Acadêmica brasileira viraliza unindo kimono e cabelo afro no Japão:caça niquel free

Marina Melo

Crédito, Marina Melo/Arquivo Pessoal

Legenda da foto, "Me formandocaça niquel freekimono e afro": fotocaça niquel freeMari Melo viralizou no Instagram e no Facebook

"As primeiras estudantes japonesas emprestaram dos seus irmãos a vestimenta para que pudessem frequentar a escola da mesma maneira que eles,caça niquel freeforma livre", ela contextualizou, no Twitter. "O hakama é uma conquista feminina, que celebra a possibilidadecaça niquel freemovimentar o corpo, estudar e se colocarcaça niquel freepécaça niquel freeigualdade aos homens."

Paulistana, Marina nasceu e cresceucaça niquel freeItaquera, na zona lestecaça niquel freeSão Paulo, até os 15 anos. Moroucaça niquel freeuma casa simplescaça niquel freeuma favela, ao ladocaça niquel freeum lixão. Depois, mudou-se para o distrito da Vila Carrão, também na zona leste da cidade. Foi ali que ela passou a se interessar por língua japonesa.

Nos arredores onde a famíliacaça niquel freeMarina vivia na Vila Carrão, viviam muitos imigrantes e descendentescaça niquel freeOkinawa, a menor e mais meridional ilha do arquipélago japonês. À época adolescente, ela cultivou interesse por desenhos e quadrinhos nipônicos como uma válvulacaça niquel freeescape para a realidade paulistana periférica que vivia.

"Era divertido e me distraía do dia a dia", diz à BBC News Brasil.

Marina Melo na infancia

Crédito, Marina Melo/Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Mari Melo cresceucaça niquel freeuma casa simplescaça niquel freeuma favela ao ladocaça niquel freeum lixãocaça niquel freeItaquera

Graças a uma bolsacaça niquel freeestudos por desempenho, ela estudoucaça niquel freeum colégio particular. À parte, estudava inglês por conta própria e, a certo ponto, decidiu procurar um cursocaça niquel freejaponês. Na capital paulista, que abriga a maior colônia japonesa do mundo fora do Japão, com cercacaça niquel free325 mil pessoas segundo os últimos dados disponíveis, ela encontrou apenas um curso na zona leste. Aos 17 anos, tentou se inscrever.

"Fui fazer a matrícula e me perguntaram: 'Ah, você é descendente?' Não, respondi. E eles disseram: 'Ah, mas então por que você quer estudar japonês? Infelizmente, não vai ter vaga para você, não. Melhor dar a vaga para alguém que vai aprender e usar a língua japonesa, você não vai'. Saí chorandocaça niquel freelá", lembra ela, visivelmente emocionada.

Mari Melo

Crédito, Marina Melo/Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Mari Melo, historiadora paulistanacaça niquel freeItaquera, se formou na Universidadecaça niquel freeTohoku, uma das mais antigas e prestigiadas do Japão

De Itaquera para a USP

Em 2010, a estudante passou no vestibular para o cursocaça niquel freeletras na Universidadecaça niquel freeSão Paulo (USP). Na horacaça niquel freeescolher a língua na qual gostariacaça niquel freese especializar, não teve dúvidas: japonês. "Pela primeira vez, ninguém me questionou 'por que japonês?' Foi um momento incrível", conta.

Mari Melo

Crédito, Marina Melo/Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Marina conta que nunca passou situação crítica ou constrangedora por ser negra e estrangeira no Japão

Aos 21 anos, Marina passoucaça niquel freeum processo seletivo para intercâmbio na Universidadecaça niquel freeMie, entre 2013 e 2014. Foi a primeira vez que viajoucaça niquel freeavião.

"Nunca imaginaria que, um dia, estaria no Japão. Até então, o máximo, o mais distante que tinha conseguido ir foi a USP", lembra.

Literalmente, ela frisa: não viajava e transitava principalmente pela zona leste, logo foi um salto para o campus Cidade Universitária e, depois, para o campuscaça niquel freeTsu, na província japonesacaça niquel freeMie.

"Minha mãe dizia: estudo é a única coisa que nós, pobres, conseguimos e que ninguém pode tirar. É o que leva a gente longe", relata. "Você pode encontrar gente que olha torto, mas você não pode ficar com medocaça niquel freesair pelo mundo. Medocaça niquel freepreconceito? Estou preparada, calejada."

