Caçada a Lázaro virou 'Big Brother' com cobertura sensacionalista que atrapalha polícia, diz criminóloga:69toto freebet 10k

Crédito, Mathias Folha/Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Policiais armaram base da operação num posto69toto freebet 10kgasolina69toto freebet 10kEdilândia

Mas para a escritora e criminóloga Ilana Casoy, ações com ares69toto freebet 10kcaçada como a da deputada são apologia ao crime, e o suspeito corre ainda mais risco69toto freebet 10kvida caso seja encontrado por alguém que não seja um agente69toto freebet 10ksegurança.

"Lamento essa postura. Evoluímos para viver num país onde não existe pena69toto freebet 10kmorte ou execução sumária, então ela não deve ser feita ou incentivada. É muito difícil pegar o Lázaro vivo porque ele não tem a intenção69toto freebet 10kse entregar. Para que isso aconteça, profissionais como a polícia estão atrás dele porque ele tem muito a explicar e prestar contas da maneira certa", diz69toto freebet 10kentrevista à BBC News Brasil.

Casoy reforça que mesmo o Estado não tem permissão para matar, ainda que69toto freebet 10kcasos69toto freebet 10kgrande apelo popular. As exceções são69toto freebet 10klegítima defesa ou quando há reféns. "Não podemos incentivar algo que até a Bíblia condena. Agora, como um deputado vai explicar para o filho que ele pode matar alguém, mas o Lázaro, não?"

Para a pesquisadora, não há respostas fáceis para explicar tamanho interesse popular69toto freebet 10ktorno da fuga69toto freebet 10ksuspeitos como Lázaro, que atrai audiência para a mídia e gera engajamento nas redes sociais.

"Essa é a pergunta do milhão. Acho que a gente vive um medo muito grande alimentado pela pandemia. Vivemos sob o medo e essa é uma oportunidade onde projetar esse medo69toto freebet 10kum inimigo invisível. O Lázaro é uma coisa real e que está acontecendo, para onde é possível direcionar esse medo."

Segundo a criminóloga, a fuga69toto freebet 10kLázaro ainda não é longa o bastante para se tornar especialmente demorada, mas é acompanhada pelos brasileiros como se fosse um reality show. A diferença aqui é que ele não pode ser controlado.

"A gente acompanha o noticiário como quem acompanha o Big Brother. O 'maníaco do parque' ficou 23 dias foragido após estuprar e matar uma série69toto freebet 10kmulheres. A gente acompanha esses casos porque sente ansiedade, preocupação e medo."

"Todos estamos cansados69toto freebet 10kseguir o 'reality covid' e o caso Lázaro gera medo também, que já temos pela pandemia, ou seja, transferimos nosso sentimento69toto freebet 10kmedo69toto freebet 10kum assunto para outro, como uma retroalimentação. Acaba prendendo nossa atenção pela ameaça à sociedade que se estabelece69toto freebet 10kcomum. Como uma projeção. O medo também gera fascínio, além do suspense do desfecho", acrescenta Casoy.

'Erros da imprensa'

A criminóloga avalia que alguns veículos69toto freebet 10kimprensa estão atrapalhando as ações policiais e fornecendo dicas para que Lázaro consiga escapar.

"Me assusta como a imprensa não se dá conta69toto freebet 10kcomo ela atrapalha a polícia. Ela sabe que Lázaro furta celulares e carregadores das vítimas e mesmo assim noticia a localização da polícia o dia todo. Como ele conhece a mata, vai ficar cada vez mais difícil encontrá-lo."

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Helicópteros estão sendo usados na busca por Lázaro Barbosa, e uma aeronave também precisou ser usada para levar policial baleado69toto freebet 10ktiroteio

Casoy cita outros episódios69toto freebet 10kque, segundo ela, a imprensa atrapalhou a atuação policial, como no caso Eloá, garota69toto freebet 10k15 anos que morreu durante um sequestro na Grande São Paulo. A especialista afirma que a cobertura ao vivo69toto freebet 10kuma TV oferecia dicas para o sequestrador que fazia a garota e a amiga reféns dentro69toto freebet 10kcasa.

No caso das buscas por Lázaro, a criminóloga diz que a imprensa também erra ao citar supostos fatores religiosos ou espirituais como possível motivação para os crimes.

"Há o reforço69toto freebet 10kum preconceito com a igreja69toto freebet 10kmatriz afro-brasileira. Reforçam que Lázaro está possuído pelo demônio porque ele usa objetos relacionados ao candomblé. E isso é muito perigoso. Quando um assassino é evangélico, a religião dele não é reforçada para justificar nada. Crucifixos e a estrela69toto freebet 10kDavi também não viram pauta quando é usada por um assassino."

Para ela, citar a religião do suspeito também alimenta preconceitos e atrapalha o desenvolvimento cultural do país.

No dia 1969toto freebet 10kjunho, sacerdotes69toto freebet 10kterreiros afro-brasileiros divulgaram uma nota afirmando terem sofrido abordagens truculentas da polícia durante as buscas por Lázaro.

