Petista morto por bolsonarista disse há 2 meses que policiais da esquerda seriam 'primeiras vítimas'bet luva de pedreiroviolência política, diz amigo:bet luva de pedreiro

Fábio Vargas disse à BBC News Brasil que o guarda municipal, que era petista, dizia se sentir "visado" por ser um agentebet luva de pedreirosegurançabet luva de pedreiroesquerda.

"O que ele falou nesse próprio evento é que policiaisbet luva de pedreiroesquerda como ele é que seriam as primeiras vítimas numa eventual escalada autoritária no país. Eles seriam os primeiros a cair, segundo ele explicou no seminário, para evitar que repassassem conhecimento estratégico a uma resistência democrática", contou.

"Ou seja, esses agentesbet luva de pedreirosegurançabet luva de pedreiroesquerda seriam os primeiros visadosbet luva de pedreiroqualquer tentativabet luva de pedreiroruptura democrática que se instaurasse no país. E, lamentavelmente, foi ele o primeiro a tombar. Foi ele a primeira vítima desse vaticínio que ele mesmo fez, lamentavelmente."

Tratados como 'inimigos'

Vargas diz que Arruda era atuantebet luva de pedreirodebates sobre segurança pública, moradia e assistência socialbet luva de pedreiroFoz do Iguaçu, alémbet luva de pedreiroser conhecido por ter sido candidato a vice-prefeito pelo PT.

Segundo o advogado, o guarda municipal manifestava publicamente preocupação que a narrativabet luva de pedreiroBolsonarobet luva de pedreiroclassificar a esquerda e o PT "como inimigos" pudesse se reverterbet luva de pedreiroviolência, principalmente contra policiais que discordam da visão do governo.

"Ele dizia que, como policialbet luva de pedreiroesquerda, estaria mais visado com esse comportamentobet luva de pedreirotratar o outro como inimigo, esse direito penal do inimigo que, segundo ele, o Bolsonaro vem tentando implantar no país, criminalizando a posturabet luva de pedreiroesquerda, invocando usobet luva de pedreiroarmas e incentivando abet luva de pedreiromilitância a ser aguerrida. Ele falou isso no evento", disse Vargas à BBC News Brasil.

"O Marcelo se sentia visado. Nesse evento mesmo ele já tinha feito esse alerta dessa posiçãobet luva de pedreiroque ele e outros companheiros se encontravam,bet luva de pedreiroserem mais visados."

'Primeiros a matar e morrer'

Especialista no estudo da relação entre violência e política, o professor Gabriel Feltran, da Universidade Federalbet luva de pedreiroSão Carlos (UFScar), concorda com a avaliação feita por Arruda antesbet luva de pedreiromorrer.

Para Feltran, que também estuda a politização das polícias, agentesbet luva de pedreirosegurança são mais propensos a cometer violência política e, também, sofrer agressões se não estiveram "alinhados" com a ideologia dominante do resto da corporação.

"Onde a gente vê com mais clareza a consolidaçãobet luva de pedreirouma ideiabet luva de pedreiroque vivemos numa sociedadebet luva de pedreiroguerra é nas polícias militares. E essa ideiabet luva de pedreiroguerrabet luva de pedreirouma parcelabet luva de pedreirouma população contra outra vai se expandindo como ideologia militarista pelas outras forçasbet luva de pedreirosegurança, como polícias civis, guardas municipais, polícias penais", explica o sociólogo, que também é autor do livro "Irmãos: uma história do PCC".

O crime que resultou na mortebet luva de pedreiroArruda envolveu dois agentesbet luva de pedreirosegurança armados: um guarda municipal e um agente penal federal. Tempos atrás essas duas funções não previam portebet luva de pedreiroarma, mas houve, segundo Feltran, uma "militarização" das diferentes carreirasbet luva de pedreirosegurança no país nos últimos anos, principalmente no governo Bolsonaro.

"Acho que os policiais são os mais propensos a cometer os crimesbet luva de pedreiroódio na medidabet luva de pedreiroque eles são, pelas suas instituições e pela sociabilidade policial, instilados ao ódio. A ideiabet luva de pedreirouma polícia cidadã passa muito longe do que a gente tem hoje no Brasil", disse à BBC News Brasil.

"Qual é a diferença entre uma polícia cidadã e uma polícia guerreira? A polícia cidadã considera que a gente vive numa democraciabet luva de pedreiroque há 220 milhõesbet luva de pedreirocidadãos. E esses cidadãos têm que ser protegidos pelos policiais. Nós passamos muito longe disso. O que a gente tem no Brasil é uma lógicabet luva de pedreiroque existem trabalhadores e bandidos. Existem cidadãos e bandidos."

Expansão da noçãobet luva de pedreiro'bandido'

Para Feltran, a mesma lógica difundida entre camadas conservadoras do Brasilbet luva de pedreiroque "bandido bom é bandido morto" está se expandindo, por meiobet luva de pedreirodiscursosbet luva de pedreiroódio, para a política, com a defesabet luva de pedreiroque um grupo considerado corrupto ou "bandido" seja extirpado.

