Eleições 2022: 'voto envergonhado’lot betLula ou Bolsonaro pode decidir o pleito?:lot bet

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Últimas pesquisas mostram Lula à frentelot betBolsonaro nas intençõeslot betvoto, com possibilidadelot betvitória do petista aindalot betprimeiro turno

Não há consenso entre especialistas ouvidos pela BBC News Brasil sobre subnotificaçãolot betvotos.

O cientista político Antonio Lavareda, que é presidente do Conselho Científico do Ipespe (Institutolot betPesquisas Sociais, Políticas e Econômicas) e ligado à Universidade Federallot betPernambuco (UFPE), foi o primeiro a levantar essa hipótese, com vantagem para Bolsonaro.

Já Felipe Nunes, diretor do institutolot betpesquisas Quaest, diz exatamente o contrário: que há subnotificaçãolot betvotos a favorlot betLula. E que isso se dá por "vergonha" que parte do eleitorado sente ao votar no petista. Nunes diz que três estudos realizados por ele elot betequipe comprovam esse voto "envergonhado ou amedrontrado".

Por outro lado, Márcia Cavallari, do Ipec, e Luciana Chong, do Datafolha, embora reconheçam a 'espiral do silêncio' como fenômeno da opinião pública, sobre a qual dizem haver vários estudos, afirmaram que não encontraram evidênciaslot betsubnotificaçãolot betvotoslot betnenhum dos candidatos.

Todos ressalvaram que isso só poderá ser verificado com exatidão depois das eleições.

Crédito, José Cruz/Agência Brasil

Legenda da foto, Institutoslot betpesquisa usam aplicativo que simula urna eletrônica para permitir 'voto secreto' durante entrevistas para averiguar intençãolot betvoto

Vantagem para Bolsonaro

Lavareda sugeriu a possibilidadelot betsubnotificaçãolot betvoto a favorlot betBolsonaro como possível explicação para a discrepância entre os resultados das recentes pesquisaslot betintençãolot betvoto presenciais e por telefone. Em ambas, Bolsonaro aparece atráslot betLula, porém, na primeira modalidade, a diferença entre os dois candidatos é maior.

Ele diz acreditar que eleitores do atual presidente, especialmente entre as camadaslot betmenor renda e escolaridade, nas quais Lula tem intençãolot betvoto muito maior, estariam mais suscetíveis a omitir a preferência pelo atual presidente, quando questionados presencialmente sobrelot betquem votariam, diantelot betamigos ou vizinhos. Por outro lado, por telefone, ficariam mais "relaxados" para dizer a verdade.

"Alguns indivíduos, quando têm uma opinião sobre um assunto relevante, mas discrepante da maioria do seu grupo social, omitem essa atitude ou preferências para evitar entrarlot betconflito e ficar apartado do respectivo grupo", explica,lot betentrevista à BBC News Brasil.

"Minha hipótese é que isso pode acontecer entre pessoaslot betbaixa renda, nas quais Lula tem três vezes mais intençãolot betvoto do que Bolsonaro, sobretudolot betpesquisas presenciais. Nas pesquisas telefônicas, isso não ocorre ou se dá com muito menor intensidade. Esse eleitor que fica ressabiadolot betexpressarlot betpreferência conflitante com a preferência do grupo tem que 'confessar' essa preferêncialot betpúblico, e isso pode produzir algum constrangimento", acrescenta, reforçandolot betque se trata apenaslot betuma "suposição" e que não há dados concretos que a comprovem.

Mas se essa hipótese realmente for verdadeira, o mesmo não poderia acontecer com eleitoreslot betLula entre os mais ricos, nos quais Bolsonaro tem intençãolot betvoto maior?

"Sim, claro. Mas a magnitude disso,lot bettermos relativos, é muito menor. Há muito menos eleitores nas camadas mais altas da população do que nas camadas mais baixas, portanto, o impacto porcentual nas pesquisaslot betintençãolot betvoto é bem menor", pondera.

Lavareda destaca ainda que não se tratalot betum "voto envergonhado".

