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Covid: As lições da favela que reduziu mortesaposta 0.5 gols90% enquanto Rio vivia tragédia:aposta 0.5 gols
"A comida chegava todo dia láaposta 0.5 golscasa, ao meio-dia. Uma quentinha enorme, que dava para quatro pessoas. E tinha sanduíche natural e outras coisas também. Ter o que comer me tranquilizou."
Mas David morava com a mãe e um irmão, numa casa pequena. A preocupação passou a ser o que fazer para não passar o vírus ao restante da família.
Para tentar evitar o contágio doméstico, assistentes sociais voluntários do Conexão Saúde fizeram uma avaliação das condiçõesaposta 0.5 golsmoradia e criaram uma estratégiaaposta 0.5 golsisolamento para a famíliaaposta 0.5 golsDavid.
"Recomendaram que a minha mãe fosse para a casa da minha avó e meu irmão ficou na namorada. Eu passei a fazer o isolamento com um amigo que também testou positivo. Ele morava com outras pessoas e veio para a minha casa nesse período", conta David.
Como fazer isolamento na favela?
Exatamente para minimizar os riscosaposta 0.5 golscontágioaposta 0.5 golscasas apertadas, muitas vezes compartilhadas por várias pessoas, um dos braços do projeto é traçar planos sob medida para cada morador que testar positivo para covid. O projeto também inclui testagemaposta 0.5 golsmassa, atendimento médico por telefone, alimentação a quem precisa se isolar e muita comunicação para combater notícias falsas.
"Na ausência do Estado, quem está agindo são os pesquisadores, moradores, ONGs, a sociedade civil", disse à BBC News Brasil o infectologista Fernando Bozza, pesquisador da Fiocruz e um dos idealizadores do Conexão Saúde.
"A gente conseguiu que 96% das pessoas atendidas pelo programa ficassemaposta 0.5 golsisolamentoaposta 0.5 golscasa por 14 dias, reduzindo a transmissão do coronavírus na comunidade", destaca.
Ou seja, o projeto demonstra que, com alimentação e apoio, é possível, sim, fazer isolamento numa favela. O resultado foi uma reduçãoaposta 0.5 golsquase 90% nas mortes por covid na Maré após 15 semanasaposta 0.5 golsimplementação do programa. E, atualmente, no auge da crise no Brasil, a mortalidade por covid ali continua a ser muito menor que a médiaaposta 0.5 golsmortes na cidade do Rioaposta 0.5 golsJaneiro.
"As pessoas vivemaposta 0.5 golssituações precáriasaposta 0.5 golsmoradia, mas é possível gerar condiçõesaposta 0.5 golsconter a pandemia mesmo nessas localidades", diz Luna Arouca, coordenadora da Redes da Maré, uma das ONGs que integram o Conexão Saúde.
'Máscara dentroaposta 0.5 golscasa e muito álcoolaposta 0.5 golsgel'
Rachelaposta 0.5 golsLima é um exemplo disso. Ela vive num "puxadinho"aposta 0.5 golsum cômodo com o marido, no terreno da sogra, na favela da Maré. Em fevereiro deste ano, ela e a sogra testaram positivo para covid-19 e se viram diante do desafioaposta 0.5 golsfazer o isolamento numa casa dividida com outras quatro pessoas da mesma família.
As duas passaram a receber alimentos e o kit higiene, como aconteceu com David, e os assistentes sociais do Conexão Saúde ajudaram a traçar um plano para reduzir os riscosaposta 0.5 golscontágio dos outros parentes.
"Eu fiquei isolada no cômodo do meu puxadinho. Minha sogra ficava na sala e o marido e os dois filhos dormiam no único cômodo que tem na casa dela", conta.
"Ela ficouaposta 0.5 golsmáscara 24 horas por dia, usamos muito álcoolaposta 0.5 golsgel e separamos pratos e talheres. Ninguém mais se contaminou", comemora.
