'Retirou a camisinha e confessou, mas Justiça não puniu': o caso da brasileira vítimacheat online casinosstealthing:cheat online casinos

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Legenda da foto, Sem legislação específica e jurisprudência, mulheres abusadas permanecemcheat online casinos"limbo jurídico"

Contudo, existem alternativas legais para as vítimas buscarem justiça, como o artigo 215 do Código Penal (violência sexual mediante fraude), embora o desfecho nem sempre seja positivo, a exemplo do que aconteceu com Leila até agora (veja a opiniãocheat online casinosespecialistas ao fim desta reportagem).

Mas ela não pensacheat online casinosdesistir. "Vou lutar até o fim por justiça. Espero que meu caso possa ser o indutorcheat online casinosuma mudança na legislação", diz ela.

Leila entroucheat online casinoscontato com a BBC News Brasil após ler uma reportagem sobre o assunto, publicadacheat online casinos2017.

A reportagem teve acesso ao processocheat online casinosLeila, sob segredocheat online casinosJustiça, que inclui as supostas evidências do crime, a cópia do inquérito policial e a decisão da promotoria por seu arquivamento.

Em depoimento à polícia, o acusado confirmou o relatocheat online casinosLeilacheat online casinosque não usou o preservativo, mesmo tendo concordado que o sexo seria protegido, mas que tudo aconteceu "no calor do momento". Segundo ele, "achei que estava sendo consensual, que ela tinha percepçãocheat online casinosque eu estava sem preservativo, não agicheat online casinosmá fécheat online casinosmomento algum".

cheat online casinos Leia abaixo cheat online casinos o relatocheat online casinosLeila echeat online casinosbusca implacável por justiça cheat online casinos :

No fimcheat online casinosabrilcheat online casinos2021, conheci um menino no Tinder e, eventualmente, transamos. Foram três relações e tínhamos três preservativos. Em todas as vezes, parei e falei: "a camisinha". Em uma das vezes, ele disse: "a minha acabou". Levantei, fuicheat online casinosoutro quarto e peguei a que eu tinha. Amanheceu e ele foi embora.

No dia seguinte, não sei muito bem por quê, me veio uma sensação rara e fui checar os preservativos no lixo. Quando abri a lixeira, fiqueicheat online casinosestadocheat online casinoschoque total. Um dos preservativos estava aberto, fora da embalagem, mas não havia sido usado.

Tirei uma foto e imediatamente enviei uma mensagem para ele, pedindo uma explicação. Ele se fezcheat online casinosdesentendido. Insisti por uma resposta.

"Eu abri (a camisinha) e deixei do lado, mas acabamos usando outra depois. Não tem nada para se preocupar", foi o que ele me disse. Segundo ele, "acontece que foi tudo muito rápido e no calor do momento acabou sendo assim".

Ora, "no calor do momento", eu parei todas as vezes para colocar a camisinha. Inclusivecheat online casinosuma das vezes levantei para buscá-lacheat online casinosoutro local. E ele simplesmente resolveu não usar o preservativo e não me falou nada.

A partir do momento que descobri que ele fez isso comigo, foram horascheat online casinosmuito estresse. Uma indignação que não cabe no peito até hoje. Entreicheat online casinospânico. Fui à farmácia, comprei a medicação para evitar gravidez indesejada e mais tarde procurei atendimento médico para medicação contra Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Choravacheat online casinossoluçar como uma criança. Um nó na cabeça tentando entender por que isso aconteceu. Por que alguém faria uma coisa dessas?

Até hoje, não encontrei justificativa plausível.

No dia seguinte, procurei uma psiquiatra para me dar uma guia para acompanhamento psicológico, porque comecei a ter pensamentos do tipo: "nunca mais vou sair com ninguém". "Não posso confiarcheat online casinosninguém". Mas racionalmente sei que não é esse o caminho e por isso, resolvi buscar ajuda o quanto antes.

Era tanto conflito e indignação, que eu queria puni-locheat online casinosalguma maneira, então, comecei a fazer buscas no Google para saber o que eu poderia fazer para buscar Justiça.

Descobri que havia sido vítimacheat online casinosstealthing, quando o parceiro retira o preservativo sem o consentimento da outra parte. Li várias reportagens, incluindo a da BBC News Brasil.

Munidacheat online casinosinformação e sabendo que o que aconteceu é crime (segundo especialistas, o stealthing pode ser enquadrado como crime pelo artigo 215 do Código Penal, "violência sexual mediante fraude"), na mesma semana resolvi ir à delegacia fazer o registrocheat online casinosocorrência policial.

