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Inflação: o que está por trás da altamais30% no preço10 produtos:
Apesar do aumento das exportaçõescommodities, que tradicionalmente na história do Brasil ajudam a fortalecer o real, a moeda americana se mantémnível persistentemente elevado - o que impacta os preçosdezenasprodutos,alimentos a combustíveis.
"A desvalorização cambial foi o fator que mais pesou para essa diferença entre o nível da inflação aqui e no resto do mundo", destaca Braz.
Nos 12 meses até outubro, o indicador oficialinflação, o ÍndicePreços ao Consumidor Amplo (IPCA), atingiu 10,67%. Como o IPCA é composto por 377 subitens, o número fechado esconde aumentos bem maiores. O pimentão, por exemplo, acumula alta85,3%, a maior da lista.
Pouco mais20 produtos estão mais30% mais caros do que um ano atrás, muitos daqueles que têm castigado o bolso dos brasileiros nos últimos meses. Detalhamos 10 deles a seguir.
Açúcar e café
Esta é uma crise amarga. Açúcar refinado, cristal e demerara subiram, respectivamente, 47,8%, 42,4% e 30,38% no último ano.
As intempéries climáticas ajudam a explicar parte relevante desse aumento. A combinaçãoseca e geadas que afetou a região Centro-Sul do país pegoucheio o Estado que mais produz cana-de-açúcar, São Paulo.
Com a quebrasafra, a oferta do produto diminuiu. A estimativa da Companhia NacionalAbastecimento (Conab) é uma colheita 9,5% menorrelação ao período anterior.
A disponibilidadeaçúcar no mercado interno, contudo, reduziu ainda mais. Com o aumento dos preços internacionais e a valorização do dólar, os produtores têm um grande incentivo para exportar, o que acaba empurrando para cima os preços domésticos.
A história do café, que acumula alta34% no IPCA, é essencialmente a mesma. A seca afetou os Estados produtores, como Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, provocando quebrasafra e uma redução25,7% na colheita, conforme os dados da Conab.
Com a menor oferta, o preço da saca mais que dobrou,cercaR$ 5002020 para R$ 1,3 mil, lembra CésarCastro Alves, da Consultoria Agro do Itaú BBA.
No caso do café, como a colheita se estende entre abril e setembro, as geadas vão afetar principalmente a próxima safra - o que diminui o espaço para uma recuperação mais sustentada da produção.
Em paralelo à questão climática, acrescenta o especialista, os gêneros agrícolas estão,forma geral, tendoconviver com "custosprodução exorbitantes".
Boa parte dos insumos, como adubos, fertilizantes e defensivos, é importada e, portanto, fica mais cara com a alta do dólar.
"Mas não é só isso, tem energia e combustível, que também estão mais caros, mãoobra... É um quadro complicado, e que vale para todas as culturas", avalia.
Filé mignon
O corte mais nobre do boi está ainda mais caro - 38% mais que um ano atrás. Mas ele não é o único: praticamente todos os cortesbovinos subiram dois dígitos nos últimos 12 meses, o que explica porque, para muitas famílias, a carne é hoje inacessível.
O preço do frango, que poderia ser uma alternativa, também não está cabendo no bolsomuitos brasileiros. O frangopedaços está 33,2% mais caro e o frango inteiro, 29,2%.
Neste caso, a questão das commodities também ajuda a explicar, já que soja e milho, duas culturas castigadas pela seca2021, são a base das raçõesbovinos e aves.
A estiagem também afetou importantes regiões produtoras dos Estados Unidos (maior exportadormilho do mundo), contribuindo para empurrar as cotações dessas commodities nos mercados internacionais.
Além do aumentocustos para a chamada indústria intensivaração -proteína animal, leite e ovo -, uma menor produçãobois também ajuda a explicar o aumento do preço das proteínas, acrescenta Castro Alves.
Nesse caso, a situação é reflexo do próprio ciclo da bovinocultura, diz ele, relacionado aos períodosreprodução e reposição dos animais - períodos5 ou 6 anos,acordo com a Embrapa,que a disponibilidadebezerros, fêmeas e bois aumenta e diminui, afetando os preços.
Em setembro, um outro fator entrou na equaçãopreços: a China decretou embargo à carne brasileira depois que dois casosvaca louca foram identificadosMinas Gerais e Mato Grosso, onde há frigoríficos certificados para exportar para o país asiático.
A situação ainda não foi resolvida: apesara Organização MundialSaúde Animal afirmar que os casos eram atípicos e espontâneos e que, portanto, não apresentavam risco para a cadeia produtiva, a China mantém o embargo.
Como resultado, as exportaçõescarne brasileira despencaram e o preço da arroba do boi gordo chegou a recuar R$ 60 entre o iníciosetembro e o finaloutubro, quando valia cercaR$ 255, conforme o indicador do Cepea.
"Mas o consumidor final nem viu a cor dessa reduçãopreço", pondera o especialista, referindo-se ao fatoque a carne bovina não retraiu na mesma magnitude no IPCA. Parte desses ganhos foi absorvida pelos frigoríficos e outra parte ficou no próprio varejo, que aproveitou para aumentarmargemlucro.
