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'Paro alunos na rua para pedir que voltem à aula': o desafiovoj8 cassinoeducadores contra o abandono escolar na pandemia:voj8 cassino
Por isso é que decidiram procurar os cercavoj8 cassino400 estudantes individualmente, na tentativavoj8 cassinoevitar que abandonassem a escola.
Para as turmasvoj8 cassinoensino fundamental 2 (6° ao 9° ano), diz Barbosa, foi possível manter quase todas as matrículas. Com os cercavoj8 cassino60 alunos do EJA (Educaçãovoj8 cassinoJovens e Adultos) foi mais difícil, "mas conseguimos trazer muitos delesvoj8 cassinovolta, falando que é importante concluir o fundamental para terem mais emprego, mais renda, e também para incentivarem os próprios filhos a estudar".
"Quando não vou na casa deles, com carinho eu paro eles na rua quando os encontro, pergunto o que está acontecendo na família e falo que a educação é a melhor solução", prossegue Barbosa. "Se a gente não for atrás, estará contribuindo para eles se afundarem ainda mais."
O exemplo maranhense retrata um desafio enorme do ensino públicovoj8 cassinotodo o Brasilvoj8 cassino2021: como conter o abandono escolar, sob a insegurança (financeira, alimentar evoj8 cassinosaúde) provocada pela pandemia evoj8 cassinomeio aos múltiplos percalços do ensino não presencial.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostravoj8 cassinoDomicílios (Pnad), do IBGE,voj8 cassinooutubrovoj8 cassino2020, um contingentevoj8 cassino1,38 milhãovoj8 cassinoestudantesvoj8 cassino6 a 17 anos (3,8%) estava sem frequentar a escola, presencial ou remotamente. O percentual já era mais alto do que a média nacionalvoj8 cassino2% registradavoj8 cassino2019.
"A esses estudantes que não frequentavam, somam-se outros 4,1 milhões que afirmaram frequentar a escola, mas não tiveram acesso a atividades escolares e não estavamvoj8 cassinoférias (11,2%). Assim, estima-se que maisvoj8 cassino5,5 milhõesvoj8 cassinocrianças e adolescentes tiveram seu direito à educação negadovoj8 cassino2020", diz o relatório Enfrentamento da Cultura do Atraso Escolar, lançado neste ano pela Unicef, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a infância.
Perdem os jovens e o país
E especialistas e pesquisadoresvoj8 cassinoeducação preveem que esses números negativos continuarão a crescervoj8 cassino2021, colocandovoj8 cassinorisco décadasvoj8 cassinotrabalho para reduzir os índicesvoj8 cassinoabandono escolar no Brasil, e com amplos impactos sociais e econômicos que serão sentidos por toda a sociedade.
"As vulnerabilidades socioeconômicas vão se acirrar neste ano, e o desemprego e a pobreza, por si só, já aumentariam a evasão", diz à BBC News Brasil o pesquisador Luiz Cantarelli, do Departamentovoj8 cassinoCiência Política da Universidadevoj8 cassinoSão Paulo (USP) e coautorvoj8 cassinoestudo que avalia a resposta das redes públicasvoj8 cassinoensino à pandemia.
Essas respostas, por sinal, foram tão díspares entre si que contribuirão para aumentar a desigualdade educacional.
"Dependendo da rede pública que frequenta, o aluno vai ser atingido por um plano (de aulas) melhor ou pior. E, dentro da mesma sala, pode haver aluno que conseguiu acompanhar melhor que o colega, o que pode ser um agravante para que esse colega decida abandonar a escola, ao sentir que não consegue acompanhar (o ritmo)."
Assim, diz Cantarelli, "a tendência é que o abandono aumente e se arraste por anos", um problema que tende a ser agravado pela queda nos investimentos federais, estaduais e municipais na educação e pela ausênciavoj8 cassinocoordenação nacional por parte do Ministério da Educação dos esforços na área durante a pandemia.
O custo disso é alto — e não se limita aos alunos que ficam pelo caminho. Cada jovem que abandona a escola representa uma perda para o Brasilvoj8 cassinoR$ 372 mil por ano, segundo um cálculo do economista Ricardo Paesvoj8 cassinoBarros feito no ano passado,voj8 cassinoestudo do Insper com a Fundação Roberto Marinho.
