Covid-19: é correto aplicar vacina no glúteo e não no braço, como faz Joinville?:

Pessoa recebendo vacina no glúteo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Embora o braço seja o local mais indicado, o Ministério da Saúde admite que a vacina contra a covid-19 seja aplicadaquatro regiões do corpo
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Outros moradores do município argumentaram que a práticatomar vacina nessa parte do corpo é algo comum e rotineiro, que foi inclusive adotadooutras campanhasimunização no passado.

A médica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade BrasileiraImunizações (SBIm), confirma a informação, mas faz uma correçãorelação ao local exato onde é feita a picada.

"O EstadoSanta Catarina tem como tradição aplicar as vacinas na região do ventroglúteo, que não fica nas nádegas exatamente, mas um pouco mais acima, na lateral do quadril", diz.

O importante, segundo a especialista, é que a vacina seja injetada exatamente no músculo, e nãooutras camadas mais superficiaispele ou gordura.

Os alvos prediletos

Os músculos possuem uma sérieatributos que fazem deles o local perfeito para receber muitos tiposvacinas.

Para começoconversa, a aplicação das substâncias nesse tecido não está relacionada a efeitos colaterais graves, como uma inflamação mais séria.

A escolha do músculo específico também é importante: os especialistas sempre tentam fugirregiões com muitos nervos ou vasos sanguíneos, para diminuir o riscoqualquer dano colateral que a introdução da agulha possa causar.

Um documento publicadoabril2020 pelo Ministério da Saúde indica quatro lugares específicos do corpo para a aplicaçãovacinas intramusculares: o braço, a coxa, o dorsoglúteo (atrás do quadril) e o ventroglúteo (na lateral do quadril).

Na bula, a maioria dos fabricantes sugere dar preferência ao músculo deltoide, localizado no braço, pois os estudos clínicos que servirambase para a aprovaçãoseus produtos foram feitos seguindo o protocoloaplicação nessa parte dos membros superiores.

Músculo deltoide

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O músculo deltoide, representadovermelho na ilustração, é o local preferido para injeção dos imunizantes contra o coronavírus

Enquanto a imunização no braço predominaboa parte do Brasil e do mundo, o ventroglúteo tem a preferênciamuitas cidades catarinenses, como Joinville.

"É preciso ter maisuma opção para contemplar as limitações e particularidades que podemos encontrar na população. Como uma pessoa que não têm os braços tomaria a vacina se não tivéssemos essas alternativas?", questiona Ballalai.

Uma reaçãocadeia

Outro motivo que faz os músculos serem um alvo ideal é a boa quantidadecélulas do sistema imunológico encontradas ali, que são essenciais para a construçãouma resposta contra um vírus ou uma bactéria.

Em linhas gerais, as vacinas carregam antígenos (ou trazem instruções para que o nosso próprio corpo fabrique essas moléculas).

Após a aplicação da dose, essas substâncias são reconhecidas por duas unidades que estão presentes nos músculos e integram nosso batalhãodefesa: as células fagocitárias e as células apresentadorasantígenos.

Após o contato inicial, essas células carregam o antígeno pelos vasos linfáticos até chegarem aos linfonodos, gânglios que concentram muitas células imunológicas.

Nesse local, os tais antígenos são finalmente apresentados aos linfócitos T e B, que são responsáveis por desenvolver uma resposta imune na formaanticorpos ecélulas específicas.

Assim, o organismo fica preparado para contra-atacar caso o agente infecciosoverdade resolva aparecer.

Para facilitar e agilizar o trajeto do músculo até o local onde a respostadefesa será incubada, a escolha por injetar a vacina no braço, na coxa ou no quadril também é estratégica: bem próximo desses lugares nós temos linfonodos maiores, que estão localizados na virilha e na axila.

Sistema linfático

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Os vasos e gânglios linfáticos, representadosverde na imagem, são parte essencialnosso sistema imunológico. Boa parte da resposta após a vacinação acontece nessas estruturas

Tem que acertar no alvo

Como você pode ter percebido, as nádegas não são consideradas uma boa área para aplicar as vacinas.

A explicação para isso é relativamente simples: essa região costuma ter uma camada importantetecido adiposo, que é constituído majoritariamente por células que armazenam gordura.

Se o imunizante é injetado nessa camada gordurosa, há o riscouma inflamação e, pior ainda,o antígeno da vacina demorar ou não ter contato com as unidadesdefesa.

