Conheça a paraibana que tocou nas apresentaçõesBeyoncé e Billie Eilish no Oscar:

Karoline Menezes

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Foi a quarta vez que Karoline Menezes se apresentou na cerimônia do Oscar

Karoline,33 anos, se mudou para os Estados Unidos2009 e hoje viveLos Angeles. Saiu do Nordeste, como faz questãomencionar,João Pessoa, na Paraíba, filhapais que saíram do sertão para tentar uma vida melhor.

"Tudo isso é inacreditável e inimaginável. Eu sempre quis tocar com a Beyoncé, por exemplo. É uma das maiores artistas da atualidade e muito respeitada aqui nos Estados Unidos, tanto que a chamam"Queen B". Foi algo muito épico, porque ela criou algo único, como sempre faz, e pude estar presente. Gravamosestúdio e fizemos a performance ali, na quadraque as Williams aprenderam. É preciso ter muita visão para fazer algo assim. Beyoncé é um símbolo. Com a Billie Eilish, eu fiquei nervosa porque era ao vivo, sem partitura, com frio na barriga. É um clima muito surreal", conta ela, por chamadavídeo, à BBC Brasil.

Sentir-se feliz com essas experiências também é um contraponto da saudade que sente da família, que estáJoão Pessoa. A cultura do Nordeste está enraizadaKaroline apesar da distância, muito pelo exemploseus pais — Maria das DoresSouza e Valdemir Menezes Tavares. Ela viajará ao Brasilbreve e tem apresentações marcadas, mas antes pretende passar um tempo com a família.

"Meus pais saíram do sertão da Paraíba para dar melhores condições aos filhos. Ser Nordestina simboliza mais do que ser brasileira, porque isso está muito fortemim. Nós temos que lutar muito, sempre, para conquistar coisas boas. É esse o espírito que trazemos, que minha família traz, que eu trago. Eu sempre sonheiassistir aos festivais e, depois,tocar neles, mas sempre havia uma distância muito grande para percorrer. Estou aqui pela luta dos meus pais que, graças a Deus, permitiu que muita coisa boa chegasse para nossa família", lembrou ela.

Karoline Menezes

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, 'Tudo isso é inacreditável e inimaginável', diz ela

Karoline se mudou para os Estados Unidos ao ganhar uma bolsaestudos para bachareladomúsica,2009, na Azusa Pacific University, da Califórnia, por conta do violino. Ela se formou, mudouinstrumento principal (agora é a viola) e começou a trilhar acarreira internacional. Na Paraíba, ela já havia traçado apresentações na Escola EstadualMúsica Anthenor Navarro, na Orquestra Sinfônica Jovem da Paraíba, na Camerata Parahyba e na Camerata Brasílica.

'Deixei o inglês por faltacondições, mas aprendi com a música'

Desde nova, por influênciaseu pai, Karoline ouviu bastante The Eagles. Hotel California era música obrigatória dentrocasatal maneira que ela, que diz 'tocar só um poucoviolão', fez questãoaprendê-la para abençoar os ouvidos do próprio pai, que sempre lhe pedia.

"A música, na verdade, sempre foi essencial na minha vida. Eu fiz um tempoinglês quando era mais nova, só que tiveparar pela faltarecurso. Daí, resolvi imprimir todas aquelas músicas internacionais que gostava e passei a traduzir palavra por palavra, até que as coisas fizessem sentido. Ganhei muito vocabulário desse jeito. The Eagles, Scorpions… Já me ajudaram bastante."

A língua, entretanto, já lhe fez cometer um engano, justamente antescomeçar a ensaiar paraprimeira apresentação no Oscar,2016. Acompanhadaoutros artistas, ela ainda não sabia quem seria o responsável por aquela apresentação, até conversar com os colegas.

