Desenhos pré-históricos 'ignorados' podem revelar o 'mais antigo' códigoroleta dos bichosescrita:roleta dos bichos

Inscriçõesroleta dos bichosLas Chimeneas, Espanha

Crédito, D. von Petzinger

Legenda da foto, À primeira vista, os rabiscos parecem traços sem importância, como estes das cavernas espanholas conhecidas como Las Chimeneas, que são Patrimônio da Humanidade

'Desenhos ignorados'

"Me interessam os grandes padrões, as possíveis interconexões entre desenhos e regiões", disse a cientista à BBC Mundo, o serviçoroleta dos bichosespanhol da BBC.

Genevieve von Petzinger medindo traçosroleta dos bichosuma caverna

Crédito, D. von Petzinger

Legenda da foto, Genevieve von Petzinger passa dias inteirosroleta dos bichosgrutasroleta dos bichosdifícil acesso, estudando o que seria um misterioso código da Idade da Pedra

O alcance geográfico do projeto é certamente ambicioso: envolve maisroleta dos bichos350 sítios arqueológicos, "o que não é muito se levarmosroleta dos bichosconta que são 30 mil anosroleta dos bichoshistória".

Além disso, envolve olhar o que antes muitos outros cientistas passaram por cima.

A paleoantropóloga canadense não está interessada nas figuras mais atraentes - os bisões, as cenasroleta dos bichoscaça, as representaçõesroleta dos bichosformas claramente humanas - e sim nos registros que foram classificados como "geométricos" por faltaroleta dos bichosum termo mais apropriado.

"São os desenhos negligenciados, ignorados", ri.

Traçosroleta dos bichosEl Castillo

Crédito, AFP

Legenda da foto, Em El Castillo, na Espanha, as linhas vermelhas que se repetemroleta dos bichosoutras cavernas europeias

Viagem subterrânea

Esses "desenhos ignorados", que estão ali desde a Idade da Pedra, são parteroleta dos bichosum dos legados artísticos mais antigos do mundo, da fase final do último período glacial na Europa (por isso também chamadaroleta dos bichosarte da Era do Gelo).

Silenciosos e inexplorados, esses traços podem falarroleta dos bichos"uma mudança fundamental nas habilidades dos nossos ancestrais", diz a cientista. Isso porque a capacidaderoleta dos bichosarticular um código é a mesma exigida para desenvolver uma escrita, como fez o homem moderno.

Em muitos casos, a existência desses símbolos não é nenhuma novidade.

"Mas os inventários (feitos pelos paleontólogos quando vão estudar uma nova caverna) nem sequer dizem que tiporoleta dos bichossinais eles são, os consideram secundários e não fazem comparações."

Foi assim que, há três anos, a cientista embarcou numa viagem subterrânea, acompanhada do marido fotógrafo.

Imagenroleta dos bichosCudon, na Cantábria

Crédito, D. von Petzinger

Legenda da foto, Acompanhada do marido fotógrafo, Genevieve von Petzinger explora a cavernaroleta dos bichosCudon, na região espanhola da Cantábria

Eles passam a maior parte do diaroleta dos bichosgrutas ou cavernas, até "emergirem" à noite, como ela mesma diz.

Trata-seroleta dos bichosum totalroleta dos bichos52 cavernas,roleta dos bichosmuitos casosroleta dos bichosacesso dificílimo por causaroleta dos bichoscondições geográficas ou porque estão nas mãos da iniciativa privada.

Descobertaroleta dos bichosuma nova arte

É o caso das cavernasroleta dos bichosEl Portillo, Santián ou Las Chimeneas, na Espanha, e Niaux e Marsoulas, na França, alémroleta dos bichosoutras na Itália eroleta dos bichosPortugal.

A maior parte delas não tem a popularidade das grutas mais "midiáticas" como Chauvet, no sul da França, ou Altamira, no norte do Brasil.

"Em muitas grutas, inclusive, encontramos uma nova arte, que não tinha sido descoberta", diz Von Petzinger.

