7roleta no cassinosetembro: Bolsonaro reproduz mito do homem branco militar que constrói a nação, diz historiadora:roleta no cassino
Em trechoroleta no cassinoseu recente livro Racismo Brasileiro: Uma História da Formação do País (Todavia, 2022), Santos propõe para o racismo uma metáfora diferente da "doença que precisa ser expurgada".
"Seria muito mais fácil se essa metáfora condissesse com a realidade: bastaria buscar uma cura para o racismo e pronto. Mas não há pílula mágica, porque não estamos tratandoroleta no cassinouma doença. Uma alegoria mais eficiente para compreender a real dimensão do racismo seria compará-lo ao sistema nervoso central do corpo humano. Não bastam remédios. É preciso reprogramar todo o nosso cérebro."
Ela também é autoraroleta no cassinoHistória da África e do Brasil Afrodescendente (Pallas, 2017) e Além da Senzala: Arranjos Escravosroleta no cassinoMoradia no Rioroleta no cassinoJaneiro (Hucitec, 2010).
Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
roleta no cassino BBC News Brasil - O 7roleta no cassinosetembro aparece no imaginário brasileiro muito pelo que retrata o quadro roleta no cassino Independência ou Morte roleta no cassino roleta no cassinoPedro Américo, feito 66 anos depois da proclamação e que mitifica os eventos daquele dia. Quais outros elementos do processoroleta no cassinoindependência não tiveram espaço no imaginário brasileiro?
roleta no cassino Ynaê Lopes do Santos - Acho importante a gente pontuar com duas dimensões essa história. A primeira dimensão, que nunca é contada, diz respeito às figuras que fizeram parte da construção desse mito: D. Pedro I e as elites que estavam com ele e a aposta que fizeram numa nação que nasceu alicerçada na escravidão.
É muito importante colocar a opção política que foi feitaroleta no cassinogrande medida como herançaroleta no cassinoum passado colonial, mas também como projetoroleta no cassinofuturo, tendoroleta no cassinovista que a escravidão já era uma instituição abertamente combatida pelaroleta no cassinoimoralidade. Essa imagem do Pedro Américo que,roleta no cassinocerta maneira, materializa esse mitoroleta no cassinoformação no Brasil retira essa escolha política feita por esses representantes da nação.
Isso foi uma escolha. Podia ter sido feito diferente. O patrono da independência do Brasil, José Bonifácio, propõe o fim gradual da escravidão, uma reforma agrária e a incorporação da mãoroleta no cassinoobra indígena. Nada disso é levadoroleta no cassinoconsideração. Porque você tem um projetoroleta no cassinopaís organizado por homens que se identificam com o proprietárioroleta no cassinoescravos.
Uma outra dimensão são as experiências dos sujeitos que não faziam parte das oligarquias brasileiras, mas que participaram ativamente desse processoroleta no cassinoindependênciaroleta no cassinoformação nacional. Os africanos escravizados, homens e mulheres negros, a participação indígenaroleta no cassinodiferentes momentos desse processoroleta no cassinoindependência.
Esse é um outro problema do quadro: ele fecha a ideia da independência do Brasil nesse 7roleta no cassinoSetembro, quando, na verdade, é impossível compreender o processoroleta no cassinoindependência sem tomá-lo como um processo.
roleta no cassino BBC News Brasil - E como a escravidão se insere no novo país que se estrutura após a independência?
roleta no cassino Santos - Quando as oligarquias e D. Pedro I escrevem a nossa Constituiçãoroleta no cassino1824, que é um dos primeiros produtos desse processoroleta no cassinoindependência do Brasil, e organizam esse estado nascente é definido justamente quem pode votar e por que pode votar. E esse exercício tem um recorte censitário, ele éroleta no cassinogrande medida definido por quem é ou não proprietárioroleta no cassinoescravos.
A palavra escravidão não apareceroleta no cassinonenhum momento na Constituição. Como a gente pode entender que a escravidão está sendo organizada dentro da Carta Constitucional? Quando a gente lê o artigo 179, que garante para o cidadão brasileiro o direito à propriedade privada. E a escravidão é propriedade privada.
As oligarquias sabem que a escravidão é formaroleta no cassinopropriedade mais disseminada no Brasil. O fatoroleta no cassinoa gente ter um tráfico muito volumoso para o Brasil facilitava isso. Havia pessoas pobres que compravam escravos a prazo. Elas davam uma entrada e depois pagavam as outras parcelas com o dinheiro vindo do trabalho realizado pelo escravo ou escrava.
A escravidão é isso. É uma instituição que alicerça o Brasil. Alicerça a mãoroleta no cassinoobra principal, a mãoroleta no cassinoobra para a economiaroleta no cassinoexportação, alicerça o sentimento que organiza o exercício da cidadania e também define os estratos sociais do país.
roleta no cassino BBC News Brasil - É subestimada a dimensão da escravidão como o elementoroleta no cassinogrande força da economia brasileira no século 19?
roleta no cassino Santos - Quando a gente olha para esse período do Brasil próximo à proclamação da independência, as décadasroleta no cassino1810, 1820 e 1830, o país não tem nenhum grande produto, nenhuma grande commodityroleta no cassinoexportação.
O nosso açúcar não compete com o açúcar do Caribe. O café tinha pouquíssimas experiências, não muito bem sucedidas. O algodão tem um pequeno momento, mas nada muito significativo. O que sustenta sobretudo o Sudeste brasileiro nesse período é o tráfico transatlântico: comprar e vender gente negra da África.
