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Crise hídricasortudo cassinoBolsonaro trazsortudo cassinovolta fantasma eleitoral do 'apagão'sortudo cassinoFHC:sortudo cassino
1. Véspera da eleição
O primeiro fator que aproxima as duas situações é o momento: as duas crises acontecem um ano antes da eleição presidencial.
Especialistas do setor elétrico com experiência na formulaçãosortudo cassinopolíticas públicas dizem que falarsortudo cassinoracionamentosortudo cassinoenergia ou apagão é politicamente delicadosortudo cassinoqualquer momento, mas o assunto fica ainda mais complicado pertosortudo cassinouma eleição.
"A experiênciasortudo cassino2001 deixou um traumasortudo cassinoqualquer político. Muitos atribuem um peso grande ao racionamento na perda da reeleição do partido que estava no governo (PSDB)", diz Mauricio Tolmasquim, professor do programasortudo cassinoplanejamento energético da COPPE, da Universidade Federal do Riosortudo cassinoJaneiro (UFRJ).
Ele, que é ex-presidente da Empresasortudo cassinoPesquisa Energética e já foi ministro interino e secretário executivo (2003 a 2005)sortudo cassinoMinas e Energia, diz que racionamento é "palavra proibida" no governo.
Apesar da questão política, ele defende que, tecnicamente, diante da atual situação, o ideal seria estudar os impactossortudo cassinoum eventual racionamento pequeno.
"Eventualmente, os danossortudo cassinotermossortudo cassinoinflação podem até ser maiores não racionando'', diz. "Deveriam estudar alternativas e analisar prós e contras, mas nem estudo se faz porque, se vazar que tem um estudo desse, tem um impacto político muito grande."
A doutorasortudo cassinoeconomia e especialista no setorsortudo cassinoenergia Amanda Schutze diz que o "medo" da palavra racionamento "é muito grande e atrapalha a comunicação com o consumidor".
"É importante comunicar ao consumidor a possibilidade, o que está acontecendo. E falarsortudo cassinoracionamento acaba que fica muito tenso - tanto por causa do resultado que foi o racionamentosortudo cassinotermos eleitorais no passado como porque falar para uma pessoa que ela não vai ter eletricidade atualmente é inaceitável", diz.
Schutze, que também é professora da PUC-Rio e coordenadorasortudo cassinoenergia do Climate Policy Initiative (CPI), avalia que "o racionamento pode fazer com que uma pessoa perca uma eleição, porque afeta demais no cotidiano".
Diante das comparações, o próprio ministrosortudo cassinoMinas e Energia, Bento Albuquerque, fez menção à crisesortudo cassino2001sortudo cassinopronunciamento na TV. Ele disse que o atual quadro gerado pela escassezsortudo cassinochuvas "provocou a natural preocupaçãosortudo cassinomuitos brasileiros com a possibilidadesortudo cassinoracionamentosortudo cassinoenergia, como aconteceusortudo cassino2001".
Depoissortudo cassinodizer que o sistema elétrico brasileiro evoluiu muito nos últimos anos, o ministro pediu o uso consciente e responsávelsortudo cassinoágua e energia e concluiu dizendo que estava, "com serenidade", "tranquilizando a todos".
2. Faltasortudo cassinochuvas
A hidrologia ruim (ou, simplesmente, a faltasortudo cassinochuvas) é outro importante fatorsortudo cassinocomum da crisesortudo cassino2001 com a atual.
Há vinte anos, a estiagem prolongada, que reduziu níveis dos principais reservatóriossortudo cassinoágua no país, era apontada como um dos motivos para a crise.
Agora, o governo federal aponta que a escassezsortudo cassinoáguas que hoje atinge os reservatórios das hidrelétricas, principalmente no Sudeste e no Centro-Oeste, é a maior dos últimos 91 anos.
E os reservatórios dessa região são extremamente importantes para o sistema elétrico, como explica Tolmasquim.
"O nível dos reservatórios das regiões Norte, Nordeste e Sul estão relativamente bem, mas o grande problema é que estes reservatórios são pequenossortudo cassinorelação ao tamanho do Brasil. O grande reservatório, a grande caixa d'água do sistema elétrico brasileiro, está na região Sudeste/Centro-Oeste, que concentra 70% da capacidadesortudo cassinoarmazenamento do sistema."
Schutze defende que, apesar da importância, esse não é o único fator para explicar a crise atual.
"Uma crise nunca é causada por uma única coisa - é por muitos fatores juntos. E aí, quando você não faz um bom planejamento, você pode torcer para chover muito e tudo dar certo no final. Mas um sistema como o nosso não pode contar com isso, tem que ser feito para conseguir operarsortudo cassinomomentosortudo cassinohidrologia ruim", diz.
