'Amazônia,solverde online bonuslinda': Dom Phillips escrevia livro sobre como salvar floresta:solverde online bonus

Dom Phillips caminhando sobre pedras

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Após produzir dezenassolverde online bonusreportagens sobre a destruição da Amazônia, Dom Phillips se dedicava a um livro no qual pretendia expor soluções para manter a florestasolverde online bonuspé

Papel dos indígenas

Segundo o sociólogo Felipe Milanez, Dom "tinha uma dedicação muito profundasolverde online bonusentender o Brasil". Os dois ficaram amigos após Dom se mudar no início do ano para Salvador, terra natal da esposa do britânico, Alessandra Sampaio. O casal antes morava no Riosolverde online bonusJaneiro.

Segundo Milanez, Dom "se apaixonou" pela capital baiana. O sociólogo afirma que ambos costumavam praticar stand-up paddlesolverde online bonusSalvador. Nas horas vagas, Dom dava aulassolverde online bonusinglês numa favela como voluntário.

"Era uma pessoa que rapidinho construía confiança, transparente, muito ético e discreto", diz o amigo.

Anciãos do povo yanomami com trajes típicos
Legenda da foto, Dom Phillips pretendia contarsolverde online bonusseu livro como povos indígenas fazem para preservar a floresta e se defendersolverde online bonusinvasores.

Milanez conta que Dom resolveu escrever o livro sobre a Amazônia porque queria se aprofundar no tema, algo que seu trabalho diário como repórter não lhe permitia.

Criado nos arredoressolverde online bonusLiverpool, cidade industrial no noroeste da Inglaterra, o repórter "tinha uma formaçãosolverde online bonusclasse operária militante", diz o amigo.

"Ele reportava uma situação familiar muito dura (na Inglaterra) e se identificava com as pessoas que sofrem aqui", afirma Milanez.

"Era muito atento na escuta, muito verdadeiro, e queria ouvir o que as diferentes vozes do Brasil tinham a dizer sobre a Amazônia: cientistas, pesquisadores, gente que se importa."

Amigos do britânico dizem que ele se interessou pelo Brasil inicialmente por causa da música, tema que ele enfocava no começosolverde online bonussua carreira jornalística.

Em suas redes sociais, Dom exalta com frequência músicos brasileiros. Em 30solverde online bonusabril, foi a um showsolverde online bonusGilberto Gilsolverde online bonusSalvador e o definiu como "um gigante que representa muito do que é maravilhoso e poderoso na cultura brasileira".

Em janeiro, após a morte da cantora Elza Soares, chamou-asolverde online bonus"grandiosa, única, brilhante". Também costumava publicar fotossolverde online bonusfrutas e pratos típicos brasileiros.

Dom Phillips com coposolverde online bonuscerveja

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Dom Phillips cresceu nos arredoressolverde online bonusLiverpool e tinha 'formaçãosolverde online bonusclasse operária militante', diz amigo

'Passou a ser família'

Ultimamente, no entanto, a Amazônia e os povos indígenas eram os principais focos do interessesolverde online bonusDom pelo Brasil.

Poucas semanas antessolverde online bonusviajar para o Vale do Javari, o britânico visitou aldeias do povo indígena Ashaninka, no Acre. O grupo é considerado um exemplosolverde online bonussucesso na preservação ambiental e na conciliaçãosolverde online bonustradições com práticas modernas.

O líder Ashaninka Francisco Piyãko, que foi entrevistado por Dom na visita, lamentou à BBC o desaparecimento do britânico.

"É como se tivessem mexido diretamente com a gente, porque ele estava representando a nossa causa, a nossa história. Ele passou a ser família", diz Piyãko.

Em vídeo gravado durante a visita, publicado no perfil no Twitter da Associação Ashaninka do Rio Amônia, Dom diz que as "terras indígenas são os lugares mais protegidos da Amazônia", e que uma parte importantesolverde online bonusseu livro seria sobre a "participação e protagonismo dos povos indígenas" na preservação da floresta.

Afirmou ainda que estava ali para "aprender um pouco com vocês: como ésolverde online bonuscultura, como vocês veem a floresta, como vivem dentro dela, como lidam com ameaças que vêmsolverde online bonusinvasores, garimpeiros e tudo mais".

