O que é ser bolsonarista?:2 betano

Crédito, Daniel Arce Lopez/BBC

Para entender tudo isso, as primeiras perguntas a serem respondidas são: quem são e o que defendem os bolsonaristas? Depois, é preciso entender o que está na origem do caldeirão do pensamento bolsonarista. Ou seja, o que há2 betanonovo e quais são as ligações com movimentos históricos, a exemplo do fascismo (como defendem alguns) ou do conservadorismo.

Bolsonaristas

Então, vamos lá. O que é ser bolsonarista?

Bolsonaro foi eleito presidente com 58 milhões2 betanovotos2 betano2018. Mas,2 betanouma eleição2 betanoque muitos dos eleitores que votaram no atual presidente no segundo turno haviam escolhido outros candidatos no primeiro, é difícil classificar todas essas 58 milhões2 betanopessoas como bolsonaristas — assim como nem todos os 47 milhões que votaram no candidato Fernando Haddad (PT) são petistas.

De qualquer forma,2 betano2018, Bolsonaro atraiu um eleitorado bastante amplo. Em seu livro O Brasil Dobrou à Direita, o cientista político e especialista2 betanoeleições Jairo Nicolau aponta que Bolsonaro venceu Haddad2 betano20182 betanotodos os níveis2 betanoescolaridade, sendo a primeira vez que o PT perdeu entre eleitores2 betanoensino fundamental e médio (40% do eleitorado total) desde a vitória2 betanoLula2 betano2002.

"Essa foi a primeira eleição2 betanoque praticamente todos os moradores2 betanoprédios e os porteiros votaram no mesmo candidato", Nicolau disse ter ouvido2 betanoum porteiro.

Crédito, Buda Mendes/Getty Images

Legenda da foto, Bolsonarismo é marcado pela mobilização constante2 betanoapoiadores2 betanotorno da figura do presidente Bolsonaro

Isso não significa, no entanto, que todos que votaram2 betanoBolsonaro concordavam necessariamente com todas as declarações e as bandeiras do candidato. Nicolau explica que parte dos eleitores disse2 betano2018, por exemplo, que o voto2 betanoBolsonaro era muito mais algo contrário a um partido/candidato do que a favor2 betanooutro. Ou seja, o voto2 betanoalguns eleitores era muito mais antipetista do que bolsonarista, por assim dizer.

Mas, após quase quatro anos2 betanogoverno Bolsonaro e a entrada2 betanoLula na disputa eleitoral2 betano2022, a composição dos bolsonaristas se transformou.

Segundo pesquisa do instituto Datafolha2 betanojunho2 betano2022, Bolsonaro só liderava2 betanoquatro grupos2 betanoeleitores: aqueles com renda familiar acima2 betano5 salários mínimos, empresários, evangélicos e habitantes da região Centro Oeste. Lula liderava2 betanotodos os outros grupos2 betanoeleitores.

Por isso, definir exatamente qual a parcela2 betanobolsonaristas na sociedade brasileira atualmente não é uma tarefa tão simples.

Para alguns especialistas, podem ser classificados como bolsonaristas todos os cerca2 betano30% dos eleitores (46 milhões2 betanopessoas aptas a votar) que apoiam o governo do presidente Jair Bolsonaro e dizem — segundo pesquisas — que vão votar por2 betanoreeleição2 betano2022.

Já outros acadêmicos defendem que bolsonaristas não seriam todos os apoiadores2 betanoBolsonaro, mas somente a parte considerada mais combativa e radical, os "bolsonaristas raiz", pegando emprestada a expressão do próprio Datafolha.

São aqueles eleitores e políticos que consideram o governo bom ou ótimo, que não abrem mão2 betanovotar no presidente e que dizem "acreditar sempre" nas declarações dele, segundo o instituto. Quase 15% do eleitorado formaria este grupo (cerca2 betano23 milhões2 betanopessoas).

O que move os bolsonaristas?