Mortes despencaram para muito abaixo da média do RJ
O Conexão Saúde começou a operaraposta 0.5 golsmaneira coordenada a partiraposta 0.5 golsjulhoaposta 0.5 gols2020. Após 15aposta 0.5 golssemanasaposta 0.5 golsfuncionamento do projeto, ele conseguiu reduziraposta 0.5 gols87,9% as mortes por covid na favela da Maré, uma das maiores do Rioaposta 0.5 golsjaneiro, com 140 mil moradores.
Isso foi feito com atendimento médico e psicológico por telefone, isolamentoaposta 0.5 golsinfectados e testagemaposta 0.5 golsmaisaposta 0.5 gols10% da população, segundo dados da Fiocruz.
Em julhoaposta 0.5 gols2020, a mortalidadeaposta 0.5 golsinfectados por covid na Maré eraaposta 0.5 golsmaisaposta 0.5 gols19%, quase o dobro da média da cidade do Rioaposta 0.5 golsJaneiro,aposta 0.5 gols11,9%. Em novembro, quase quatro meses após a implementação do programa na Maré, a mortalidade na favela havia caído para 2,3%, equivalente à média nacional.
Com o picoaposta 0.5 golsdescontrole da pandemiaaposta 0.5 golstodo o país neste ano, as mortes na favela voltaram a aumentar. Mas, ainda assim, estão bem abaixo da média da cidade do Rioaposta 0.5 golsJaneiro, apesaraposta 0.5 golsse trataraposta 0.5 golsuma das comunidades mais pobres do país.
A taxaaposta 0.5 golsmortalidade no RJ éaposta 0.5 gols359 mortes por covid-19 a cada 100 mil habitantes. Na favela da Maré, são 188 óbitos pelo vírus a cada 100 mil habitantes, segundo Fiocruz e Redes da Maré.
Ou sejam, morre-se menosaposta 0.5 golscovid nessa favela queaposta 0.5 golsoutras partes do Rioaposta 0.5 golsJaneiro.
"O universoaposta 0.5 golspessoas testadas começou a condizer com a realidade. Antes poucas pessoas com sintomas eram diagnosticadas. Mas possivelmente o acesso ao diagnóstico, atendimento médico, isolamento, criaram condições para o não agravamento dos casos. A gente vê durante esses meses que o númeroaposta 0.5 golspessoas morrendo veio diminuindo", explica Luna Arouca, da ONG Redes da Maré e uma das coordenadoras do Conexão Saúde.
'Tudo isso tinha que estar sendo feito pelo governo'
Sem contar com financiamento público, o projeto implementado pela Fiocruz e ONGs conseguiu recursos do Fundo Todos pela Saúde, do Itaú-Unibanco, pelos seis meses primeiros mesesaposta 0.5 golsexistência.
Mas o ideal, segundo os idealizadores, era que as políticas fossem incorporadas pelo governo e o Sistema Únicoaposta 0.5 golsSaúde, e ampliadas para outras favelas.
"Isso tudo deveria estar sendo feito pelo governo. Na verdade, é uma angústia permanente porque sabemos que não podemos dar toda a estrutura que a população da Maré precisa", diz Luna Arouca.
"Nós mostramos que é possível fazer entrega (de alimentos e testes), fazer o isolamento, testagemaposta 0.5 golsmassa e idealizamos toda a logística. Mas é responsabilidade do Poder Público fazer isso. Estamos fazendo esse trabalho por conta da ausência do Estado."
Os 4 eixos do programa na Maré
O Conexão Saúde atuaaposta 0.5 golsquatro frentes: testagem gratuita para covid, comunicação, atendimento médico e psicológico por telefone e auxílio para garantir o isolamentoaposta 0.5 golsinfectados.
Seis instituiçõesaposta 0.5 golspesquisa e ONGs participam: Fiocruz, Redes da Maré, Conselho Comunitárioaposta 0.5 golsManguinhos, SAS Brasil, União Rio e Dados do Bem.
E os próprios moradores da Maré lideram várias das ações do programa, principalmente na áreaaposta 0.5 golscomunicação, combatendo fake news e informando sobre como obter ajuda.
