Viagra, appscasinodepnamoro e menopausa contribuem para avanço do HIV entre mulheres acimacasinodep60 anos:casinodep

Crédito, Fernanda Cunha/BBC Brasil

Legenda da foto, Entre 2005 e 2015, a participação das mulheres acimacasinodep60 anos entre as pacientes diagnosticadas com HIV aumentoucasinodep2,9% para 6,4%

Luiza conheceu Manoel,casinodep62 anos,casinodepbailes e competiçõescasinodepdança para terceira idade. Também aposentado, ele tinha saídocasinodepum relacionamento muito longo quando os dois começaram a namorar. Mas a relação não engatou. Poucos meses depois do início, Luiza decidiu acabar o relacionamento. O porquê nem ela sabe.

"Talvez por não saber conviver com outra pessoa depoiscasinodeptanto tempo sozinha. Ou talvez por não estar apaixonada."

Mas com certeza o fim não foi pela recusa sistemáticacasinodepManoelcasinodepusar preservativo.

"O jovem que nasceu depois dos anos 80 já iniciou acasinodepvida sexual sabendo da existência e da necessidade da camisinha. Mas a pessoa acima dos 60 anos tevecasinodepiniciação sexual e grande parte dacasinodepvida ativa sem o preservativo. Então, para eles é muito mais difícilcasinodepse acostumar", analisa a psicóloga e gerente operacional do DepartamentocasinodepDSTs/Aids da Paraíba, Ivoneide Lucena.

Viagra, aplicativos e menopausa

Os idosos hoje vivem uma vida muito mais ativa do que antes do surgimento da Aids.

Por um lado, as drogas para disfunção erétil, como o Viagra, possibilitam uma vida sexual mais longa para o homem. Por outro lado, a mulher que já passou pela menopausa acredita que, por não correr riscoscasinodepuma gravidez indesejada, o uso da camisinha se torna desnecessário. Há ainda a popularização dos aplicativoscasinodepnamoro, permitindo que pessoas se conheçam e se relacionem com mais facilidade.

A tudo isso, soma-se o fatocasinodepparte da população ainda acreditar que só são suscetíveis ao vírus aqueles que no passado eram conhecidos como "grupocasinodeprisco", ou seja, homossexuais, profissionais do sexo e viciadoscasinodepdrogas.

Pensando assim, muita gente se expõe ao contágio, aumentando cada vez mais o númerocasinodepheterossexuais soropositivos, por exemplo.

Crédito, Fernanda Cunha/BBC Brasil

Legenda da foto, Entre os heterossexuais, a mulher é mais propensa à contaminação do HIV

Dentre esses heterossexuais, a mulher está mais propensa à contaminação do HIV. O ginecologista Salviano Brito explica que isso se deve à anatomia: "A mucosa da vagina funciona como uma esponja, tornando mais fácil a contaminaçãocasinodepdoenças, seja por vírus, bactéria ou fungo".

Ele lembra ainda que durante o ato sexual é comum acontecerem lesões no órgão, potencializando os riscoscasinodepcontágio.

Para Luiza, porém, nada disso era novidade, visto que ela havia trabalhado na áreacasinodepsaúde por décadas antescasinodepse aposentar. Então, o que faltou?

"Nada. Sobrou confiança. Fui casada por 32 anos e nunca tive outro relacionamento, nem antes e nem depois. Inocente, achei poderia confiar."

Diagnóstico

Pouco depois do fim do namoro,casinodepmeadoscasinodep2016, Luiza foi hospitalizada com desidratação, anemia e desnutrição.

Ao fimcasinodep20 dias, ainda debilitada, ela recebeu alta com o diagnósticocasinodepdepressão e gastrite. Nessas quase três semanas, a aposentada passou por inúmeros exames, menos ocasinodepHIV. "Nenhum médico pediu."

Um mês depois, para verificar se a anemia havia diminuído, Luiza voltou ao hospital. A filha dela, Carolina,casinodep35 anos, pediu que o testecasinodepHIV fosse feito, mas "só por protocolo".