Policiais entraram69toto freebet 10kterreiros69toto freebet 10kÁguas Lindas, Girassol, Cocalzinho e Edilândia.

No comunicado, os líderes religiosos manifestaram "repúdio aos violentos ataques racistas praticados contra as casas69toto freebet 10kmatrizes africanas" e se queixaram da tentativa69toto freebet 10kassociá-las ao foragido.

Em resposta, a Secretaria69toto freebet 10kSegurança69toto freebet 10kGoiás afirmou que estava "trabalhando com um único propósito: garantir a paz à população da região e capturar Lázaro Barbosa, nos limites da legalidade".

Outro ponto criticado por Casoy é a série69toto freebet 10kadjetivos que veículos69toto freebet 10kimprensa usam para descrever Lázaro, como serial killer e psicopata. A criminóloga conta que durante uma entrevista foi sido pressionada por funcionários69toto freebet 10kuma equipe69toto freebet 10kTV a classificar Lázaro dessa maneira, mas ela se recusou.

"Falar do comportamento criminoso dele é fácil com base nos crimes que ele cometeu: estelionatário, latrocida, estuprador. Mas fazer um diagnóstico pela televisão não é possível. Ele precisa ser examinado e o laudo69toto freebet 10k2013 que ele fez não se refere a nenhum distúrbio mental. Muita coisa pode ter mudado e um novo exame pode apontar, mas não um novo crime", afirmou.

Casoy afirma também que ainda não há elementos suficientes para classificar Lázaro como serial killer, adjetivo que atrai ainda mais audiência. Ela explica que é raríssimo surgir um criminoso desse tipo, não apenas no Brasil, mas69toto freebet 10kqualquer país.

"Matar69toto freebet 10ksérie é raro porque são casos mais ligados a questões psicológicas do que a uma vida criminosa. Assassinos seriais têm questões importantes69toto freebet 10ksimbologia. O objetivo é dele, a fantasia é dele e aquele crime completa as necessidades psicológicas dele."

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Busca por Lázaro Barbosa mobiliza agentes, aeronaves e cães farejadores desde assassinatos dos quais ele é acusado69toto freebet 10kter cometido69toto freebet 10k969toto freebet 10kjunho

A especialista diz que a investigação policial sobre assassinatos69toto freebet 10ksérie é complexa porque o motivo dele é simbólico e faz sentido para o criminoso, mas nem sempre para os policiais.

Ela explica que um dos pontos que qualifica alguém como serial killer, além do número69toto freebet 10kmortes69toto freebet 10ksequência, é seguir um ritual, um modus operandi e ter uma espécie69toto freebet 10kassinatura nos crimes. Isso faz com que os crimes se conectem e façam sentido na imaginação do assassino.

'Cobertura inescapável'

Diante69toto freebet 10ktamanho interesse do público, é possível aos veículos69toto freebet 10kimprensa ignorar o caso ou destacá-lo sem sensacionalismo?

Para o professor69toto freebet 10kjornalismo da Universidade69toto freebet 10kSão Paulo (USP) Eugênio Bucci, a fuga69toto freebet 10kLázaro é uma "cobertura inescapável e necessária da imprensa''.

"É uma cobertura que precisa ser feita. Podemos discutir como deve ser feita69toto freebet 10kcada veículo, mas existe uma comunidade que está passando muito medo e está mobilizada. Há uma operação policial69toto freebet 10kproporções enormes que também precisa ser noticiada", afirma69toto freebet 10kentrevista à BBC News Brasil.

Bucci diz que esse não é um caso que se tornou relevante por causa dos adjetivos usados pelos jornalistas que o cobrem, mas pela magnitude usada pela própria polícia e pelo volume69toto freebet 10kpoliciais envolvidos.

O pesquisador destaca a preocupação e a necessidade69toto freebet 10kinformações da população local como o segundo ponto que justifica a cobertura massiva da imprensa no caso.

"Um criminoso ataca casas, sequestra pessoas, faz reféns e está todo mundo com medo, precisando69toto freebet 10kinformação. Essa mobilização também obriga a imprensa a dar uma cobertura focada para quem mora na região."

Bucci afirma que esse tipo69toto freebet 10kcobertura jornalística é diferente69toto freebet 10kfazer jornalismo sensacionalista. Isso ocorre, segundo ele, quando a imprensa relata casos sem embasamento ou inflando situações corriqueiras.

"Em programas policiais sensacionalistas, por exemplo, qualquer deslocamento69toto freebet 10kuma viatura da Rota (tropa69toto freebet 10kelite da PM paulista) vira razão para que o assunto domine o telejornal. Eles criam um clima desnecessário69toto freebet 10kalarmismo, o que não acontece nesse caso do Lázaro", afirmou.

Ele citou como outro exemplo o caso da Escola Base, quando diversos veículos69toto freebet 10kcomunicação publicaram reportagens dizendo que professores e donos69toto freebet 10kuma escola infantil abusavam sexualmente das crianças. No fim, nada foi provado e alguns veículos foram condenados a pagar indenizações aos donos do colégio.

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