Por que Paulo Guedes agora preocupa investidores estrangeiros:aposta bbb
O Brasil tem hoje uma relação dívida/PIB próximaaposta bbb90% — um patamar considerado alto para alguns países emergentes.
A formaaposta bbbreduzir o tamanho do endividamento é produzindo superávits fiscais, ou seja, com a máquina pública arrecadando mais dinheiro do que gasta. No entanto, o Brasil vem produzindo déficits fiscais, e a pandemia agravou ainda mais essa situação, já que o governo se viu obrigado a gastar mais para compensar a redução brusca na atividade econômica.
Caso o endividamento saísseaposta bbbcontrole, investidores estrangeiros passariam a duvidar da capacidade do Brasilaposta bbbcontrolaraposta bbbinflação (já que, sem recursos suficientesaposta bbbarrecadação, seria necessário emitir mais moeda ou refinanciar os empréstimos) e uma recuperação econômica — com a voltaaposta bbbempregos e crescimento — estaria ameaçada.
Para investidores estrangeiros, mesmo que as duas reformas na pauta não passassem este ano no Congresso, a trajetória da dívida nos próximos anos não dependeria exclusivamente delas.
Eles estão mais preocupados com o compromisso do governoaposta bbbJair Bolsonaroaposta bbbnão estourar o tetoaposta bbbgastos — ou seja,aposta bbbaumentar desenfreadamente o gasto do orçamento, sem se preocupar se o Brasil tem capacidade ou nãoaposta bbbsuportar esses custos.
As duas maiores ameaças para a economia brasileira seriam uma eventual saídaaposta bbbPaulo Guedes, com entradaaposta bbbum ministro da Economia mais "gastador", e uma piora da pandemia, que exigiria mais gastos, como o com auxílio emergencial, visto como vital para os brasileiros nos momentosaposta bbbagravamento da pandemia.
Paulo Guedes,aposta bbbMessi a goleiro
A visão dos investidores estrangeiros contrasta fortemente com o otimismo que se registrava antes da pandemia — quando havia uma empolgação geral com o discursoaposta bbbPaulo Guedes, que prometia reformas profundas no gasto público e uma agenda robustaaposta bbbprivatizações.
"O investidor estrangeiro, e o mercadoaposta bbbgeral, achava que o Paulo Guedes seria o Messi: o número dez da economia, que ia fazer golaçoaposta bbbtudo que é jeito,aposta bbbcalcanhar,aposta bbbbicicleta", diz Lucasaposta bbbAragão, sócio da Arko Advice, uma das principais empresasaposta bbbanálise política do Brasil.
"Mas hoje o investidor vê o Paulo como um goleiro, que vai evitar alguns desastres maiores. E ele até já evitou recentemente, como quando convenceu o presidente que tirar o Bolsa Família do tetoaposta bbbgastos não era uma boa ideia. Eles (os investidores) têm medo que, com a saída do Paulo Guedes, entre alguém no ministério que não tenha esse mesmo compromisso ou a mesma proximidade com o Bolsonaro."
A Arko Advice, sediadaaposta bbbBrasília, elabora relatórios e mantém conversas semanais com cercaaposta bbb150 bancos e fundos estrangeiros que têm investimentos ou interesse no mercado brasileiro.
Os clientes da Arko incluem investidores estrangeiros dos mais diferentes níveis: desde fundos que entram no mercado brasileiro atravésaposta bbbaquisiçãoaposta bbbaçõesaposta bbbempresas nacionais na bolsa a multinacionais e outros grupos privados, que têm interesseaposta bbbabrir operações e filiais no Brasil ou adquirir empresas atravésaposta bbbfusões ou aquisições.
Segundo Aragão, para o investidor estrangeiro, a principal função do "goleiro Guedes" seria segurar o tetoaposta bbbgastos, contendo ímpetos que vêmaposta bbbdentro do próprio governo para que se gaste mais.
Muitos entendem que o Brasil já "furou"aposta bbbparte o teto, pois precisou gastar mais com auxílios emergenciais devido à pandemia — algo que muitos outros governos no mundo também tiveramaposta bbbfazer, algunsaposta bbbescala muito maior. No entanto, esses gastos são vistos como excepcionais e não-recorrentes.
"O maior temor dos investidores hoje, que é o que eu mais receboaposta bbbperguntas, é sobre um rompimento total do tetoaposta bbbgastos. Ele já foi meio rompido, está com uns furos. Mas eles têm medo agoraaposta bbbesse teto virar um 'rooftop' (terraço aberto)aposta bbbgastos, onde não existe mais teto e se gasta à vontade."
Pandemia
A outra grande ameaça ao tetoaposta bbbgastos, segundo as consultorias, seria o agravamento da pandemiaaposta bbbcoronavírus, já que o Brasil foi um dos países mais seriamente afetados pela covid-19.
O grupo Eurasia tem escritóriosaposta bbbdiversas partes do mundo e envia relatórios semanais a investidores atribuindo notasaposta bbbriscos associadas a cada país.
Antes da pandemia, o Brasil era classificado pela Eurasia como "positivo" — tanto na trajetóriaaposta bbbcurto prazo como naaposta bbblongo prazo. Mas hoje — depois da deterioração fiscal forte que aconteceu com a pandemia — o Brasil aparece como "neutro".
"A preocupação maior no curto prazo é sobre o que vai acontecer com o Brasil se a pandemia piorar. O maior risco é que se faça uma abertura muito prematura da economia, e com isso venha uma terceira onda da pandemia e uma nova rodadaaposta bbbdiscussõesaposta bbbBrasília sobre como estender o auxílio emergencial", diz Christopher Garman, da Eurasiaaposta bbbBrasília.
