'Amae', a tradição japonesa dos relacionamentos 'infantilizados':codigo betano maio 2024

O comportamento "amae" clássico é caracterizado por atitudes que visam a atrair cuidado, e podem incluir choramingar, se comportarcodigo betano maio 2024maneira mimada ou tomar liberdades com os outros.

Um conceito global?

"O 'amae' aparececodigo betano maio 2024qualquer relacionamento,codigo betano maio 2024qualquer idade, e pode ser positivo ou negativo", diz Kazuko Behrens, que estudou extensamente esse tipocodigo betano maio 2024comportamento tanto no Japão quando nos EUA, onde ela é professoracodigo betano maio 2024psicologia no Instituto Politécnico SUNY.

"É particular ao Japão porque é uma palavra que abrange muitos fenômenos, comportamentos e interações", diz ela. São situações que vão desde uma criança pequena pedindo colo até uma esposa implorando ao marido por um presente caro. "Mas o 'amae' existecodigo betano maio 2024todo lugar, não só no Japão, e as pessoas conseguem identificá-locodigo betano maio 2024suas vidas, mesmo que não saibam como chamá-lo."

Behrens vê o "amae"codigo betano maio 2024sériescodigo betano maio 2024TV como Seinfeld e Friends, onde os personagens vivem nos apartamentos uns dos outros (e abrem as geladeiras). É o atocodigo betano maio 2024presumir que esse tipocodigo betano maio 2024comportamento é permitido entre amigos próximos que torna o comportamento "amae".

Não é coincidência que apelos "amae" bem sucedidos normalmente envolvem atos infantis e ingênuos.

"Eu frequentemente digo a quem vem ao Japão pela primeira vez que abordar alguém na rua e pedir informações bruscamente muito provavelmente vai gerar uma reação negativa na pessoa", diz o tradutor britânico John McCreery, que mora no Japão há muitos anos.

"Mas se aproximarcodigo betano maio 2024alguém aparentando estar confuso, sem ser ameaçador, e dizer 'eu acho que estou perdido...' aumenta muito suas chancescodigo betano maio 2024uma resposta positiva e útil."

Fofura, timidez e desculpas antecipadas são parte até dos sinais, avisos e anúncios feitos no Japão. Em plataformascodigo betano maio 2024trem ou canteiroscodigo betano maio 2024obras, personagens infantis educadamente lembram aos transeuntes para serem educados, enquanto mascotes oferecem auxíliocodigo betano maio 2024estaçõescodigo betano maio 2024transporte, escritórios e lojas.

"As pessoas estão predispostas a aceitar esses objetos kawaii (fofinhos), porque eles atiçam seus instintos 'amae'", diz Behrens.

Um tipo mais coercitivocodigo betano maio 2024"amae" acontece no ambientecodigo betano maio 2024trabalho, por exemplo, se um chefe faz exigências excessivas, como esperar que as funcionárias mulheres sirvam chá aos visitantes ou clientes.

"'Amae' não é uma coisa só", diz Behrens. "Houve um grande desenvolvimento da definição feita por Doi (do típico 'amae' entre uma mãe e um filho) e hoje o conceito pode ser usadocodigo betano maio 2024vários contextos, incluindo os negativos, onde existem expectativas que não são razoáveis."

As expectativas são uma parte importante do "amae". "Começa com a presunçãocodigo betano maio 2024que seu 'amae' será aceito", diz Behrens.

"Mas às vezes o receptor não fica feliz", diz ela, citando como exemplo o casocodigo betano maio 2024Doi e seu paciente. Nem todos os japoneses recebem bem, toleram ou interagem com o "amae", diz Behrens, e nem todas as tentativascodigo betano maio 2024obter ajuda ou cuidado por meio desse comportamento serão bem-sucedidas.

"Aprender a ler as pessoas, qual o nível apropriadocodigo betano maio 2024'amae', e quem é a pessoa certa para interagir dessa forma, é uma experiência que se obtém ao crescer no Japão", diz ela.

E o "amae" é sempre uma "viacodigo betano maio 2024mão dupla": uma mulher pode agircodigo betano maio 2024maneira brincalhona com seu parceiro para pedir afeto, ou colegascodigo betano maio 2024trabalho podem trocar reclamações sobre as frustrações do trabalho para fortalecer laços.

"O 'amae' mutualmente aceito, onde tanto quem 'pede' e quem 'dá' concordamcodigo betano maio 2024fugir um pouco das normas sociais, pode ser divertido e levar a um aumento na intimidade", diz Behrens.

Até adultos podem fazer o "amae" com os pais, como pedindo ajuda para fazer eles se sentirem necessários.

Um lado sombrio

Mas quando o 'amae' dá errado, pode levar à animosidade ou algo pior. É um "soft power" [podercodigo betano maio 2024influenciarcodigo betano maio 2024forma sutil], uma formacodigo betano maio 2024o lado mais fracocodigo betano maio 2024um relacionamento, como uma criança ou um funcionário, obter cuidado ou apoiocodigo betano maio 2024um lado mais forte", diz o historiador Christopher Harding, especializadocodigo betano maio 2024história da Ásia na Universidadecodigo betano maio 2024Edimburgo.