No ano, esse custo total da evasão escolar no país chega a R$ 214 bilhões, cercavoj8 cassino3% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso porque a ausênciavoj8 cassinoeducação vai impactar a capacidade produtiva dessas pessoas ao longovoj8 cassinotodavoj8 cassinovida.
"Os jovens que têm a educação básica completa passam,voj8 cassinomédia, mais tempovoj8 cassinosua vida produtiva ocupados evoj8 cassinoempregos formais, com maior remuneração; têm maior expectativavoj8 cassinovida com qualidade — estima-se que cada jovem com educação básica viverá quatro anosvoj8 cassinovida a mais que um jovem que não terminou a escolaridade — e tendem a ter um menor envolvimentovoj8 cassinoatividades violentas, como homicídios", diz o estudo.
"A evasão representa uma perdavoj8 cassino26% do valor da vidavoj8 cassinoum jovem."
'Queremos as crianças estudando até dezembro'
Em Neópolis, municípiovoj8 cassino18 mil habitantes no interiorvoj8 cassinoSergipe, os alarmes começaram a soar quando as matrículas na rede municipalvoj8 cassinoeducação caíram drasticamente.
Uma das escolas, que tivera 604 estudantes matriculadosvoj8 cassino2020, começou este ano com apenas 222 matrículas, explica Miriam Barroso, coordenadora operacional municipal da iniciativa Busca Ativa Escolar, projeto implementadovoj8 cassinoparceria com a Unicef e a União dos Dirigentes Municipaisvoj8 cassinoEducação (Undime) que tem revertido o problema com campanhas e com uma atenção individual a cada família ausente do ambiente escolar.
Educadores e agentes sociaisvoj8 cassinoNeópolis têm batidovoj8 cassinoportavoj8 cassinoporta, para levar materiais didáticos, fazer contatos com estudantes e tentar manter seu vínculo com a escola.
"A gente encontrou uma mãe e um filhovoj8 cassino4 anos, que haviam vindovoj8 cassinooutro município. Fomos até a casa deles, e eles não tinham documento nenhum. São coisas que a gente pensa que não existem mais no Brasil", explica Barroso.
Por situações assim, o Busca Ativa mobiliza não só educadores, mas também assistentes sociais, Conselho Tutelar e agentesvoj8 cassinosaúde.
"É cansativo, mas dá resultado. E não é só matrícula que interessa. Queremos que as crianças fiquem estudando até dezembro", prossegue Barroso. "Vamosvoj8 cassinocasavoj8 cassinocasa, para não deixar ninguém para trás."
Neste ano letivo, a rede municipal pretende organizar sessõesvoj8 cassinoatividades presenciais para pequenos gruposvoj8 cassinoalunos, para complementar o ensino remoto e para que os estudantes possam conversar pessoalmente com os professores.
"Tem que ter muito acolhimento e afetividade também", diz Barroso. "Muitas crianças ficaram com medo (do contágio), assim como os adultos. Fizemos vídeos motivacionais para atraí-losvoj8 cassinovolta, dizendo que a escola está fechada, mas a aprendizagem, não."
Acompanhamento constante e garantiavoj8 cassinoacesso à internet
O problema da evasão não é novo: com basevoj8 cassinodadosvoj8 cassino2019, o IBGE estima que maisvoj8 cassino20% dos quase 50 milhõesvoj8 cassinobrasileiros entre 14 e 29 anos não tenham completado alguma das etapas da educação básica.
A necessidadevoj8 cassinotrabalhar, o desinteresse pelas aulas e a gravidez foram citados como principais motivos para os jovens abandonarem a escola.
Desde o ano passado, três fatores fortemente associados à evasão escolar têm se intensificado, diz Olavo Nogueira, diretor-executivo da organização Todos Pela Educação: a perdavoj8 cassinovínculo com a escola, a dificuldadevoj8 cassinoacompanhar as aulas e a necessidadevoj8 cassinocomplementar a renda familiar.
A busca ativa, realizada pelos municípios citados nesta reportagem, é um importante esforço inicial, que precisa ser seguidovoj8 cassinoestratégias amplas, defende ele.
"Não basta apenas que os alunos voltem, porque existe também a evasão associada ao que acontece dentro do ambiente escolar", explica Nogueira. "Vai haver o desafiovoj8 cassinocuidar do (bem-estar) social e emocional dos alunosvoj8 cassinofazer iniciativasvoj8 cassinorecuperação escolar evoj8 cassinoacompanhamento das famílias, para identificar os que podem estar sob riscovoj8 cassinoevadir. O enfrentamento desse problema temvoj8 cassinoter um planovoj8 cassinolongo prazo."
