De Bebê Johnson’s a 'Breaking Bad': ativistas que tentam mudar a imagem da deficiência na mídia contam vitórias:betano app de apostas
A população da Terra ultrapassou os 7,5 bilhõesbetano app de apostas2016. Destes, maisbetano app de apostas1 bilhão, ou seja, 15%, têm algum tipobetano app de apostasdeficiência. No Brasil, o índice sobe para 24%.
Estima-se que menosbetano app de apostas1% dessas pessoas estejam presentes na mídia.
Os exemplos acima mostram, no entanto, que as coisas estão mudando. E por trás dessa transformação está o ativismobetano app de apostaspessoas que, com diálogo e muita paciência, trabalham para mostrar a roteiristas, publicitários e profissionais da mídia que existe um outro jeitobetano app de apostaspensar - ebetano app de apostasrepresentar - a deficiência.
A BBC Brasil conversou com três dessas militantes: Patrícia Almeida, jornalista e fundadora da Gadim, Aliança Global para a Inclusãobetano app de apostasPessoas com Deficiência na Mídia e Entretenimento (e ex-jornalista do serviço brasileiro da BBC); Flávia Cintra, ex-diretora da ONG Centrobetano app de apostasVida Independente, hoje repórter do programa Fantástico, da TV Globo, e Patrícia Heiderich, publicitária e cofundadora do Instituto MetaSocial, ONG que trabalha por uma mídia mais inclusiva. Elas falam das vitórias do movimento e explicam seu impacto na sociedade.
Bebê Johnson's
"O simbolismo deste personagem é enorme pois o 'Bebê Johnson's' habita o imaginário da população como sinônimobetano app de apostascriança linda, saudável e feliz, como todas as crianças deveriam ser", comenta Patrícia Almeidabetano app de apostasartigo publicado no site sobre inclusão e cidadania Inclusive.org.br.
O anúncio, do publicitário Nizan Guanaes, foi recebido com particular orgulho por duas pioneiras do movimento pela inclusãobetano app de apostaspessoas com deficiência na mídia. Para entendermos por quê, temosbetano app de apostasvoltar no tempo.
Na décadabetano app de apostas1990, a publicitária Patrícia Heiderich e a arquiteta Helena Werneck estavam cansadasbetano app de apostasver outras mães saírem do parquinho quando chegavam com as crianças para brincar. Decidiram tomar uma atitude.
"Tínhamos filhas com síndromebetano app de apostasDown e éramos felizes. Lembra do comercial da Doriana, da família feliz?", pergunta Heiderich. "Eu estudava publicidade e achava que poderíamos mudar o estigma que havia sobre Down por meio da televisão."
A dupla iniciou então uma verdadeira campanha para chegar a um publicitário cuja carreira despontava na propaganda brasileira: Nizan Guanaes. "A ideia era convencer Nizan a colocar alguém com síndromebetano app de apostasDownbetano app de apostasuma propaganda no estilo família feliz."
Heiderich e Werneck se revezavam nos telefonemas. Todos os dias, lembra Heiderich, elas ligavam para a agência onde Guanaes trabalhava, a DM9, e pediam para ser recebidas por ele. O assunto? "É só com ele", vinha a resposta. Insistiram tanto que ganharam cinco minutos.
"Ele não se sentou. Tentamos contar da maneira mais rápida possivel que pessoas com Down podiam fazer um montebetano app de apostascoisas. Que a visãobetano app de apostasincapacidade não era real. As pessoas não sabem. Não era maldade, mas a sociedade desconhecia. Ele virou, cruzou os braços e falou: 'Nunca pensei nisso. E gostei'."
Pessoas próximas ao publicitário dizem que ele não se lembra do encontro, masbetano app de apostas1996 foi ao ar um anúncio institucional sobre síndromebetano app de apostasDown criado pelo publicitário Sérgio Valente, colegabetano app de apostasGuanaes na DM9.
"Este é Felipe Badin. Está tocando O Trenzinho Caipira,betano app de apostasVilla-Lobos. E você, que música você toca?", dizia a narração. O filme mostrava apenas as mãosbetano app de apostasFelipe tocando piano. No final do anúncio, ele virava o rosto para a câmera. O slogan dizia: "Quem tem síndromebetano app de apostasDown pode mais do que você imagina".
