'Liberdade religiosa ainda não é realidade': os duros relatosmelhor site para aviatorataques por intolerância no Brasil:melhor site para aviator

Crédito, Henrique Esteves

Em 2melhor site para aviatornovembro, uma mãemelhor site para aviatorsanto foi impedidamelhor site para aviatorentrarmelhor site para aviatorum hospital estadual na cidade do Riomelhor site para aviatorJaneiro para atender um paciente na UTI. Segundo ela, que dirige um terreiromelhor site para aviatorcandomblémelhor site para aviatorGuapimirim, na Baixada Fluminense, os funcionários alegaram que a família não teria autorizadomelhor site para aviatorentrada.

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Depoismelhor site para aviatoresperar por cercamelhor site para aviatorseis horas do ladomelhor site para aviatorfora, a mãemelhor site para aviatorsanto registrou um boletimmelhor site para aviatorocorrência e denunciou o caso à Comissãomelhor site para aviatorCombate à Discriminação da Assembleia Legislativa do Riomelhor site para aviatorJaneiro. Uma lei federalmelhor site para aviator2000 assegura o livre acessomelhor site para aviatorlíderes religiosos aos hospitais da rede estadual e privada atender pacientes.

"Os ataques estão sempre rondando o povo do axé", lamenta Ana Paula Santanamelhor site para aviatorSouza, conhecida como Iya Paulamelhor site para aviatorOdé, mãemelhor site para aviatorsanto que foi impedidamelhor site para aviatorentrarmelhor site para aviatorum hospitalmelhor site para aviatorMarechal Hermes, na Zona Norte do Rio, para fazer um ritualmelhor site para aviatorJerônimo Rufino dos Santos Júnior,melhor site para aviator39 anos, que sofreu um AVCmelhor site para aviator31melhor site para aviatoroutubro e morreu cinco dias depois.

"Implorei ao segurança para conversar com o diretormelhor site para aviatorplantão, mas não adiantou. O racismo religioso foi nítido quando minha advogada conseguiu entrar na unidade e eu, não. Isso não teria acontecido se fosse outro segmento religioso."

Crédito, Raphaelmelhor site para aviatorFaria

Legenda da foto, Ana Paula Santana, conhecida como Iya Paulamelhor site para aviatorOdé, diz ter sido impedidamelhor site para aviatorentrarmelhor site para aviatorhospital para fazer ritual com paciente

Médiamelhor site para aviatortrês denúncias por dia

O númeromelhor site para aviatordenúnciasmelhor site para aviatorintolerância religiosa no Brasil aumentou 106%melhor site para aviatorapenas um ano. Passoumelhor site para aviator583,melhor site para aviator2021, para 1,2 mil,melhor site para aviator2022, uma médiamelhor site para aviatortrês por dia. O Estado recordista foi São Paulo (270 denúncias), seguido por Riomelhor site para aviatorJaneiro (219), Bahia (172), Minas Gerais (94) e Rio Grande do Sul (51).

A maior parte foi feita por praticantesmelhor site para aviatorreligiõesmelhor site para aviatormatriz africana, como umbanda e candomblé. Seismelhor site para aviatorcada dez vítimas são mulheres. Só nos primeiros 20 diasmelhor site para aviator2023, o Disque 100, canal para denúciasmelhor site para aviatorviolaçõesmelhor site para aviatordireitos humanos, registrou 58 ocorrências.

"A intolerância religiosa, assim como o racismo, está, desde o período colonial, atrelada à história da formação da sociedade brasileira. Atualmente, faz parte das relações sociais cotidianas", afirma Ivanir dos Santos, doutormelhor site para aviatorHistória Comparada pela Universidade Federal do Riomelhor site para aviatorJaneiro (UFRJ) e interlocutor da Comissãomelhor site para aviatorCombate à Intolerância Religiosa (CCIR).

