Japão, o país onde pessoas flagradas com maconha se tornam párias:spor bet
Em maio, o músico Junnosuke Taguchi,spor bet33 anos, foi acusadospor betguardar pouco maisspor bet2 gramasspor betmaconha desidratada naspor betcasa, na capital, e precisou pedir desculpas públicas, ajoelhadospor betfrente à delegaciaspor betTóquio. Em fevereiro, o jogador japonês Christian Loamanu,spor bet22 anos, foi pego no doping por maconha e outras substâncias ilegais. Foi banido da liga nacionalspor betrúgbi.
Em junho, o ator japonês Pierre Taki,spor bet52 anos, foi sentenciado a 18 mesesspor betprisão após admitir o consumospor betcocaína desdespor betjuventude. "Peço desculpas por causar problemas. Ficarei longe das drogas", afirmou no tribunal, segundo o diário japonês The Mainichi.
Nos últimos anos, a polícia prendeu diversos atletas, artistas e estudantes universitários por posse, cultivo ou comérciospor betmaconha. O controle severo vale para estrangeiros — na décadaspor bet1980, o músico britânico Paul McCartney foi detido por dez dias por 219 gramasspor betmaconha encontrados na mala, no Aeroporto Internacionalspor betNarita. Depois, foi deportado.
"Há países e regiões ao redor do mundo que recentemente relaxaram as regras sobre o usospor betmaconha. Infelizmente, o usospor betcannabis constitui uma violação da lei [no Japão] e isso precisa ser totalmente comunicado", afirmouspor betentrevista à imprensa internacional,spor betjunho, Toshiro Muto, diretor-executivo dos Jogos Olímpicosspor betTóquio, evento que espera atrair cercaspor bet40 milhõesspor betturistas à capital japonesa entre julho e agostospor bet2020.
Muto destacou que as autoridades japonesas serão rígidasspor betimplementar o banimento durante os Jogos Olímpicos.
Tolerância zero
Na contramãospor betpaíses como Canadá e Uruguai, que estão liberando a maconha, o Japão continua comprometido com uma políticaspor bettolerância zero: a posse pode render até 5 anosspor betprisão e multaspor betmilharesspor betdólares; o comércio, até 10 anosspor betprisão.
Entretanto, o consumo vem aumentando, assim como as decorrentes detenções nas ilhas nipônicas. Segundo os dados mais atuais divulgados pela polícia japonesa, 3.008 pessoas foram presas sob acusações associadas à maconhaspor bet2017, ante a 2.536spor bet2016 — os maiores consumidores são jovens adultosspor bet20 a 29 anos (9,4 prisões por 100 mil habitantes). Em 2018, foram registrados 3.578 casos (42,5% dos suspeitos detidos por posse estavam na casa dos 20 anos).
"Ativistas [pró-legalização da maconha] são indivíduos considerados contra as regras sociais do país. Aos olhos da sociedade, a maconha é um tabu", diz à BBC News Brasil, sob a condiçãospor betanonimato, um físico japonês que trabalha como engenheirospor betdadosspor betTóquio.
"A sociedade japonesa não vê diferença entre cannabis e outras drogas perigosas. Então, a maconha é vista como um risco que pode prejudicar o cérebro ou pode provocar confusão mental. Além disso, a imprensa tradicional trata das drogas como fontespor betdinheiro da máfia japonesa."
O físico teórico, que já trabalhou como analista financeirospor betum dos maiores bancos nipônicos, diz que nunca consumiu maconha no solo japonês, para respeitar a lei. "Mas já fui a 'coffee shops'spor betAmsterdã (Holanda). Então, você pode imaginar."
Apesar do tabu, o país recebeu a primeira conferência internacional pró-legalização no mês passado, a International Conference on Industrial Hemp (Conferência Internacionalspor betCânhamo Industrial), entre 11 e 12spor betoutubro, reunindo produtores, médicos, empresários e especialistasspor betdiversas nacionalidades para discutir o assunto pela primeira vez no território japonês.