'Coitadismo'
Dois anos depois, a mesma agência produziu um novo anúncio sobre Down. Desta vez, explica Heiderich, o objetivo era desassociar a imagem da síndromebetano app de apostasDownbetano app de apostassentimentosbetano app de apostaspena usados por instituições para pedir dinheiro à população.
O anúncio mostrava duas crianças brincandobetano app de apostasum carrossel. Não havia narração, apenas música e legendas: "Carlinhos vai para a escola todos os dias, o amigo dele, não. Carlinhos faz aulabetano app de apostaspiano, o amigo dele, não". Num determinado momento, a legenda dizia, "Este é o Carlinhos." A câmera focava o rostobetano app de apostasum menino com Down. E depois: "E esse é o amigo dele. Ele é um meninobetano app de apostasrua." A câmera mostrava a roupa puída e os pés calçando chinelo. No final, lia-se o slogan: "Milharesbetano app de apostascrianças no Brasil precisam dabetano app de apostasajuda. Portadores da sindromebetano app de apostasDown só precisam do seu respeito. A pior sindrome é a do preconceito." (Aliás, diz Heiderich, a palavra "portador" não é mais usada no contexto da deficiência.)
A ideia que embasa esse anúncio é central ao pensamento inclusivo, explicam as ativistas: inclusão não pode ser feita com base na pena. Aliás, essa ideia se aplica também ao meninobetano app de apostaschinelo, o amigobetano app de apostasCarlinhos.
"Como é que você consegue ver competênciabetano app de apostasuma pessoa quando sente pena dela? Não podemos apelar para a pena porque estaremos dando um tiro no pé", diz Heiderich.
"Você doa para a Mata Atlântica ou para as baleias porque quer que continuem existindo, quer preservá-las, não por pena. O bebê com Down está sendo mostrado como uma figurabetano app de apostasamor, como todos os bebes são. E não é porque tem Down, mas porque é um bebê fofo."
Empatia
Visto dessa maneira, o conceitobetano app de apostasinclusão parece contrariar uma noção social básica. Quase como se fosse errado sentir compaixão por alguém.
"A palavra hoje é empatia. Você se identificar, se colocar na pele do outro, é fundamental", diz a jornalista Patrícia Almeida.
Do lado oposto, está o que os ativistas chamambetano app de apostas"coitadismo": "A ideiabetano app de apostasque a pessoa com deficiência sempre precisabetano app de apostasajuda", diz ela.
"Os que usam disso para arrecadar dinheiro dizem que os fins justificam os meios, mas o resultado para a pessoa com deficiência é terrivel. Aliás, quem tembetano app de apostasequalizar, igualar as oportunidades é o Estado. Isso é o que dizem todas as leis."
Para explicar melhor, Almeida cita o modelobetano app de apostasinclusão presentebetano app de apostassériesbetano app de apostasTV americanas como Breaking Bad e Switched at Birth. Elas incluem personagens com deficiências interpretados por atores com deficiências. Mas a última coisa que o espectador sente por eles é pena.
Em Breaking Bad, Walter Jr. tem paralisia cerebral, mas o foco não é esse. Ele é um adolescente como qualquer outro.
"É incrível como a mensagem tem a ver com a atitude da pessoa (que têm a deficiência) e das pessoasbetano app de apostasvolta. Se a pessoa com deficiência aparece na telabetano app de apostassituaçãobetano app de apostasnormalidade, ninguém fica protegendo ou dizendo, 'coitado do meu filho'. Você esquece que a pessoa tem deficiência depoisbetano app de apostascinco minutos."
"Essa mídia tem esse poder. Se você não tem contato no seu dia a dia com pessoas com deficiência e vê essa pessoa na tela, incluída com naturalidade, você tende a incorporar essa atitude."
Na série Switched at Birth, as protagonistas são duas adolescentes que foram trocadas na maternidade. Uma delas é surda. Em cinco temporadas no ar, a série inclui cenas gravadasbetano app de apostastotal silêncio. Toda a comunicação se faz por línguabetano app de apostassinais.
"Me chama atenção por ter pessoa surda como personagem principal, (por apresentar ao público) o universo das pessoas surdas. Mas ela ser surda não é o foco. O foco é ela ter sido trocada (na maternidade)", diz Almeida.
