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Único conhecido no planeta, tamanduá albino é encontrado no Cerrado:
Sua mãe, no entanto, tinha características comuns ao tamanduá-bandeira: pelagem acinzentada que serve para camuflar o animalmeio à vegetação do Cerrado.
O tamanduá-bandeira, mamífero tido como um dos símbolos da rica fauna do bioma, estáriscoextinção por causa da caça e também da constante destruição da vegetação que lhe serve como habitat.
Segundo dados da International Union for Nature Conservation (IUCN), a espécie perdeu 30%sua população entre 2003 e 2013 - esse dado, o último disponível, é uma estimativa por conta da dificuldadecalcular a quantidadeanimais na natureza.
A espécie está presentetodo o Cerrado brasileiro, mas tambémoutras áreas na América do Sul.
Nesse contextorisco, Alvin ocupa uma posição ainda mais rara: não há notíciasque existam outros albinos como ele.
O albinismo é uma desordem genética que limita a produçãomelanina, gerando animais com pelagemcoloração clara ou aloirada.
O albinismo pode atingir todas as espécies, mas é extremamente raro - e, dado o tamanho da faunaum bioma extenso como o Cerrado, encontrar um animal albino depende muito da sorte.
Nesse cenário, a existênciaAlvin está envoltaalguns mistérios que os cientistas vão tentar desvendar nos próximos meses.
O primeiro é que ele não foi o primeiro tamanduá albino a aparecer na regiãoTrês Lagoas.
Um ano antes,agosto2021, outro indivíduo com pelagem aloirada como ele foi encontrado por funcionários da mesma fazenda.
"Quando nós chegamos lá, ele já estava morto, mas conseguimos coletar amostras genéticas que foram enviadas para a análiselaboratório", explica a médica veterinária Débora Yogui.
Segundo a bióloga Nina Attias, pesquisadora do ICAS, é provável que esse primeiro tamanduá albino seja irmãoAlvin, que nasceu meses depois.
Para comprovar essa tese serão necessários testes genéticos com material coletado dos dois animais.
"Dois tamanduás albinos aparecerem na mesma fazenda é como se dois raios caíssem no mesmo lugar. Por isso, nós acreditamos que sejam irmãos", explica Attias.
Para Attias, porém, há um problema nessa configuração familiar: os tamanduás não são monogâmicos, ou seja, eles acasalam e produzem filhotes com vários parceiros ao longo da vida.
"Para um nascer albino, é necessária uma combinação dos genes do pai e da mãe. É uma questãoacaso mesmo, muito difícilacontecer", explica a bióloga.
Então, para os dois serem irmãos e albinos, é mais provável que eles sejam filhos dos mesmos pais. "Teria que ser uma coincidência muito grande nascerem dois tamanduás albinospais diferentesuma mesma fazenda", explica Attias.
Nesse ponto entra outro fator importante que pode explicar o fenômeno: o desmatamento do Cerrado.
Segundo a bióloga, a destruição do bioma pode levar à "endogamia" da espécie. Ou seja, com menos opçõesparceiros para acasalar, os tamanduás teriam atingido um grau menordiversidade genética, aumentando a chancedois indivíduos albinos nascerem na mesma regiãoperíodo curtotempo.
"Muito provavelmente esse declínio populacional e isolamento desse bichos têm a ver com o alto graudegradação do Cerrado no Mato Grosso do Sul", diz.
Um estudo científico2016 apontou que, no Mato Grosso do Sul, existiam apenas 16% da vegetação original do Cerrado. O restante foi destruído, principalmente para dar lugar à agropecuária.
Desmatamento do Cerrado
Esse desmatamento ocorregrande parte do bioma, considerado a savana mais biodiversa do planeta, com mais14 mil plantas, alémuma rica fauna silvestre.
Dados do Instituto NacionalPesquisas Espaciais (Inpe) apontam que o Cerrado perdeu 10.689 quilômetros quadradosvegetação entre agosto2021 e julho deste ano - proporcionalmente, ele sofre mais com o desmatamento do que a Amazônia.
De acordo com o MapBiomas, plataforma que monitora o uso do solo no Brasil, 45,4% do Cerrado já foi destruído para dar lugar à agropecuária, principalmente para o cultivosoja e milho.
Como um albino sobrevive
O estudo sobre tamanduá Alvin também pode descobrir outro mistério: como um animal albino consegue sobreviver no Cerrado?
Os cientistas colocaram um colarmonitoramentoAlvin. Todamovimentação está sendo registrada.
"A teoria ecológica fala que os bichos albinos têm mais dificuldades adaptativas esobrevivência. Ele sofre mais com o calor por causa da pelagem, e também é mais difícil para ele se camuflar na vegetação. Praticamente não existem dados sobre os desafios que os albinos enfrentam para sobreviver", explica Attias.
Para Alvin, talvez seja mais difícil fugir dos grandes predadores, como as onças parda e pintada. Essa predação, inclusive, é importante para a vida no Cerrado: esses grandes carnívoros dependem da existência do tamanduá-bandeira para se alimentar.
Já outros servemcomida para o tamanduá: cada animal come cerca10 mil formigas por dia, alémmilharescupins.
Alémrara, a vidaAlvin não será nada fácil.
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