Um dia depoiscasinodeppegar o resultado, que deu positivo, e, ainda sem acreditar, Carolina recebeu um telefonema da irmãcasinodepManoel, comunicando o falecimento do irmão. Durante a ligação, a ex-cunhada da mãe comentou que ele era soropositivo.

Carolina não tinha mais dúvida, Luiza havia sido contaminada pelo ex-namorado. "Minha mãe, com quase 70 anoscasinodepidade, HIV positivo. Aquilo era inacreditável! Preciseicasinodeptrês dias para conseguir conversar com ela", conta a filha, que tinha na reação da mãecasinodepmaior preocupação.

Quando se recuperou do choque, Carolina decidiu conversar com a mãe, inicialmente sobre a notíciacasinodepque Manoel havia falecido ecasinodepque ele era soropositivo.

"Eu entendi logo e pensei: HIV? Era só o que me faltava", relata Luiza. Carolina apenas confirmou com o resultado dos exames.

Recomeço

Mãe e filha passaram a lidar com a culpa. Da partecasinodepCarolina, por não ter alertado Luiza sobre os riscos. Da partecasinodepLuiza, por ter se deixado acreditarcasinodepum estranho.

A família, então, foicasinodepbuscacasinodepinformação - o dia a dia das duas passou a incluir médicos, remédios e terapias.

"Foi então que vimos que era mais comum do que imaginávamos", conta Carolina. "Nós até encontramos conhecidos nos corredorescasinodeppostoscasinodepapoio, buscando comprimidos ou assistindo palestras. E, principalmente, muitos idosos", completa.

Crédito, Fernanda Cunha/BBC Brasil

Legenda da foto, O Ministério da Saúde fez apenas duas campanhas publicitárias para o grupo dos idosos

Mas o aumento dos diagnósticoscasinodepHIV na terceira idade existe e é bem maior do que se imagina. Segundo relatório divulgado recentemente pela OMS (Organização MundialcasinodepSaúde), 40%casinodeptodas as pessoas contaminadas pelo vírus no mundo, cercacasinodep14 milhões, ainda não sabem.

"Para cada caso notificado, cercacasinodepcinco continuam desconhecidos. Nós trabalhamos com dados que apontam a direção do problema, mas, na verdade, a abrangência da contaminação vai mais longe do que se tem conhecimento", alerta Ivoneide Lucena.

Desafios

Passados oito meses do diagnóstico, Luiza está tomando a medicação antiretroviral diariamente, assim como outras 18 milhõescasinodeppessoascasinodeptodo mundo. Ela comemora o fatocasinodepnão ter tido nenhum efeito colateral e mais do que nunca mantém a rotina saudável.

Essa disciplina, segundo o infectologista Tarquino Erastides, é peculiar à idade. "Mesmo com HIV positivo, os jovens pensam que são imortais. Os idosos já perderam essa ilusão. Mais do que viver, eles querem sobreviver."

Hoje, o maior desafiocasinodepLuiza, ecasinodeptantas outras idosas, é superar o estigmacasinodepque o HIV é uma sentençacasinodepmorte. Para isso, o atendimento psicológico é fundamental.

"O mundo feminino, principalmente nessa idade, convive pouco com a liberdade sexual. Ao se depararem com um diagnóstico positivo, as idosas se sentem culpadas e imediatamente se vinculam à imagemcasinodeptragédia, que caracterizou o descobrimento do vírus nos anos 80", afirma a psicóloga Maria Teresa Goyatá, que acompanha o tratamentocasinodepLuizacasinodepum CentrocasinodepReferênciacasinodepHIV/Aids,casinodepBrasília.

Segundo ela, após alguns mesescasinodeptratamento, a saúde melhora consideravelmente e elas percebem que é possível ter uma vida normal sendo soropositivo. Investir na autoestima e na resiliência da paciente é a parte seguinte da estratégia.

"Por mais que a equipe médica ajude, se a idosa não reagir e assumir as reponsabilidades, o HIV se torna uma doença fatal."

Luiza preferiu não dizer o nome real ou ser fotografada - por isso,casinodepfilha e o ex-namorado também receberam nomes fictícios nesta reportagem. "Só quero alertar as outras mulheres e ficarcasinodeppaz."