Depoischeat online casinostrês dias chorando, pensei que já estava forte o suficiente e fui sozinha à delegacia.

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Legenda da foto, 'Stealthing' pode ser considerado crime pelo artigo 215 do Código Penal - violência sexual mediante fraude

'Pior momento da vida'

Na Delegaciacheat online casinosDefesa da Mulher (DDM), passei por um dos piores momentos da minha vida. Em vezcheat online casinosacolhimento e respeito, fui vítima novamente, dessa vez, do descaso.

Por conta da pandemia, havia uma faixacheat online casinosbloqueio para entrar no local. Na frentecheat online casinostodos, a atendente gritava: "O que você quer?" E eu lhe respondi: "fazer um B.O" (boletimcheat online casinosocorrência).

"Contra quem?", gritou ela mais uma vez. "Contra um homem", disse eu.

Foi muito ofensivo e humilhante a forma como eu e outras mulheres ali presentes fomos tratadas.

Quando fui chamada para relatar o caso, praticamente não me deixaram falar e sempre agiamcheat online casinosforma muito ríspida. Começaram a me perguntar: "Qual é o CPF do acusado? Qual é nome da mãe dele?"

Perguntas incabíveis. Onde já se viu, uma pessoa é vítimacheat online casinosum assalto, atropelamento, violência sexual e tem que saber o CPF do acusado e o nome da mãe dele para registrar o B. O.?

Tinhacheat online casinosmãos dois ou três possíveis endereços, registrocheat online casinosum CNPJ, endereço do trabalho e nome dele completo. Era como se não quisessem registrar minha queixa.

A atendente me tratava tão mal, que desabei e voltei à estaca zerocheat online casinosabalo emocional.

Quando ela viu que fiquei descontrolada emocionalmente, amenizou o tom e me disse: "Você já está tomando remédio, não vai ficar grávida e nem ficar doente". Entretanto, não estava chorando pelo crimecheat online casinossi. E sim pelo atendimento horrível e traumatizante pelo qual estava passando.

Não sei como eu tive forças para ir no IML (Instituto Médico Legal) fazer os exames. Mas fui. O atendimento foi bem feito e me encaminharam para o serviço social/psicologia do hospital.

Todas as vezes que fui à delegacia, o atendimento foi sempre um "lixo". E não era só comigo. Era abominável com todas que chegavam para ser atendidas. As pessoas eram tratadas com desdém.

É simplesmente traumatizante. Não sei dizer o que me doeu mais até agora. Se foi o atendimento da polícia ou o crime cometido contra mim.

Sem notícia sobre qualquer evolução do caso (a não sercheat online casinosjulhocheat online casinos2021, quando meu abusador me procurou achando ruim que fiz uma denúncia contra ele), voltei à DDM para saber como estava o processocheat online casinosnovembro.

A policial que me atendeu me perguntou se eu queria processá-lo. Eu fiquei muito surpresa com essa pergunta e respondi que sim. Ela retrucou: "Mas não deu nada no exame do IML e você não está grávida".

Conclusão: o processo estava "engavetado". Não haviam feito nada até então.

Em seguida, perguntei se iriam precisar dos preservativos que ainda estavam comigo e ela respondeu que não, porque meu abusador já havia confessado o crime.

Mas o maior choque ainda estava por vir.

No fimcheat online casinosfevereirocheat online casinos2022, voltei à delegacia para acompanhar o processo. Tive a notícia que ele havia sido arquivado e avaliado por um delegado e uma delegada.

O processo havia sido avaliadocheat online casinosjulhocheat online casinos2021. Estive lácheat online casinosnovembro e não me falaram nada. Tentei tirar foto do meu processo para ler com calmacheat online casinoscasa, mas ambas oficiais que estavam lá não me deixaram fotografá-lo.

Questionei como ele pôde ter sido arquivado, sendo que meu abusador corroborou meu relatocheat online casinosabuso e eu tinha anexado no processo toda a conversa por WhatsApp, na qual está claro o crime cometido.

Então a oficial respondeu: "Não somos nós que avaliamos, é o delegado". Ela tentou justificar a decisão dizendo quecheat online casinosseis meses três delegados chefiaram a DDM e que agora iriam pedir a terceira delegada para reavaliar o caso.