Levando-se2 betanoconta qualquer uma dessas medidas, os bolsonaristas são uma parcela bastante relevante do eleitorado. Por isso, desde que Bolsonaro despontou como favorito nas pesquisas eleitorais2 betano2018 e durante todo seu mandato, acadêmicos têm se debruçado para entender o que pensam seus apoiadores.

Dentre as várias pesquisas produzidas neste período, dois estudos jogam luz sobre o tema. Segundo as pesquisas Quem são e no que acreditam os eleitores2 betanoJair Bolsonaro (Fespsp),2 betano2018, e Bolsonarismo no Brasil (Iree/Uerj),2 betano2021, os sentimentos e valores que,2 betanomodo geral, são compartilhados pela maioria dos apoiadores do presidente incluem, entre outras coisas:

- sentimento2 betano"abandono" pelos políticos tradicionais

- ódio ao PT relacionado às políticas2 betanoinclusão defendidas pelo partido (sejam2 betanorenda, racial, social,2 betanogênero ou2 betanoorientação sexual)

- rejeição ao PT como resultado da corrupção revelada no mensalão e na Operação Lava Jato

- rejeição aos principais partidos políticos (também alvos da Lava Jato)

- esperança2 betanoque alguém que melhore a política

- medo2 betanoser vítima2 betanocrimes

- defesa do uso2 betanoarmas para auto-proteção

- temor2 betanomudanças na estrutura da família tradicional e na liberdade religiosa

- mal-estar com as novas identidades2 betanogênero e com educação sexual na escola

- liberalismo econômico (ou seja, atuação menor do Estado na atividade econômica)

- nostalgia da ditadura militar e defesa da participação2 betanomilitares na política

- crítica constante ao Supremo Tribunal Federal e a veículos jornalísticos pela cobertura supostamente injusta do governo Bolsonaro

- anticomunismo (contra a chamada "doutrinação marxista" nas escolas, por exemplo)

- defesa da flexibilização das leis ambientais para facilitar o avanço do agronegócio

- postura crítica, ainda que sem embasamento,2 betanorecomendações científicas2 betanotemas que geram conflito com metas econômicas, como a pandemia e o aquecimento global

É importante lembrar, claro, que nem todos os apoiadores2 betanoBolsonaro são movidos por todos estes valores, e eles podem aparecer2 betanomaior ou menor intensidade dependendo do grupo, classe social, religião ou gênero do eleitor. O bolsonarismo é um fenômeno complexo.

Crédito, EPA

Legenda da foto, Parte dos apoiadores2 betanoBolsonaro defendeu fechamento do Congresso e do Supremo

Podemos ter, por exemplo, uma eleitora evangélica hipotética que seja contrária ao armamento da população mas que, temerosa com o que enxerga como ameaças à família tradicional, escolha o bolsonarismo ainda que não concorde com o cardápio completo2 betanoideias.

Ou o caso2 betanoum eleitor ultraliberal que é contrário a cotas e outras ações afirmativas, mas que discorda do conservadorismo religioso que freia mudanças, por exemplo,2 betanoregras2 betanoaborto.

Já para os pesquisadores Paulo Gracino Junior (Iuperj), Mayra Goulart (UFRJ) e Paula Frias (Uerj), uma emoção específica uniria a maior parte dos bolsonaristas: o ressentimento.

"No caso da direita, o ressentimento volta-se contra a classe política e setores da população por ela privilegiados através2 betanoesquemas2 betanocorrupção e2 betanoclientelismo", afirmam os pesquisadores, que dizem que, no caso da esquerda, esse ressentimento se manifesta contra as elites econômicas, a concentração2 betanorenda, e símbolos da riqueza e do luxo.

Segundo o trio2 betanoestudiosos, esse ressentimento tem bastante força entre evangélicos porque nas últimas três décadas eles passaram2 betanogrupo humilhado cultural e socialmente, para uma camada social organizada e com forte representação cultural e política. Atualmente, dizem os pesquisadores, esse grupo se vê numa variação2 betanoum dos versículos bíblicos mais populares no meio evangélico pentecostal: "os humilhados serão exaltados".