"Ninguém se preocupouroleta dos bichosregistrar estes traços. Quando começamos a fazê-lo, vimos que eles se repetem. Há um padrão."

O casal catalogou meticulosamente os sinais até chegar a uma espécieroleta dos bichosrepertório, que se repete nas pedrasroleta dos bichosdiferentes grutas: um totalroleta dos bichos32 símbolos.

Listaroleta dos bichos32 símbolos

Crédito, Genevieve von Petzinger

Legenda da foto, A pesquisadora fez uma lista com 32 símbolos que se repetemroleta dos bichosdiferentes sítios arqueológicos - ainda falta decifrar seu significado

"É realmente interessante verificar que eles são tão específicos, que cada um é muito diferente do outro. Inclusive os mais incomuns se repetem (em outras grutas)roleta dos bichosmaneira idêntica. As possibilidadesroleta dos bichosque isso seja uma coincidência são bem pequenas", afirma a pesquisadora.

Em outras palavras, o que isso significa é que estaríamos dianteroleta dos bichosum código pré-estabelecido e compartilhado por diferentes grupos do período Paleolítico.

Também sugere, diz ela, que havia conexões entre lugares remotos naquela era pré-histórica.

"Sabemos que na Europa havia uma ativa rederoleta dos bichosintercâmbioroleta dos bichospopulações e isso nos dá um sinalroleta dos bichoscomo era sofisticada aroleta dos bichosestrutura social", diz a cientista, queroleta dos bichosmaio deste ano publicou um livro com suas descobertas (The First Signs: Unlocking the mysteries of the world's oldest symbols, algo como "Os primeiros sinais: desvendando os mistérios dos símbolos mais antigos do mumdo",ainda não lançadoroleta dos bichosportuguês).

Mãoroleta dos bichosEl Castillo, Espanha

Crédito, D. von Petzinger

Legenda da foto, Na parede da gruta El Castillo, na Espanha, o contornoroleta dos bichosuma mão feito com tinta vermelha
Caverna com desenhos

Crédito, D. von Petzinger

Legenda da foto, A pesquisadora acredita que os traços poderiam representar elementos da natureza

Um código, mas qual o significado?

Como qualquer cientista curioso, Von Petzinger adoraria poder ler para além dos traços e descobrir seus significados.

Por exemplo, poder estabelecer com certeza que uma figuraroleta dos bichosformaroleta dos bichoschave é uma lança e que registrosroleta dos bichosformaroleta dos bichospena são folhasroleta dos bichosárvore.

Zigue-zague

Crédito, D. von Petzinger

Legenda da foto, As linhasroleta dos bichoszigue-zague são "democráticas": fáceisroleta dos bichosdesenhar e melhores como ferramentasroleta dos bichoscomunicação, segundo a pesquisadora

Mas a pesquisadora admite que essa é uma missão impossível.

"Por mais que desejemos, nunca vamos poder estar na cabeçaroleta dos bichospessoas que viveram há 30 mil anos", diz, rindo.

"Mas se não sabemos o que significam, sabemos que esses traços deveriam ter um sentido. E isso nos é indicado pelaroleta dos bichosrepetição."

O que importa, insiste Von Petzinger, é o padrão.

"Não se trataroleta dos bichosum código como o egípcio, nem como a escrita cuneiforme (que é a mais antiga língua humana escrita). Não é algo tão organizado. Nesse sentido, nunca vamos poder decifrá-lo, nem temos materialroleta dos bichosreferência para isso."

O primeiro sistemaroleta dos bichosescrita conhecido, o cuneiforme, tem cinco mil anos e surgiu onde atualmente é o Iraque. Mas, a exemplo dos complexos hieróglifos egípcios, não faz sentido que tenha aparecido do nada.

Primeiro código humano?

Os traços ordenados por Von Petzinger podem ser um sistema ainda mais antigoroleta dos bichosescrita: um "primeiro código humano" inscrito nas rochas das grutas.