De volta a São Paulo após a conclusão do intercâmbio, Marina se formou bacharelcaça niquel freeletras, com habilitaçõescaça niquel freeportuguês e japonês, e licenciaturacaça niquel freeportuguês. Fez traduções e desenvolveu estudos sobre mangás (quadrinhos japoneses), cultura pop japonesa no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No Brasil, estudou estereótipos femininos no mangácaça niquel freeestilo Shōjo, voltado ao público feminino adolescente.

Depois da faculdade, foi trabalharcaça niquel freeuma associação cultural nikkeicaça niquel freeOsasco. Nikkei quer dizer descendentescaça niquel freejaponeses nascidos fora do Japão. "Fui a primeira não-nikkei ali", diz ela, que é descendentecaça niquel freeindígenas e negros.

Da USP para Tohoku

Marina se casou com Júlio César da Silva do Nascimento, 29, também graduadocaça niquel freeletras na USP, também intercambista entre 2013 e 2014. Ele foi o primeirocaça niquel freesua família a fazer faculdade.

Mari e Julio

Crédito, Marina Melo/Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Mari e seu marido Júlio se dedicam aos estudos da cultura e língua japonesa

Júlio conquistou uma bolsacaça niquel freeestudos do Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão (Mext) para o programacaça niquel freepós-graduaçãocaça niquel freeEstudos Japoneses Globais na Universidadecaça niquel freeTohoku. Ele se mudou para a cidadecaça niquel freeSendai, a capital da provínciacaça niquel freeMiyagi,caça niquel freeabrilcaça niquel free2018. Ela, que também queria voltar a viver no Japão, escreveu a um professor, possível orientador para a pesquisa acadêmica que gostariacaça niquel freerealizar.

O professor a aceitou como aluna ouvinte, o que lhe permitiu pedir o visto japonês. Ao longocaça niquel freemeses, organizou documentos, economizou R$ 5 mil e comprou a passagem, sócaça niquel freeida. Depoiscaça niquel freeum semestre como ouvinte, Marina passou no processo seletivo para o mestrado no programacaça niquel freeEstudos Japoneses Contemporâneos da Universidadecaça niquel freeTohoku, por coincidência, o primeiro campus do arquipélago a aceitar inscriçõescaça niquel freeestudantes estrangeiros e do sexo feminino,caça niquel free1913.

Marina conta que nunca passou situação crítica ou constrangedora por ser negra e estrangeira no Japão. Passou a dar aulascaça niquel freeinglêscaça niquel freeum tipocaça niquel freecursinho pré-vestibular à noite e aulascaça niquel freejaponês para crianças, filhoscaça niquel freedekasseguis (descendentescaça niquel freejaponeses que migram para trabalhar temporariamente no país).

Na universidade, propôs uma pesquisa sobre feminismo japonês no século 19. "O tchan", diz ela, "foi o foco na autora Kishida Toshiko [1863-1901], uma das primeiras feministas japonesas."

Mari Melo é pesquisadora e estuda o feminismo japonês no século 19

Crédito, Mari Melo/Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Mari Melo é pesquisadora e estuda o feminismo japonês no século 19

A mestranda traduziu e analisou textoscaça niquel freeKishida,caça niquel freeKyoto, engajada na defesa da igualdadecaça niquel freegênero, inclusão e independênciacaça niquel freemulheres diante dos homens no Japão. Em 1883, depoiscaça niquel freerealizar um discurso público sobre a condição feminina, intitulado Daughters in boxes, Kishida foi presa, julgada e multada por fazer uma manifestação política sem autorização.

"Ela era questionadora, fazia perguntas: 'Mas quem determinou essas regras?', 'Quem disse que deve ser assim?' Tem um alinhamento forte com a teoria feminista atual, que não diz o que a gente deve ser, mas procurar pontoscaça niquel freeinterseccionalidade. Que mulher", diz.

Mais recentemente, Marina lançou os quadrinhos The bride of the fox, que contam a históriacaça niquel freeNubia, a primogênita do reicaça niquel freeum remoto arquipélago, um romance que também perpassa questões femininas. Tímida, ela conta que ficou surpresa com a repercussãocaça niquel freesua história na internet e pretende emendar um doutorado. "Sempre quis ser professora, para fazer a diferença."

"Nos últimos dias, conversamos sobre o que significa estar neste momento. Educação não deve ser uma questão sócaça niquel freeconquista individual, mas ter um impacto para motivar as pessoas a seguirem os estudos", diz Júlio, que já trabalhou com alfabetizaçãocaça niquel freemoradorescaça niquel freerua e jovens saindo da Fundação Casa, instituição para menores infratores.

"Nós enfrentamos tantas dificuldades para estar aqui, estudar aqui. É fantástico que as pessoas olhem para alguém [como Marina] e pensem: é possível, estudar te leva longe."

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