Por que um recordevaide betCaster Semenya no Rio pode mudar para sempre o atletismo feminino:vaide bet

Crédito, Getty Images

Crédito, Getty Images
Desde aquele momento, Semenya ficou sob escrutínio público por ser o que se considera uma atleta intersexual.
O termo é usado para descrever variações nas característicasvaide betuma pessoa que não se encaixa na definição genética que tipicamente diferencia os corposvaide bethomens evaide betmulheres.
No casovaide betSemenya, seu corpo gera,vaide betforma natural, níveisvaide bettestosterona semelhantes aos que se encontram nos homens, o que se conhece como hiperandrogenismo.
E para Radcliffe e muitos especialistas, essa condição representa uma ameaça ao atletismo feminino.
"É um homem"
Há sete anos, no Mundial, Semenya ficou exposta, inclusive antesvaide betganhar a final com a maior margem da história dos mundiaisvaide betatletismo.
De voz grave e corpo musculoso, a atleta havia conseguido baixarvaide betsete segundos seu menor tempo nos 800 metrosvaide betapenas nove meses, progresso que levantou suspeitas entre as autoridades esportivas.
Descartado o doping como a razão da evoluçãovaide betseus tempos, a atenção se voltou para seu corpo.

E a jovem foi obrigada a se submeter a examesvaide betgênero para confirmar se era mesmo mulher - um questionamento públicovaide betsua identidade sexual.
O caso é semelhante ao da judoca brasileira Edinanci Silva que, devido a outra condição - ela seria portadoravaide bethermafroditismo -, apresentava características dos dois sexos, também produzindo mais hormônios masculinos. Ela passou por uma operação antes dos Jogosvaide bet1996, mas teve que se submeter a um teste para provar que era mulher.
No casovaide betSemenya, a notícia ameaçou inclusive ofuscar os recordes históricosvaide betUsain Bolt e, na imprensa, a imagem dela foi publicada diversas vezes.
"É homem ou mulher?", "Há dúvidasvaide betque atleta sul-africana seja mulher", "A ambígua sexualidadevaide betSemenya", "Caster Semenya é ele ou ela?" foram alguns dos títulosvaide betreportagens da década passada.
E, fascinados pela história, muitos veículos se esqueceram que ela envolvia uma adolescente que durante 18 anos nunca havia questionadovaide betfeminilidade.
Discriminação?
A Associação Internacionalvaide betFederaçõesvaide betAtletismo (IAAF, na siglavaide betinglês) concluiu que as atletas intersexuais com hiperandrogenismo possuíam uma clara vantagem sobre o resto das participantes, que qualificouvaide betinjusta. Por isso, estabeleceu regras para limitar essas diferenças.
Semenya podia correr, mas com a condiçãovaide betse submeter a um tratamento para reduzirvaide betproduçãovaide bettestosterona para abaixo do nível máximo permitido, 10 nanomoles por litrovaide betsangue, que equivale a três vezes o nível que produzem 99% das atletas mulheres.

Crédito, Getty Images
E foi isso que todos supõem que ela fez, já que nunca voltou a correr nos tempos que estabeleceuvaide bet2009.
Ganhou a medalhavaide betprata no Mundialvaide bet2011 e nos Jogos Olímpicosvaide betLondres,vaide bet2012, mas aquele 1 minuto, 55 segundos e 45 centésimosvaide bet2009 permaneceu intocado desde Berlim.
No ano passado, Semenya sequer avançou para a final do Mundialvaide betPequim e,vaide bet2014, não conseguiu se classificar para os Jogos da Comunidade Britânica na Escócia.
Sua carreira foi perdendo brilho e ninguém voltou a questionar seu gênero. Até que outra mulher qualificada como intersexual decidiu apresentar um recurso contra o regulamento da IAAF.
A atleta por trás do recurso é a indiana Dutee Chand, que foi excluída da equipe que participou dos Jogosvaide betGlasgow ao negar-se a tomar um medicamento para limitar a produçãovaide bettestosteronavaide betseu corpo.

Crédito, Getty Images

Crédito, Getty Images
O Tribunalvaide betArbitragem Esportivo (TAS, na siglavaide betfrancês) aceitou os argumentos dos advogadosvaide betChand, que alémvaide betclassificar a medidavaide betdiscriminatória apontaram que a IAAF não havia comprovado que a testosterona melhorava o rendimento das mulheres.
A norma, então, ficou suspensa até julhovaide bet2017, deixando Chand, Semenya e outras atletas intersexuais - duas das quais que também participam da Rio 2016 - livres para correr sem medicamento.
Em busca do recorde
O efeito foi imediatovaide betSemenya, ainda que muita gente próxima a ela diga que isso não se deve somente à decisão do TAS.
Em abril, ela ganhou as provasvaide bet400m, 800m e 1.500m das classificatórias olímpicas sul-africanas no mesmo dia, e na reuniãovaide betatletismo da Liga Diamantevaide betMônaco,vaide betjulho, correu a distânciavaide bet1.55"33, o tempo mais rápido desde 2008.
Muitos acreditam que a influênciavaide betJean Verster, seu novo treinador desde o fimvaide bet2014, também foi fundamental para o progresso recentevaide betSemenya.
E, agora, muitos consideram que a corredora sul-africana poderia bater o recorde que Jarmila Kratochvilova estabeleceuvaide bet1983, representando a então Checoslováquia.
Kratochvilova nunca teve um testevaide betdoping com resultado positivo, masvaide betmarca está associada a uma épocavaide betque predominavam os programasvaide betdoping impulsionados pelos governosvaide betpaíses do Leste Europeu.
Dom natural
Assim, se Semenya ganhar o ouro não será uma grande surpresa.
Mas se ela conseguir bater o recorde mais antigo do atletismo, um que muitos especialistas consideram impossível quebrar sem o usovaide betsubstâncias proibidas, será inevitável que volte o debate ético e científico sobre a vantagem genética que seu corpo tem.
Para Chand e seus advogados, é um dom natural, como as passadas rápidasvaide betUsain Bolt, a envergadura dos braçosvaide betMichael Phelps ou o sistema cardiovascular do ciclista espanhol Miguel Indurai, que nunca foram questionados por suas vantagens "injustas".

Crédito, Getty Images
Mas à medida que Semenya progrida e quebre recordes, a IAAF se sentirá pressionada a intervir para não discriminar as 99%vaide betmulheres que não possuem os mesmo níveisvaide bettestosteronavaide betum número tão reduzidovaide betatletas.
"Você deveria ganhar uma medalhavaide betouro se tem uma grande carreira", disse o renomado treinador australiano Nic Bideau, "mas ela pode ter uma carreira medíocre e ganhar".
Aí repousa o dilema para Semenya. Se ela conseguir correr da maneira que todos acreditam que é capaz, quebrando recordes, pode estar ao mesmo tempo acabando comvaide betcarreira.
Esta pode ser a evidência que a IAAF espera para justificar seu regulamento.