Nem o fatosortudo cassinoser a pior hidrologiasortudo cassinonove décadas, segundo ela, justifica a situação.
"A gente já está tendo essa baixa dos reservatórios há maissortudo cassinonove anos. Então isso vem vindo, não é coisa que pegou todo mundosortudo cassinosurpresa."
"Existe falha no planejamento. É necessário tomar a decisãosortudo cassinoutilização da água armazenada hojesortudo cassinodetrimentosortudo cassinosua utilização no futuro. Quando ocorre a decisãosortudo cassinomanter, as termelétricas são acionadas. No entanto, as térmicas não foram acionadas no período adequado. Esse atraso colaborou para o esvaziamento dos reservatórios e a situação atual", diz Schutze.
3. Sistema elétrico mais robusto
Se o timing eleitoral e a faltasortudo cassinochuvas são semelhanças entre as duas crises, uma importante diferença é que as condiçõessortudo cassinoofertasortudo cassinoenergia melhoraram depois da crise energética dos anos 2000.
Tolmasquim diz que o sistema elétrico hoje é muito mais robusto e resiliente do quesortudo cassino2001. "Entre 2001 e 2020, a capacidade instalada cresceu 133%, ao mesmo temposortudo cassinoque o PIB cresceu 44%", diz.
Outro ponto importante é que a participação das hidrelétricas é menor hoje do que era há duas décadas.
De lá para cá, segundo o Ministériosortudo cassinoMinas e Energia, a dependência das hidrelétricas caiusortudo cassino85% para 61%, com aumento da participaçãosortudo cassinofontes limpas e renováveis, como eólica, solar e biomassa - mas também com o aumento do usosortudo cassinousinas termelétricas com combustíveis fósseis, mais caras e poluentes.
A terceira explicação relativa à melhora do sistema está na transmissão da energia.
"Em 2001, a gente tinha um problemasortudo cassinotransmissão. Você tinha energia sobrando no sul do Brasil, mas não tinha linhas suficientes para levar a energia do Sul para a região Sudeste/Centro-Oeste - tanto que o Sul não entrousortudo cassinoracionamento, porque não adiantava: mesmo que sobrasse energia lá, não tinha como transmitir", diz Tolmasquim.
Nesse período, ele aponta, a capacidade do Sulsortudo cassinoenviar energia para Sudeste e Centro-Oeste aumentou 61%. Ao mesmo tempo, a capacidadesortudo cassinoo Norte e o Nordeste levarem energia para o Sudeste e Centro-Oeste aumentou 14 vezes.
Apesar desses avanços na ofertasortudo cassinoenergia, há uma sériesortudo cassinopolíticas ("açõessortudo cassinoeficiência energética esortudo cassinoresposta da demanda") que deixaramsortudo cassinoser aplicadas ou foram aplicadassortudo cassinoforma não satisfatória, segundo Amanda Schutze.
"Toda a nossa políticasortudo cassinoeficiência energética nunca foi baseada num planejamentosortudo cassinolongo prazo - ela sempre ocorreusortudo cassinoreação à dificuldadesortudo cassinoatendimento da demandasortudo cassinoeletricidade", diz a professora.
Avançar na áreasortudo cassinoeficiência energética seria uma forma, diz ela,sortudo cassinoconseguir melhorias consistentes e duradouras no consumosortudo cassinoenergia elétrica.
Schutze aponta a necessidadesortudo cassinouma modernização no setor. Um dos pontos levantados por ela é o modelosortudo cassinoremuneração das distribuidorassortudo cassinoenergia, baseado na quantidadesortudo cassinoenergia consumida.
"Se você tiver uma redução (no consumosortudo cassinoenergia), a distribuidora, momentaneamente, perde (até ela conseguir ter o próprio próximo reajuste). O fato dela receber e poder ganharsortudo cassinocima da quantidadesortudo cassinoenergia vendida faz com que ela não tenha incentivosortudo cassinopromover políticas que façam com que você reduza a quantidade demandadasortudo cassinoeletricidade", diz a professora.
Em vez dessa tarifa, Schutze sugere uma que seja baseadasortudo cassinouma parte fixa (independente da quantidadesortudo cassinoenergia consumida) e uma variável.
Uma política que Schutze considera boa, mas destaca que "não engrenou" no Brasil, é a tarifa branca. Ela diz que a maioria dos brasileiros desconhece essa opção, que, diferente da modalidade convencional (valor únicosortudo cassinotarifa), possui valores diferentes ao longo do dia.