"A liberdade religiosa, assegurada na Constituição, ainda não é uma realidade. Na décadamelhor site para aviator1980, os ataques, principalmente no Estado do Rio, passaram a ser praticados pelo poder paralelo, que proibia o funcionamentomelhor site para aviatortemplos religiososmelhor site para aviatormatrizes africanas dentro das favelas."

Mas o númeromelhor site para aviatorcasosmelhor site para aviatorintolerância religiosa no país pode ser maior do que o registrado pelo governo federal, aponta Nilce Naira do Nascimento, a mãe Nilcemelhor site para aviatorIansã, coordenadora nacional da Rede Nacionalmelhor site para aviatorReligiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro).

Em julhomelhor site para aviator2022, a entidade divulgou o relatório "Respeite o Meu Terreiro — Mapeamento do Racismo Religioso Contra Os Povos Tradicionaismelhor site para aviatorReligiõesmelhor site para aviatorMatriz Africana", que ouviu liderançasmelhor site para aviator255 comunidades tradicionaismelhor site para aviatorterreiros, no qual 78% dos entrevistados relataram que membrosmelhor site para aviatorsuas comunidades já sofreram algum tipomelhor site para aviatorviolência, física ou verbal, por racismo religioso.

"Todos nós já fomos discriminados. Muitos nos olham como se fôssemosmelhor site para aviatoroutro planeta. Somos sempre apontados, seja por nossa indumentária, seja por nossos guias, que usamos para nossa proteção. Somos uma tradiçãomelhor site para aviatormatriz africana. A maioria do nosso povo é formada por negros e negras. Isso incomoda. Mas, não deixomelhor site para aviatorfazer nada por causa do racismo religioso. Incentivo a quem sofreu violência a ir à delegacia e denunciar. O Estado é laico, e isso tem que ser respeitado", afirma.

"Nasci e me criei dentromelhor site para aviatorterreiro. Nossas portas estão abertas para qualquer pessoa. Somos um espaçomelhor site para aviatoracolhimento e escuta, que não discrimina ninguém. Lutamos para construir uma culturamelhor site para aviatorpaz. Esse espaço sagrado merece respeito."

Crédito, Henrique Esteves

Legenda da foto, O númeromelhor site para aviatordenúnciasmelhor site para aviatorintolerância religiosa no Brasil aumentou 106%melhor site para aviatorapenas um ano

Númeromelhor site para aviatorcasos quintuplicoumelhor site para aviator2022

No ambiente virtual, o númeromelhor site para aviatorcasosmelhor site para aviatorintolerância religiosa quintuplicoumelhor site para aviatorum ano. Segundo levantamento da Safernet, ONG que mantém uma centralmelhor site para aviatordenúnciasmelhor site para aviatorviolações contra direitos humanos, como racismo, misoginia e xenofobia, os ataques online saltarammelhor site para aviator614, entre janeiro e outubromelhor site para aviator2021, para 3,8 mil, no mesmo períodomelhor site para aviator2022, um crescimentomelhor site para aviator522%.

"É importante denunciar toda e qualquer manifestação que ataque ou incite violência contra pessoas ou gruposmelhor site para aviatorrazãomelhor site para aviatorsua orientação religiosa. As autoridades precisam ser provocadas para tomar providências e investigar os casos", explica Juliana Cunha, diretoramelhor site para aviatorprojetos especiais da Safernet.

"Quando o crime acontece na internet, a vítima, ou qualquer pessoa, pode fazer a denúncia no site denuncie.org.br. A abordagem criminal é importante para desfazer a percepçãomelhor site para aviatorque a internet é uma terra sem lei, mas não é suficiente. A mudança só virá como resultado da educação. O melhor antídoto para o discursomelhor site para aviatoródio é a informação".

O advogado Arnon Velmovitsky, presidente da CCIR-OAB-RJ, explica que a Constituição garante a todo cidadão o direitomelhor site para aviatorescolhermelhor site para aviatorreligião e, também, o direitomelhor site para aviatorculto, ou seja,melhor site para aviatorexercermelhor site para aviatorreligião plenamente.

