Ratanabá: arqueólogo explica por que lendacasino com bônus grátis de boas vindas'cidade perdida na Amazônia' não faz sentido:casino com bônus grátis de boas vindas
Há maiscasino com bônus grátis de boas vindas30 anos, o especialista integra uma redecasino com bônus grátis de boas vindaspesquisadores que trabalham para revelar o passado da Amazônia e dos povos que viveram (e ainda vivem) por lá.
Na avaliação dele, o surgimentocasino com bônus grátis de boas vindashistórias como acasino com bônus grátis de boas vindasRatanabá, que não tem fundamento algum nas publicações científicas recentes, presta um "desserviço à arqueologia".
"Há maiscasino com bônus grátis de boas vindas20 anos, os arqueólogos que atuam na região defendem que existiam cidades na Amazônia, mas isso era visto como coisacasino com bônus grátis de boas vindasmaluco", conta.
"Com o passar do tempo, a perspectiva foi mudando e a comunidade acadêmica começou a aceitar que, sim, existem evidênciascasino com bônus grátis de boas vindassítioscasino com bônus grátis de boas vindasgrande dimensão, estradas e aterros construídos há muito tempo", continua o especialista, que reforça que essas descobertas não têm nada a ver com civilizações antigas ou tesouros ocultos.
"Agora, todo o nosso esforço pode quase voltar à estaca zero com a históriacasino com bônus grátis de boas vindasRatanabá e a propagaçãocasino com bônus grátis de boas vindasinformações das maneiras mais estapafúrdias possíveis", completa.
A seguir, confira porque os principais argumentos utilizados para falar sobre a "cidade perdida na Amazônia" não fazem sentido — e o que as evidências científicas revelam sobre a ocupação humana na maior floresta tropical do mundo.
Uma conta que não fecha
O primeiro detalhe que chama a atenção nas postagens sobre Ratanabá são as datas utilizadas. Em alguns textos, está escrito que a civilização teria existido ali há 350, 450 ou até 600 milhõescasino com bônus grátis de boas vindasanos.
"Isso não faz o menor sentido do pontocasino com bônus grátis de boas vindasvista da história geológica e biológica do nosso planeta", responde Neves.
"Para ter ideia, nem os dinossauros existiam há 350 milhõescasino com bônus grátis de boas vindasanos. Nossos ancestrais mais antigos viveram há mais ou menos 6 milhõescasino com bônus grátis de boas vindasanos. Mas a nossa espécie mesmo, o Homo sapiens sapiens, surgiu há 350 mil anos na África", estima.
Ou seja: há um errocasino com bônus grátis de boas vindascálculo de, pelo menos, 349.650.000 anos nessa história.
"Se alguém falasse que existiram cidades na Amazônia há 3.500 anos eu até pensaria que essa era uma questão para tentar entender melhor e pesquisar. Agora, uma civilização há 350 milhõescasino com bônus grátis de boas vindasanos? Não existe a menor possibilidade disso", assinala o arqueólogo.
Metrópoles do passado, pequenas cidadescasino com bônus grátis de boas vindashoje
A segunda informação completamente errada sobre Ratanabá tem a ver com o suposto tamanho da cidade. Algumas postagens dizem que ela seria maior que a Grande São Paulo.
Mais uma vez, isso estácasino com bônus grátis de boas vindasdesacordo com as evidências científicas. "Ainda não temos uma estimativa exatacasino com bônus grátis de boas vindasquantas pessoas viviam nessas cidades da Amazônia, mas certamente elas não tinham o tamanhocasino com bônus grátis de boas vindasSão Paulocasino com bônus grátis de boas vindasjeito nenhum", diz Neves.
"Para ter ideia, no século 16, as cidades mais populosas do mundo provavelmente eram Istambul, na Turquia, e Tenochtitlán, no México. E elas tinham 50 mil, no máximo 200 mil habitantes", calcula o professor da USP.
Atualmente, a Grande São Paulo abriga cercacasino com bônus grátis de boas vindas22 milhõescasino com bônus grátis de boas vindashabitantes.
Neves calcula que, antes da chegada dos europeus nas Américas, existiam cercacasino com bônus grátis de boas vindas10 milhõescasino com bônus grátis de boas vindasindígenascasino com bônus grátis de boas vindastoda a Amazônia. "E esse número caiu muito a partir do século 17 por conta das guerras e das epidemias", ensina.