Os evangélicos conservadores foram e são fundamentais no bolsonarismo. Estima-se que hoje os evangélicos representem um terço do eleitorado brasileiro e que Bolsonaro tenha vencido2 betano2018 nos principais segmentos religiosos, com margem expressiva entre os evangélicos (quase 70%).

Mas a identificação desse público com o bolsonarismo não é automática: pesquisas2 betanointenção2 betanovoto2 betano2022 têm apontado uma pequena dianteira, porém crescente,2 betanoBolsonaro contra Lula entre os eleitores evangélicos.

Aliás, um dado curioso sobre eleitores2 betanoBolsonaro e2 betanoLula: eles não pensam2 betanoforma tão diferente assim sobre alguns dos principais temas do país, como descriminalização do aborto e do uso2 betanodrogas.

Segundo pesquisa Datafolha feita2 betanodezembro2 betano2017, havia inclusive mais eleitores2 betanoLula que defendiam a prisão2 betanomulheres que fazem aborto (67%) e a proibição da maconha (69%) do que eleitores2 betanoBolsonaro (52% e 66% respectivamente).

Origens dos bolsonaristas

Se a gama2 betanovalores é complexa, a discussão sobre as origens do bolsonarismo não fica para trás.

Ao longo2 betanosua trajetória, Bolsonaro sempre foi um parlamentar ligado à defesa2 betanointeresses corporativos2 betanomilitares (como melhores salários e condições2 betanotrabalho). Mas2 betano2011, ele começou a ampliar2 betanobase eleitoral conservadora ao se apresentar como defensor da "família tradicional" e ficar ao lado da bancada evangélica nos embates contra a esquerda.

Não por coincidência, é neste mesmo ano, 2011, que surge na imprensa a primeira referência ao termo "bolsonarismo". Aparece2 betanouma coluna do jornalista Xico Sá na Folha2 betanoS.Paulo que abordava ataques homofóbicos2 betanotorcedores contra um jogador2 betanovôlei2 betanoum ginásio2 betanoMinas Gerais.

A palavra só voltaria a ser vista na grande imprensa três anos depois,2 betano2014, no jornal O Estado2 betanoS. Paulo,2 betanoartigo opinativo do jurista e professor da USP Conrado Hübner intitulado Reféns do Bolsonarismo, sobre como, nas palavras do autor, "a filosofia da discriminação dá voto e, invocada com raiva e fé, elege e reelege".

O artigo começa com a seguinte definição: "O Brasil tem assistido a surtos agudos2 betanoprimitivismo político. O fenômeno não é2 betanodireita nem2 betanoesquerda, não é2 betanooposição nem2 betanosituação, não é conservador nem progressista. Merece outro adjetivo porque não aceita, por princípio, a política democrática e as regras do jogo constitucional. Esforça-se2 betanocorroê-las o tanto quanto pode. Não está disposto a discutir ideias e propostas à luz2 betanofatos e evidências, mas a desqualificar sumariamente a integridade do seu adversário (e, assim, escapar do ônus2 betanodiscutir propostas e fatos). Cheio2 betanoconvicções, é surdo a outros pontos2 betanovista e alérgico ao debate. Não argumenta, agride. Dúvidas seriam sinais2 betanofraqueza, e o primitivo quer ser tudo menos um fraco. Suas incertezas ficam enrustidas no fundo da alma."

Crédito, João Fellet/BBC News Brasil

Legenda da foto, O falecido escritor Olavo2 betanoCarvalho é considerado um dos mais influentes nomes do bolsonarismo

No ano seguinte, 2015, segundo Wilson Gomes, professor da Universidade Federal da Bahia e autor do livro Crônica2 betanouma Tragédia Anunciada: Como a Extrema Direita Chegou ao Poder, o bolsonarismo começaria a despontar com a aproximação2 betanodois grupos que o autor identifica como eleitores2 betanoextrema direita e conservadores religiosos.