Diantecheat online casinostudo que aconteceu até aquele momento, avisei que estava aguardando o final do processo para reclamar na ouvidoria/procuradoria do município (aguardei por medocheat online casinosrepresálias e interferência negativa na avaliação), sobre o atendimento as vítimas que procuravam auxílio, mas que agora, iria também ao Ministério Público (MP) reclamar do processo arquivado, mesmo com as provas e confissão do crime.

'Abertura do inquérito'

Após a visita à DDM, fui ao MP.

Não era para menos e estava bem fragilizada por tudo o que me havia acontecido na delegacia.

Me esforcei para contar o que havia acontecido e a resposta inicial do promotorcheat online casinosJustiça foi: "Entendocheat online casinosindignação, mas a delegacia encerrou porque realmente não é crime. O que você pode fazer é processá-lo no âmbito cível".

Respondi que meu interesse é que ele seja punido criminalmente, como a lei diz. Li ao promotor o artigo 215 do Código Penal. Ele citou os exemploscheat online casinosque o artigo poderia ser utilizado, mas que acrescentou que ele não se aplicaria ao meu caso.

Insisti e pergunteicheat online casinosopinião pessoal sobre o que me aconteceu. Ele colocou a mão sobre o Código Penal e disse que não era ele e sim a legislação. Mudei minha pergunta e questionei se no Brasil não havia possibilidadecheat online casinospunição. Segundo o promotor, somente se eu estivesse infectada com alguma IST (Infecção Sexualmente Transmissível), por exemplo.

Aos prantos, quase sem conseguir falar e sem ar, disse: "Olha, não quero ser grosseira e nem ofendê-lo, mas vou pedir-lhe uma gentileza: leia sobre 'stealthing'. Dê uma estudada sobre o tema, para quando outra mulher procurar a Justiça, ela não tenha que passar por tudo que estou passando até agora".

Apesar da dura e dolorosa resposta que havia recebido, o atendimento foi bom.

Agradeci, levantei e fui ao banheiro para tentar me recuperar antescheat online casinosir embora.

Poucos minutos depois, uma mulher foi atráscheat online casinosmim no banheiro e disse: "o promotor quer falar com você".

Quando cheguei à sala dele, ele me disse que havia pensado melhor e que agora entendia porque o caso que relatei era crime. E que sim, que poderia enquadrá-lo como crime e abriria um inquérito.

Em todos esses mesescheat online casinosdor e nãos que recebi, esse foi o primeiro sim que tive. Uma esperança por Justiça, enfim, surgiu.

'Tudo por água abaixo'

Estava realmente otimista com um desfecho, mas tudo foi por água abaixo, quando, nas últimas semanas, descobri que meu caso foi analisado por um segundo promotor e ele optou pelo arquivamento.

Emcheat online casinosdecisão, ele disse que apesarcheat online casinosser "reprovável, a conduta do acusado ao ter se aproveitado da confiança nele depositada pela vítima, não há provas suficientes do empregocheat online casinosmeios utilizados para enganar ou iludir a ofendida".

O promotor entendeu que o modus operandido investigado não caracterizaria fraude, já que a vítima não foi induzidacheat online casinoserro, mas sim surpreendida pela conduta dele, quecheat online casinostese sem o seu consentimento, manteve relação sexual sem o usocheat online casinospreservativo.

Segundo o promotor, esse seria o contexto probatório. Ele acrescentou que não há maiores elementoscheat online casinosconvicção e que as diligências policiais tinham sido exauridas sem que tivessem sido apurados suficientes elementos que autorizassem afirmar que o autor teria agido com o elemento subjetivo intencionalcheat online casinosludibriar a vítima que é nesses casos o fator exigido pelo tipo penalcheat online casinostela.

Ou seja, ele me estuprou "sem querer"? "No calor do momento"? O que a Promotoria quer? Quer que meu abusador diga que teve a intençãocheat online casinosestuprar?

Fiz uma reclamação formal sobre o atendimento recebido na delegacia. Soube que minha queixa foi enviada à corregedoria e que uma apuração preliminar foi instaurada. Também reclamei da decisão do promotor junto à ouvidoria das mulheres do MP, mas a resposta deles foi que "não faz parte das atribuições da Ouvidoria avaliar ou analisar questões judiciais".

Se a ouvidoria das mulheres do MP não trata a questãocheat online casinosgênero levantada, onde mais posso buscar auxílio?