Linhas retas no meio da selva
O terceiro argumento que confere musculatura aos boatos sobre Ratanabá tem a ver com túneis encontrados na região amazônica ou com imagens aéreas, que mostram linhas retas e quadrados perfeitos, visíveis entre as copas das árvores.
Esses túneis, defendem as postagens nas mídias sociais, serviriamcasino com bônus grátis de boas vindaspassagem secreta e conectariam diversas partes da América do Sul.
As linhas retas, porcasino com bônus grátis de boas vindasvez, não existem na natureza e seriam frutocasino com bônus grátis de boas vindastrabalho humano, garantem os boatos.
Neves esclarece que realmente existem túneis na Amazônia. "As imagens divulgadas provavelmente vêm da região do Forte Príncipe da Beira,casino com bônus grátis de boas vindasRondônia, que era um posto colonial português."
"Essas construções estão relacionadas às disputascasino com bônus grátis de boas vindasfronteira entre Espanha e Portugal nas proximidades do rio Guaporé ao longo do século 18", complementa.
Mas e as linhas retas? Pelas poucas imagens disponíveis, Neves acredita que elas sejamcasino com bônus grátis de boas vindasuma região próxima da fronteira entre os Estados do Mato Grosso, Pará e Amazonas.
"Essas formações são conhecidas há muito tempo e realmente parecem linhas perpendiculares, o que é uma coisa incomum", avalia.
"As principais suspeitas sãocasino com bônus grátis de boas vindasque seja uma formação naturalcasino com bônus grátis de boas vindascalcário ou algum tipocasino com bônus grátis de boas vindasrocha que segue esse padrão", diz o arqueólogo.
"É improvável que aquilo sejacasino com bônus grátis de boas vindasautoria humana. Mas, caso realmente tenha sido feito pelos povos locais, essas construções não devem ter mais do que 2,5 mil anos", completa.
O que pode estar por trás do interesse no tema
Neves, que não possui nenhum perfil nas redes sociais, confessa que nunca tinha ouvido falarcasino com bônus grátis de boas vindasRatanabá até a segunda semanacasino com bônus grátis de boas vindasjunhocasino com bônus grátis de boas vindas2022.
"Quando começaram a me perguntar sobre isso, até fui pesquisar e consultar outros colegas que estudam a arqueologia amazônica, mas ninguém conhecia essa história", relata.
Embora existam perfis nas redes sociais e até livros publicados sobre a tal "civilização perdida" nos últimos anos, o tema só ganhou o interesse popular e foi virar um assunto amplamente comentado nos últimos dias.
Na avaliaçãocasino com bônus grátis de boas vindasNeves, o fenômeno pode ser explicado por uma sériecasino com bônus grátis de boas vindasfatores.
"Me parece uma mistura da ingenuidade das pessoas, que querem acreditar nesse tipocasino com bônus grátis de boas vindascoisa, com interesses econômicoscasino com bônus grátis de boas vindasexploração da Amazônia", especula o especialista, que lembracasino com bônus grátis de boas vindasoutras lendas parecidas, como a cidadecasino com bônus grátis de boas vindasEldorado, alvocasino com bônus grátis de boas vindasexploradores ao longo dos séculos por supostamente ser feitacasino com bônus grátis de boas vindasouro.
"E também não podemos ignorar o racismo nesse contexto. Quando se fala que existiram civilizações 'avançadas' há 300 milhõescasino com bônus grátis de boas vindasanos, você está retirando dos povos ancestrais, que são os antepassados dos indígenascasino com bônus grátis de boas vindashoje, a autoriacasino com bônus grátis de boas vindastodas aquelas construções", acrescenta.
"É algo parecido ao que vemos no livro Eram os Deuses Astronautas?,casino com bônus grátis de boas vindasErich von Däniken. Ali, soa mais fácil explicar que as pirâmides do Egito foram construídas por seres extraterrestres do que dar o crédito aos povos africanos", compara.
"E tudo isso denota um profundo racismo com todas as populações não europeias, como os indígenas e os africanos, como se elas não fossem capazes", interpreta.
Por fim, o arqueólogo opina que o fatocasino com bônus grátis de boas vindaslendas do tipo ganharem fôlego justamente agora serve como uma espéciecasino com bônus grátis de boas vindasbalãocasino com bônus grátis de boas vindasensaio.
"Elas funcionam como cortinacasino com bônus grátis de boas vindasfumaça num momentocasino com bônus grátis de boas vindasque temos duas pessoas desaparecidas e desviam a atenção do real problema da violência na Amazônia", completa.
