Lula eleito:bet nacional paga'Não sou coveiro' a 'pintou um clima; as frases que podem ter custado votos a Bolsonaro:bet nacional paga

Bolsonarobet nacional pagalivebet nacional paga18bet nacional pagamarçobet nacional paga2021, quando imitou pacientes com faltabet nacional pagaar

Crédito, Reprodução/Facebook

Legenda da foto, Bolsonarobet nacional pagalivebet nacional paga18bet nacional pagamarçobet nacional paga2021, quando imitou pacientes com faltabet nacional pagaar; momento é um dos mencionadosbet nacional pagapesquisas qualitativas por eleitores arrependidos
Resultados

E uma outra parcelabet nacional pagaeleitores para quem as frases contribuíram para uma sensaçãobet nacional pagaarrependimento do voto no presidente - embora isso não tenha se revertido, no primeiro turno,bet nacional pagaampla migraçãobet nacional pagavotos para o principal adversário, Luiz Inácio Lula da Silva, que também enfrentava uma rejeição alta.

Neste domingo (30/10), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente do Brasil, com 50,83% dos votos válidos.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) teve 49,17%. Os votos nulos somavam 3,16% e os brancos, 1,43%. O TSE confirmou a vitóriabet nacional pagaLula com 98,86% das urnas apuradas.

Falas relacionadas à pandemia

O Institutobet nacional pagaEstudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade Estadual do Riobet nacional pagaJaneiro (Uerj) tem coproduzido desde o ano passado alguns estudos qualitativos observando as conversasbet nacional pagaeleitoresbet nacional pagadiferentes perfis, cidades, classes sociais e faixas etárias.

Para os estudos, os acadêmicos registrambet nacional pagadetalhe opiniões e argumentos usados por grupos variados. Algumas falas foram mencionadas espontaneamente pelos participantes durante as conversas - por exemplo, as menções à covid-19 como "gripezinha", as falas "não sou coveiro", ditas por Bolsonarobet nacional pagamaisbet nacional pagauma ocasião quando questionado por jornalistas a respeito dos mortos por covid-19, ou quando, no início da pandemia, ele afirmou, questionando os possíveis efeitos colaterais das vacinas contra o coronavírus, "que se você virar jacaré (ao tomar a vacina), problema seu".

Podem ser incluídos nesse conjuntobet nacional pagapolêmicas, também, os momentosbet nacional pagaque Bolsonaro imitou pacientesbet nacional pagacovid-19 com faltabet nacional pagaar - ele fez issobet nacional pagaduas lives,bet nacional paga18bet nacional pagamarçobet nacional paga2021 ebet nacional paga6bet nacional pagamaiobet nacional paga2021.

Na primeira dessas lives, ele fez uma defesabet nacional pagamedicamentos como a cloroquina, que já tevebet nacional pagaineficácia comprovada contra a covid-19 - sem mencionar a droga diretamente - e acrescentou: "Quem é contra, sem problemas, tu começa a sentir um negócio lá, tu segue a receita do ministro Mandetta (em referência ao ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta), você vai pra casa. Quando você tiver lá (imita pessoa ofegante), daí você vai pro hospital".

Bolsonarobet nacional paga28bet nacional pagaabrilbet nacional paga2020

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Bolsonarobet nacional paga28bet nacional pagaabrilbet nacional paga2020, quando respondeu 'sou messias, mas não faço milagre', ao ser questionado sobre mortes na pandemia

Carolinabet nacional pagaPaula, doutorabet nacional pagaCiência Política e diretora-executiva do DataIESP, explica a metodologia da pesquisa. "Entrevistamos pessoas que votarambet nacional pagaBolsonaro e se arrependeram do votobet nacional pagapesquisa qualitativa justamente para testar essas coisas, o que levou (a um possível arrependimento) e quais falas específicas. E a gente percebeu que o mais grave mesmo, a gota d'água para esse grupobet nacional pagaeleitores arrependidos, foram as falas relacionadas à pandemia".

Ainda antes do primeiro turno, Bolsonaro afirmou ao podcast Collab ter se arrependidobet nacional pagater dito "não sou coveiro". "Dei uma aloprada, aloprei, perdi a linha. Aí eu me arrependo. Eu sou ser humano também, lamento o que falei. Não falariabet nacional paganovo. Pode ver quebet nacional pagaum ano para cá o meu comportamento mudou", afirmoubet nacional paga12bet nacional pagasetembro. Em sabatina no Jornal Nacional,bet nacional pagaagosto, ele também afirmou que a fala do jacaré foi apenas uma "figurabet nacional pagalinguagem".

