Brasileira relata desespero ao ver marido e filhabetano ou estrela bet1 ano morrerem afogados ao cruzar rio para os EUA:betano ou estrela bet

Hoje, Thais se mudou para outro Estado, onde pretende recomeçar a vida após ser apadrinhada por uma família americana. Ela afirma que ainda está muito frágil por causa da tragédia, mas aceitou contarbetano ou estrela betentrevista à BBC News Brasil o que levou a família a tentar fazer a travessia e os momentosbetano ou estrela betdesespero que viveu ao ver marido e filha morrerem.

Como tudo começou

Thais conta que não teve a presença paterna na infância. Foi criada pela mãe e pela tia-avóbetano ou estrela betOsasco, na Grande São Paulo. Aos 17 anos, começou a faculdadebetano ou estrela betpsicologia enquanto trabalhava como assistente comercialbetano ou estrela betuma multinacional americana. Fez o curso durante dois anos e meio, mas parou porque não teve mais condiçõesbetano ou estrela betpagar.

Em 2021, Thais se formou na área e, na sequência, fez um MBAbetano ou estrela betfinanças e controladoria.

Já Daniel saiubetano ou estrela betAngolabetano ou estrela bet2015, motivado pela instabilidade econômica e o medobetano ou estrela betque ocorresse uma nova guerra civil. Ele morou por um ano no Riobetano ou estrela betJaneiro e depois se mudou para São Paulo, onde conheceu Thais. Um dos objetivos dele era cursar Engenharia Elétrica.

Thais diz que não se sentiu confortável quando o marido falou que tinha vontadebetano ou estrela betlargar tudo e viver nos Estados Unidos.

"Ele falou pra mim: 'A gente vai conseguir, fique calma. Meu irmão vai ajudar a gente. Ele também também vai'. Mas eu não sei falar como foi essa esta negociação, porque ficou entre eles", conta.

O irmãobetano ou estrela betDaniel chegou a vender um salãobetano ou estrela betbeleza, carro e móveis para fazer a viagem, segundo Thais. Mas ele cursava engenhariabetano ou estrela betuma universidade federal e desistiubetano ou estrela betdeixar o Brasil poucos dias antes do embarque.

Thais, a filha e o marido iniciaram a viagem aos Estados Unidos pegando um voobetano ou estrela betSão Paulo para o Peru,betano ou estrela betjaneirobetano ou estrela bet2022, após três mesesbetano ou estrela betplanejamento. Eles venderam móveis e objetos pessoais para juntar o máximobetano ou estrela betdinheiro.

Ela conta que o casal doou boa parte do que tinha antesbetano ou estrela betir e chorou ao falar da generosidade do marido.

"Ele era muito simpático. Qualquer pessoa que chegava para conversar, ele ajudava. O Daniel estava sempre disposto a ajudar as pessoas com comida, com roupa, tudo", contou, emocionada.

Segundo ela, Daniel sonhavabetano ou estrela betmorar nos Estados Unidos para conseguir um bom emprego que proporcionasse uma vida melhor à família.

De Lima, capital do Peru, eles seguiram viagembetano ou estrela betônibus. Ao chegar ao Panamá, passaram cinco diasbetano ou estrela betum centro para refugiados, onde receberam comida e atendimento médico custeados pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Na sequência, o casal passou um mês no Estadobetano ou estrela betChiapas, no México, até receber um vistobetano ou estrela betturista para permanecer no país. Em 13betano ou estrela betmarço, assim que a documentação foi emitida, Daniel sugeriu que eles viajassem para a cidadebetano ou estrela betAcuña, na fronteira com os Estados Unidos.

"Meu marido e minha filha estavam muito felizes e brincando. Estava um clima meio diferente. Minha filha ficou do meu lado. Ela passou o tempo todo comigo", lembra Thais.

Thais conta que a família não tinha dinheiro suficiente para se hospedar e ficou na casabetano ou estrela betum conhecido do marido, que mora há muitos anosbetano ou estrela betAcuña. Ela diz que não recebeu a ajudabetano ou estrela betcoiotes, como são conhecidas as pessoas na regiãobetano ou estrela betfronteira que auxiliam imigrantes a entrarem ilegalmente no país.

A travessia

A única noitebetano ou estrela betAcuña foibetano ou estrela betbrigas e discussões entre o casal, segundo Thais, porque o marido insistia que a família atravessasse o rio para chegar aos Estados Unidos.

"Não seibetano ou estrela betonde veio essa ideia dele. Falei: 'Amor, para que você quer atravessar aquele rio? Você disse que queria ficar aquibetano ou estrela betAcuña para trabalhar, para ter uma vida melhor. Por que você quer tanto atravessar esse rio?'. Ele disse que ali já era o Texas e que inclusive os moradores estavam atravessando", conta emocionada.

Ela afirma que o trauma do acidente apagou parte das suas memórias daquele momento. Mas narrabetano ou estrela betdetalhes o que lembra dos últimos momentos com o marido e a filha.

"Ele (Daniel) pediu para eu entrarbetano ou estrela betuma rua estreita. Ele falou assim: 'Amor, aqui é onde todo mundo atravessa, vem comigo'", diz.

Ela conta que era madrugada e que o rio estavabetano ou estrela betfato muito raso no começo.