Com isso, o sistema imune não consegue dar início a todo aquele processo que culmina na produçãoanticorpos e respostas celulares que nos protegem contra a infecção (ou os efeitos mais graves dela).

Nessa seara, vale destacar ainda que, no contexto da covid-19, estamos lidando com vacinastecnologias inéditas na saúde pública, como é o caso dos imunizantesPfizer/BioNTech, Janssen e AstraZeneca/Oxford, cujos testes foram bastante rígidos e padronizados.

Em outras palavras, isso significa que sabemos que elas funcionam bem quando injetadas nos músculos, mas não há informações suficientes para sabermos se o efeito é o mesmo se os antígenos vão parar no tecido adiposo.

Geralmente, cada rotaimunização (nos músculos, no tecido adiposo, na mucosa oral ou nas vias respiratórias, por exemplo) gera uma resposta distinta.

Se você leu a reportagem até agora, deve estar se perguntando: por que as coxas não costumam ser destino comum das picadasvacina na campanha contra a covid-19?

Geralmente, elas são o local preferidocrianças menores3 anos, que ainda não desenvolveram músculos suficientemente grandes nos braços ou no quadril. Mas a picada aqui costuma ser bem mais dolorida.

Vale lembrar também que existem outras formasapresentação dos imunizantes: é o caso, por exemplo, das gotinhas que protegem contra a poliomielite.

Outra via alternativa, que inclusive é vista como uma promessa contra o coronavírus, é a vacina inalatória, introduzida pelo nariz. Mas ainda são necessários mais testes para comprovar a segurança e a eficácia desse método.

Uma questãoconveniência

Para muitos, aplicar a vacina no braço é algo mais fácil e prático: num primeiro olhar, parece muito mais tranquilo arregaçar a manga da camiseta ou da blusa do que baixar as calças e mostrar o topo do bumbum.

Para algumas pessoas, expor essa parte do corpo ainda pode ser algo bastante incômodo e sensível, especialmente quando a vacinação acontecelugares públicos e abertos.

Um terceiro fator tem a ver com a rapidez da fila: ao padronizar a vacinação no braço, o processo fica mais agilizado, o que facilita o andamento da campanha, ainda mais quando falamos da necessidadecontemplar centenasmilhõespessoas num curto espaçotempo.

Enfermeira aplicada vacina no braçohomem

Crédito, Mario Tama/Getty Images

Legenda da foto, Padronizar a vacinação no braço pode acelerar os processos e contemplar mais pessoas, mas aplicar no quadril não representa nenhum perigo e também tem suas vantagens

Por outro lado, quando saíram as primeiras notícias sobre a prática comumJoinville, muita gente imaginou que a aplicação acontecia no meio das nádegas, o que não é verdade.

"Ninguém precisa ficarbundafora", esclarece Ballalai.

A aplicação da dose na região ventroglútea (na lateral do quadril) só exige erguer a camiseta e abaixar um pouco as calças — para quem gosta das redes sociais, é possível postar as fotos do momento da vacinação sem qualquer constrangimento.

"Vacinar no ventroglúteo ainda tem a vantagemser bem menos dolorido, o que aumenta a adesão das pessoas", aponta a médica.

Apesar dos pontos positivos, a vice-presidente da SBIm destaca a importância do treinamento da equipe dos postosvacinação.

"O profissional tem que analisar caso a caso. Em indivíduos muito obesos, pode ser mais difícil a agulha atingir o músculo da região do quadril", destaca.

Posicionamento oficial

A BBC News Brasil entroucontato com a assessoriacomunicação da PrefeituraJoinville, que respondeu aos questionamentos por meiouma nota.

Os representantes do município dizem que a práticadar a vacina contra a covid-19 na região ventroglútea acontece desde janeiro2021.

"Essa rotinaaplicação é a mesma realizada nas demais campanhasimunização, como contra o influenza [vírus causador da gripe], por exemplo", escrevem.

O secretário municipalSaúde, Jean Rodrigues da Silva, também afirma que a estratégia foi desenvolvida com base "na segurança do processo e na qualidade do atendimento".

"Em Joinville, a vacinação é realizada mediante agendamento online,84 salasimunização climatizadas. Até o momento, imunizamos mais80% da população com mais18 anos com a primeira dose e seguiremos avançando", conta.

Por fim, os cidadãos que não quiserem tomar a vacina no quadril podem pedir para que a dose seja aplicada no braço.

Línea

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