Por que juros continuam a subir e podem atrapalhar planosarbety oficialreeleiçãoarbety oficialBolsonaro:arbety oficial

Bolsonaro olha para cima durante evento, com painel azul atrás

Crédito, REUTERS/Adriano Machado

Legenda da foto, Juros elevados prejudicam investimentos das empresas e criaçãoarbety oficialempregos, dificultando planosarbety oficialreeleição do presidente

A piora da atividade, combinada a uma inflação que não dá sinaisarbety oficialperder força, são uma pedra no sapato para o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tentaarbety oficialoutubro a reeleição.

Gráficoarbety oficiallinha mostra o histórico da Selic desde 2017

Pesquisa eleitoral Genial/Quaest divulgadaarbety oficialjaneiro mostrou que, para 37% dos brasileiros, a economia é o principal problema do país atualmente. Nesse percentual, estão incluídas as preocupações com desemprego, inflação e crescimento econômico.

A angústia com os rumos da atividade econômica supera a preocupação com a saúde e a pandemia, apontada como principal problema por 28% dos brasileiros, mesmoarbety oficialmeio a um inícioarbety oficialano marcado por uma explosãoarbety oficialcasosarbety oficialcovid-19 provocados pela variante ômicron do coronavírus.

Em terceiro lugar nas preocupações da população estão as questões sociais, incluindo fome, pobreza, desigualdade e habitação, apontadas como maior problema por 13% dos brasileiros, e também uma consequência direta da situação econômica.

Esse cenário, segundo analistas ouvidos pela BBC News Brasil, tende a fortalecer a oposição,arbety oficialdetrimento da continuidade do atual governo.

E também é desfavorável para as candidaturasarbety oficial"terceira via" ligadas à direita, que enfrentam dificuldade para se distanciararbety oficialsuas ligações com o bolsonarismo.

Entenda a recente altaarbety oficialjuros; porque a inflação não cede mesmo com a Selic tão alta; e como tudo isso deve afetar aarbety oficialvida e o futuro político do país.

Porque os juros continuam a subir

Luana Miranda, economista da gestoraarbety oficialrecursos Gap Asset, explica que o Banco Central já estáarbety oficialolho na inflaçãoarbety oficial2023 ao tomar suas decisões nesse inícioarbety oficialano.

"Para 2023, a expectativa para a inflação está um pouco acima da meta,arbety oficial3,5%, o que é desconfortável para o BC, pois é um horizonte ainda distante", diz Miranda.

A meta para a inflaçãoarbety oficial2023 éarbety oficial3,25% e o fatoarbety oficialas expectativas estaremarbety oficial3,5% indica que os agentes econômicos não estão confiantesarbety oficialque o BC será capazarbety oficialtrazer a inflaçãoarbety oficialvolta à meta até lá.

Isso força a autoridade monetária a terarbety oficialcontinuar mostrando dureza no combate à inflação, numa tentativaarbety oficial"ancorar" as expectativas do mercado, como se diz no linguajar econômico.

Além disso, os índicesarbety oficialinflação mais recente têm surpreendido ao vir acima do esperado pelos analistas, mesmo depoisarbety oficialo Banco Central ter elevado a Selicarbety oficial7,25 pontos percentuais ao longoarbety oficial2021,arbety oficial2% para 9,25% ao ano, na maior alta feita por um banco central no mundo no ano passado, segundo levantamento do banco alemão Deutsche Bank.

Tabela mostra os bancos centrais que mais subiram jurosarbety oficial2021, com o Brasil na primeira posição

"Já estamos com uma Selicarbety oficialdois dígitos, estamos nos aproximando do final do ciclo [de alta dos juros], mas ao mesmo tempo as pressões altistas da inflaçãoarbety oficialcurto prazo continuam", observa a economista da Gap Asset.

Ela destaca, por exemplo, a altaarbety oficial0,58% da prévia da inflaçãoarbety oficialjaneiro, medida pelo IPCA-15, que veio bem acima do 0,45% que era esperado pelo mercado.