Mas tais frases relacionadas à pandemia tiveram grande impacto porque foram acompanhadasbet nacional pagaações concretasbet nacional pagadesrespeito às medidas sanitárias, na visãobet nacional pagaCamila Rocha, cientista política, pesquisadora da nova direita no Brasil e autorabet nacional pagaMenos Marx, Mais Mises - O liberalismo e a nova direita no Brasil (ed Todavia).

"Não é que ele (Bolsonaro) só falou uma coisa absurda ou odiosa, elebet nacional pagafato agiubet nacional pagaacordo com o que ele estava falando. E não eram uma ou duas frases, foi realmente uma sequênciabet nacional pagacomportamentos dele - ele falava e agia", diz Rocha à BBC News Brasil.

"Por exemplo, 'máscara é coisabet nacional pagaviado' (frase atribuída a Bolsonarobet nacional pagaconversas com auxiliaresbet nacional paga2020) - ele mesmo não usou (máscara)bet nacional pagavários momentos. Ou por exemplo, algo que chocou particularmente as pessoas foi uma fotografia dele tirando a máscarabet nacional pagauma criança (em evento no Rio Grande do Nortebet nacional pagajulhobet nacional paga2021). Acho que mostra uma atitude mesmo", agrega.

Nas pesquisas qualitativas observadas pelo Iesp, essas declarações impactaram parcela do seu eleitoradobet nacional paga2018, mais até do que falas polêmicas sobre outros temas - por exemplo,bet nacional pagater alegado ter acabado com a corrupção no Brasil ou mesmo as acusações sem provas contra a lisura das eleições e das urnas eletrônicas.

"As falasbet nacional pagacorrupção não repercutem (tanto) - é claro, algumas pessoas se incomodam, mas elas não são tão decisivas assim", afirma Carolinabet nacional pagaPaula.

"Mesmo as falas contra as instituições, contra o STF, não foram definitivas como as falas da 'gripezinha', 'que não é coveiro', e as 'falas anti-vacina'", ela agrega.

"Eu não consigo mensurar estatisticamente 'esta fala teve um impacto x', mas o que a gente percebe é que (o impacto negativo) vem das falas relacionadas muito ao início da pandemia, e tambémbet nacional pagamomentos mais avançados, como no caso da vacina, quando as pessoas estavam aguardando (a vacinação) como estava acontecendobet nacional pagaoutros países. A fala que 'vai virar jacaré' também aparece muito nas pesquisas, ebet nacional pagamodo muito espontâneo,bet nacional pagapessoas que votaram nele e se arrependeram."

Mas a pesquisadora ressalta que a insatisfação dessa parcela do eleitorado não vem exclusivamente das declarações públicas do presidente. Esse grupobet nacional pagainsatisfeitos, diz De Paula, "já vinha num crescentebet nacional pagainsatisfação" com a condução do país na pandemia ou com a crise econômica, por exemplo.

"Não quer dizer que 'ah, agora que ele falou isso pareibet nacional pagaapoiar ele'. Mas digamos que foi a gota d'água para pessoas que já viam o governo como distante da população."

Bolsonarobet nacional pagafotobet nacional pagajulhobet nacional paga2020

Crédito, EPA

Legenda da foto, Falas polêmicas ditas por Bolsonaro (acima,bet nacional pagafotobet nacional pagajulhobet nacional paga2020) a respeito da pandemia impactaram mais o eleitorado do que falas sobre urnas eletrônicas ou corrupção,bet nacional pagapesquisas qualitativas observadas pelo Iesp

'Efeito teflon' no eleitorado fiel

Ao mesmo tempo, é importante destacar que o amplo eleitorado fiel mantido por Bolsonaro, ao longo do seu mandato e durante esta campanha eleitoral, não se abala por frases polêmicas da mesma forma que outros gruposbet nacional pagaeleitores.

Camila Rocha explica esse fenômeno detalhando como eleitores participantes das suas pesquisas reagiram a vídeos que repercutiram na reta final da campanha, como um vídeo antigo,bet nacional pagadata incerta,bet nacional pagaque Bolsonaro (ainda se declarando deputado) aparecebet nacional pagaum eventobet nacional pagamaçonaria, ou a entrevistabet nacional paga2016 dada ao The New York Timesbet nacional pagaque o presidente diz que quase comeu carne indígena durante uma visita a uma tribobet nacional pagaSurucucu (Roraima).