"Quando a gente começou a atravessar, estava no nível do pé. Eu estava nervosa, e ele (Daniel) estava com a nossa filha nas costas, alémbetano ou estrela betalgumas coisas pessoais. Fui atrás dele. Não tinha ninguém perto. Não tinha guia, nenhum coiote. Não sabia que ali era regiãobetano ou estrela betcoiote. Fomos atravessando e, quando faltavam três ou quatro passos pra gente chegar até os Estados Unidos, o nível do rio aumentou muito e chegou até abaixo do joelho", afirma.

Ela conta que não sabia nadar e, nesse momento, sentiu medo e disse quis desistir da travessia.

"Meu marido sempre foi muito teimoso. Na sequência, ele escorregou numa pedra. Acho que ele não tinha visto as pedras. Então, a gente caiu, e eu fui levada por ele para o fundo da água. Não sei explicar o que vivi ali. Foi uma questãobetano ou estrela betsegundos. Meu marido me segurando. Eu já estava no fundo e ele me puxando para cima pela pelas tranças", contou.

Thais diz que o marido estava com a filha nos braços quando ela viu que a criança estava se afogando e pediu que ele a passasse para ela.

"Foi uma situaçãobetano ou estrela bethorror. Falei: 'Daniel, segura minha mão. Olha pra mim', e ele já estava com o olho todo branco, sem consciência. Acho que ele bebeu muita água. Eu falei: 'A Lolô não está respirando'. Quando ele ouviu isso, eu não vi mais meu marido", lembra.

Ela conta que fez uma oração e, naquele momento, sentiu uma mão a puxando pelas costas. E, depoisbetano ou estrela betalguns instantes, começou a sentir as pedras no chão e conseguiu concluir a travessia com a filha nos braços.

Ela diz ter procurado socorro e foi ajudada pela guarda costeira por volta das 6h. Thais conta que não havia outras pessoas próximas. E que sentiu uma "sensaçãobetano ou estrela betabandono" ao ver a filha morrendo no hospital após uma sequênciabetano ou estrela bettentativasbetano ou estrela betreanimação.

Brasileiros ilegais

A região onde a família cruzou a fronteira é conhecida pela travessia ilegalbetano ou estrela betimigrantes.

O númerobetano ou estrela betbrasileiros cruzando ilegalmente a fronteira sul dos Estados Unidos bateu recorde histórico no ano fiscalbetano ou estrela bet2021 (que vaibetano ou estrela bet1ºbetano ou estrela betoutubrobetano ou estrela bet2020 a 30betano ou estrela betsetembrobetano ou estrela bet2021). Ao todo, foram 56.881 detidos, um aumentobetano ou estrela bet700%betano ou estrela betrelação ao mesmo períodobetano ou estrela bet2020.

Os dados foram divulgados no dia 22betano ou estrela betoutubrobetano ou estrela bet2021 pelo órgão americanobetano ou estrela betAlfândega e Proteçãobetano ou estrela betFronteiras.

Hoje, Thais diz que gostaria que o depoimento dela servissebetano ou estrela betexemplo para que outros brasileiros não tentem entrar os Estados Unidosbetano ou estrela betmaneira ilegal.

"Queria pedir para essas pessoas não seguirem nesse caminho. Tem que fazer corretamente, ir no consulado. É caro, mas são a segurança e o cuidado que importam", afirma.

Ela diz que, desde que chegou aos Estados Unidos, não recebeu ajuda do governo brasileiro. Houve apenas um contatobetano ou estrela betuma funcionária do setorbetano ou estrela betemergência do Itamaraty.

Procurado, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) informoubetano ou estrela betnota que "está ciente do caso e, por meio do consulado-geralbetano ou estrela betHouston, presta a assistência cabível,betano ou estrela betconformidade com a legislação local e os tratados internacionais vigentes".

A pasta afirma ainda que "informações detalhadas poderão ser repassadas somente mediante autorização dos envolvidos. Assim, o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuaisbetano ou estrela betassistência a cidadãos brasileiros."

A BBC News Brasil também procurou a Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na siglabetano ou estrela betinglês), mas não houve resposta.

Recomeço nos Estados Unidos

Depoisbetano ou estrela betcruzar a fronteira, Thais agora busca se reerguer emocionalmente e seguir os planos da famíliabetano ou estrela betviver nos Estados Unidos.

Após uma decisão judicial, ela diz ter sido autorizada a permanecer no país durante ao menos dois anos, acolhida por uma família. Nesse período, essa família vai apadrinhar Thais e se responsabilizará pela permanência dela.

Thais diz ter se sentido aliviada por ter sido acolhida. Caso contrário, seria enviada a um centrobetano ou estrela betdetenção feminina, para onde são levados os imigrantes ilegais.

"Eu tive até pensamentos suicidas. Tive um sentimentobetano ou estrela betculpa. Eu só queria agradecer aos brasileiros daqui, à comunidade brasileira no Reino Unido, Portugal e Austrália que me ajudaram, mandaram mensagens", afirma.

Thais afirma que deseja apenas ser respeitada, conseguir um trabalho, estudar e seguir a vida.

"Eu quero que as pessoas olhem com mais amor aos imigrantes. Aqui mesmo foi construído pelos imigrantes. São Paulo só é São Paulo, com mais conhecimento e riqueza, através dos imigrantes. Quantos italianos e japoneses foram para São Paulo para conseguir uma vida melhor? Nenhum país cresce sozinho, sem os imigrantes."

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