Como homens gays voltaram a ser os mais vulneráveis ao HIV no Brasil, contrariando tendência mundial:app bet nacional
Mas por que isso ocorre?
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil apontam razões que vão desde o surgimentoapp bet nacionalaplicativos que facilitam encontrar parceiros sexuais até a diminuiçãoapp bet nacionalprogramasapp bet nacionaleducação nas escolas.
Homens e mulheres
Segundo dados da Unaids, agência da ONU que cuida do tema, as mulheres eram 60% dos jovensapp bet nacional15 a 24 anos com HIV no mundoapp bet nacional2015.
Mas a estatística se deve, principalmente, à situação no continente africano.
"O sexo entre gerações diferentes está gerando essa epidemia entre mulheres mais jovens na África. É por isso que a maioria dos nossos relatórios foca nas mulheres. Mas a América Latina, principalmente a do Sul, tem uma epidemia diferente", disse à BBC Brasil Georgiana Braga-Orillard, diretora do Unaids Brasil.
Os dados do Ministério da Saúde mostram que a taxaapp bet nacionalhomensapp bet nacional15 a 19 anos infectados pelo HIV mais que duplicou nos últimos 10 anos (de 2,9 casos por mil habitantesapp bet nacional2003 para 6,9app bet nacional2015). O mesmo ocorreu na faixaapp bet nacional20 a 24 anos (de 18,1 casos por mil habitantes a 33,1).
Já entre as mulheres, ela se manteve estável entre as meninasapp bet nacional15 a 19 anos e chegou a cair entre as jovensapp bet nacional20 a 24 anos.
Os números brasileiros seguem a tendência da América Latina, onde os garotosapp bet nacional15 a 24 anos correspondem a cercaapp bet nacional64% das novas infecções, segundo a ONU.
"No Brasil, falamos muito do jovem gay. O começo da epidemia era muito presenteapp bet nacionalhomens que fazem sexo com homens. Mas no início dos anos 2000, o perfil começou a mudar", afirma.
"Os pesquisadores acreditavam que a tendência seria a infecçãoapp bet nacionalmais mulheres, mais pessoas no interior do país e mais pessoas pobres, por terem menos acesso a informação. Isso chegou a ocorrer, mas depois se reverteu."
No Brasil, dadosapp bet nacional1990 até 1996app bet nacionalfato mostravam mais homens a partirapp bet nacional13 anos infectados com HIV do que mulheres.
Em 1997, no entanto, a situação se inverteu. Mulheres foram mais infectadasapp bet nacionalentão até 2011. E,app bet nacional2012, o ministério voltou a registrar mais casosapp bet nacionalhomens infectados do que mulheres.
Um dos fatores que fez com que as estatísticas mostrassem mais mulheres durante anos foi o maior acesso delas aos serviçosapp bet nacionalsaúde, diz o sanitarista Caio Oliveira, oficialapp bet nacionalHIV/Aids na Unicef Brasil.
"O Ministério da Saúde tornou o exame obrigatórioapp bet nacionalgrávidas. Por isso, a notificação das mulheres aumentou. Quando os testes passaram a ser disponibilizados pelo ministérioapp bet nacionalforma mais abrangente, voltamos a perceber uma epidemia concentrada nas populações mais vulneráveis", afirmou à BBC Brasil.
São consideradas populações vulneráveis no Brasil os homens que têm relações homossexuais, populações trans, profissionais do sexo e usuáriosapp bet nacionaldrogas, principalmente o crack.
Para a diretora da Unaids, a redução da infecção entre as mulheres também se relaciona com a "resposta forte" do governo brasileiro, que,app bet nacional1996, passou a ofertar medicamentos para o tratamentoapp bet nacionalAids gratuitamente no país.
"O tratamento funciona também como prevenção, porque reduz enormemente a possibilidadeapp bet nacionaltransmissão do vírus. Se isso não acontecesse, a epidemia se espalharia mais por mulheres e, consequentemente, por toda a população."