Indígenas formam roda com mãos dadas

Crédito, Sérgio Vale/Secom-AC

Legenda da foto, Cerimônia do povo indígena Yawanawá, um dos grupos que Dom Phillips pretendia visitar para a produçãosolverde online bonusseu livro.

Biraci Nixiwaka, um dos líderes do povo Yawanawá, também do Acre, diz à BBC que Dom planejava visitar o território do grupo.

"Senti uma coisa muito boa dele,solverde online bonusquerer fazer o bem,solverde online bonusquerer abordar a questão da proteção da natureza, da floresta, da história dos povos indígenas", afirma Nixiwaka, que diz ter conversado várias vezes com o britânico pelo telefone.

A preocupação com a floresta rendeu a Dom um dos momentos mais conturbadossolverde online bonussua estadia no Brasil.

Em 2019, numa coletivasolverde online bonusimprensa com o presidente Jair Bolsonaro (PL), Dom disse ao mandatário que "os númerossolverde online bonusdesmatamento estão mostrando um crescimento assustador, o Ibama está dando menos multas, (fazendo) menos operações, os sinais que o governo está dando para a Europa não são positivos no sentidosolverde online bonusproteção do ambiente".

O britânico perguntou então como Bolsonaro pretendia "mostrar para o mundo que realmente o governo tem preocupação séria com a preservação da Amazônia".

O presidente respondeu: "Primeiro, você tem que entender que a Amazônia é do Brasil, não ésolverde online bonusvocês".

O diálogo, compartilhado por Bolsonaro no Twitter, fez com que Dom fosse duramente criticado por apoiadores do mandatário. Mesmo assim, o britânico não deixou o assuntosolverde online bonuslado.

Bruno Araújo Pereira junto com indígenas

Crédito, Divulgação/Funai

Legenda da foto, O indigenista Bruno Araújo Pereira (ao centro), servidor da Funai que acompanhava Dom Phillips na viagem ao Vale do Javari

Expedição

O interessesolverde online bonusDom pelo Vale do Javari, uma das áreas mais preservadas da Amazônia, o aproximou do indigenista Bruno Pereira, com quem ele viajava quando ambos desapareceram.

Em 2018, Dom acompanhou Bruno numa expediçãosolverde online bonus17 dias à Terra Indígena Vale do Javari, que abriga uma das maiores concentraçõessolverde online bonuspovos indígenas isolados do mundo.

Bruno — que na época coordenava o departamento da Funai (Fundação Nacional do Índio) responsável por indígenas isolados e recém-contatados — buscava monitorar os deslocamentossolverde online bonusum desses grupos para evitar conflitos com comunidades vizinhas.

Na reportagemsolverde online bonusque narra a expedição, Dom descreve uma cena na qual Bruno "abre o crâniosolverde online bonusum macaco cozido com uma colher e come seu cérebrosolverde online bonuscafé da manhã".

O animal fora caçado por indígenas que também participavam da viagem.

A naturalidade com que Bruno se portava na floresta esolverde online bonusrelação próxima com os indígenas chamaram a atenção do britânico, que passou a consultá-losolverde online bonusvárias reportagens.

Defesa contra invasores

Quando Dom regressou ao Vale do Javari no início deste mês, Bruno já não estava mais na Funai: ele havia se licenciado do órgão e agora assessorava diretamente a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), principal organização indígena local.

Segundo Leonardo Lennin, indigenista do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados esolverde online bonusRecente Contato, o britânico queria ver na viagem como a Univaja estava usando tecnologia, como drones e imagenssolverde online bonussatélite, para documentar invasões e denunciá-las às autoridades.

Rio na regiãosolverde online bonusMaturacá, no Amazonas
Legenda da foto, Dom Phillips tem visão 'sofisticada' sobre a Amazônia e queria apresentar soluções práticas para preservá-la, diz diretorasolverde online bonusfundação que deu uma bolsa ao jornalista

Lennin afirma que o trabalho dos indígenas "deveria ser complementar à fiscalização do Estado". No entanto, segundo o indigenista, os órgãos públicos não têm feito asolverde online bonusparte, o que forçou os indígenas a ampliar suas ações.

Por causa desses trabalhossolverde online bonusvigilância, Pereira e indígenas envolvidos vinham sofrendo ameaças, segundo a Univaja.

Olhar sofisticado

Quando desapareceu, Dom já havia completado cercasolverde online bonusdois terços da apuração para o livro, diz à BBC Margaret Engel, diretora-executiva da Alicia Patterson Foundation.

