'Minha filha nasceu desnutrida': 10 milhõesbetclub apkcrianças sobrevivembetclub apkfamílias com R$ 300 por mês:betclub apk

Dados compilados pela Fundação Abrinq revelaram que, nos últimos cinco anos, aumentoubetclub apkmaisbetclub apk2 milhões o númerobetclub apkcrianças que têm renda familiarbetclub apkaté um quarto do salário mínimo no Brasil. Isso significa que, assim como a filhabetclub apkVitória, 10,5 milhõesbetclub apkpessoas com menosbetclub apk14 anos têm menosbetclub apkR$ 303 para se alimentar, comprar roupas, medicamentos e gastar com momentosbetclub apklazer por mês.

Esses dados foram extraídos da última Pesquisa Nacional por Amostrabetclub apkDomicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, e revelam, na visão dos especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, um problema social grave, com impacto econômico, educacional,betclub apksegurança e saúde pública.

Isso ocorre porque uma criança inseridabetclub apkuma família que se encontra nessas condições não consegue ter acesso a uma alimentação saudável.

Sem comidabetclub apkqualidade, ela não se concentra nos estudos e precisa começar a trabalhar mais cedo para complementar a renda da casa.

A tendência é que esse ciclobetclub apkfome, desnutrição e baixa renda leve à perpetuação da pobreza desta criança e da família dela.

Hoje, Vitória se separou do homem que era viciadobetclub apkdrogas e mora com a filha e o atual maridobetclub apkuma casa alugada. Somando o Auxílio Brasil e o salário dele, a família tem uma renda mensalbetclub apkR$ 1400.

"No mês passado, fiquei sem nada dentrobetclub apkcasa. Aqui tem um bar que a gente pega fiado para depois pagar, mas é caro. Esses dias eu fiz até pouca comida. Minha mãe me deu uma cesta básica para ajudar porque é muito difícil", diz.

Mas essa situação não é nova na família dela.

"(Na minha infância), meu padrasto estava preso e minha mãe ficava com sete filhosbetclub apkcasa. Ela faziabetclub apktudo para criar a gente", lembra.

Na época, nenhum dos irmãos trabalhava. Hoje, a irmã dela também passa por uma situaçãobetclub apkvulnerabilidade financeira após ser abandonada pelo marido.

Base do desenvolvimento

A diretora-presidente da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Mariana Luz, defendeu que a primeira infância (até os 6 anos) deve ser tratada como prioridade entre as políticas nacionaisbetclub apkgoverno.

"É nessa fase que você forma todas as bases do desenvolvimento. Nessa fase, o cérebro faz 1 milhãobetclub apkconexões por segundo e forma 90% dele. É o que a gente chamabetclub apkdesenvolvimento integral, composto por três dimensões: física e motora, cognitiva e a sócio-emocional", diz Luz.

Ela explica que, para desenvolver essas conexõesbetclub apkmaneira plena, a criança precisa receber estímulos e ter uma base sólidabetclub apkcrescimento.

"Tem que olhar a educação, saúde e assistência social. É necessário que essas pastas do governo trabalhem juntas para que a criança não passe fome, tenha acolhimento e amparo social adequado, tratamentobetclub apksaúde e vacina. A mãe precisa compreender o que acontece com a criança e acompanhar a educação dela. Também é necessário que ela frequente a creche e a pré-escola para que os pais trabalhem e tenham renda", afirma.

Segundo Mariana Luz, há 20 milhõesbetclub apkcrianças no Brasil e umabetclub apkcada três vive na extrema pobreza. Para ela, esse problema só vai ser combatido efetivamente quando for tratadobetclub apkmaneira sistêmica.

"Não adianta ter ações pontuais e não endereçá-lasbetclub apkuma forma mais completa. É algo complexo, mas viável. Cidades no Brasil têm compreendido essa abordagem, como São Paulo e Boa Vista. Ao mesmo tempobetclub apkque estamos no topo da produçãobetclub apkalimentos do mundo, a gente desperdiça até oito vezes o que poderia alimentar essa população que passa fome", diz.

Hoje, a filhabetclub apkVitória, que morabetclub apkSão Miguel Paulista, no extremo lestebetclub apkSão Paulo, recebe atendimento do Centrobetclub apkRecuperação e Educação Nutricional (Cren) e ganhou peso nos últimos meses. No local, ela recebe atendimento médico, nutricional, recebe dicasbetclub apkalimentação saudável e ainda é auxiliada para se inscreverbetclub apkprogramas do governo.