Segundo Gomes, o primeiro grupo, que ele classifica como2 betanode extrema direita, é formado2 betanogrande parte por saudosistas da ditadura militar e defensores2 betanovalores antidemocráticos. Já o grupo identificado como conservador religioso é formado em2 betanomaioria por evangélicos que têm críticas2 betanoordem moral contra parte da esquerda,2 betanoespecial a pautas ligadas a questões2 betanodireitos e identidades2 betanomulheres e2 betanopessoas LGBT.

Esses e outros grupos ganharam cada vez mais força na esfera pública a partir das manifestações2 betanojunho2 betano2013. Para Gomes, esse foi um momento deflagrador no Brasil2 betanoque diversas insatisfações da população "saíram do armário"2 betanodireção à esfera pública. Muitas nunca mais voltaram.

De 2015 a 2018, explica Gomes, o número2 betanobolsonaristas foi se multiplicando graças a outros sentimentos — como antipetismo e o repúdio ao sistema político-partidário tradicional — e fatores variados, como a eleição2 betanoDonald Trump nos Estados Unidos e o uso eficiente das mídias sociais por pessoas no entorno2 betanoBolsonaro, como seu filho Carlos.

O contexto nesses anos também não era favorável ao PT. A Operação Lava Jato fazia acusações2 betanocorrupção contra políticos2 betano33 partidos, mas caía principalmente na conta do governo petista que estava no poder. Além disso, o país vivia a pior recessão2 betanodécadas e, no ano da eleição2 betano2018, o ex-presidente Lula, que liderava pesquisas eleitorais, foi condenado2 betanoum processo iniciado pelo então juiz Sergio Moro.

Foi neste cenário que nasceu o bolsonarismo. Mas, para a antropóloga Rosana Pinheiro-Machado e o historiador Adriano2 betanoFreixo, embora o movimento gire2 betanotorno2 betanoJair Bolsonaro, ele vai bem além do presidente.

"(O bolsonarismo é) um fenômeno político que transcende a própria figura2 betanoJair Bolsonaro, e que se caracteriza por uma visão2 betanomundo ultraconservadora, que prega o retorno aos 'valores tradicionais' e assume uma retórica nacionalista e 'patriótica', sendo profundamente crítica a tudo aquilo que esteja minimamente identificado com a esquerda e o progressismo", escreveu no livro Brasil2 betanoTranse: Bolsonarismo, Nova Direita e Desdemocratização.

O presidente Bolsonaro (ao lado2 betanoseus principais aliados, como oficiais2 betanoalta patente das Forças Armadas, que2 betano2014 abriram as portas da Academia Militar das Agulhas Negras para o candidato se aproximar2 betanojovens oficiais e atualmente fazem parte do núcleo duro do governo Bolsonaro) teria se posicionado, portanto, como a pessoa que, no lugar certo e no momento certo, conseguiu projetar nacionalmente esse conjunto2 betanovalores que já orbitava no Brasil.

"Poderia ter sido chamado2 betano'cunhismo' se Eduardo Cunha não tivesse falecido politicamente para 'matar' Dilma. Ou 'felicianismo', se Marco Feliciano pudesse representar a ponta2 betanolança dessa posição política", diz o professor Wilson Gomes sobre o mesmo assunto.

Berço histórico?

Mas se a união2 betanovárias vertentes conservadoras2 betanotorno2 betanoBolsonaro deu origem ao bolsonarismo, alguns pesquisadores tentam ir mais longe e buscar na História as raízes deste movimento. E, mesmo entre eles, não há consenso.

Para alguns especialistas, o bolsonarismo é um herdeiro2 betanoideias e ações do fascismo, movimento político autoritário criado por Benito Mussolini na Itália do início do século 20 e que inspirou outras ideologias como o nazismo na Alemanha e o franquismo na Espanha.

Outros apontam semelhanças com o bonapartismo, conceito da Ciência Política usado para descrever, grosso modo, regimes políticos caraterizados pela presença2 betanoum líder carismático que cria dificuldades (instabilidade política) para vender facilidades (salvador da pátria).

Por outro lado, há pesquisadores que apontam raízes no conservadorismo e no tradicionalismo, duas correntes que defendem a preservação2 betanovalores morais e religiosos2 betanoum tempo2 betanoque "tudo era diferente e melhor". Importante lembrar que essas ideias foram amplamente disseminadas pelo escritor Olavo2 betanoCarvalho, considerado por muitos guru do bolsonarismo.