"O boi caiu mais que no atacado, que, porvez, caiu mais do que no varejo."
Combustíveis (gasolina, etanol, GLP, óleo diesel) e energia elétrica
O aumento expressivo da inflação2021 se deveboa parte ao grupo dos "energéticos", diz André Braz, do Ibre-FGV.
"Diesel, gasolina, GLP, etanol, energia elétrica... Tudo isso é cerca50% do IPCA acumulado até outubro", destaca o economista.
A energia elétrica residencial, diretamente afetada pela crise hídrica, acumula 30,2%alta12 meses.
Praticamente todos os combustíveis na cesta do IPCA ficaram mais30% mais caros no último ano. Entre os derivados do petróleo, a gasolina subiu 42,7%, o óleo diesel, 41,3%, o gás veicular, 39,5%, e o gásbotijão, 37,8%.
Pelo menos quatro fatores têm empurrado os preços para cima. De um lado, a maior demanda por combustíveisforma geral, fruto da própria reabertura das economias após o início dos programasvacinação.
De outro, uma restriçãooferta, já que a Organização dos Países ProdutoresPetróleo (Opep), um cartel que reúne 13 países e concentra cerca33% da produção global da commodity, não retomou o ritmoextração pré-pandemia - apesar dos pedidos da comunidade internacional epressões dos EUA.
No caso do Brasil, a esses dois fatores se soma a questão do aumento do dólar, pois a políticapreços da Petrobras levaconsideração a cotação da moeda americana, além do comportamento dos preços internacionais do barrilpetróleo.
Por fim, os biocombustíveis que são misturados ao diesel e à gasolina também ficaram muito mais caros2021. O etanol, que responde por 27% da composição da gasolina C, vendida nos postoscombustível, está 67,4% mais caro - depois do pimentão, é o segundo item com maior aumentopreço no último ano.
E este é um reflexo direto da dinâmica do açúcar. Com aumento do preço internacional, parte relevante da produção a partir da cana-de-açúcar foi direcionada para a commodity e exportada, reduzindo a matéria-prima disponível para o etanol, explica Castro Alves, da Consultoria Agro do Itaú BBA.
No caso do diesel, entra o biodiesel, que responde por cerca10% da composição e é feito a partir da soja, que também acumula alta expressiva.
O aumento generalizado no grupo dos energéticos, porvez, contamina uma sérieoutros preços, ressalta Braz.
"Esses aumentos não se esgotamsi. A alta da energia elétrica eleva o custo da indústria, por exemplo, que pode repassar o aumento para seus preços. O diesel mais caro aumenta o preço do frete. Há um espalhamento das pressões."
Transporte por aplicativo
O transporte por aplicativo ficou 36,7% mais caro nos 12 meses até outubro. Para a Associação BrasileiraMobilidade e Tecnologia (Amobitc), que representa empresas como Uber e 99, a alta é explicada pelo aumento da procura.
"É preciso considerar que o setor vem registrando um aumento exponencial na demanda por corridas nos últimos meses, o que têm levado a um desequilíbrio temporário entre a oferta e a demanda no mercado", declarou,nota.
Questionada se houve aumento das tarifas, a Amobitc afirmou que "as empresas têm políticas e estratégias próprias relacionadas a preços, já que se trataum setor dinâmico e competitivo, porém,linhas gerais, o preço das corridas é influenciado por fatores como: tempo e distância dos deslocamentos, incluindo as condiçõestrânsito e congestionamentos; categoriaveículo escolhida; existênciapromoções ou descontos para o passageiro; níveldemanda por corridas no horário e local específicos".
Em setembro, os aplicativos chegaram a anunciar reajustes dos repasses feitos aos motoristas, diantereiteradas queixasaumentocustos por conta da alta expressiva dos preços dos combustíveis.
No caso da 99, o aumento variou entre 10% a 25% nas mais1,6 mil cidadesque opera. "Grande parte desse reajuste está sendo subsidiado pela plataforma", disse a empresanota.
O valor da corrida, segundo a companhia, "é definido a partiruma equação que considera distância percorrida e tempo".
"Ainda,períodosalta demanda, os valores podem sofrer alterações. Nos últimos meses, tivemos um aumento significativo no volumecorridas, impulsionado principalmente por dois fatores: a retomada das atividades nas cidades devido ao avanço da vacinação e à alta adoçãocarros por aplicativo pela população da classe C", acrescentou a associação.
A Uber não respondeu aos pedidos da reportagem para esclarecimento da políticareajustes aos motoristas.
Passagem aérea
Outro item impactado pela retomada das atividades é passagem aérea, que acumula alta50,1%.
Essa elevação se deve,um lado, a uma pressão maiorcustos das companhias aéreas, com o dólar mais caro e o aumento forte dos combustíveis - nesse caso, do queroseneaviação.
De outro lado, há a demanda, bastante aquecida com a reabertura da economia e formada por consumidores com renda disponível para absorver os aumentoscustos das empresas.
"O setor aéreo atende a um públicomais alta renda, que foi menos prejudicado pela pandemia. Esse foi o grupo que menos perdeu emprego, que conseguiu migrar para o home office. A tendência éaumento da demanda", avalia Braz.
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