Banco Central volta a elevar juros; entenda efeitos na inflação e no bolso:

Legenda da foto, Inflação acumulada12 meses está10,67%

A taxajuros básica da economia brasileira, a Selic, foi novamente elevada nesta quarta-feira (8/12) pelo ComitêPolítica Monetária do Banco Central (o Copom) e passou7,75% para 9,25%.

A Selic, que servereferência para outras taxas na economia brasileira, estáalta desde maio,resposta a uma crescente inflação e à percepçãodescontrole sobre os gastos do governo federal, principalmenteum período pré-eleições2022.

Puxado pela alta nos transportes e nos custosalimentos e bebidas, o Índice NacionalPreços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, subiu 1,25%outubro, o maior índice para esse mês desde 2002. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação já está10,67%.

A taxa Seliccurva ascendente colocou fim a um cicloquase seis anosjurospatamares bastante baixos para o histórico brasileiro - que chegou a seu ponto mais baixo2%, entre agosto2020 e maio2021.

Ao anunciar a alta na Selic, o Copom informou que o ambiente econômico externo está "menos favorável" diante da persistência da inflação euma possível nova ondacovid-19 causada pela variante ômicron.

"Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores divulgados desde a última reunião mostram novamente uma evolução moderadamente abaixo da esperada. A inflação ao consumidor continua elevada. A alta dos preços foi acima da esperada, tanto nos componentes mais voláteis como também nos itens associados à inflação subjacente. As diversas medidasinflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação", diz a nota divulgada.

Com a incerteza fiscal e a expectativaque a inflação fique acima da meta pelo segundo ano consecutivo, com impacto direto no orçamento das famílias, já era esperado por economistas que a Selic subisse - e continuetendênciaalta.

Em entrevista à BBC News Brasiloutubro, antes da reunião anterior do Copom, economista Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências, estimava que a Selic possa chegar a 10% no início do ano que vem. "As taxasjuros conseguem conter um pouco essa piora (do cenário inflacionário) ao segurar a atividade econômica e os preços", explicou.

Isso porque, ao elevar os custos do crédito, elas fazem as empresas e consumidores gastarem menos e os estimula a poupar mais - uma vez que o dinheiro poupado é remunerado a uma taxajuros maior.

"A taxajuros é a ferramenta mais rápida e simples (dianteum cenário inflacionário)", apontou o economista Reginaldo Nogueira, diretor-geral do Ibmec São Paulo e Brasília, tambémconversa com a BBC News Brasiloutubro.

Um efeito colateral disso, porém, é dificultar a retomada dos investimentos produtivos e dos empregos,um momentoque o Brasil ainda tenta voltar aos patamaresantes da pandemia e da crise econômica.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Expectativafuro do tetogastos piorou as perspectivas econômicasoutubro

Por isso, aumentos na taxajuros costumam enfrentar muitas críticas das associações industriais do país, que reclamam que a medida deixa o crédito mais caro para consumidores e empresas e prejudicaprodutividade.

Para Silvio Campos Neto, porém, mesmo antes dos recentes aumentos da Selic o mercado e as instituições privadas já vinham aumentando seus juros, antecipando a decisão do BC.

Outro efeito preocupante da alta da Selic é otornar mais cara a dívida pública do Brasil,dólares - um problema que deve voltar com mais força ao debate nacional2023, no pós-eleições, junto a discussões sobre reformas econômicas e aumentotributos, previa Reginaldo Nogueira.

O imbróglio fiscal do governo

Mas, junto à inflação, outro fator crucial apontado para a recente alta acelerada dos juros é a preocupação com os gastos do governo. Essa preocupação ganhou ímpetooutubro, quando o presidente Jair Bolsonaro pretendia anunciar o programa substituto do Bolsa Família - o chamado Auxílio Brasil, com benefício no valorR$ 400.

No entanto, ante a perspectivaque parte desse benefício viesserecursosfora do tetogastos - ou seja, além do total que o governo federal pode gastar sem desrespeitar a lei -, os agentes do mercado financeiro reagiram na época com uma alta no dólar e uma queda na bolsavalores.

O dólar mais alto, porvez, pressiona ainda mais a inflação, uma vez que muitos dos bens adquiridos por indústrias e consumidores são importados.

O resultado foi, então, um adiamento no lançamento do Auxílio Brasil - até que o benefício começasse a ser pago,novembro, para 14,5 milhõesfamílias.

A expectativa éque mudanças no pagamentoprecatórios por parte do governo disponibilizem recursos para o programa social - a PropostaEmenda Constitucional estáprocessopromulgação no Congresso.

O que alguns economistas argumentam é que, na ausênciacontrole sobre os gastos do governo, a tendência é que a inflação continue aumentando - algo que, porvez, que corrói o podercompra justamente dos mais pobres. Isso traz uma pressão para o Banco Central e o mercado financeiro elevarem as taxasjuros, o que, porvez, retrai os investimentos.

"Quando se começa a falarromper o tetogastos, mesmo queum patamar não tão elevado, isso passa sinaisque não haverá contenção das pressõesdemanda pelo (aumento do) gasto público", explicou o economista Reginaldo Nogueira.

"Isso aumenta o risco político e afeta o câmbio, com mais efeito sobre a inflação."

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