"Continuamos a ser surpreendidos e, além disso, temos visto bancos centrais ao redor do mundo também surpreendendo com promessasarbety oficialmais juros [do que era esperado antes]. E isso tem impacto sobre a nossa economia também", afirma.

A altaarbety oficialjuros nas economias maduras, como os Estados Unidos, atrai recursos para esses países, levando à valorização do dólar e outras moedas fortes e à perdaarbety oficialvalor do real.

Isso contribui para manter a inflação pressionada, já que parte relevante dos insumos da indústria brasileira é importada. Também favorece as exportaçõesarbety oficialalimentos, reduzindo a oferta deles no mercado interno, o que pesa sobre os preços.

Porque a inflação segue alta, mesmo depoisarbety oficialtanto aumentoarbety oficialjuros

Mas o leitor deve estar se perguntando: se o BC sobe juros para dificultar a tomadaarbety oficialcrédito, desacelerar a atividade econômica e com isso conter a inflação, então por que os preços seguem surpreendendo para cima?

Luana Miranda, da Gap Asset, explica que isso se deve a um conjuntoarbety oficialfatores.

O primeiro deles é que a política monetária leva um certo tempo para ter efeito na economia, cercaarbety oficialquatro trimestres, segundo estudos do próprio Banco Central.

Assim, como o BC começou a subir os jurosarbety oficialmarçoarbety oficial2021, e seguiu elevando as taxas durante os meses seguintes, apenas ao longoarbety oficial2022 os efeitos desse aperto monetário deverão passar a ser sentidosarbety oficialfato na economia.

Postoarbety oficialgasolina com cartaz anunciando combustível a R$ 6,09

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Petróleo mais caro empurrou preço dos combustíveis para cima

Um segundo fator é a altaarbety oficialpreços das commodities, particularmente do petróleo, que tem impacto sobre o preços dos combustíveis no Brasil.

Os preços do petróleo já vinham pressionados desde 2021 por uma combinaçãoarbety oficialrestriçãoarbety oficialoferta pela Opep (Organização dos Países Exportadoresarbety oficialPetróleo) e investimentos que deixaramarbety oficialser feitos pelas petroleirasarbety oficialmeio à pandemia.

A esse cenário já desfavorável, somou-searbety oficial2022 a crise entre Rússia e Ucrânia, país este que é uma importante rotaarbety oficialtransportearbety oficialgás natural.

Um terceiro fator é a continuidade da pressão nos preçosarbety oficialbens industriais, diantearbety oficialproblemas nas cadeias produtivas gerados pela pandemia, como a faltaarbety oficialsemicondutores que afetou a indústria automotiva do mundo todo.

Isso se soma ao aumentoarbety oficialpreços dos serviços, diante da retomada do setor com a reabertura da economia possibilitada pelo avanço da vacinaçãoarbety oficialtodo o mundo.

Por fim, a seca no Sul do Brasil afetou a safraarbety oficialgrãos, o que tende a ter impacto sobre os preços dos alimentos, já que os grãos são usados na produçãoarbety oficialóleos e na ração animal.

"São vários choques ainda afetando a economia, num momentoarbety oficialque a política monetária ainda não teve tempoarbety oficialreduzir a inflação naarbety oficialcapacidade máxima", conclui Miranda.

Como a altaarbety oficialjuros afeta a vida das pessoas

A Selic mais alta tem impacto direto sobre o dia-a-dia da população, explica a economista.

"Ela vai afetar, por exemplo, o preçoarbety oficialtomar um empréstimo. O crédito do cartãoarbety oficialcrédito, do cheque especial, o crédito imobiliário, tudo isso vai ficar mais caro. Isso tende a reduzir o consumo das famílias e os investimentos das empresas."

Por esse motivo, os juros mais altos desaceleram a atividade econômica e, como consequência, a inflação perde força.

"Mas isso tem um custo e pode ter impacto sobre a geraçãoarbety oficialempregos", acrescenta.