Nas próximas semanas, a família deve deixar a casa onde vive hoje por não conseguir arcar com o valor do aluguel.

O marido dela pediu R$ 2 mil emprestado para o patrão dele, usou o dinheiro para comprar madeiras e está construindo um barraco para a família numa ocupação a poucos metros da casa dela. O local foi atingido por um incêndio no último mês, mas Vitória diz que essa é a única saída, pois não consegue mais pagar o aluguel.

Ela agora planeja deixar a filha na creche e aos cuidados da mãe dela para conseguir voltar a trabalhar.

Pediatra e nutróloga do Cren, Maria Paulabetclub apkAlbuquerque integrou o Grupobetclub apkTrabalhobetclub apkSaúde e Nutrição da Agenda 227, que produziu 148 propostasbetclub apkpolíticas públicas a serem implementadas no próximo governo. Ela afirma que a pobreza carrega consigo diversos fatores que afetam diretamente toda a vida daquela criança e a sociedade onde ela vive.

"Junto com uma renda inferior, existe a questão da escolaridade e o comprometimento ao acesso a alimentosbetclub apkqualidade. O problema é muito complexo. Num contexto urbano como obetclub apkSão Paulo, as famílias consomem mais alimentos ultraprocessados,betclub apkpéssima qualidade, masbetclub apkconsumo rápido e fácil preparo. Essas famílias vivem nas periferias, com vazios assistenciais e gastam quatro horas no transporte", afirma.

Ela define esse cenário como "devastador para a primeira infância".

"Isso perpetua a pobreza e impacta até três gerações. Tornar esse país menos desigual pede soluções sistêmicas, que não podem ser determinadas pelo acesso. Famílias recebem transferênciabetclub apkrenda, mas se eu não qualifico esse processo e as trago para o centro da discussão, vai ficar somente o acesso pelo acesso", afirma.

Albuquerque assinala que a pandemia da covid-19 e as mudanças climáticas ampliaram a desigualdade social e, consequentemente, a insegurança alimentar entre os mais pobres. Ela diz que esse cenário pode acelerar o surgimentobetclub apkuma cadeiabetclub apkproblemas.

"Sem dinheiro na gestação, a mãe troca uma carne por uma salsicha ou uma fruta por sucobetclub apkpó. Isso aumenta a chancebetclub apkdoenças crônicas para ela e restringe o crescimento intraútero do bebe. Se ela passa fome, isso reduz o tecido nervoso do bebê, dificulta a formação dos rins e ele já nasce desnutrido", afirmou.

A médica afirma que esse fator aumenta as chancesbetclub apkas crianças desenvolverem um quadrobetclub apkansiedade e depressão, alémbetclub apkinfecções. Uma criança desnutrida, conta ela, tem 16 vezes mais chancebetclub apkmorrerbetclub apkpneumonia quando comparada a uma com o peso normal. Ela terá problemasbetclub apkaprendizado por contabetclub apkdificuldades cognitivas e neurológicas.

"O organismo dela vai se programar para a faltabetclub apkalimento e, por conta desse fenótipo poupador, quando entrar na vida adulta, ela terá grande chancebetclub apkdesenvolver obesidade. Isso ocorre porque o corpo dela foi feito para poupar energia. Ela acumula gordura no fígado e no abdômen. Isso eleva o riscobetclub apkdiabetes e hipertensão. A criança vai sendo programada para ser um adulto doente", afirma.

A médica, que também faz partebetclub apkum grupobetclub apkestudos da Universidadebetclub apkSão Paulo (USP) diz que isso gera "um ônus enorme" para o indivíduo e para a sociedade. Albuquerque defende que o governo deveria subsidiar a produçãobetclub apkalimentos mais saudáveis e pequenos produtores,betclub apkvezbetclub apkgrandes indústriasbetclub apkalimentos industrializados.

"Não faz sentido um refrigerante ser subsidiado pelo Estado. É um absurdo os ultraprocessados serem mais acessíveis. Mas isso acontece porque há uma lógicabetclub apkmercado. A agricultura faz uma monocultura e aumenta o custo. Isso favorece o grande produtor e a monocultura", diz ela.

- Este texto foi originalmente publicadobetclub apkhttp://vesser.net/brasil-62068448

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