Covid: Distanciamento, máscaras e testes poderiam ter evitado maisbet376200 mil mortes no Brasil:bet376
Mas eles não são os únicos a chamar a atenção para esse debate: registros mantidos por outros pesquisadores apontam para o mesmo caminho e apresentam linhasbet376raciocínio e conclusões parecidas.
400 mil mortes a menos?
Numa das intervenções da CPI, Hallal chamou a atenção para a participação brasileira na mortalidade global durante a pandemia.
"O Brasil tem 2,7% da população mundial e, desde o começo da pandemia, o país concentra praticamente 13% das mortes por covid-19 no mundo", começou o epidemiologista.
"No diabet376ontem, 33% das mortes por covid-19 no planeta Terra aconteceram num país que tem 2,7% da população mundial. Portanto, é tranquilobet376se afirmar que quatrobet376cada cinco mortes pela doença no Brasil estãobet376excesso, considerando o tamanho da nossa população", disse.
É relativamente fácil seguir o raciocínio do professor, mesmo sem ser um especialista na área: o mundo registra até o momento 3,9 milhõesbet376óbitos por covid-19.
Ora, se o Brasil possui 2,7% da população do planeta, basta fazer uma simples regrabet376três para saber que nossa "participação" proporcional no número global deveria serbet376105,3 mil.
Portanto, se temos até o momento 510 mil mortes pela infecção registradas, isso significa um excedente superior a 400 mil vítimas.
Ou seja: aconteceu alguma coisa diferente por aqui que fez muito mais gente morrer do que no resto do mundo.
Para reforçar seu argumento, Hallal apresentou outras estatísticas que reforçam a disparidade: no Brasil, morreram 2.345 pessoas a cada um milhãobet376habitantes. No mundo, esse número fica abaixobet376500.
"Essa é uma análise diferente da anterior e chega exatamente à mesma conclusão: quatrobet376cada cinco mortes teriam sido evitadas se estivéssemos na média mundial. Não é se estivéssemos com um desempenho maravilhoso, como a Nova Zelândia, Coreia [do Sul] e Vietnã", defendeu.
"Se nós estivéssemos na média, como um aluno que tira uma nota média na prova, nós teríamos poupado 400 mil vidas no Brasil", completou.
120 mil mortes evitadas sóbet3762020?
Durantebet376intervenção, Werneck, da Anistia Internacional, apresentou outro estudo que usou uma metodologia ligeiramente diferente para fazer esses cálculos.
O trabalho, intitulado "Mortes Evitáveis por Covid-19 no Brasil", é assinado por pesquisadores da Universidade Estadual do Riobet376Janeiro, da Universidade Federal do Riobet376Janeiro e da Universidadebet376São Paulo (USP), e contou com o apoiobet376instituições como a própria Anistia Internacional, a Oxfam Brasil, o Institutobet376Defesa do Consumidor e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Nesse caso, os especialistas usaram o conceito das mortes evitáveis por faltabet376medidas capazesbet376reduzir os níveisbet376transmissão do coronavírus, como o distanciamento físico, as campanhasbet376comunicação e o incentivo ao uso das máscaras.
Outro ponto relevante: para fazer as contas necessárias, eles usaram como métrica o excessobet376mortalidade que ocorreu nos 12 primeiros mesesbet376pandemia, a partirbet376marçobet3762020.
Esse excedentebet376óbitos é calculado a partir da informação registradabet376bancos públicos e levabet376conta o históricobet376mortes no Brasil nos anos anteriores, entre 2015 e 2019.
Ou seja: com base nas estatísticasbet376um passado recente, é possível calcular com uma boa precisão a quantidadebet376brasileiros que vão morrer nos próximos 12 meses.
Por fatores como o envelhecimento da população, é esperado que esse númerobet376mortes cresça um pouquinho a cada novo ciclo, mas ele se encontrava próximo da casa dos 1,2 milhão nos últimos cinco anos.
Só que 2020 e 2021 fugiram da curva: segundo as estimativas do estudo, houve um excedentebet376305 mil mortes por todas as causas no período analisado.
Tudo indica, claro, que elas foram provocadas pela covid-19, que é o único fator diferente que ajuda a explicar esse aumento assustador.
A partir dessa observação, os autores do artigo fazem a pergunta: quantas dessas vidas poderiam ter sido salvas se tivéssemos adotadobet376verdade todas aquelas medidas cientificamente comprovadas para o controle da pandemia?
"Assumindo uma redução relativabet37640% na transmissão [do coronavírus] com a implementaçãobet376medidas mais restritivas, pode-se admitir quebet376tornobet376120 mil mortes poderiam ter sido evitadas no Brasil se uma política efetivabet376controle baseadabet376ações não farmacológicas tivesse sido implementada", conclui o texto.
Vale salientar que essa equação não levabet376conta a faltabet376leitos, materiais e medicamentos, como o oxigênio, que certamente matou muitas pessoas que poderiam ter sido salvas caso recebessem o cuidado adequado.
"Além disso, deve-se considerar também, para finsbet376cálculo adequado das mortes evitáveis, equívocos da políticabet376negociação e aquisiçãobet376vacinas e a faltabet376um planobet376imunização efetivo, completo e articulado com os diferentes entes federativos", pontua o relatório.
Ou seja: na prática, o númerobet376brasileiros que poderiam ter sido poupados é bem maior.
"Se tivéssemos agido como era preciso, a gente poderia, ainda no primeiro anobet376história da pandemia, ter salvo 120 mil vidas. E não são números: são pais, mães, irmãos, sobrinhos, vizinhos…", lamentou Werneck durante a CPI.