"Eles me disseram que iríamos tocar para o The Weeknd. Só que eu não entendi, porque não conhecia muito do trabalho dele ainda. E aí eu respondi, na hora: "Eu sei que vamos tocar no fimsemana (em inglês, 'the weekend' significa 'fimsemana'), porque o Oscar é no domingo". E aí eles meio que olharam assim e disseram: "Não, nós vamos tocar para o The Weeknd", e aí eu entendi que estavam falando do cantor. Essas coisas acontecem", disse.

A performance com The Weeknd, lembra ela, foi a que mais abriu os caminhos e mudou aprópria mentalidade dentro daquele mundo do entretenimento.

O nívelexigência e as necessidades seriam ainda maiores, com desafios dentro da própria apresentação, já que a coreografia também envolvia os músicos, que teriamse mexer sem parartocar.

"Foi a apresentação que mais demandoumim, para falar a verdade. No final da apresentação, eu estava na mesma reta que ele, e tínhamos que nos levantar, andarsalto alto e continuar tocando. Foi bem difícil, mas abriu esse caminho. Já são algumas apresentações no Oscar e a gente nunca sabe quando vai ser ou se haverá uma próxima, por isso sou grata a cada um desses momentos."

Karoline também atuaséries e filmes, ajudando a produzir trilhas sonoras, um trabalho que pode falar menos, por conta dos contratossigilo.

'Nem tudo é glamour'

Pegar o currículoKaroline e enumerar os artistas com quem já se apresentou é um desafio grande, porque um deles pode ser esquecido.

Em resumo, para além dos citados no Oscar, podemos adicionar The Eagles, Adele, Elton John, Snopp Dogg, Queen Latifah, Mary J. Blige, Andrea Bocelli…

Mas nem tudo é glamour. Karoline frisa isso mais uma vez.

"É preciso lembrar que o Oscar só acontece uma vez no ano", salienta.

Karoline Menezes

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Karoline se mudou para os EUA2009, quando ganhou uma bolsa para estudar música — na época, seu principal instrumento era o violino

Em uma entrevista para o podcast 'A Song Called Life', ela contou que a ansiedade e a correria da vida na música eram grandes, a pontochegar pertoter burnouts.

"É complicado porque sempre pensam que conquistas como essas são o topo do mundo, o ápice, que agora estamos ricos. É tudo regulamentado, valor padrão. A realidade é muito diferente da percepção'zerar a vida', já que essa vidamúsico ou no entretenimento nunca é estável. Somente 1% alcança o topo e esse ainda é um número generoso. Aqui, tenho que correr atrásoportunidades, com muito trabalho, já que a cultura dos EUA é meio workaholic."

A vidaimigrante, embora já esteja há muito tempo no país, continua sendo um grande desafio. Alémviagens longas para ganhar valores que ajudam a fechar as contas, existe a rotinaapresentações, os treinos, a correria. Os desafios a correlacionam ainda mais com a cultura nordestina.

"Ainda hoje é difícil. É muito diferenteser um artistapalco. Existe toda uma estrutura no background daquela apresentação, que é onde estamos. Infelizmente, a música ou o entretenimento não é visto como necessário ou essencial, quando nós sabemos que é. Então, continuamos seguindofrente, com muita vontadevencer e agradecendo pelas oportunidades que estou tendo."

A vida não permitiu a Karoline que conseguisse tocar com a maioria dos artistas que sonhava quando era nova. Muitos deles já faleceram e alguns pouco tempo antes que a brasileira fosse alçada ao nívelhoje,que poderia se apresentar com eles. Esse é o casoWhitney Houston, um lamento que Karoline carrega consigo. Hoje, o objetivo é tocar com Lauryn Hill.

"Acho que ela é a pessoa que eu gostariatocar hoje. Já consegui me apresentar com alguns dos que sonhava quando mais nova, então acabo lembrando desses que faleceram antes que eu tivesse a oportunidade. A Lauryn Hill é um nome que me empolga hojedia e espero conseguir."

Línea

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