(Falta de) pedras no caminho
Neves explica que a arqueologia amazônica enfrentou grandes percalços ao longo das últimas décadas.
"De forma geral, a Amazônia tem poucas rochas. Então, a principal matéria-prima utilizada nas construções do passado eram terra e madeira", contextualiza.
"Para compreender esses períodos, precisamoscasino com bônus grátis de boas vindasuma equipe multidisciplinar, capazcasino com bônus grátis de boas vindastrabalhar com objetos que foram deixados e resistiram ao tempo, como cerâmicas, restos orgânicos, amostrascasino com bônus grátis de boas vindassolo, pedaçoscasino com bônus grátis de boas vindascomida, sementes e ossos", exemplifica.
Para ilustrar essa dificuldade, Neves cita como exemplo um artigo publicado há poucas semanas no periódico científico Nature por especialistascasino com bônus grátis de boas vindasuniversidades britânicas e alemãs.
A pesquisa revelou os detalhescasino com bônus grátis de boas vindasdois grandes sítios arqueológicoscasino com bônus grátis de boas vindas147 e 315 hectares (uma área equivalente a 205 e 441 camposcasino com bônus grátis de boas vindasfutebol, respectivamente), inclusive com a existênciacasino com bônus grátis de boas vindaspirâmides, na Amazônia boliviana.
"Essas estruturascasino com bônus grátis de boas vindasterra são conhecidas há 60 anos, mas era muito difícil definir se eram naturais ou foram construídas por seres humanos", avalia o arqueólogo.
"Só foi possível obter essa resposta agora, porque temos uma tecnologia chamada Lidar capazcasino com bônus grátis de boas vindasfazer esse tipocasino com bônus grátis de boas vindasanálise."
O futuro depende do passado
Mas, afinal, diante das evidências científicas disponíveis no momento, o que os cientistas sabem sobre a história dos povos que habitaram essa região?
"Sabemos que a Amazônia foi densamente ocupada no passado e que os povos que viveram lá deixaram marcas muito visíveis do modocasino com bônus grátis de boas vindasvida que tinham, com valascasino com bônus grátis de boas vindasformato geométrico e estradas lineares", resume Neves.
"E temos dados que nos mostramcasino com bônus grátis de boas vindasforma muito segura uma relação direta entre os indivíduos que fizeram essas construções no passado e os povos indígenascasino com bônus grátis de boas vindashoje."
"Não se trata, portanto,casino com bônus grátis de boas vindasuma civilização perdida, que desapareceu há milhõescasino com bônus grátis de boas vindasanos", assegura o pesquisador.
De acordo com o Painel Científico para a Amazônia, publicação coordenada pela Organização das Nações Unidas (ONU) que tem um capítulo sobre os povos que viviam na região antes da chegada dos europeus, há evidênciascasino com bônus grátis de boas vindasque essa floresta tropical é ocupada por indígenas há 12 mil anos.
"Durante essa longa história, as sociedades indígenas desenvolveram tecnologias que eram altamente adaptadas às condições locais e otimizadas para a expansão do sistemacasino com bônus grátis de boas vindasproduçãocasino com bônus grátis de boas vindasalimentos", escreve o grupocasino com bônus grátis de boas vindasespecialistas que assinam o documento, liderado por Neves.
"A arqueologia amazônica mostra quão profunda é a história indígena na região, caracterizada pela diversidade cultural e agro-biológica. Trata-secasino com bônus grátis de boas vindasum dos poucos centros independentescasino com bônus grátis de boas vindasdomesticaçãocasino com bônus grátis de boas vindasplantas no planeta e um dos primeiros centros produtorescasino com bônus grátis de boas vindascerâmica no Novo Mundo", segue o texto.
"Todas essas tecnologias podem inspirar novas formascasino com bônus grátis de boas vindasurbanismo, manejo dos dejetos e sistemas integrados do uso da terra", finalizam os autores.
Para Neves, esse conjuntocasino com bônus grátis de boas vindasevidências permite enxergar a Amazônia como um "patrimônio biocultural", com uma interação entre a ação humana e a natureza ao longocasino com bônus grátis de boas vindasmilênios.
"Portanto, para proteger a Amazônia, precisamos fortalecer as populações locais, como os indígenas, os ribeirinhos, os quilombolas e os caboclos, porque elas têm um papel muito importante na construção e na manutenção desse patrimônio biocultural", conclui o arqueólogo.
- Este texto foi originalmente publicadocasino com bônus grátis de boas vindashttp://vesser.net/brasil-61803303
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