A tarifa mais elevada é no horáriosortudo cassinopico e a mais baixa nos horáriossortudo cassinomenor consumo. Isso significa que a tarifa branca é indicada para quem consegue concentrar seu consumo nos períodos forasortudo cassinopico - como uma pessoa que trabalha forasortudo cassinocasasortudo cassinoum horário que abrange o fim da tarde e início da noite, deixandosortudo cassinoconsumir energia nesse período.
4. Dependência ainda maior da energia elétrica
O setor elétrico brasileiro ficou mais robusto na ofertasortudo cassinoenergia, mas também estamos cada vez mais dependentessortudo cassinoenergia elétrica. E é por isso que os especialistas dizem que apagões e um eventual racionamento afetariam ainda mais o cotidiano dos brasileiros hoje do que afetousortudo cassino2001.
"Imagina você chegar para alguém e falar que vai acontecer o que aconteceu no começo dos anos 2000 - que a gente vai ter que reduzir o consumosortudo cassino20%? Imagina a gente, trabalhandosortudo cassinocasa, reduzir o consumosortudo cassinoeletricidadesortudo cassino20%? Nossa vida depende disso", diz Schutze. "Em termos políticos, hoje falarsortudo cassinoracionamento é bem mais difícil do que foisortudo cassino2000".
A situação também é delicada porque a própria recuperação da atividade econômica, se acontecer, vira um pontosortudo cassinopressão na questão energética.
A produção industrial brasileira - que depende muito da eletricidade para funcionar - cresceu 1,4%sortudo cassinomaio, na comparação com abril, após três meses consecutivossortudo cassinoqueda, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileirosortudo cassinoGeografia e Estatística (IBGE).
Ao mesmo tempo, não é a só a contasortudo cassinoluz que fica mais cara. Os aumentos nas tarifassortudo cassinoenergia também afetam o preçosortudo cassinodiversos produtos e serviços, pressionando a inflaçãosortudo cassinoum momentosortudo cassinoatividade muito mais fraca que o desejável.
'Na mãosortudo cassinoSão Pedro'
Se um eventual racionamentosortudo cassino2021 é uma dúvida, o riscosortudo cassinoapagão já é real, confirmam os pesquisadores ouvidos pela BBC News Brasil.
Esse risco é maior no horáriosortudo cassinopico,sortudo cassino18h a 21h no períodosortudo cassinoinverno.
"O consumo aumenta e a capacidade da hidrelétricasortudo cassinogerar uma certa quantidade muito grande (de energia) num certo momentosortudo cassinotempo é menor quando o nível do reservatório está mais baixo", explica Tolmasquim.
Segundo ele, o risco que já existe hoje tende a subir, se não houver chuva suficiente.
"Esse risco já existe porque os reservatórios já estão baixos e, conforme baixar mais, vai aumentando esse risco. Mas não quer dizer que vai acontecer, é claro. Existe probabilidade, um risco maior do que o normal."
"E também, como a gente tem que usar muito a linhasortudo cassinotransmissão, apesarsortudo cassinotodos os reforços, você sempre pode tersortudo cassinoas linhas ficarem muito carregadassortudo cassinoalgum momento e isso também aumenta o risco."
Outra certeza é que a crise no setor continuará a ser sentida pelos consumidores, no mínimo, por meio da contasortudo cassinoluz. O aumento dos custos - como do acionamentosortudo cassinotermelétricas e da manutenção da tarifa verdesortudo cassino2020 devido à pandemia - continuará a ser sentido pelos consumidores.
No fimsortudo cassinojunho, a Agência Nacionalsortudo cassinoEnergia Elétrica (Aneel) aprovou o reajustesortudo cassino52% na bandeira tarifária vermelha patamar 2, que é a cobrança adicional nas contassortudo cassinoluz quando aumenta o custosortudo cassinoproduçãosortudo cassinoenergia.
"Esse reajuste que foi feito não vai cobrir ainda todos os custos, teria que ser maior. Então, provavelmente ainda terá outro ajuste esse ano. Se não houver esse ano, vai ter que ter um ajuste maiorsortudo cassino2022 para compensar o que não foi coberto", diz Tolmasquim.
E as chuvas?
"Quanto à situação hidrológica, vai depender muitosortudo cassinocomo vai ser a partirsortudo cassinonovembro. Se tivermos um bom verão, os reservatórios vão se recuperar, pode desligar algumas térmicas, e pode voltar eventualmente para bandeira verde ou amarela. Mas estamos na mãosortudo cassinoSão Pedro", diz o professor.
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