"O advento do tratamento reduziu o númeroapp bet nacionalpessoas com o vírus circulante. Por isso, ele voltou para as populações que são mais vulneráveis à epidemia", afirma.
Mais parceiros
Para a infectologista Lígia Kerr, especialistaapp bet nacionalHIV/Aids da Universidade do Ceará, que produz estudos para o Ministério da Saúde, um dos fatores do aumento da epidemia entre homens são os aplicativosapp bet nacionalpaquera como Grindr, Tinder e Hornet, que facilitam as relações casuais.
"Temos uma revolução sexual muito intensa, que pegou tanto homens quanto mulheres. Notamos, entre os meninos, um aumentoapp bet nacionalparcerias homossexuais ocasionais. Um dia ele está afimapp bet nacionalrelação com homens e outro, com mulheres. É uma mudança muito impressionante na adolescência, uma flexibilização do que eles entendem como sexualidade", diz Kerr.
"Vemos um número elevadoapp bet nacionalhomens jovens que tiveram bem mais do que dez parceiros ou parceiras sexuais no último ano. Isso é muito diferente do que ocorria antes. Eles têm mais parceiros mais cedo."
Caio Oliveira, que coordena um projeto da Unicef com o Ministério da Saúde para conscientizaçãoapp bet nacionaljovens sobre o vírus, concorda que a facilidadeapp bet nacionalencontrar parceiros aumenta a probabilidade da infecção.
"O Unicef fez uma pesquisaapp bet nacionalBelém e São Paulo, duas das seis cidades onde realizamos o projeto. Nas entrevistas com os adolescentes, eles dizem que depois do aplicativo a vida sexual aumentou 200, 300%. Se por mês transavam com três ou quatro pessoas, com o aplicativo transam com 10, 15."
Em 2015, um estudo da Unicef focado na região da Ásia-Pacífico também concluiu que o usoapp bet nacionalaplicativosapp bet nacionalencontros estava associado ao aumento do HIV entre adolescentesapp bet nacional15 a 19 anos.
Fisiologia
Na relação heterossexual mais comum - a penetração vaginal - a mulher é biologicamente mais vulnerável do que o homem à infecção, dizem os especialistas.
"Se a relação for vaginal, a mulher tem mais chancesapp bet nacionalcontrair o vírus porque a áreaapp bet nacionalexposição da genitália feminina é maior, e o sêmen masculino tem maior carga viral do que a secreção feminina", explica Lígia Kerr.
Por causa da carga viral pequena na secreção feminina, o contágio entre mulheres homossexuais é raro, segundo a pesquisadora. No boletim do Ministério da Saúde, ele sequer é registrado.
Mas a penetração anal, mais comum entre homens que têm relações homossexuais, aumenta a vulnerabilidade.
"Durante o ato sexual, o ânus sofre mais lacerações (ferimentos) do que a vagina. Além disso, as mucosas do ânus e do tubo digestivo absorvem as secreçõesapp bet nacionalmaneira diferente da vagina. Há uma prevalência maiorapp bet nacionalinfecções nesses casos", diz Caio Oliveira.
Menos educação
Segundo Georgiana Braga-Orillard, da Unaids, os jovens atualmente têm menos acesso a informações confiáveis sobre sexualidade do que 15 anos atrás, apesar do uso da internet.
"Não há mais programasapp bet nacionaleducação sexual nas escolas. O Brasil teve vários programas, implementados inclusive com a Unesco. Mas nos últimos 12 anos eles foram saindo progressivamente da pauta", afirma.
Um movimento conservador, principalmenteapp bet nacionalgovernos municipais e estaduais, estaria contribuindo para isso, com a retiradaapp bet nacionaliniciativasapp bet nacionaleducação e prevenção da rede pública, segundo o sanitarista Caio Oliveira, da Unicef.
