Por que expressão usada por Piquet para falarlampionsbetHamilton é racista, segundo especialistas:lampionsbet

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Legenda da foto, 'Mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte', escreveu Lewis Hamilton, após usolampionsbetexpressão racista pelo ex-piloto Nelson Piquet

A fala gerou ampla repercussão, sendo repudiada pelo próprio Hamilton, pela Fórmula 1, Mercedes, FIA (Federação InternacionallampionsbetAutomobilismo) e dezenaslampionsbetpessoas nas redes sociais.

"É mais do que linguagem", escreveu Hamilton, emlampionsbetconta no Twitter. "Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Eu fui cercado por essas atitudes e fui alvo delas minha vida toda. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação."

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"Linguagem discriminatória ou racista é inaceitável sob qualquer forma e não tem espaço na sociedade", disse a Fórmula 1,lampionsbetcomunicado postadolampionsbetconta oficial na rede social.

"Lewis é um embaixador incrível para nosso esporte e merece respeito. Seus esforços incansáveis para aumentar a diversidade e a inclusão são uma lição para muitos e algo com o qual estamos comprometidos na F1″, completou a representação oficial da modalidade.

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Em meio ao repúdio e às duras críticas a Piquet — que é abertamente apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) —, pessoas ligadas à direita do espectro político passaram a questionar se o uso da palavra "neguinho" pelo ex-piloto foilampionsbetfato racista.

Os defensoreslampionsbetPiquet também criticaram repercussões do caso na imprensa internacional que traduziram a expressão "neguinho" como equivalente a uma expressãolampionsbetinglêslampionsbetforte conotação racista cujo uso é considerado atualmente socialmente inaceitável. É a chamada "N-word", como se diz hojelampionsbetdia nos paíseslampionsbetlíngua inglesa para evitar essa palavra.

Diante da discussão, a BBC News Brasil ouviu três especialistas que explicaram por que o uso da palavra "neguinho", da forma como empregada por Piquet, foi considerado racista.

'Uma forma paternalistalampionsbetmenosprezo'

"O uso da palavra 'neguinho' é uma forma comumlampionsbetracismo no Brasil porque é empregadalampionsbetespecial para ressaltar algolampionsbeterrado que se pensa que alguém fez, como quem diz que tal pessoa só poderia ter feito aquilo por ser negra", observa Thiago Amparo, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas)lampionsbetSão Paulo.

"É uma palavra que, no diminutivo e no contexto, serve para reduzirlampionsbetforma paternalista pessoas negras a inferiores intelectualmente", considera o advogado.

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Legenda da foto, Em entrevista concedidalampionsbetnovembrolampionsbet2021, que voltou a circular nas redes sociais, Nelson Piquet referiu-se a Lewis Hamilton como 'neguinho'

Daniela Gomes, professoralampionsbetestudos da diáspora africana na San Diego State University, nos EUA, tem entendimento semelhante.

"O racismo brasileiro é diferenciado, é um racismo tido como velado, emboralampionsbetvelado não tenha nada. Mas ele tem entonações. E ali o que vimos é o Piquet usando uma entonação no diminutivo, mas que não era uma entonaçãolampionsbetcarinho, maslampionsbetmenosprezo", diz Gomes.

"A questão ali é o desdém com o qual ele se dirigiu a um piloto que é alguém da mesma categoria profissional que ele. Lewis Hamilton tem um nome e não é amigo pessoallampionsbetPiquet. No nosso racismo à brasileira, foi uma formalampionsbetinferiorizar,lampionsbettratar como se fosse um moleque."

Para Daniel Teixeira, advogado e diretor do Ceert (CentrolampionsbetEstudos das RelaçõeslampionsbetTrabalho e Desigualdades), a falalampionsbetPiquet é um produto do racismo estrutural — conjuntolampionsbetpráticas institucionais e relações sociais, econômicas e políticas que privilegiam um grupo étnicolampionsbetdetrimentolampionsbetoutro, perpetuando desigualdades.

"Em função do racismo que é estrutural na nossa sociedade, há dificuldade das pessoas brancaslampionsbetverem pessoas negras numa posiçãolampionsbetigualdade. Como o próprio Hamilton falou, não se trata apenaslampionsbetlinguagem, mas da mentalidade que está por trás disso,lampionsbetreduzir uma pessoa à corlampionsbetsua pele", diz Teixeira.

"Piquet não faria isso com uma pessoa branca. Essa é a questão que importa e que demonstra o racismo estrutural na sociedade brasileira. Ele não se referiria ao Verstappen como 'branquinho', reduzindo uma pessoa, uma trajetória, uma história, à cor da pele", completa o diretor do Ceert.