"A minha hipótese é que não é envergonhado. É um votolot betum cidadãolot betuma eleição altamente polarizada como essa prefere resguardar suas opiniões e atitudes para si próprio, para evitar acentuar conflitoslot betseu grupo social. Não é um voto envergonhado; o eleitor não tem vergonhalot better aquela preferência. Ele omite a preferência. É a espiral do silêncio e não espiral da vergonha", argumenta.

"Na percepção desse eleitor, ele é minoritário demais e há muita intolerância para um comportamento discrepante do que é modal no grupo", acrescenta.

Lavareda diz ainda acreditar que as manifestaçõeslot bet7lot betsetembro "podem ter eventualmente "liberado" esse voto oculto entre as pessoaslot betmenor escolaridade e renda. Ao reforçarem uma percepçãolot betsua forte presença na sociedade".

"Mas esses 38%lot betpesquisa posterior a elas devem nos deixar alertas para essa hipótese (de subnotificação)", ressalva.

O percentual citado por Lavareda constalot betuma pesquisa recente do Ipespe que perguntou "quando o assunto é eleição [você] evita dizerlot betquem vai votar, diz apenas se perguntado, ou fala abertamente quem é seu candidato?"

Do totallot betentrevistados, 38% responderam que evitam dizer quem vai votar; 19% dizem apenas se perguntados, 38% falam abertamente quem é seu candidato e 5% dizem não ter candidato ou não sabem ou não responderam.

E entre os que evitam dizerlot betquem vão votar, a maior parte (41%) tem Ensino Fundamental e ganha até dois salários mínimos (42%).

Vantagem para Lula

Felipe Nunes, da Qaest, pensa diferente.

"Não haveria por que o eleitorlot betBolsonaro confessar o voto numa direçãolot bet2018 e agora ter motivo para escondê-lo", acrescenta.

"Fizemos estudos que mostram que o eleitor do Lula não tem a mesma facilidade que o eleitor do Bolsonarolot betexpressarlot betpreferêncialot betseu candidato, o que explicaria porque vemos uma diferença tão grande nas ruas, por exemplo,lot betrelação a manifestações."

"Ele tem vergonhalot betvotar no Lula, ou até medo. Muito por causa dos escândaloslot betcorrupçãolot betque o PT esteve envolvido. Já o eleitorlot betBolsonaro é muito mais verbal; ele 'aparece mais', o que dá a falsa impressãolot betque as pesquisaslot betintençãolot betvoto não estão captando a vontade do povo", explica.

Nunes ressalva que esse comportamento do eleitorado petista "não tem a ver com renda".

Ele lembra que numa pesquisa da Quaestlot betabril sobre quem o entrevistado preferia que vencesse as eleições, 31% deles expressavam abertamente a preferência por Bolsonaro e que 30,7% preferiam o atual presidente como vencedor. Ou seja, não haveria voto "envergonhado"lot betBolsonarolot bet2022.

Mas a mesma pesquisa mostrou naquele momento que 41,8% dos entrevistados expressaram abertamente preferência pela vitórialot betLula, enquanto que 42,8% preferiam que o candidato do PT fosse presidente outra vez.

"O aumentolot bet1 ponto percentual favorece a teselot betque, se houver voto "envergonhado" nesta eleição, ele tem mais chancelot betser do eleitorlot betLula do quelot betBolsonaro", assinala Nuneslot betartigo desta quarta-feira (21/9) intitulado "Entre o voto envergonhado e o voto amedrontado" e publicado pela Revista Piauí.

No texto, Nunes recorre à teoria da "espiral do silêncio" para afirmar que, emlot betvisão, o "enquadramento moralista" adotado por eleitoreslot betBolsonaro ao falaremlot betLula, "com ênfase sobretudo no tema da corrupção, estaria incentivando apoiadoreslot betLula à autocensura".