Homem com cartaz que diz 'procuro trabalho'

Crédito, Marcelo Camargo/Agência Brasil

Legenda da foto, Juros mais altos desaceleram a atividade econômica e a geraçãoarbety oficialempregos

Uma outra preocupação é com o efeito da altaarbety oficialjuros sobre a inadimplência e o endividamento das famílias.

Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércioarbety oficialBens, Serviços e Turismo), o endividamento dos brasileiros atingiuarbety oficial2021 o maior nívelarbety oficial11 anos, com uma médiaarbety oficial70,9%arbety oficialpessoas endividadas.

Ainda assim, a inadimplência teve uma pequena queda no ano passado,arbety oficialrelação à média histórica. Mas, para a analista, esse quadro pode mudar com a alta dos juros.

"A alta dos juros piora as condiçõesarbety oficialrenegociaçãoarbety oficialdívidas earbety oficialnovas tomadasarbety oficialcrédito. Quem se endividar agora, vai pagar juros muito maiores do que no ano passado."

"Com um cenárioarbety oficialmercadoarbety oficialtrabalho pressionado, salários médios mais baixos e renda das famílias mais comprometida, isso aponta para um endividamento maior, até porque as famílias, ao longo do último período, já devem ter consumido muitoarbety oficialsuas poupanças. Com o endividamento subindo, a inadimplência subir é o próximo passo."

E como tudo isso afeta Bolsonaro e o cenário políticoarbety oficialgeral

Para Luana Miranda, a inflação é a principal "pedra no sapato"arbety oficialBolsonaro, o que fica claro pelas últimas medidas anunciadas pelo seu governo, como a PEC (Propostaarbety oficialEmenda à Constituição) dos Combustíveis, que pretende zerar impostos federais sobre alguns desses insumos, como o diesel. Alémarbety oficialuma possível redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), atualmentearbety oficialestudo pela equipe econômica.

"A inflação pesa muito no bolso da população e muito mais no bolso dos mais pobres. Então Bolsonaro está muito mais preocupado com isso do que com o crescimento do PIB", considera.

Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria, lembra que, tanto a inflação, como a forte alta dos juros, são sintomasarbety oficialuma desestabilidade macroeconômica que resulta das escolhas do governo, principalmente com relação às contas públicas.

Lulaarbety oficialfotoarbety oficialarquivo

Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto, Economiaarbety oficialqueda e avanço da vulnerabilidade social favorecem a oposição

"A economiaarbety oficialqueda e o avanço da vulnerabilidade social geram incentivos para apostasarbety oficialcandidatos que fazem oposição ao status quo", observa o analista político.

"Não é por acaso que o ex-presidente Lula lidera nos principais cenários eleitorais e à medidaarbety oficialque um cenário econômico mais difícil vai se confirmando, essa preferência por nomes distantes ao governo deve ir se cristalizando. Governos mal avaliados 'premiam' projetos eleitoraisarbety oficialoposição", afirma.

Para Cortez, o cenário também é difícil para as candidaturasarbety oficial"terceira via".

"As candidaturasarbety oficialterceira via, emarbety oficialmaioria - talvez com a exceção do ex-ministro Ciro Gomes - sãoarbety oficialdireita. Por isso, essas candidaturas, sejaarbety oficialSergio Moro ou João Doria, têm dificuldadearbety oficialse distanciar da agenda do governo, pois estiveram ligadosarbety oficialmaior ou menor grau a ele. Fazer essa reviravolta não é trivial."

Se a economia dificulta o projetoarbety oficialreeleiçãoarbety oficialBolsonaro e o sucessoarbety oficialuma terceira via, também deve impor um grande desafio a quem assumir o governo federalarbety oficial2023.

"A agenda econômica vai deixar uma herança difícil, seja para um segundo mandato bolsonarista, seja para um novo governo. Temos uma combinaçãoarbety oficialvulnerabilidade social, política econômica muito instável e um risco fiscal muito grande."

"Ter que controlar a inflação, equilibrar as contas do governo e responder às demandas sociais será uma equação muito difícilarbety oficialser fechada", avalia o analista político, sobre os desafios do governo que terá inícioarbety oficial2023.

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