele núcleo. Mas na medida que a prática se torna mais científica, ela se distancia das emoções", afirma.

No hospital Albert Einstein, um centroextreme bet sign upsimulação realística é utilizado para cursosextreme bet sign upmás notícias. Atores fazem as vezesextreme bet sign uppacientes. Há lágrimasextreme bet sign upverdade, pulseiras e cateteres hospitalares e o script da cena é maleável - o ator precisa adaptá-lo, a depender da reação do profissional que participa da simulação.

Os profissionaisextreme bet sign upsaúde aprendem na prática a lidar com reações como negação, agressividade e desespero, comuns após a transmissãoextreme bet sign upinformações desfavoráveis.

Aqueles que ficam mudos e não conseguem acolher o paciente são retirados da cena antes do fim. "Não podemos reforçar experiências negativas. Essas acabam marcando mais do que o aprendizado que queremos passar", explica Mariana Santos Alecrim Molina, enfermeira e analistaextreme bet sign upsimulação realística sênior do Einstein.

"Não há receitaextreme bet sign upbolo. Mas criamos cenário e pontosextreme bet sign upvirada para treinar capacidades distintas dos alunos", explica.

Conhecimento técnico e empatia

Além da teatralização, disseminou-se na medicina um protocolo usado inicialmente para comunicar pacientes sobre o diagnósticoextreme bet sign upum câncer. O modelo consisteextreme bet sign upseis etapas, cada uma correspondente a uma das letras da sigla "spikes", como foi batizada a técnica: cenário (setting), percepção (perception), convite (invitation), conhecimento (knowledge), emoção ou empatia (emotion) e resumo (summary).

Na primeira etapa, o médico busca um ambiente onde o paciente ou seus familiares sintam-se seguros e tenta estabelecer uma comunicação horizontal, sem discursoextreme bet sign upautoridade. "O médico evita até estarextreme bet sign uppé, para não haver uma relação hierárquica, mesmo que inconsciente", explica Thomaz Bittencourt Couto, médico do Centroextreme bet sign upSimulação Realística do Hospital Israelita Albert Einstein,extreme bet sign upSão Paulo, que dá cursos sobre a comunicaçãoextreme bet sign upmás notícias.

"Sentado, olho no olho, abre-se uma relação mais igual e isso melhora a recepção das pessoas sobre uma notícia mais crítica", acrescenta.

Na etapa seguinte, o médico busca entender o quão informado o paciente está para saber quais detalhes são necessários e quais não precisam ser repetidos. Em seguida, o profissional convida o paciente a dividir com ele quais são suas dúvidas e medos, para que possa esclarecê-los.

A quarta etapa, do conhecimento, é a comunicação da notícia, sem termos difíceisextreme bet sign upcompreender. Com a reação do paciente, espera-se que o médico demonstre empatia. Por último, o profissional faz um apanhado e busca definir próximos passos.

"Aquela notícia impacta a família, o paciente, pela vida inteira. E, se ela é mal dada, o impacto é maior", diz Couto. Tudo é pensado para que o momento da notícia não se convertaextreme bet sign upum trauma.

Re-humanização da Medicina

Médico e enfermeira dão notícias ruins
Legenda da foto, Método analisa a habilidadeextreme bet sign upcomunicação dos profissionais e a maneira que se adaptam a comportamentos imprevisíveis dos pacientes | Foto: Getty

Além do ensinoextreme bet sign uptécnicasextreme bet sign upcomunicação, os cursosextreme bet sign upmás notícias prentendem reforçar a formação humanística dos profissionais da saúde.

De acordo com Batista, da UFBA, embora a Medicina deva ao século 20 seus maiores avanços científicos, o aperfeiçoamento da técnica trouxe consigo uma fragmentação do tratamento do paciente que,extreme bet sign upparte, desumanizou a medicina.

"A técnica foi colocada acimaextreme bet sign uptudo. Hoje não tratamos mais doentes, mas doenças. Tratamos um fígado, mas um fígado não tem família, não tem sentimento. Por isso as escolas precisam retomar a ideia da ética e da humanidade", aponta a médica.

Para a enfermeira Maria Lúciaextreme bet sign upAndrade Santos, que participou da simulação realística descrita no início dessa reportagem, a experiência será lembrada quando estiver frente a frente com pacientes reais. "Foi uma atriz que me fez viver aquela sensação. Foi marcante", diz.

Sua firmeza durante a simulação foi alvoextreme bet sign upfeedbackextreme bet sign upcolegas e da própria atriz. A "paciente" disse a ela que, embora o tom assertivo passasse confiança, faltou apoio emocional.

"Ela sentiu ali o que profissionais fazem muitas vezes, que é não ouvir o desabafo do paciente. Minha tentativaextreme bet sign upescape ali foi contra-argumentar com a paciente, eu não queria me desestabilizar. Pensei que não poderia começar a chorar e, na dúvida, tentei acalmá-la com argumentos", explica. "Mas o feedback me mostrou que o paciente precisa ser ouvido."