"Tanto o medo quanto a propensão à autocensura do voto são maiores entre eleitoreslot betLula do que entre oslot betBolsonaro. Assim, além do voto "envergonhado" —lot betrazão da incapacidade do eleitorlot betLulalot betexpressarlot betpreferência num ambientelot betcobrança por uma posição socialmente desejável contra a corrupção -, identificamos uma autocensura causada também pelo medolot betintimidação social ou mesmolot betviolência", conclui Nunes no artigo, escritolot betparceria com Frederico Batista, professor da Universidade da Carolina do Nortelot betCharlotte e pesquisador visitante da Quaest.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Segundo teoria da 'espiral do silêncio', indivíduo tende a omitir opinião quando ela contraria opinião dominante, por medolot betisolamento, crítica ou chacota

Sem subnotificação

No entanto, outras diretoraslot betinstitutoslot betpesquisa eleitorais ouvidas pela BBC News Brasil, embora reconheçam a 'espiral do silêncio' como fenômeno da opinião pública, sobre a qual dizem haver vários estudos, afirmaram que a hipótese levantada por Lavareda não é corroborada, por enquanto, por dados concretos.

"Tenho colocado nos meus questionárioslot betquem você votou no segundo turnolot bet2018 e não há subnotificaçãolot beteleitores bolsonaristas", diz Márcia Cavallari, CEO do Ipec, instituto fundado por parte da equipe que atuava no antigo IBOPE.

Segundo ela, institutoslot betpesquisa normalmente usam métodos para tentar minimizar a possibilidadelot betsubnotificaçãolot beteleitores, ora por meiolot bet"perguntaslot betcontrole,lot betcomportamento eleitoral no passado" ou "pedindo ao entrevistado para votar secretamente, num tablet, sem ele ter que falar ao entrevistadorlot betquem ele está votando".

"Esse fenômeno ('espiral do silêncio') é muito antigo e sempre foi estudado; há mecanismoslot betminimizar isso, mas isso não impede que aconteça. Mas não sabemos se está acontecendo agora".

Luciana Chong, diretora do Datafolha, acrescenta que, por enquanto, não há dados que comprovem subnotificaçãolot betvotos.

"Temos um aplicativo que simula a urna eletrônica no qual o entrevistado pode reproduzir o voto dele. Realmente, não há dados que me indiquem que isso (subnotificação) possa estar acontecendo. O que faz é sempre ter alguns mecanismos para tentar entender isso melhor", diz.

"Sempre fazemos esse controle e não percebemos issolot betoutras eleições. Parece algo residual até agora. Mas cada eleição é diferente".

Ou seja, só teremos a certeza sobre a subnotificaçãolot betvotos após as eleições.

Crédito, noelle-neumann.de

Legenda da foto, 'Espiral do silêncio', aludida pelos especialistas, é uma teoria da ciência política e comunicaçãolot betmassa desenvolvida nas décadaslot bet60 e 70 pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann

'Espiral do silêncio': a teoria

A 'espiral do silêncio', aludida pelos especialistas, é uma teoria da ciência política e comunicaçãolot betmassa desenvolvida nas décadaslot bet60 e 70 pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann.

Segundo essa teoria, a vontade das pessoaslot betexpressar suas opiniões sobre questões públicas controversas é afetada pela percepção — amplamente inconsciente — que elas têm dessas opiniões como populares ou impopulares.

Em outras palavras: a percepçãolot betque a opiniãolot betalguém é impopular tende a inibir ou desencorajarlot betexpressão, enquanto a percepçãolot betque é popular tende a ter o efeito oposto.

Noelle-Neumann decidiu estudar o que levou à surpresa das eleições federais alemãslot bet1965. E fez uma descoberta surpreendente sobre a pesquisa eleitoral realizada durante a campanha daquela ocasião.

Meses antes do dia da eleiçãolot betsetembrolot bet1965, ela elot betequipe do Instituto Allensbachlot betPesquisalot betOpinião Pública lançaram uma sérielot betpesquisas destinadas a analisar as opiniões políticas do eleitorado durante a campanha.

De dezembrolot bet1964 até pouco antes do dia das eleições, os resultados da pesquisa sobre as intençõeslot betvoto dos eleitores permaneceram praticamente inalterados. Mês após mês, os dois principais partidos, o governista União Democrata-Cristã - União Social-Cristã (CDU-CSU) e opositor Partido Social-Democrata da Alemanha (SDP), estavam empatados, com cercalot bet45% da preferência do eleitorado cada um.