"O que mais chocou as pessoas foi o vídeo da carne humana. Acho que certamente essa frase do 'pintou um clima', se referindo às adolescentes venezuelanas, também causaria mal-estar entre as pessoas. (...) Mas, ao mesmo tempo, o que acontece é que pessoas que já estão mais inclinadas a votar no Bolsonaro, o que elas fazem é racionalizar: 'de fato ele fala bobagem mesmo, e foi um deslize' ou 'estava forabet nacional pagacontexto', ou então 'ele falou, mas isso não quer dizer que ele fez algobet nacional pagafato ali, que ele é pedófilo'", diz Rocha.

Carolinabet nacional pagaPaula observou algo semelhante nas suas pesquisas.

"Com os eleitores que são apoiadores mais fiéis, a gente fala que existe um efeito teflon - qualquer coisa que ele (Bolsonaro) fala não repercute nas pessoas. Agora, para o público moderado, que votou no Bolsonaro esperando uma mudança e focado na ideiabet nacional pagarenovação, aquele sentimentobet nacional pagadecepção com a política que a gente viubet nacional paga2018, não era um público, digamos, 100% conservador, mas que queria uma mudança no país - esse público sim ficou muito incomodado com essas falas."

Mas será que esse incômodo foi suficiente para mudar votos? Para Camila Rocha, a alta votaçãobet nacional pagaBolsonaro no primeiro turno, acima do que indicavam as pesquisasbet nacional pagaopinião, indica que não houve uma grande migraçãobet nacional pagavotosbet nacional pagaarrependidos.

No primeiro turno das eleições, Lula teve 57.256.053 votos, ou 48,43% dos votos válidos (quando são descontados os brancos e nulos), enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu 51.070.958 votos, ou 43,20%. Já no segundo turno, Bolsonaro (PL) teve 49,17%. Os votos nulos somavam 3,16% e os brancos, 1,43%. O TSE confirmou a vitóriabet nacional pagaLula com 98,86% das urnas apuradas.

Possivelmente porque esse grupo que não abandonou o presidente ainda é fortemente mobilizado pelo sentimento antipetista e se viu sem opções diantebet nacional pagacandidaturas que não decolaram na chamada terceira via.

"Claro que teve uma parcela que foi para o Lula: o eleitorado que era menos comprometido com os valores que ele defende, que votoubet nacional paga2018 pelo Bolsonaro mais porque esperava uma mudança, com o desgaste do PT - esse eleitorado mais distante do Bolsonaro foi para o Lula", avalia Rocha.

"Mas uma boa parte ficou esperando uma alternativa que não vinha, e também não queria votar mais no PT. As pessoas falavam isso já dois anos atrás: 'se não tiver uma alternativa ao Bolsonaro, vou ter que acabar votando nelebet nacional paganovo, mesmo sabendo que não é o que eu gostaria'. Inclusive, recentemente a gente fez algumas entrevistas com o eleitorado evangélico, e achei interessante que as pessoas falaram: 'eu nem acho Bolsonaro cristão, mas não é com isso que estou preocupado, e vou votar nele mesmo assim'."

Ao mesmo tempo, Camila Rocha observa um cansaço do eleitorado com a exposição a esse lado mais agressivo da política, o que impacta também a repercussãobet nacional pagafalas polêmicas.

"Uma coisa importante, que a gente vem ouvindo há alguns anos, é que as pessoas têm uma fadiga muito grande da disputa com base nesse tipobet nacional pagaagressão,bet nacional pagaexposição do comportamento do outro, uma coisa vista como mais violenta mesmo - política do fígado, sabe? Isso afasta muito as pessoas."

Na visão dela, o efeito principal disso não é a migraçãobet nacional pagavotos, mas sim o distanciamento do eleitor comum.

"As pessoas falam 'eu não quero fazer parte disso, chega, não aguento mais'. Acho que tem um grupobet nacional pagapessoas para quem,bet nacional pagafato, frases do tipo 'pintou um clima' ou 'comer carne humana' fazem um efeito, no sentidobet nacional pagafazer com que essa pessoa não vote no Bolsonaro. Agora se ela vota no Lula, são outros quinhentos. Essas coisas mais afastaram o voto do Bolsonaro do que as jogaram necessariamente para votar no Lula", avalia a cientista política.