'A palavra com N'

Amparo, Gomes e Teixeira concordam que a palavra "neguinho"lampionsbetportuguês não tem o mesmo peso da palavra considerada ofensivalampionsbetinglês. Mas reforçam que isso não diminui a cargalampionsbetdesdém, inferiorização e ridicularização da expressão usada por Piquet para se referir a Hamilton.

"A palavra com N era usada nos Estados Unidos pelos senhoreslampionsbetescravos, como uma formalampionsbetdiminuição. Antes da escravidão, éramos africanoslampionsbetdiversas etnias. Quando começa a escravidão, começa também a dualidade. Os brancos se leem como brancos e nos leem como o oposto, assim a gente se torna negro. E a maneira como os senhoreslampionsbetescravos tratavam os escravizados era através da palavra com N, nigger ou nigga", explica Gomes, da San Diego State University.

"Quando a escravidão e a segregação acabam, a população negra passa por uma sérielampionsbetmudanças políticas. Há um movimento para ressignificar a palavra 'negro', mas as duas variações são banidas."

A professora destaca que o racismo se expressalampionsbetforma distintalampionsbetlugares diversos. E que uma mesma palavra, dependendo do contexto ou tomlampionsbetvoz, pode significar coisas diferentes.

"A minha mãe me chamarlampionsbetneguinha pode ser uma formalampionsbetcarinho, já uma estranha, ao invéslampionsbetme tratar como professora Daniela Gomes, me tratar como negrinha, é racismo", exemplifica.

'Sociedade não mais aceita o racismo cotidiano'

Para Teixeira, do Ceert, o episódio revela como os preconceituosos têm se sentido mais à vontade para expressar seus preconceitos, sob lideranças políticas que fazem o mesmo.

"Muitas pessoas se sentem autorizadas a se manifestar dessa forma justamente porque há lideranças políticas hoje que fortalecem essa estigmatização, que usam essa mesma linguagem, fazendo com que ela seja usadalampionsbetforma aberta. Isso influencia sim, mas essas pessoas também refletem uma questão estrutural no Brasil,lampionsbetcomo as pessoas negras são tratadas", diz o advogado.

"Quando pessoas negras despontam nas suas atividades, elas acabam incomodando pessoas brancas que se viam como universais, como o padrãolampionsbetdeterminados lugares sociais. A presença negra questiona esse padrão e, quando ela ganha um destaque do tamanho do Lewis Hamilton para a Fórmula 1, isso incomoda muito mais, gerando uma reação estereotipada e desrespeitosa."

Crédito, EPA

Legenda da foto, 'Rejeitar o uso [da palavra 'neguinho'] implica rejeitar o racismo cotidiano, recreativo ou não, tão comum no Brasil", diz Thiago Amparo, da FGV

Para Amparo, da FGV, porém, a força do repúdio à expressão usada por Piquet demonstra o avanço da luta antirracista e como certas coisas não são mais socialmente toleradas.

"É louvável que haja uma rejeição ao uso da palavra 'neguinho' neste episódio específico, porque mostra uma mudança na sociedadelampionsbetnão mais (aceitar) o racismo cotidiano e antes normalizado", diz Amparo.

"Esta palavra é muito recorrente no dia a dia brasileiro, embora seja invariavelmente utilizada num tom pejorativo. Rejeitar o seu uso implica rejeitar o racismo cotidiano, recreativo ou não, tão comum no Brasil."

Outro lado

Após o forte reação no Brasil e no exterior, Piquet divulgou um comunicado com um pedido públicolampionsbetdesculpas.

"O que eu disse foi mal pensado, e eu não vou me defender por isso, mas eu vou deixar claro que o termo é um daqueles largamente e historicamente usadoslampionsbetforma coloquial no português brasileiro como sinônimolampionsbet'cara' ou 'pessoa' e nunca com intençãolampionsbetofender. Eu nunca usaria a palavra que estou sendo acusadolampionsbetalgumas traduções. Condeno veementemente qualquer sugestãolampionsbetque a palavra tenha sido usada por mim com o objetivolampionsbetmenosprezar um piloto por causalampionsbetsua corlampionsbetpele. Eu me desculpo com todos que foram afetados, incluindo Lewis, que é um grande piloto, mas a traduçãolampionsbetalgumas mídias e que agora circula nas redes sociais não é correta. Discriminação não tem espaço na F1."

- Este texto foi publicadolampionsbethttp://vesser.net/brasil-61974739

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