"A deficiência é uma das características da pessoa, não é o ponto principal. A série é para adolescentes. (A trama) tocabetano app de apostastodas as questões, o namorado, o primeiro emprego. E todo mundo junto, incluído. Surdos, não surdos… muito legal."
Deficiência e castigo
Alémbetano app de apostasmostrar a deficiência como algo natural, tramas como essas rompem com um velho vício dos contadoresbetano app de apostashistória ao longo dos séculos: a associação da deficiência com a ideiabetano app de apostaspunição.
E, no caso do Brasil, nada como uma telenovela para ilustrar isso. "Na novela O Direitobetano app de apostasNascer (1964), um personagem malvado ficou deficiente, como um castigo", diz Almeida.
"Por outro lado, havia nas histórias personagens que perdiam a visão, paravambetano app de apostasandar, mas sempre surgia uma cura milagrosa e um final feliz. Você não podia ser deficiente e feliz ao mesmo tempo."
Mas também nas telenovelas as coisas vêm mudando. Com a ajuda, mais uma vez,betano app de apostasum empurrãozinho.
"A primeira novela com personagem positivo com deficiencia foi ao arbetano app de apostas1986, Rodabetano app de apostasFogo, da Globo", conta Almeida. "Uma cadeirante, Rosângela Berman, soube que iam fazer uma novela e que ia ter um personagem cadeirante. Ela foi ao estúdio e viu que iam botar o garotobetano app de apostasuma cadeirabetano app de apostasrodasbetano app de apostashospital e que (o personagem) ia ser deprimido. Então bateu um papo com os roteiristas."
Resultado? O personagem ganhou cadeira ultramoderna e teve até vida sexual na novela, algo sem precedentes na época.
"Alguém foi lá e falou, vem cá, por que vocês não fazerm assim?", conta. Desde então, autoresbetano app de apostasnovela regularmente procuram consultoriabetano app de apostasmilitantes pela inclusão.
Final feliz
A ativista Flávia Cintra, hoje jornalista da equipe do programa Fantástico, da Globo, deu consultoria ao escritor Manoel Carlos na novela Viver a Vida (2009), estrelada por Alinne Moraes.
Tetraplégica, Cintra era bastante ativa no movimento pelos direitosbetano app de apostaspessoas com deficiência. Quando ficou grávida,betano app de apostasgestação gerou grande interesse na mídia. Seu caso chegou aos ouvidosbetano app de apostasManoel Carlos.
"Por eu ser tetraplégica, por serem gêmeos, por ter sido uma gravidez natural", ela explica o interesse.
Tempos depois, Cintra foi convidada para ser consultora da equipebetano app de apostasroteiristas e também para orientar a atriz.
"Alinne Moraes era uma celebridade do primeiro escalãobetano app de apostaselenco da Globo. Era a segunda protagonista, mas o envolvimento do público foi tamanho que ela acabou se tornando personagem central da novela", conta Cintra.
Viver a Vida teve, sim, um final feliz. E a personagembetano app de apostasAlinne Moraes, Luciana, não voltou a andar.
A inclusão na mídia tem o poderbetano app de apostasmudar a cabeça do público, dizem os ativistas. Ela também fortalece a autoestima das pessoas com deficiência, que conseguem se ver e se identificar. E ainda transforma as vidas dos que já brigam por ela.
"Para mim, um divisorbetano app de apostaságuas foi (a novela) Páginas da Vida (2006), do Manoel Carlos, onde havia a personagem Clarinha, com sindromebetano app de apostasDown", diz Patrícia Almeida.
Clarinha fica órfãbetano app de apostasmãe e é adotada por uma médica interpretada por Regina Duarte.
"É muito legal porque todo mundo adora a menina. No final, o paibetano app de apostasClarinha luta pela guarda da filha com a médica. Ou seja uma criança com deficiência que todo mundo queria, um presente."
Almeida tem uma filha com Down. Ela ainda se emociona quando lembrabetano app de apostasum capítulobetano app de apostasparticular:
"Na época, minha filha tinha dois anos. Eu sabia da consultoria que estava sendo feita por trás da novela, conhecia as pessoas. Mas mesmo assim, quando a Regina Duarte falou, na novela, que a Clarinha era uma criança como qualquer outra, eu finalmente acreditei. Racionalmente eu já tinha entendido essas coisas, mas o que faltava era o emocional. Depois disso, não teve volta."