A fundação americana deu a Dom uma bolsa para que ele se dedicasse integralmente à obra, que seria entregue até o fim deste ano, segundo Engel.

O projeto teve iníciosolverde online bonus2021, quando a pandemiasolverde online bonuscovid-19 se espalhava pelo Brasil e ainda não havia vacinas no país. Na época, havia grande temor quanto à possibilidadesolverde online bonusque pessoas infectadassolverde online bonuscidades levassem a covid-19 a aldeias indígenas.

Engel diz que Dom então viajou ao Reino Unido, que já aplicava vacinas emsolverde online bonuspopulação, para se imunizar e poder viajar até as comunidades.

Dom Phillipssolverde online bonusmontanha com lago ao fundo

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Dom Phillips pretendia entrevistar fazendeiros e garimpeirossolverde online bonusseu livro sobre a Amazônia, diz a esposa do britânico

Ela afirma que a fundação resolveu apoiar o britânico por considerar seu projeto sobre a Amazônia relevante e original. "Muitos jornalistas soam alarmes quanto à degradação, mas Dom tem um olhar mais sofisticado, ele busca as soluções possíveis", diz Engel.

Ela diz que Dom estava entusiasmado com o livro e queria mostrar que, apesar do pessimismo com a destruição da floresta, há "caminhos para impedir o desastre". O britânico pretendia expor maneirassolverde online bonuspreservar a floresta e, ao mesmo tempo, garantir o bem-estarsolverde online bonussuas populações, afirma Engel.

"O projeto dele traz esperançasolverde online bonusvezsolverde online bonusdesespero", ela diz.

Amor pelos humanos e pela natureza

Em entrevista à escritora Ruthsolverde online bonusAquino, do jornal O Globo, a mulhersolverde online bonusDom, Alessandra Sampaio, disse que o marido "amava o ser humano".

"Amava tanto que queria escutar a todos, dar voz a todos. Fazendeiros, garimpeiros. Não falavasolverde online bonusvilões. Não queria demonizar ninguém. Sua missão era esclarecer as complexidades da Amazônia", disse Sampaio,solverde online bonustexto publicado na última quinta-feira (09/06).

Em outra entrevista, para a TV Globo, na quarta-feira, Sampaio falousolverde online bonusoutro amorsolverde online bonusDom, o amor pela natureza.

Segundo ela, para o marido, "Deus é natureza, ele encontrava Deus na natureza".

"O que eu acho que o Dom gostaria é que as pessoas conhecessem a Amazônia que ele conheceu, que ele amava tanto. Afinal, a gente só cuida do que conhece, do que ama — então a proteção viria como consequência", disse Sampaio para a BBC News Brasil.

Enquanto muitos estrangeiros e até mesmo brasileiros tratam a Amazônia como um espaço hostil e impenetrável, ele se admirava com a relaçãosolverde online bonusindígenas com o bioma e o via como um lugarsolverde online bonusbeleza e fartura.

O deslumbramento do britânico com a floresta transborda na longa reportagemsolverde online bonus2018, quando Dom participou da expedição com Bruno Pereira para monitorar um gruposolverde online bonusindígenas isolados no Vale do Javari.

A missão, escreve o jornalista, ocorreu num momentosolverde online bonusque os indígenas enfrentavam as maiores ameaçassolverde online bonusdécadas, "com dragassolverde online bonusgarimposolverde online bonusouro altamente poluentes entrando nos rios a leste, pecuaristas se aproximando dos limites ao sul, e ganguessolverde online bonuspescadores comerciais se aventurando no centro"solverde online bonusseu território.

Apesar das tensões, o texto tem momentossolverde online bonuspuro deleite e encantamento, como quando Dom menciona a visãosolverde online bonus"uma enorme, rara árvoresolverde online bonusmogno, se espalhando majestosamente por um trechosolverde online bonusfloresta espaçoso, manchadosolverde online bonussol".

Ou quando descreve meninos indígenas que haviam batido "em uma colmeia para afugentar as abelhas" e depois compartilhavam "seu favosolverde online bonusmel vermelho-ferrugem, pingando mel doce e selvagem".

"Para eles, esta não é uma selva proibida, mas um vasto supermercado orgânico cujas mercadorias estão escondidas para os não iniciados", escreveu o britânico.

Onde muitos veem mato, Dom aprendeu a ver mata.

Línea

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