Em casomelhor site para aviatorintolerância religiosa, isto é, da invasãomelhor site para aviatorterreiros, da interrupçãomelhor site para aviatorcultos e do vandalismomelhor site para aviatorimagens, a vítima deve procurar uma delegacia especializadamelhor site para aviatorcrimes raciais e delitosmelhor site para aviatorintolerância e registrar um boletimmelhor site para aviatorocorrência. É importante reunir provas, fotos ou vídeos e testemunhas para viabilizar a punição do agressor.

"Entendo que a educação ainda é o melhor caminho, mas não é o único. Vamos lançar uma cartilha para conscientizar a população. Além disso, é indispensável ter leis com penas mais severas e multasmelhor site para aviatorvalor elevado para inibir essa prática maléfica."

'Intolerância religiosa mata!'

Nem mesmo famosos escapam ilesos da iramelhor site para aviatorfanáticos religiosos. Em 9melhor site para aviatorjulho, a atriz Cleo e o empresário Leandro D'Lucca renovaram seus votosmelhor site para aviatorcasamentomelhor site para aviatoruma cerimônia realizada pelo babalorixá Paulomelhor site para aviatorOyá. "Abençoados no axé", escreveu elamelhor site para aviatorseu perfil no Instagram.

Logo, alguns seguidores começaram a postar mensagens preconceituosas. Uns disseram que Cleo estava "cega". Outros lamentaram que estivesse "desviadamelhor site para aviatorJesus". "Intolerância religiosa mata!", desabafou a atriz nas redes sociais.

Crédito, Reprodução/Instagram

Legenda da foto, Cleo, o babalorixá Paulomelhor site para aviatorOya e o marido, Leandro D'Lucca

"Foi um turbilhãomelhor site para aviatorsensações: medo, impotência, desrespeito, incredulidade... Não foi a primeira vez, mas foi amelhor site para aviatormaior proporção. Estava ali celebrando algo, renovando os meus votosmelhor site para aviatorcasamento, e algumas pessoas se aproveitaram disso para destilar ódio e preconceito", lamenta Cleo.

"Recomendo substituir o ódio por pesquisa e o preconceito por leitura para entender melhor sobre religiõesmelhor site para aviatormatriz africana. Precisamos aprender a respeitar o diferente para avançarmos como sociedade. Vivemosmelhor site para aviatorum Estado laico. As pessoas têm o direitomelhor site para aviatorprofessarmelhor site para aviatorfé. E a obrigaçãomelhor site para aviatorrespeitar."

Símbolomelhor site para aviatorluta contra o racismo religioso

A intolerância religiosa não é um fenômeno recente no Brasil. Em outubromelhor site para aviator1999, Gildásia dos Santos, a mãe Gildamelhor site para aviatorOgum, teve uma foto sua, com trajesmelhor site para aviatorcandomblé e uma oferenda aos pés, publicadamelhor site para aviatoruma reportagem do jornal Folha Universal, da Igreja Universal do Reinomelhor site para aviatorDeus, que acusava religiõesmelhor site para aviatormatriz africanamelhor site para aviatorpraticar charlatanismo.

"Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes", dizia o título da matéria. Em poucos dias, a vidamelhor site para aviatormãe Gildamelhor site para aviatorOgum virou um inferno.

Ela teve seu terreiro invadido e suas imagens depredadas. Os vândalos ainda agrediram física e verbalmente a fundadora do Ilê Axé Abassámelhor site para aviatorOgum. Aos 65 anos, ela sofreu um infarto e morreumelhor site para aviator21melhor site para aviatorjaneiromelhor site para aviator2000.