Sendo assim, seria impossível prever qual partido tinha mais probabilidadelot betvencer a eleição.

Porém, nas últimas semanas da campanha, a situação mudou repentinamente, com os resultados da pesquisa mostrando uma viradalot betúltima horalot betfavor da CDU-CSU. A porcentagemlot betentrevistados que disse que pretendia votar na CDU-CSU subiulot betsupetão para quase 50%, enquanto a parcela que pretendia votar no SDP caiu para menoslot bet40%. No final, o resultado da eleição confirmou o que as pesquisas haviam indicado: a CDU-CSU venceu com 48% dos votos, contra 39% do SDP.

Curiosamente, enquanto as intenções dos eleitores permaneceram inalteradas ao longolot betmuitos meses, suas expectativaslot betrelação ao resultado da eleição mudaram drasticamente durante o mesmo período. Em dezembrolot bet1964, a porcentagemlot betentrevistados que esperava a vitória do SDP era quase a mesma que a parcela que esperava uma vitória da CDU-CSU. Mas, então, os resultados começaram a mudar: a porcentagemlot betentrevistados que esperava uma vitória da CDU-CSU aumentou continuamente, enquanto o SDP perdeu terreno.

Jálot betjulholot bet1965, a CDU-CSU estava claramente na liderançalot betrelação às expectativas dos eleitores e,lot betagosto, quase 50% esperavam que o partido venceria. No final da campanha, um número considerávellot betex-apoiadores do SDP ou eleitores indecisos votaram no partido que acreditam que sairia vitorioso.

Noelle-Neumann investigou as causas sobre por que isso poderia ter acontecido. Ela suspeitou que uma visita da rainha Elizabeth 2ª à Alemanhalot betmaiolot bet1965, durante a qual ela foi frequentemente acompanhada pelo chanceler alemão democrata-cristão, Ludwig Erhard, pode ter criado um clima otimista entre os partidários da CDU, levando-os a proclamar publicamente suas convicções políticas. Como resultado, os partidários do opositor SDP podem ter (erroneamente) concluído que as opiniõeslot betseus oponentes eram mais populares do que as suas e que, portanto, a CDU venceria.

Os partidários do SDP foram, portanto, desencorajados a articular publicamente suas próprias opiniões, reforçando a impressãolot betque a CDU era mais popular e mais provávellot betser vitorioso.

Isolamento social

Segundo a teoria proposta por Noelle-Neumann, a maioria das pessoas tem um medo natural — e principalmente inconsciente — do isolamento social que as leva a monitorar constantemente o comportamento dos outroslot betbuscalot betsinaislot betaprovação ou desaprovação.

Para a cientista política alemã, a fimlot betevitar esse isolamento, tendemos a nos absterlot betexpor publicamente nossas opiniões sobre assuntos controversos quando percebemos que isso vai atrair críticas, desprezo, chacota ou outros sinaislot betdesaprovação.

Por outro lado, quando sentimos que nossas opiniões serão bem-recebidas tendemos a expressá-las sem medo e às vezeslot betuma forma bastante intensa.

Começa, assim, um processolot betespiral: o campo dominante se tornando cada vez maior e mais autoconfiante, enquanto o outro campo se torna cada vez mais silenciado.

É a 'espiral do silêncio'.

Na visãolot betNoelle-Neumann, contudo, a popularidade reallot betuma opinião não determina necessariamente se ela acabará por predominar sobre opiniões opostas. Ou seja, uma opinião pode ser dominante no discurso público mesmo que a maioria da população realmente discorde dela, desde que a maioria das pessoas acredite (falsamente) que essa opinião é impopular e se abstenhalot betexpressá-la por medolot betficar isolada.

O objetivolot betNeumann, comlot betteoria, era descrever mais amplamente a formaçãolot betopinião coletiva e a tomadalot betdecisões da sociedadelot betrelação a questões controversas ou moralmente carregadas.

E entender como os meioslot betcomunicaçãolot betmassa — e, por que não, as pesquisaslot betintençãolot betvoto — podem influenciar no comportamento da opinião pública.

- Este texto foi publicadolot bethttp://vesser.net/brasil-62761829

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