Em muitos casos, o estudante se sente desamparado pela rede escolar, aponta Lorena Barberia, professora do Departamentovoj8 cassinoCiência Política da USP e coautora, com Luiz Cantarelli e Pedro Schmalz, do estudo sobre ensino remoto.
"Um aluno que está no final do ensino fundamental e é mandado para o ensino médio acaba sendo jogado para uma realidade muito diferente, talvez até para uma outra escola", diz ela. "Se ele não tiver um acompanhamento, um aconselhamento, isso pode aumentar a evasão escolar. Os alunos precisamvoj8 cassinotoda uma redevoj8 cassinoapoio para fazer essa transição, e isso não está contemplado muito claramente nas estratégias (das redesvoj8 cassinoensino)."
Outro ponto crucial, diz Barberia, é garantir a conectividade dos alunos, com acesso públicovoj8 cassinoqualidade a internet e a aparelhos adequados, para que elesvoj8 cassinofato consigam usufruir da educação remota nos momentosvoj8 cassinoparalisação do ensino presencial.
"Da mesma forma como cobramos o acesso (universalizado das pessoas) a água e eletricidade, hoje, na pandemia, precisamos entender que a internet é um bem público e temosvoj8 cassinoaumentar a acessibilidade", diz.
Na cidade sergipanavoj8 cassinoNeópolis, a coordenadora Miriam Barroso via os impactos disso diariamente ao buscar os alunosvoj8 cassinosuas casas, para tentar trazê-losvoj8 cassinovolta ao ensino.
"Alguns pais dos nossos alunos chegaram a gastar dinheiro com planovoj8 cassinodados, mas acabava muito rápido, porque alguns tinham que acompanhar as aulas onlinevoj8 cassinoquatro filhos", conta.
Uma preocupação adicional é com o fatovoj8 cassinoa pandemia estar solapando o ensinovoj8 cassinofaixas etárias nas quais o Brasil havia conseguido importantes avanços, tanto quantitativos como qualitativos, na educação. Uma revésvoj8 cassinoparticular se dá com as criançasvoj8 cassino6 a 10 anos, que representavam o maior contingente entre os alunos que estavam sem acesso à educação no final do ano passado.
"Criançasvoj8 cassino6 a 10 anos sem acesso à educação eram exceção no Brasil, antes da pandemia. Essa mudança observadavoj8 cassino2020 pode ter impactosvoj8 cassinotoda uma geração. São crianças dos anos iniciais do ensino fundamental, fasevoj8 cassinoalfabetização e outras aprendizagens essenciais às demais etapas escolares. Ciclosvoj8 cassinoalfabetização incompletos podem acarretar reprovações e abandono escolar. É urgente reabrir as escolas, e mantê-las abertas,voj8 cassinosegurança", dissevoj8 cassinocomunicado Florence Bauer, representante da Unicef no Brasil.
Esse tema tem gerado debates até mesmo no Congresso Nacional, ao mesmo tempovoj8 cassinoque muitos especialistas temem que a abertura escolar indiscriminada possa contribuir para o agravamento da pandemia.
Para a Unicef, é preciso também que o país inteiro deixevoj8 cassinover o abandono escolar como algo corriqueiro.
"Esta é uma história que se repete, ano a ano, no Brasil. Começa com o estudante sendo reprovado a primeira vez. Seguem-se outras reprovações, abandono e tentativasvoj8 cassinoretorno às aulas. Sem oportunidadesvoj8 cassinoaprender, ele vai ficando cada vez mais para trás, com anosvoj8 cassinoatraso escolar, até deixar definitivamente a escola, sem concluir a educação básica - muitas vezes antes atévoj8 cassinoingressar no ensino médio", diz Florence Bauer, no relatório Enfrentamento da Cultura do Atraso Escolar.
"Por trás desses números, está a naturalização do fracasso escolar. A maioria da sociedade aceita que um perfil específicovoj8 cassinoestudante passe pela escola sem aprender, sendo reprovado diversas vezes até desistir. Essa cultura do fracasso escolar acaba por excluir sempre os estudantesvoj8 cassinosituaçãovoj8 cassinomaior vulnerabilidade, que já sofrem outras violaçõesvoj8 cassinodireitos dentro e fora da escola."
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