"Temos equipeaposta 0.5 golscampoaposta 0.5 golsmoradores que circulam pela rua, falando no megafone e que usam suas redes pessoais, informando sobre os serviços e onde procurar ajuda. Além disso, produzimos panfletos, um jornal, faixas, conteúdo para circular no WhatsApp e redes sociais", diz Luna Arouca.
Com auxílio da Fiocruz, infectologistas e profissionaisaposta 0.5 golstecnologia da informação, foi aberto um centro gratuitoaposta 0.5 golstestagem na favela e lançado um aplicativoaposta 0.5 golscelular chamado Dados do Bem.
Lá, a pessoa com sintomas agenda um testeaposta 0.5 golscovid para fazer na própria comunidade e, se o resultado der positivo, ela é direcionada para receber auxílio alimentação, kit limpeza e atendimento médico e psicológico.
"O centroaposta 0.5 golstestagem também fica aberto para quem quiser fazer o testeaposta 0.5 golsgraça. E lá já direcionamos quem testa positivo para os outros atendimentos", explica Arouca.
Agora, o Conexão Saúde está lançando unidades móveisaposta 0.5 golstestes, para alcançar pontos mais isolados da favela. "Temos um grupo que vaiaposta 0.5 golscarro às áreas mais remotas", diz Fernando Bozza, da Fiocruz.
Após testar positivo, o morador da Maré é encaminhado para as demais etapas do programa: passa a ser acompanhado por profissionaisaposta 0.5 golssaúdeaposta 0.5 golsconsultas diárias por telefone; recebe orientações individualizadas sobre como fazer o isolamento, é atendido por psicólogos, se quiser, recebe um kit higiene, com álcoolaposta 0.5 golsgel, máscaras e produtosaposta 0.5 golslimpeza, e passa a receber todos os dias "quentinhas" para garantir a alimentação durante a quarentena.
"Quando descobri que estava com covid passei a ter criseaposta 0.5 golsansiedade e sentir faltaaposta 0.5 golsar. Mas era faltaaposta 0.5 golsar pela angústia. Eles me colocaramaposta 0.5 golscontato com uma psicóloga e comecei a fazer sessões online, além do atendimento médico", diz David Nascimento,aposta 0.5 gols24 anos.
"Eu tinha o maior preconceito, achava que terapia era coisa para doido. Mas o atendimento psicológico foi uma das melhores coisas para mim nesse períodoaposta 0.5 golsisolamento."
As oportunidades que o Brasil perdeu
Para os idealizadores do Conexão Saúde e os moradores da Maré, o projeto é prova vivaaposta 0.5 golsque a pandemia no Brasil poderia ter sido controlada, inclusive nas áreas mais pobres e povoadas, se governo federal e Estados tivessem adotado políticas baseadas na ciência e no aprendizado deixado por outros países.
"Ao longoaposta 0.5 golsum anoaposta 0.5 golspandemia a ciência e a sociedade já sabem o que funciona contra a covid. Mas o país perdeu tempo falandoaposta 0.5 golscloroquina", critica o infectologista Fernando Bozza, pesquisador da Fiocruz e integrante do Conexão Saúde.
"O que precisa ser feito é discutir e aplicar o que funciona: Telemedicina para identificação precoceaposta 0.5 golsfaltaaposta 0.5 golsar, testagemaposta 0.5 golsmassa, medidasaposta 0.5 golshigiene e isolamento. Isso é o que funciona para controle da pandemia."
Em diversos momentos, integrantes do governo Bolsonaro diziam que medidasaposta 0.5 golsisolamento eram inviáveis, especialmenteaposta 0.5 golscomunidades pobres. Mas Luna Arouca diz que o que falta é o Estado dar condições para que as pessoas mais pobres possam se proteger da covid sem passar fome.
"A contenção da pandemia deve passar por políticas sociais. E a gente,aposta 0.5 golsmaneira pontual e específica, demonstra isso. Se você traz o mínimoaposta 0.5 golssobrevivência para aquela família, alimentação, kitaposta 0.5 golshigiene, limpeza, acompanhamento médico, ela consegue fazer o isolamento."
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