"O perfilbet luva de pedreiro75% a 85% dos nossos homicídios no Brasil é homem, jovem, negro, favelado. Para esses, constrói-se a lógica antidemocráticabet luva de pedreiroque se pode matar à vontade, porque seriam bandidos. Eles não teriam direito algum, não fariam parte da cidadania. Agora, essa fronteira (de exclusão) está se alargando para grupos que não apoiam o projetobet luva de pedreironaçãobet luva de pedreiroBolsonaro", diz.

Feltran cita como exemplosbet luva de pedreiroepisódios violentos recentes o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), na cidade do Riobet luva de pedreiroJaneiro, e a execução do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips por pescadores ilegais na Amazônia. Também aponta para a crescente violênciabet luva de pedreirooperações policiais, como no Jacarezinho,bet luva de pedreiro2021, e na Vila Cruzeiro, neste ano, consideradas as duas mais letais da história do Estado do Riobet luva de pedreiroJaneiro.

"Não precisabet luva de pedreiromuita sofisticação para a gente ver as conexões entre esses eventos. Eu não trataria esse evento (do assassinatobet luva de pedreiroMarcelo Arruda) como um algo isolado. Como um episódiobet luva de pedreiroum maluco que decidiu ir lá e dar um tiro numa outra pessoa que ele não conhecia. Não se trata disso, ao contrário. Para mim, a gente tem que encadear os eventosbet luva de pedreiroviolência que vêm acontecendo no Brasil, no quadro social, no quadro político, no quadro econômico."

Para o sociólogo, o assassinato do guarda municipal petista não é mais um reflexo da retóricabet luva de pedreiroviolência na política que, segundo ele, começou a ganhar força a partirbet luva de pedreiro2013 e se intensificou no governo Bolsonaro.

"Esse é um crimebet luva de pedreiroviolência política muito clássico, marcado por ódio, porque os dois homens não se conheciam. Uma grande maioria dos homicídios no Brasil acontecem entre pessoas que se conhecem e que vão acumulando conflitos ao longo do tempo, até que estoura. Nesse caso não, trata-sebet luva de pedreiroum crimebet luva de pedreiroódio", diz.

"O policial penal soube que havia uma festabet luva de pedreiroum petista. Ele vai lá e ele fala: 'eu vou matar todo mundo'. Porque ele imagina na cabeça dele que o petismo é um câncer da sociedade, que tem que ser extirpado, uma ideia alimentada no governo Bolsonaro."

Já Bolsonaro rebateu afirmaçõesbet luva de pedreiroque suas declarações produzem atos concretosbet luva de pedreiroviolência dizendo: "Falar que não são esses e muitos outros atos violentos, mas frases descontextualizadas que incentivam a violência é atentar contra a inteligência das pessoas. Nem a pior, nem a mais mal utilizada forçabet luva de pedreiroexpressão será mais grave do que fatos concretos e recorrentes".

Ele ainda acusou a esquerdabet luva de pedreiroser violenta e resgatou o episódiobet luva de pedreiroque foi alvobet luva de pedreirouma facada na campanhabet luva de pedreiro2018. Segundo as investigações policiais, o autor da facada, Adélio Bispo, que havia sido filiado no passado ao PSOL, uma legendabet luva de pedreiroesquerda, tem transtornos mentais e agiu sozinho. Também na eleição passada, a caravana da pré-campanhabet luva de pedreiroLula foi recebida com tiros no Paraná, mas ninguém se feriu. E, na última sexta-feira (8/7), um homem jogou um artefato explosivo com fezes e urina no meiobet luva de pedreiroum comício do ex-presidente, no Riobet luva de pedreiroJaneiro.

Pelo Twitter, Lula prestou solidariedade às famíliasbet luva de pedreiroArruda ebet luva de pedreiroGuaranho, alémbet luva de pedreiroargumentar que o bolsonarista agiu "estimulado por um presidente irresponsável". "Também peço compreensão e solidariedade com os familiaresbet luva de pedreiroJosé da Rocha Guaranho, que perderam um pai e um marido para um discursobet luva de pedreiroódio estimulado por um presidente irresponsável", disse.

Bolsonaro também se manifestou sobre o caso nas redes sociais, mas não lamentou a morte do guarda municipal nem apresentou condolências à famíliabet luva de pedreiroArruda. "Dispensamos qualquer tipobet luva de pedreiroapoiobet luva de pedreiroquem pratica violência contra opositores. A esse tipobet luva de pedreirogente, peço que por coerência mudebet luva de pedreirolado e apoie a esquerda", escreveu ao republicar uma mensagembet luva de pedreiro2018 no Twitter.

- O texto foi publicadobet luva de pedreirohttp://vesser.net/brasil-62136907

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