O que é inovador nesta descoberta, confirmam os especialistas, é que ela revela as habilidades básicas necessárias para a criaçãoroleta dos bichosum sistemaroleta dos bichosescrita: capacidaderoleta dos bichosabstração, registroroleta dos bichosmarcas gráficas e sofisticado usoroleta dos bichossímbolos.

"De maneira geral, podemos dizer que os sistemas gráficos desenvolvidos na Europa, na Idade do Gelo, são predecessores dos sistemasroleta dos bichosescrita que vêm depois. Não porque determinado símbolo daquela época esteja relacionado com outro símboloroleta dos bichosuma etapa posterior, mas no sentidoroleta dos bichosque todos são códigos."

Cervo negro desenhadoroleta dos bichosLas Chimeneas, Espanha.

Crédito, D. von Petzinger

Legenda da foto, Desenhos que podem ser facilmente reconhecidos, como este cervo, têm atração imediata sobre os pesquisadores afirma Von Petzinger

Emojis pré-históricos

A pesquisadora os compara aos emojis, os ícones da era dos smartphones, que representam um conceitoroleta dos bichosuma única imagem.

Eles são muito populares nas redes sociais eroleta dos bichoscomunicaçõesroleta dos bichostrocaroleta dos bichosmensagens instantâneas, como o WhatsApp.

Os emojis foram descritos assimroleta dos bichosuma coluna da revista Wired, especializadaroleta dos bichostecnologia: "eles poderiam ter sido parteroleta dos bichosum dos sistemas gráficos mais antigos do mundo, ou seja, bem mais que símbolos simpáticos no seu celular".

Primeiro é preciso erradicar a ideiaroleta dos bichosque os traços das grutas europeias são figuras geométricas, diz a cientista.

"Usamos esta comparação na faltaroleta dos bichosuma melhor. Mas isso condiciona a maneira como os vemos. Por exemplo, deveríamos pensar que encontramos desenhosroleta dos bichosanimais e humanos, e nos perguntar: onde está a natureza? Por que nunca pintaram uma árvore ou um rio, que são elementos importantes na vidaroleta dos bichosuma sociedade coletora-caçadora?"

Genevieve von Petzingerroleta dos bichosuma caverna

Crédito, D. von Petzinger

Legenda da foto, Genevieve von Petzinger faz mediçõesroleta dos bichosuma gruta com desenhos "aparentemente geométricos"

Assim, a hipótese é que as figuras se refiram a coisas que não aparecemroleta dos bichosforma óbvia nos desenhos: uma montanha, as estrelas, uma arma...

Não são formas abstratas, como sugere uma análise superficial, mas representaçõesroleta dos bichosideias padronizadas.

Naroleta dos bichossimplicidade, os símbolos também têm outra qualidade: são democráticos, afirma Von Petzinger.

Retângulo divididoroleta dos bichostrês nas paredesroleta dos bichosEl Castillo

Crédito, D. von Petzinger

Legenda da foto, Um "retângulo com divisões" aparece nas paredes da caverna espanhola El Castillo
3 formas ovaisroleta dos bichosEl Castillo

Crédito, D. von Petzinger

Legenda da foto, Pesquisadora diz que é preciso pararroleta dos bichosolhar esses desenhos como simples figuras geométricas

"Desenhar um mamute ou um cavalo exige habilidades que poucos têm. Mas um quadrado ou um zigue-zague, qualquer um pode fazer."

E por serem mais acessíveis, os traços são melhores como ferramentaroleta dos bichoscomunicação: virtude desejada por qualquer linguagem que se preze.

Mas a paleoantropóloga não se conforma com estas hipóteses e quer mais.

Qual será seu próximo passo na buscaroleta dos bichossentido para os desenhos misteriosos?

Entrar, com a ajudaroleta dos bichosrobôs submarinos,roleta dos bichosgrutas submersas e inexploradas da costa da Cantábria, no norte da Espanha, para buscar mais signos, mais traços, que joguem luz sobre como o homem moderno aprendeu a escrever.