"Tivemos a descontinuidade do programa Saúde e Prevenção das Escolasapp bet nacional2010. E nos últimos 3 anos, diversas Assembleias Legislativasapp bet nacionalcapitais e municípios tiraram dos currículos escolares esse conteúdo por forçaapp bet nacionallei", afirma.
"Salvador e Campinas, por exemplo, fizeram isso no ano passado. Como é que você não fala sobre prevenção e sexualidade na escola para os adolescentes, que são a população mais afetada?"
Para a diretora da Unaids, o movimento conservador vai além da orientaçãoapp bet nacionalgovernos federais específicos.
"Fizemos grandes projetos nos governos FHC, Lula e Dilma. Também fizemos parcerias com o governo Temer, promovendo educação sexual para usuários do aplicativo Hornet. Mas a educação é muito decidida localmente, e existe essa pressão conservadora", afirma.
"E o impacto não é só para HIV, é para toda a saúde sexual e reprodutiva. Vemos o aumento da sífilis congênita, o aumento do númeroapp bet nacionaladolescentes grávidas."
Os três especialistas afirmam que, para além da educação sexual, os estudosapp bet nacionalgênero e os direitos das populações LGBT precisam fazer parte das iniciativasapp bet nacionaleducação.
"Essas populações são mais vulneráveis não só pelo sexo anal aumentar a probabilidadeapp bet nacionaltransmissão do vírus. Como sofrem estigma, preconceito e discriminação muito fortes, não acessam os serviçosapp bet nacionalsaúde", afirma o oficial da Unicef.
"Se um adolescenteapp bet nacional16, 17 anos sofre pressão da família, às vezes é expulsoapp bet nacionalcasa, sai da escola por bullying homofóbico, têm poucas oportunidades no mercadoapp bet nacionaltrabalho e ainda é negro e pobre, ele não vai a um postoapp bet nacionalsaúde fazer teste caso se exponha ao vírus."
Preservativo e campanhas
Para Georgiana Braga-Orillard, o crescimento da epidemiaapp bet nacionalHIV entre os jovens - e também o resurgimento da sífilis no Brasil - indica que o preservativo está sendo pouco usado nas relações.
Isso indica, diz ela, que as mensagensapp bet nacionalconscientização e a disponibilidade da camisinha podem não estar sendo suficientes, especialmente para os gruposapp bet nacionalrisco.
"O Brasil é o país que mais compra e distribui preservativos do mundo. Mas os projetos e campanhas para chegar as populações vulneráveis com mensagens específicas têm que ser feitos e têm que aumentar", afirma.
No site do Departamentoapp bet nacionalIST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, a última campanha voltada a populações trans dataapp bet nacional2012, com o slogan: "Sou travesti, tenho direitoapp bet nacionalser quem sou".
A última voltada para profissionais do sexo dataapp bet nacional2013, com o slogan: "Prostituta que se cuida sempre usa camisinha".
"Já há campanhas e distribuiçãoapp bet nacionalpreservativosapp bet nacionaloutras festas além do Carnaval, e isso é muito bom", diz Georgiana Braga-Orillard.
"Mas o preservativo tem que estar na rua, sem juízoapp bet nacionalvalor. É preciso fazer parcerias com o setor privado. Aqui ao lado,app bet nacionalBuenos Aires, se encontra preservativoapp bet nacionaltodos os banheiros. No Brasil é mais fácil achar fio dental nos banheirosapp bet nacionalbares e restaurantes do que preservativo."
O Ministério da Saúde diz que vem concentrando esforços no que chamaapp bet nacional"prevenção combinada, um cardápioapp bet nacionalalternativas que vão muito além do uso do preservativo masculino (e feminino)".
Entre elas, estão o oferecimento da chamada a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), uma terapia que dura 28 dias após a exposição da pessoa ao vírus, para tentar evitarapp bet nacionalmultiplicação no organismo - e, com isso, a infecção.
A pasta diz ainda que um tratamento pré-exposição ao vírus estáapp bet nacionalfase finalapp bet nacionalestudos, e deve ser incorporado às opções.