Fotógrafo reconstrói retrato do avô que nunca conheceu:bet 364

Como sugere o título, a imagembet 364João Catarino Ribeiro é uma construção do autor a partir da memóriabet 364poucas pessoas ainda vivas que conviveram com ele. "Entrevistei uma tia mais velha e alguns primos que se lembravam como ele era", diz Eustáquio,bet 364entrevista à BBC News Brasil.

Para desenvolver os retratos, o fotógrafo usou negativos antigos do arquivobet 364um retratista que trabalhou na cidade mineirabet 364Diamantina, nos anos 1950.

"Morobet 364Diamantina atualmente. Adquiri cercabet 364300 negativos, muitos deles deteriorados, enroladosbet 364jornais da época. A partir dessas imagens e do relato dos meus parentes, fui construindo a imagem do meu avô", conta Eustáquio.

A figura reconstruídabet 364João Catarino Ribeiro aparece na obrabet 364várias maneiras, mas principalmentebet 364terno e gravata, comobet 364retratos antigos que eram retocados como uma pintura.

Em um dos perfis, um esboço, há indicaçõesbet 364características físicas do avô: "cabelo crespo, olhos azuis, sério".

Em outras páginas, a busca pelo corpo e pela biografia do avô fica evidente. "Homem preto, estatura média", escreve o artistabet 364uma das imagens, uma espéciebet 364documento carimbado, e com uma pintura que faz as vezesbet 364retrato 3x4.

"Erabet 364Diamantina, erabet 364Conceição do Mato Dentro, era da Bahia, era garimpeiro, tinha posses, olhos castanhos", anota Eustáquiobet 364outro momento, com informações acumuladas junto a seus parentes.

"Nunca soube exatamente quem ele era. Meus familiares disseram que ele era garimpeiro, que passou pela Bahia, por Diamantina, por Conceição do Mato Dentro. Nossa casa era bem estruturada, então suponho que ele tinha algumas posses, uma situação financeira até confortável", diz o artista.

O próprio nome da série, Retrato Falado, ironiza um recurso usado basicamente pela polícia para identificar pessoas envolvidas com o crime. "O título foi proposital nesse sentido, pois a ausência do avô, a ausência da figura paterna, não deixabet 364ser uma violência vivida por muitas pessoas negras no Brasil", diz Eustáquio.

A obra foi desenvolvida a partir da Bolsa Bolsabet 364Fotografia da revista ZUM, do Instituto Moreira Salles (IMS), que Eustáquio recebeubet 3642019.

A inscrições para as bolsas da revista ZUM deste ano,bet 364R$ 65 mil cada uma, vão até o próximo dia 22bet 364agosto, no site da publicação. "Serão selecionados dois projetos inéditosbet 364artistas e fotógrafos, para que desenvolvam e aprofundem seu trabalho no campo da fotografia,bet 364suas mais diversas vertentes, sem restriçãobet 364tema, perfil ou suporte", aponta a revista.

'Casabet 364mulheres'

A ideiabet 364Retrato Falado surgiu para Eustáquio Neves enquanto ele produzia outro trabalho, um livro também autobiográfico.

"Era uma pergunta que eu sempre me fazia: quem é essa figura do meu avô? Ouvia minha mãe e minhas tias falando dele, mas sempre ele sempre foi distante para mim. Eu não tinha uma imagem dele, não tinha essa imaginação. Foi pensando nisso que tive a ideiabet 364trabalhar com essa memória", diz.

Criadobet 364uma "casabet 364mulheres", junto à mãe, tias e primas, Eustáquio também não conheceu o pai.

"Me lembro que um dia, quando eu era bem pequeno, colocaram uma roupa bonitabet 364mim e me levaram para o centro da cidade. Me disseram que eu iria conhecer meu pai. Respondi: não quero. A gente andou pela cidade, talvez ele tenha me vistobet 364longe", conta.

Antesbet 364iniciar a carreira na fotografia, Eustáquio se formou como técnicobet 364Química Industrial. "Comprei uma câmera com meu primeiro salário como químico. Depoisbet 364alguns meses, meu chefe me chamou e me aconselhou a me dedicar exclusivamente à fotografia. Ele me demitiu e, com o dinheiro da rescisão, montei um estúdiobet 364Belo Horizonte", conta.

"Fotografei muito casamento, festabet 364aniversário, batizados. Essa foi a minha escola até decidir me dedicar à fotografia autoral", diz.

Em cursos e exposições, Eustáquio era muitas vezes o único fotógrafo negro, conta. "Quando não era o único, tinha só mais um. Sou uma pessoa que chutou as portas, não esperei abrir. Onde eu senti que fazia sentido eu pertencer, eu mesmo abri a porta", diz.

A partir dos anos 1990, o artista participoubet 364maisbet 36440 exposições, como a Bienalbet 364São Paulo-Valência (2007), ganhando destaque no cenário nacional da fotografia, sempre focando questões sociais, étnicas e culturais.

Segundo a página sobre o artista no site do Itaú Cultural, Eustáquio Neves "rememora e recria as histórias dessa descendência africana com basebet 364aspectos que constituem seu cotidiano, enfatizando o Brasil como o país que tem a maior população negra fora da África, e no qual o racismo estrutural é realidade."

"As problematizações abordadas por Eustáquio Neves têm grande importância na cena artística, por fazer partebet 364um conjuntobet 364artistas que direciona o olhar para a produçãobet 364novas narrativas, concebidas com a sensibilidadebet 364quem faz parte da construção histórica da população afro-brasileira", completa.

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