Entre os possíveis riscos, que teriam repercussões negativas na economia brasileiras, estão o atraso na vacinação, a reabertura precoce da economia e o surgimentoaposta bbbnovas variantes. Qualquer um desses fatores poderia desencadear um aumento nos númerosaposta bbbcasos, hospitalizações e mortes por covid — levando governo e Congresso a precisarem ampliar seus gastosaposta bbbajuda econômica.
E as reformas?
Lucas Aragão, da Arko, afirma que nos últimos anos o Brasil foi um dos países que mais fizeram reformas naaposta bbbeconomia.
Ele cita reformas trabalhistas, fim do imposto sindical, lei das licitações, saneamento, autonomia do Banco Central, lei do gás, nova leiaposta bbbgovernança das estatais, entre outras.
Para os investidores estrangeiros com quem ele conversa, as duas principais reformas na pauta do Congresso hoje — a trabalhista e a administrativa — são importantes para mostrar que o país segue comprometidoaposta bbbmelhorar o ambienteaposta bbbnegócios no país.
Christopher Garman, da Eurasia, ressalta que as duas reformas são importantes para mostrar aos investidores que o país não perdeu seu rumo, no entanto, elas são menos urgentes do que a reforma da Previdência, aprovada no primeiro ano do governo Bolsonaro.
Aquela era uma reforma com impacto direto no gasto fiscal brasileiro e na trajetória da dívida do país.
As reformasaposta bbbagora terão apenas impactosaposta bbblongo prazo. A reforma administrativa, por exemplo, só afetará novas contratações feitas pela máquina pública — ela não vai mexer com salários, carreiras e benefíciosaposta bbbservidores atuais.
E mesmo que a reforma venha a ser aprovada neste ano, Garman acredita que ela demorará a ser implementada, pois precisa ser regulada atravésaposta bbboutras leis complementares, que precisarão ser discutidasaposta bbbminúcias no Congresso.
Tanto Aragão quanto Garman também não acreditamaposta bbbuma reforma tributária ampla — mas apenasaposta bbbmudanças mais pontuais e modestas, como a unificação apenasaposta bbbimpostos federaisaposta bbbum só tributo. Essa reforma também não mudaria profundamente o valor arrecadado e a situação fiscal do país — mas serviria mais para racionalizar o confuso sistema tributário do país, uma tarefa que segundo eles é praticamente um consenso nacional.
Aragão e Garman acreditam que ainda há tempo para se aprovar ambas as reformas até abrilaposta bbb2022 — que seria o limite para o Congresso Nacional fazer grandes mudanças, antesaposta bbbparlamentares se engajarem totalmente nas eleições.
No entanto Aragão alerta que essa aprovação não virá sem dificuldades.
"O Congresso Nacional nos últimos anos está muito mais independente e autônomo. Aquela base aliada do passado que digeria toda e qualquer política pública do governo não existe mais. Hoje é um caminhoaposta bbbimensa discussão", diz o analista da Arko.
Outro problema seria o tempo finito do Congresso Nacional para lidar com diferentes assuntos ao mesmo tempo ao longoaposta bbbum ano. Com a agenda atualmente dominada por questões consideradas hoje mais urgentes pela população, como os efeitos da pandemia e a CPI da Covid, questões como as reformas administrativa e tributária podem acabar ficando relegadas a um segundo plano.
Eleições 2022
Além das questões econômicas existe também na cabeça do investidor internacional a preocupação com o cenário político eleitoral e o que vai acontecer com a equipe econômica depois da eleiçãoaposta bbb2022.
Na análise que Garman passa a seus clientes, ele afirma que dificilmente um candidatoaposta bbbterceira via comprometido com reformas — visto por muitos investidores como ideal — tenha chancesaposta bbbganhar a eleição.
A Eurasia acredita que a maior probabilidade éaposta bbbuma disputa entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.
Aragão afirma que investidores estrangeiros costumam ser menos passionais e mais pragmáticos do que os nacionais na horaaposta bbbanalisar os candidatos e suas propostas.
"Até o momento, o que o investidor internacional me pergunta é muito direto ao ponto. Tipo: o Lula vai concorrer mesmo? Ele tem chances? Se ele concorrer, como será a campanha? E se ele ganhar, como será o Lula que entra na Presidência? É um Lula mais centrista, como vimos no Lula 1 (primeiro mandato, entre 2002 e 2005), ou mais à esquerda?", diz ele.
"Recentemente o Lula afirmou que os Estados Unidos têm uma relação dívida/PIBaposta bbb120% e questionou por que o Brasil não poderia aumentar mais aaposta bbbdívida. O investidor nacional olha aquilo e fica apavorado enquanto o estrangeiro para e pergunta: 'ele está querendo dizer isso mesmo ou é mais bravata?'. Ele é mais sóbrio."
"Mas não vejo nenhum desespero do investidor internacionalaposta bbbrelação ao Brasil. Se eles perceberem que as coisas não vão do jeito do que gostam, eles 'viram a mão' ou saem por um tempo e voltam depois", diz Aragão.
Virar a mão é uma referência à forma como se pode investir no mercado acionário —aposta bbb"comprado"aposta bbbempresas nacionais (quando ele acreditaaposta bbbuma alta das ações) a "vendido" (quando ele acredita que as ações cairão).
"Eles não precisam estar no Brasil, se não quiserem."
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