Muitosroleta no cassinonós aprendemos da história do Brasil a partir da perspectiva econômicaroleta no cassinociclos: o ciclo do açúcar, do ouro, do café... Se a gente fizesse um exame com mais cuidado, veria que sem o tráfico transatlântico não haveria nenhum desses ciclos, ao menos na forma como foram experimentados. Isso não é contado.
roleta no cassino BBC News Brasil - Quais figuras que participaram dos diversos processosroleta no cassinoindependência que poderiam ser mais bem conhecidas?
roleta no cassino Santos - Nesse período da independência tem uma figura fantástica, que é o Emiliano Mundrucu, um militar que compunha uma das milíciasroleta no cassinohomens negros e pardosroleta no cassinoPernambuco, que luta pela independência [na Confederação do Equador,roleta no cassino1824]. É partidário da república e um homem negro. Na ocasião da independência propriamente dita, ele é obrigado a fugir do Brasil e vai para o Haiti. De lá vai para os Estados Unidos, se casa com uma mulher negra e é um dos primeiros homens a mover uma ação pública contra a segregação racialroleta no cassinotransportes públicos. Um brasileiro. Como conhecemos tão pouco sobre isso?
roleta no cassino BBC News Brasil - O presidente Jair Bolsonaro está dando grande ênfase aos eventos deste 7roleta no cassinosetembroroleta no cassino2022 dentroroleta no cassinosua campanharoleta no cassinoreeleição. O que ele tenta evocar da história da independência e associar comroleta no cassinofigura?
roleta no cassino Santos - Bolsonaro é a reprodução das elites brasileiras que criaram o mito do 7roleta no cassinosetembro e que compactuaram com a manutenção da escravidão naquele momento e depois compactuaram com a manutençãoroleta no cassinoum racismo sistêmico no Brasil. Ele já deixou bem evidente que vai apostar numa perspectiva ufanista a partir do quadroroleta no cassinoPedro Américo.
Ele aposta na manutenção dessa perspectiva bem conservadora da história do Brasil, desse mitoroleta no cassinoum país que nasce a partirroleta no cassinoum militar que desembainharoleta no cassinoespada à beiraroleta no cassinoum rio. Do homem branco, militar, que constrói uma nação.
roleta no cassino BBC News Brasil - Você vê paralelos entre a figuraroleta no cassinoD. Pedro I eroleta no cassinoBolsonaro?
roleta no cassino Santos - Não muito. Acho que existe essa identificação com o homem branco militar meio toscão, mas D. Pedro era mais sofisticado. Talvez com o poder moderador [instrumento com que o imperador podia intervirroleta no cassinocasoroleta no cassinoconflito entre poderes e que se sobrepunha aos demais] que D. Pedro se outorgou.
roleta no cassino BBC News Brasil - Durante a corrida presidencial, roleta no cassino Ciro Gomes foi criticado por falar "imagine explicar isso na favela" ao elogiar uma plateiaroleta no cassinoempresários no Rio. Lula,roleta no cassinoentrevista ao podcastroleta no cassinoMano Brown, disse que "há uma evolução política dos negros" com a consciênciaroleta no cassinoque "não bastam ficar achando que é vítima". Há relação dessas frases com a história do racismo no Brasil?
roleta no cassino Santos - São homens brancos falando. O Ciro Gomes é um senhorroleta no cassinoengenho, talvez até competente, bem preparado, mas a perspectiva éroleta no cassinoum senhorroleta no cassinoengenho que, quando muito, reconhece a sabedoria popular, mas nunca a colocaroleta no cassinopéroleta no cassinoigualdade. Ele não tem um olhar horizontal para a população brasileira e a acho que ele não tem nenhum problemaroleta no cassinodizer isso.
O Lula é um homem branco que ainda precisa... talvez um dos mais sensíveis a essa questão racial, mas ainda falta uma percepção. Tanto é que foi no governo dele que grandes conquistas foram feitas porque ele abriu o diálogoroleta no cassinouma maneira mais direta com o movimento negro, mas falta uma consciência mais adensada.
roleta no cassino BBC News Brasil - Qual é o significado da efemérideroleta no cassino200 anosroleta no cassinoindependência brasileira pelaroleta no cassinoperspectiva?
roleta no cassino Santos - É uma espécieroleta no cassinoconvite para revisitar a história do Brasil. Eu sou contrária à perspectivaroleta no cassinoque a nossa independência foi menor ou que foi uma não-independência ou uma independência entre aspas. Quando a gente faz isso, esvazia as escolhas políticas que foram feitas e a gente naturaliza as coisas como "ah, escravidão existiu porque sempre teve". Não, teve porque quiseram que tivesse. Naquele momento já existiam críticas sobre a escravidão bem contundentes.
Eu vejo essa efeméride como um momento para a gente olharroleta no cassinomaneira crítica para a forma como a história brasileira vem sendo contada, para as escolhasroleta no cassinoprotagonistas e para a criação do repertório. O Brasil é fruto das escolhas feitas por suas elites. A gente naturaliza essas escolhas como se houvesse só um caminho. A história é um camporoleta no cassinodisputa. Sempre. A gente está vendo isso hoje.
Essa disputa que a gente experimenta hoje foram experimentadas no passado. Acontece que tem quem ganhe e tem quem perde. A gente tem que aprender também com quem perdeu a disputa pelo projeto político, porque outros Brasis estavam sendo pensados. Eu quero saber que Brasis eram esses.
- Este texto foi publicadoroleta no cassinohttp://vesser.net/brasil-62815411
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