Há, por fim, analistas que apontam como bolsonaristas adotaram estratégias2 betanocomunicação2 betanoseus maiores adversários: os petistas.

Isso não significa que sejam equivalentes, parecidos ou dois lados2 betanouma mesma moeda. Mas que o bolsonarismo, na visão desses especialistas, incorporou discursos políticos bem-sucedidos dos petistas, como dicotomia (nós contra eles), a autovitimização e até as críticas à chamada grande imprensa.

Para entender melhor essas teorias, vamos explorar mais detalhadamente cada uma dessas ideologias e analisar suas semelhanças — e diferenças — com o bolsonarismo.

2 betano Fascismo

É comum ouvir2 betanoredes sociais ou na imprensa comparações do bolsonarismo com o fascismo. Para o cientista político Armando Boito Jr., da Universidade2 betanoCampinas (Unicamp), por exemplo, o bolsonarismo é um movimento2 betanomassas neofascista (herdeiro do fascismo italiano) e reacionário (defesa da volta a um passado tido como glorioso).

Segundo Boito Jr., o bolsonarismo é formado principalmente pela classe média e caracterizado por bandeiras como anticomunismo, culto à violência (contra criminosos ou até adversários políticos), nacionalismo autoritário e conservador, críticas à corrupção e à velha política democrática e politização do machismo, do racismo e da homofobia.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Benito Mussolini liderou na Itália o primeiro movimento fascista2 betanomassa

Mas nem todos os acadêmicos concordam que se busquem etiquetas históricas para fenômenos novos.

É o que pensa o historiador Emilio Gentile, considerado o maior especialista vivo2 betanofascismo na Itália. Para ele, os termos fascismo ou fascista só devem ser adotados para descrever os movimentos2 betanomassa organizados militarmente que tomaram o poder entre as duas Grandes Guerras Mundiais.

"É um grande erro porque não nos permite compreender a verdadeira novidade destes fenômenos e o perigo que eles representam. E o perigo é que a democracia possa se tornar uma forma2 betanorepressão com o consentimento popular. A democracia2 betanosi não é necessariamente boa. Só é boa se realiza seu ideal democrático, isto é, a criação2 betanouma sociedade onde não há discriminação e na qual todos podem desenvolver2 betanopersonalidade livremente, algo que o fascismo nega completamente", disse Gentile à BBC2 betanomarço2 betano2019, quando se completou 100 anos da origem oficial do fascismo italiano.

"Então, o problema hoje não é o retorno do fascismo, mas quais são os perigos que a democracia pode gerar por si só. Ou seja, quando a maioria da população — ao menos, a maioria dos que votam — elege democraticamente líderes nacionalistas, racistas ou antissemitas."

2 betano Bonapartismo

Há pesquisadores, por outro lado, que apontam semelhanças entre o bolsonarismo e o bonapartismo, um conceito disseminado pelo filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) a partir2 betanoum estudo (O 182 betanoBrumário2 betanoLuís Bonaparte) sobre o imperador francês Luís Napoleão Bonaparte.

Segundo Marx,2 betanolinhas gerais, um bonapartista é um líder político carismático e autoritário que se alimenta da instabilidade para se apresentar como garantidor da estabilidade. Ou seja, é como se ele se aproveitasse da dificuldade para vender facilidade.

Além disso, essa liderança chamada2 betanobonapartista ocupa um papel2 betanorepresentante direto do povo, subordina a sociedade e os poderes Legislativo e Judiciário ao seu próprio poder (o Executivo), persegue inimigos e conta com o apoio das classes dominantes que temem perder seus privilégios com o avanço da classe trabalhadora.

No artigo Democracia e Bonapartismo no Brasil, o historiador e professor Felipe Demier (Uerj) afirma que o projeto bolsonarista pode ser caracterizado como um semibonapartismo associado a um ultraneoliberalismo (individualista e contrário à participação do Estado na economia) que ataca direitos sociais, censura universidades e amplifica a violência do Estado contra minorias.