Bolsonaro no vídeobet nacional pagaque se justificou ao dizer que 'pintou um clima' com adolescentes venezuelanas

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, 'Se as minhas palavras, que, por má-fé, foram tiradasbet nacional pagacontexto e que,bet nacional pagaalguma forma foram mal entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas', disse Bolsonaro sobre 'pintou um clima' com adolescentes venezuelanas

Não à toa, diz Camila Rocha, pouco depoisbet nacional pagaa frase "pintou um clima" ter viralizado, Bolsonaro tentou humanizarbet nacional pagaimagem ao fazer uma live para justificar seu comentário sobre as adolescentes venezuelanas e depois pedir desculpas,bet nacional pagaum vídeo ao lado da mulher Michelle Bolsonaro ebet nacional pagauma representante venezuelana no Brasil.

"Se as minhas palavras, que, por má-fé, foram tiradasbet nacional pagacontexto e que,bet nacional pagaalguma forma foram mal entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas", ele afirmou.

"Isso é uma coisa inédita, e foi uma estratégia, sim,bet nacional pagahumanizar a figura dele porque quem faz o marketing percebeu que tem um impacto importante no sentidobet nacional pagaafastar as pessoas do voto no Bolsonaro", diz Rocha. Ao se humanizar, Bolsonaro dá margem, na avaliação da pesquisadora, à racionalização do eleitor: "(alcança) alguém que até gostariabet nacional pagavotar no Bolsonaro, aí viu o 'pintou um clima', ficou assustado, mas então pode falar 'tudo bem, ele pediu desculpa, ou fez algo a respeito'."

Impacto maior sobre mulheres e jovens

De qualquer modo, as duas especialistas consultadas pela BBC News Brasil acham que o grupo mais impactado negativamente pelas frases polêmicas do presidente é o eleitorado feminino. Segundo as pesquisasbet nacional pagaopinião, esse foi um dos públicos que Bolsonaro teve dificuldadebet nacional pagaconquistar ao longo da campanha.

"O público das mulheres foi justamente o mais afetado no auge da pandemia - as que mais reclamavam dessa atitude delebet nacional pagadesprezar o risco que a pandemia apresentava. E era muito latente a diferença entre homens e mulheres", diz Camila Rocha.

"Por um lado, as mulheres falavam, 'olha como ele é desumano, como ele despreza a vida e os riscos'. E os homens eram o oposto: 'é isso mesmo, tem que ser macho para enfrentar a pandemia, tem que fazer que nem ele (Bolsonaro), sair para trabalhar e ganhar o nosso pão'. Tem uma coisa associada à masculinidade", ela prossegue.

Em uma pesquisa qualitativa feita com mulheres pelo Datafolha e noticiada pela Folhabet nacional pagaS. Paulo, a gestão do país durante a covid foi um dos temas mais citados pelas entrevistadas.

"O eleitor feminino tem esse cuidado maiorbet nacional pagaproteção combet nacional pagafamília, e as pesquisas quantitativas mostravam que as mulheres eram as que mais tinham medo da pandemia. Então acredito que tenha tido uma influência maior (no público feminino), sim, esse espanto maiorbet nacional pagaele (Bolsonaro) falar coisas num momentobet nacional pagaque as pessoas estavam sentindo tanto medo e ansiedade", avalia Carolinabet nacional pagaPaula.

Nas pesquisasbet nacional pagaCamila Rocha, a população mais jovem também tendeu a se sensibilizar mais com frases polêmicas do que os eleitores mais velhos.

"Mesmo jovens que não disseram que iam votar no Lula ou mesmo que nem são necessariamente progressistas falaram 'o Bolsonaro é machista, é homofóbico, fala coisas odiosas', e isso meio que afasta os jovens do voto nele. Os jovens são muito mais sensíveis a questões relacionadas a mulheres, negros, LGBT", conclui.

E quanto às falas relacionadas ao chamado "tratamento precoce" - medicamentos que incluem a hidroxicloroquina e que estudos científicos já demonstraram não ter efeito no tratamento contra a covid? As pesquisasbet nacional pagaCarolinabet nacional pagaPaula mostram que o impacto sobre o eleitor não é tão significativo.

"Até nos grupos (de eleitores) mais moderados, muita gente tomou, por entender que esses remédios eram contra uma doença que ninguém sabia exatamente como se tratar. Era mais uma tentativabet nacional pagadar certo. Então (o tema) não tem o mesmo efeito que essas outras falas. (...) Foi algo mais generalizado, não tão focado no que o presidente falou", avalia De Paula.

Línea