Sua filha, Jaciara Ribeiro dos Santos, processou a Universal, que foi obrigada a publicar uma retratação no seu jornal e a pagar,melhor site para aviatorsetembromelhor site para aviator2008, uma indenizaçãomelhor site para aviatorR$ 145,2 mil por danos morais e uso indevidomelhor site para aviatorimagem à famíliamelhor site para aviatormãe Gilda. Emmelhor site para aviatormemória, 21melhor site para aviatorjaneiro virou o Dia Nacionalmelhor site para aviatorCombate à Intolerância Religiosa.

"O Brasil sempre teve uma noção frágilmelhor site para aviatorlaicidade. O sistemamelhor site para aviatorcrenças dos 5 milhõesmelhor site para aviatorpretos e pretas escravizados no Brasil sempre foi satanizado pelos colonizadores portugueses", diz Sidnei Nogueira, o Sidneimelhor site para aviatorXangô, doutormelhor site para aviatorSemiótica pela Universidademelhor site para aviatorSão Paulo (USP) e autormelhor site para aviatorIntolerância Religiosa (Jandaíra, 2020).

"Intolerância tem a ver com desrespeito. É quando um determinado grupo tomamelhor site para aviatorreligião como superior à dos demais e não respeita a do outro. Estamos vivendo um momentomelhor site para aviatorfanatismo religioso."

Crédito, Vera Massaro/Alesp

Legenda da foto, Em 2015, Kayllane Coelho (ao lado da avó Kátia) foi atingida por uma pedra ao sairmelhor site para aviatorum cultomelhor site para aviatorcandomblé

Respeitem o meu axé

Em junhomelhor site para aviator2015, outro casomelhor site para aviatorintolerância religiosa ganhou repercussão nacional. Na noite do dia 14, a estudante Kayllane Coelho Campos, então com 11 anos, foi atingida por uma pedra ao sairmelhor site para aviatorum cultomelhor site para aviatorcandomblé na Vila da Penha, na Zona Norte do Rio.

A pedra foi arremessada por dois jovens que estavammelhor site para aviatorum pontomelhor site para aviatorônibus. Segundo a família da vítima, os agressores conseguiram fugir. Três dias depois, a caminho do Instituto Médico Legal (IML) para fazer examemelhor site para aviatorcorpomelhor site para aviatordelito, a garota, acompanhada da avó, que é mãemelhor site para aviatorsanto, voltou a ser atacada. "Vai queimar no inferno!", gritou um homem que passava pelo local.

"Guardo duas lembranças daquele dia: primeiro, o sangue sujando minha roupa branca e o desesperomelhor site para aviatornão poder fazer nada", observa Kayllane, hoje com 18 anos.

"De lá para cá, a situação só piorou. Está cada vez mais difícil conviver com pessoas que não respeitam as diferenças e, pior, não seguem a Bíblia que diz: 'Amarás ao teu próximo como a ti mesmo'. Acho que, com leis mais severas, elas pensariam duas vezes antesmelhor site para aviatorcometer qualquer atomelhor site para aviatorintolerância religiosa."

A intolerância religiosa deixa cicatrizes, não só físicas, como psicológicas. Durante muito tempo, Kayllane, que tem mãe evangélica e avó mãemelhor site para aviatorsanto, teve medomelhor site para aviatorsairmelhor site para aviatorbranco às ruas.

"Toda intolerância religiosa é uma violência, toda violência gera trauma, e todo trauma afeta, com maior ou menor intensidade, a saúde psíquicamelhor site para aviatorum indivíduo", explica a psicóloga Tânia Jandira Rodrigues Ferreira, que presta atendimento a vítimasmelhor site para aviatorintolerância religiosa.

"O Brasil é um paísmelhor site para aviatormaioria cristã que sempre foi intolerante com as religiões não cristãs. Já fomos chamadosmelhor site para aviatorcharlatães, curandeiros e histéricos. Como dar um basta à intolerância religiosa? A educação é o melhor caminho. É preciso educar para a paz."

Este texto foi originalmente publicadomelhor site para aviatorbbc.co.ukhttp://vesser.net/brasil-64393722