Mas quando usadocodigo betano maio 2024forma imprópria, "acaba sendo pouco democrático, quer sejacodigo betano maio 2024casa ou no trabalho".

O uso excessivo do "amae" pode fortalecer a hierarquizaçãocodigo betano maio 2024relacionamentos e desequilíbrioscodigo betano maio 2024poder. Behrens vê nuancescodigo betano maio 2024"amae" nos abusos que levaram ao movimento #MeToo e diz que pedidos impróprios disfarçadoscodigo betano maio 2024"amae" podem ser muito frequentescodigo betano maio 2024empresas japonesas.

Tentativas exageradacodigo betano maio 2024"amae" entre adultos podem ser resquícioscodigo betano maio 2024rejeições sofridas na infância. Doi previu que crianças que não tiveram boas respostas dos pais aos seus "amae" na infância poderiam sofrer com ansiedade e dependência.

Estudos comportamentais dão força a essa ideia. "Quando você cuidacodigo betano maio 2024uma criança toda vez que ela chora, ela vai se tornar mais segura, autônoma e independente", diz Behrens.

Essas crianças desenvolvem mais confiança para explorar o mundo, porque sabem que serão resgatadas se necessário. "Mas as que são negligenciadas, que choram sozinhas até dormir, elas não sabem se suas necessidades serão atendidas, então elas têm menos confiança e se tornam mais dependentes."

O pacientecodigo betano maio 2024Doi, por exemplo, era totalmente capazcodigo betano maio 2024decidir o que fazer, mas queria transferir a responsabilidade para o médico. "'Amae' é para coisas que você pode fazer por conta própria, mas quer que outra pessoa faça por você", diz Behrens.

Segundo ela, o título do livro (A Anatomia da Dependência) fez as pessoas acharem que o "amae" é dependência, que é desamparo, mas o "amae" é diferente da dependência.

Dependência, faltacodigo betano maio 2024maturidade e infantilização, no entanto, fazem partecodigo betano maio 2024algumas facetas do "amae". Em uma sociedade como o Japão, que valoriza a harmonia social, esses aspectos assumiram a formacodigo betano maio 2024um comportamento adaptado que permite que as pessoas peçam ajuda, fortaleçam as relações interpessoais e até façam pedidos inapropriados sem a aparênciacodigo betano maio 2024estar gerando um fardo para o outro.

"No Japão, ser tratado como uma criança é normal, não ofensivo", diz Kumi Kuroda, uma pesquisadoracodigo betano maio 2024neurociência e psiquiatria que estuda os laços entre pais e filhos.

"O 'amae' é um jeitocodigo betano maio 2024escapar à vida adulta por um tempo. Pode ser uma válvulacodigo betano maio 2024escape para o estresse, porque mesmo adultos precisamcodigo betano maio 2024atenção às vezes."

Essa natureza açucarada do "amae" tem a ver com a etimologia da palavra: ela vem da palavra "amai", que significa doce, e traça paralelos com outra palavra japonesa para sabor, o umami. Qualquer pessoa no mundo pode experimentar o sabor do umami (gosto associado aos glutamatos), mesmo que a palavra usada para descrevê-lo seja japonesa.

Da mesma forma, o "'amae' é uma experiência mais forte e frequente no Japão, mas pode existircodigo betano maio 2024culturas que não tem uma palavra para ele.",codigo betano maio 2024acordo com pesquisadores que encontraram interpretações e reações semelhantes ao "amae" tanto no Japão quanto nos Estados Unidos.

Assim como o umami, o "amae" pode ter sido nomeadocodigo betano maio 2024japonês porque, naquele país, as pessoas estão mais atentas a ele nas suas experiências diárias.

"Os japoneses valorizam o 'amae' e notam quando ele é oferecido e aceito", afirma Kuroda. Behrens concorda: "Doi não criou o 'amae', ele apenas o identificou como sendo particular ao povo japonês".

"O 'amae' é um conceitocodigo betano maio 2024evolução e está se tornando cada vez mais amplo para abarcar fenômenos diferentes, com novas marcas que Doi não esperava", diz Behrens. Por exemplo nos objetos kawaii, aqueles itens "fofinhos" e coloridoscodigo betano maio 2024papelaria, decoração e vestuário, entre outros, que são uma das marcas do design japonês.

Assim como nossa comida favorita, a "doce dependência" desse conceitocodigo betano maio 2024última instância nos levacodigo betano maio 2024volta à infância, ao abraçocodigo betano maio 2024mãe.

"O 'amae' positivo é uma maneiracodigo betano maio 2024ser infantil e é ok", diz Kuroda. "Todo mundo foi criança um dia e nós ainda nos sentimos como crianças por dentro, às vezes."

*Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

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