Busquei assistência jurídica, mas os honorários dos advogados são altíssimos e eu não posso pagar. Nem acho justo com a realidade do país. E as outras mulheres que realmente não temcheat online casinosonde tirar dinheiro para pagar esses valores?

Ou eu faço terapia, ou pago advogado. Por isso, até agora, estou sendo minha própria advogada.

Ainda que a mulher queira seguircheat online casinosfrente com as denúncias, são muitos os obstáculos. Muitos. Somos desestimuladas o tempo todo, com argumentos do tipo: não vai darcheat online casinosnada, você vai se expor, etc.

Tenho todas as provascheat online casinosque meu abusador não usou o preservativocheat online casinosforma intencional e consciente, tenho a confissão dele no Whats App e no depoimento na delegacia e mesmo assim tenho que brigar com o mundo para fazer valer o que é meu por direito.

Espero que minha horrível experiência sirva para ajudar outras mulheres que sofram qualquer tipocheat online casinosviolência.

Apesar da chance mínimacheat online casinossucesso, se essa causa for ao meu favor, vai ser um grande avanço para conscientizar os homens sobre respeito ao corpo da mulher.

cheat online casinos O relatocheat online casinosLeila termina aqui.

O que dizem os especialistas

A BBC News Brasil ouviu especialistas do Direitocheat online casinosrelação ao "stealthing".

Elas disseram que, segundo a lei brasileira, a prática não poderia ser considerada estupro.

Isso porque, segundo o artigo 213 do Código Penal, estupro consistecheat online casinos"constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso".

No entanto, ressalvaram que existem alternativas legais às mulheres que se sintam vítimas dessa situação.

Elas citaram os artigos 130 (perigocheat online casinoscontato venéreo), 131 (perigocheat online casinoscontágiocheat online casinosmoléstia grave) e 215 (violência sexual mediante fraude) do Código Penal brasileiro, uma vez que o sexo foicheat online casinosforma desprotegida e não consensual.

Outra possibilidade é entrar com uma ação cível, e não criminal, contra o acusado, ou seja, uma ação reparatória ao dano causado, como, por exemplo, uma gravidez indesejada ou transtorno psicológico.

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Legenda da foto, Para mudar realidade, mais denúncias são necessárias, defendem especialistas.

No entanto, há numerosos obstáculos, entre os quais a faltacheat online casinosjurisprudência e estatísticas oficiais sobre o assunto.

Um dos principais entraves, segundo as especialistas, continua sendo "a faltacheat online casinosperspectivacheat online casinosgênero do operador do Direito".

"Como não há um crime próprio para o stealthing, cabe muito da interpretação dos operadores do Direito. O debate é muito recente e ainda não chegoucheat online casinospeso ao Judiciário. Esses operadores do Direito ainda não se depararam com esse tipocheat online casinoscaso. Além disso, falta usualmente uma perspectivacheat online casinosgênero, ou seja, encarar situações como o stealthing como uma violênciacheat online casinosgênero", diz à BBC News Brasil Ana Paula Braga, sócia da Braga & Ruzzi Sociedadecheat online casinosAdvogadas e especialista na defesa dos direitos das mulheres.

Flavia Nascimento, defensora pública e coordenadoracheat online casinosDefesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública do Riocheat online casinosJaneiro, concorda.

Ela lembra ser tão recorrente esse tipocheat online casinosviés por partecheat online casinospromotores e juízes que Conselho Nacionalcheat online casinosJustiça (CNJ) recomendou recentemente aos tribunaischeat online casinostodo o país a adoção do protocolocheat online casinosjulgamento com perspectivacheat online casinosgênero.

"A palavra da mulher costuma ser desconsiderada. É para a gente refletir. As mulheres são o todo tempo estimuladas a denunciar seus agressores e as violências sofridas. E quando elas denunciam, qual resposta elas têm?", questiona Nascimento.

"As mulheres vítimascheat online casinosviolência sexual demoram ter coragem para denunciar e, quando denunciam, acabam sendo vítimascheat online casinosum julgamento moral e suas palavras, desqualificadas. É muito difícil a gente mudar (essa realidade). Costumo falar que os direitos das mulheres são relativizados pelo sistemacheat online casinosjustiça."

Para a advogada Braga, "para mudar essa cultura, é preciso ter denúncia. Quanto mais mulheres denunciarem, mais isso vai se tornar um problema visível. E também acho que o apoio midiático,cheat online casinosconscientização, é muito importante nesse sentido", conclui.

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