"A gente poderia ter salvo pessoas se uma política efetivabet376controle, baseadabet376ações não farmacológicas, tivesse sido implementada", concluiu.
Um excedente que salta aos olhos
Os números trazidos pela representante da Anistia Internacional estão alinhados com outro monitoramento, feito numa parceria entre o Conselho Nacionalbet376Secretáriosbet376Saúde (Conass), a Associação Nacionalbet376Registradoresbet376Pessoas Naturais (Arpen) e a Vital Strategies, uma organização globalbet376saúde que trabalha com governos e sociedade civil para criar políticas públicas baseadasbet376evidência científica.
Segundo os dados atualizados até dia 10bet376junho, o Brasil já acumulabet3762021 um totalbet376282.673 mortesbet376excesso. O número está 67% acima do que seria esperado para as projeções do ano (que levambet376conta aquele históricobet376mortalidade dos últimos cinco anos com o acréscimo esperado na passagembet376um ano para o outro).
Em 2020, esse excedente ficoubet376275.587, número que é 22% superior às projeções para o período.
Lembrando que esse é um registrobet376mortes por todas as causas, mas depreende-se que esse excedente esteja praticamente 100% ligado a um evento novo e fora da curva, como é a pandemia.
"O que muda o perfilbet376mortalidadebet376um país? Isso acontecebet376desastres naturais ou epidemias. Não existem outras possibilidades", explica a epidemiologista Fátima Marinho, assessora sênior da Vital Strategies.
O painel mantido por Conass, Arpen e Vital Strategies também traz uma sériebet376informações e recortes estatísticos, que permitem ver como esse excedentebet376mortalidade variou semana a semana e como as "ondas" da pandemia acometeram os diferentes Estados e regiões do país.
Considerando o mesmo desenho do estudo anterior, apresentado pela diretora da Anistia Internacional,bet376que os níveisbet376transmissão do coronavírus são reduzidosbet37640% a partir da implementaçãobet376medidas não farmacológicas, é possível calcular que maisbet376220 mil vidas seriam poupadas desse excedente registradobet3762020 e 2021.
Vale ponderar, no entanto, que essa é uma projeção e, mesmo com toda essa riquezabet376detalhes, os responsáveis pela plataforma consideram complicado calcular quantas dessas vítimas poderiam realmente ter sido poupadas.
Num artigo que analisa esse marbet376informações, o cardiologista Luis Correia, professor da Escola Bahianabet376Medicina e consultor do Conass, escreveu sobre as incertezas e as dificuldadesbet376determinar esses números.
"Devemos ser científicos, e reconhecer nossa incerteza. Na falta do contrafactual (um Brasil melhor para compararmos com o atual), não sabemos ao certo o quanto desse excessobet37622%bet376mortalidade poderia ter sido evitado. Só podemos imaginar", raciocina.
À época da publicação, a taxa semanalbet376excessobet376mortalidade no Brasil estavabet37622%, como mencionado por Correia. Duas semanas depois, esse índice bateu os 83%, que é um nível altíssimo.
"Esses números são suficientes para concluirmos que estamosbet376uma situação extrema, e, para situações extremas, não podemos usarbet376atitudes ou posicionamentos medíocres", finaliza o médico.
Números e projeções
O engenheiro Miguel Buelta, professor titular da Escola Politécnica da USP, concorda com a dificuldadebet376fazer recortes e suposições com base nesses dados e projeções baseadasbet376cenários hipotéticos, como a existênciabet376políticas públicas mais efetivas no Brasil atual.
"Por mais que todo esse trabalho seja importante, nós sempre levamosbet376conta nos nossos cálculos algumas hipóteses. Se isso, isso e isso tivesse acontecido, o cenário seria diferente", exemplifica.
"E diantebet376tantas possibilidades, ébet376se esperar que a resposta encontrada não seja exata e varie consideravelmente", pontua.
É por isso que algumas estimativas falambet376400 mil, outrasbet376120 mil… O parâmetro e os fatores analisados podem interferir nos números obtidos.
O próprio Buelta, inclusive, foi o revisorbet376um artigo da Rede Análise Covid que tentou estimar quantas mortes poderiam ter sido evitadas na segunda onda, que acometeu o país durante boa parte do primeiro semestrebet3762021.
Para encontrar um denominador comum, os investigadores compararam os dados brasileiros com osbet376outros quatro lugares: Argentina, Equador, Chile e União Europeia.
Eles colocaram na balança não apenas as medidas não farmacológicas que já explicamos anteriormente, mas também o ritmobet376vacinação contra a covid-19, uma vez que os primeiros imunizantes começaram a ser aplicados nos brasileiros a partir no início do ano.
A conclusão: 122 mil mortes poderiam ter sido evitadas, o que equivale a 44%bet376todos os óbitos registrados no período analisado.
Mais uma vez, o número parece estarbet376acordo com as demais análises feitas pelos outros gruposbet376pesquisa.
Mesmo diantebet376tantas incertezas e variáveis, a matemática e a epidemiologia trazem uma sériebet376indicadores valiosos, que nos ajudam a entender como chegamos até aqui e para onde vamos.
Marinho, da Vital Strategies, entende que todas as observações e estatísticas deveriam servir, inclusive, para nos prepararmos melhor para o que virá pela frente, com uma terceira e possivelmente até uma quarta onda no Brasil.
"Com base na experiência dessa ebet376outras pandemias, teremos um novo aumento nos casos e mortes por covid-19 agora, nas próximas semanas. E isso vai se intensificar novamente no final do ano", analisa.
"Resta saber o que faremos para que isso não aconteça", completa a epidemiologista.
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