2 betano Conservadorismo e tradicionalismo

Outros especialistas apontam ligações do bolsonarismo com duas correntes2 betanopensamento um pouco parecidas, mas com diferenças fundamentais: o tradicionalismo e o conservadorismo.

Segundo alguns estudiosos, como o americano Benjamin Teitelbaum, o tradicionalismo chega aos bolsonaristas por influência do escritor Olavo2 betanoCarvalho (1947-2022), chamado por alguns analistas2 betanoguru da nova direita brasileira e, por extensão,2 betanoguru do bolsonarismo. Ele ministrou cursos2 betanofilosofia pela internet por duas décadas e influenciou diversos nomes próximos ao presidente, a exemplo2 betanoseus filhos.

Católico e conservador, Olavo é associado por Teitelbaum ao tradicionalismo, doutrina abraçada também por ideólogos como Steve Bannon, estrategista da vitória2 betanoTrump2 betano2016. Os tradicionalistas acreditam que a humanidade vive2 betanoum tempo cíclico: sendo a era2 betanoouro aquela regida por valores tradicionais e religiosos e o período2 betanoescuridão, por progresso material e2 betanogovernos democráticos ou comunistas.

No caso do conservadorismo, especialistas apontam diversas facetas que podem ser associadas ao bolsonarismo no Brasil. Em entrevista à BBC News Brasil, a pesquisadora e professora Esther Solano Gallego (Unifesp) aponta cinco eixos: segurança pública, disciplina e ordem do militarismo, o tripé tradição-família-religião, medo do comunismo e a figura do cidadão2 betanobem.

2 betano Lulismo/Petismo

Há especialistas, por outro lado, que apontam raízes do bolsonarismo2 betanouma reação ao próprio petismo/lulismo. Tanto como oposto (ou seja, surge para combatê-lo) quanto a inspiração2 betanoestratégias2 betanocomunicação política.

Crédito, Montagem com fotos da ABR e da AFP

Legenda da foto, Pesquisadores afirmam que bolsonaristas incorporaram táticas2 betanocomunicação bem-sucedidas dos petistas

"O bolsonarismo é fruto2 betanoum processo2 betanoreação à construção do petismo como o movimento político mais competitivo da Nova República (desde 1985). O PT conseguiu se consolidar como o único partido da República realmente estruturado2 betanobaixo para cima, ou seja, da militância para a liderança, apesar2 betanoter Lula como ícone. O bolsonarismo acaba, por outro lado, consolidando a expectativa daqueles que faziam oposição ao PT pelo surgimento2 betanoum anti-Lula", afirma2 betanoentrevista à BBC News Brasil o cientista político e professor Creomar2 betanoSouza (Fundação Dom Cabral).

Segundo Souza, muitos esperavam que o anti-Lula seria um político2 betanoperfil mais técnico e menos popular, mas "o que aconteceu é que esse anti-Lula,2 betanoalgum sentido, se assemelha2 betanoalgumas características do próprio petismo e da própria forma que o PT fez para chegar ao poder, criando dicotomia, binarismo e embate constante".

Para Idelber Avelar, professor2 betanoliteratura latino-americana na Universidade Tulane, nos EUA, e autor do livro Eles2 betanoNós: Retórica e Antagonismo Político no Brasil do Século 21, houve nos últimos anos um processo2 betanoalimentação mútua entre o lulismo e o bolsonarismo que possibilitou a emergência dos bolsonaristas. Ele cita, por exemplo, que a retórica bolsonarista se assemelha à lulista2 betanotemas como a "autovitimização", os constantes ataques à imprensa, às referências a teorias conspiratórias e ao culto do líder como infalível.

Avelar propõe ainda que o bolsonarismo ganhou força e serviu como instrumento2 betanocidadania e participação política para muitas pessoas que se sentiam excluídas e ressentidas no debate político tradicional.

- Este texto foi publicado originalmente2 betanohttp://vesser.net/brasil-62490534

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