O mote do encontro, organizado pela Hiha (Hokkaido Industrial Hemp Association - Associaçãospor betCânhamo Industrialspor betHokkaido), era a campanha inédita para "reabrir" o país.
"No ano passado, o Canadá legalizou o uso recreativo da maconha, o que provocou grande impacto no mundo. Assim, como a desregulação do cânhamo avançou mundo afora, o númerospor betpaíses e regiões que legalizaram o uso recreativo ou medicinal aumentou e a indústria do cânhamo também se desenvolveu rapidamente. Por outro lado, o Japão ficou para trás nessa tendência internacional devido ao Atospor betControle da Cannabis, que substancialmente proíbe o cultivo para uso medicinal e para produção industrial. Nós decidimos iniciar a campanha Re-Open Japan for Hemp para mudar a presente situação", diz a nota dos organizadores.
"Reabrir" foi a expressão escolhida pois, embora proibida e severamente recriminada nos dias atuais, a cannabis remete a uma longa história. Hokkaido, por exemplo, era um dos principais polos produtores do país, onde as fibras do cânhamo (derivado da espécie Cannabis ruderalis) eram utilizadas para produzir cordas, linhasspor betpesca e peçasspor betvestuário, inclusive véusspor betnoiva.
Longa história
O Atospor betControle da Cannabis, que ceifou a cannabis e seus produtos derivados, dataspor bet1948. A lei foi imposta pelos Estados Unidos ao Japão no contexto do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) — do lado das potências do Eixo (a Alemanha nazista e a Itália fascista), o Japão saiu derrotado do conflito internacional e arcou com diversas sanções.
Após a Declaraçãospor betPotsdam (1945), que definiu os termos da rendição, o arquipélago foi ocupado pelos Aliados e, entre outras ordens, foi instaurado um controle rígidospor betdiversas drogas, incluindo cocaína, heroína e maconha.
Antes, o cultivospor betcânhamo era inteiramente liberado. Ainda na décadaspor bet1950, cercaspor bet25 mil fazendas estavam ativas. Hoje há cercaspor bet60 estâncias legais (licenciadas), autorizadas para fins industriais. Algumas delas fazem parte da rotaspor bettours do Museu Taima, na cidadespor betNasu, na provínciaspor betTochigi, a cercaspor bet200 quilômetrosspor betTóquio. Abertospor bet2001, é o único museu dedicado à história da erva no país.
Quem coordena a instituição é Junichi Takayasu,spor bet56 anos, cujo interesse pela cultura da cannabis começou na infância, aos três anos, ouvindo a históriaspor betum ninja que saltava longas distâncias com uma corda feitaspor betcannabis. "Quer dizer, faz maisspor betmeio século", diz à BBC News Brasil.
Segundo Takayasu, uma das indicações mais antigas da cultura da cannabis no arquipélago data do período Jomon (de 10 mil anos a.C.): são peçasspor betcerâmica com sementes e fragmentosspor betfibrasspor betcannabis. Ao longo da história, diz Takayasu, o cultivo se tornou um dos traços marcantes da identidade japonesa, especialmente no contexto religioso.
"No xintoísmo, marcado por fé ancestral e animismo, não há doutrinas, deuses ou gurus absolutos. Busca-sespor betum estado que requer dois pontos: uma limpeza visível e um tipospor betlimpeza 'invisível' do corpo. A limpeza física é feita com água. A invisível, com fibrasspor betcannabis. Isto é, a planta é absolutamente necessária para rituais xintoístas. Cannabis está na raiz da religião japonesa", conta.
Desde a proibição, porém, a planta paulatinamente se tornou um tipospor betsubcultura no país, independentemente do fim (recreativo, religioso ou medicinal). "Basicamente, usuáriosspor betmaconha são vistos como antissociais. Se você é um ator, preso por violar o Atospor betControle da Cannabis, você é duramente exposto e ridicularizado, praticamente linchado. Se você é um estudante pego por maconha pode ser repreendido, expulso e, no fim, excluído como membro da sociedade. Pode ser difícilspor betcompreender para quem éspor betfora, mas as punições são estranhamente severas no Japão ante a outros países", explica.
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