Demissãobetfair rolloverErnesto Araújo: fimbetfair rolloveruma gestão sem precedentes na diplomacia brasileira:betfair rollover
Na visãobetfair rolloverdezenasbetfair rolloverembaixadores ouvidos pela BBC News Brasil ao longo dos últimos meses, Araújo subordinou a agenda das relações internacionais às pautas ideológicas caras ao eleitoradobetfair rolloverJair Bolsonaro no plano doméstico, o que acarretou,betfair rolloverúltima instância, custos ao país que culminaram combetfair rolloversaída.
Há, no entanto, amplo ceticismo no Ministério das Relações Exteriores sobre o real impacto da saídabetfair rolloverErnesto Araújo no futuro das relações diplomáticas brasileiras. Discípulo do escritor Olavobetfair rolloverCarvalho, Araújo tinha relação simbiótica com um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, frequentemente considerado muito influente na atual postura internacional do Brasil.
Para muitos embaixadores e analistas, Araújo seria o mensageiro das ideias que, no limite, provinham do próprio Palácio do Planalto, e não o formulador do que seria uma diplomacia bolsonarista.
A gestão Ernesto Araújo
Histórica aliadabetfair rolloverpaísesbetfair rolloverdesenvolvimento ebetfair rolloverorganismos multilaterais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU), a diplomacia brasileira sob Araújo passou a atacar esses instrumentos, que segundo o chanceler seriam uma face do que ele chamavabetfair rollover"globalismo", "estágio preparatório para o comunismo",betfair rolloveroposição ao nacionalismo que prezava.
Saírambetfair rollovercena cooperações estreitas com os vizinhos do Mercosul, com países africanos ou mesmo com o bloco dos emergentes BRICS, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e entrarambetfair rolloverjogo alinhamentos aos posicionamentos dos Estados Unidos, sob o comando do então presidente republicano Donald Trump, e Israel, sob a batuta do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Ambos são expoentesbetfair rolloveruma direita conservadora e populista com a qual o governo Bolsonaro se empenhoubetfair rolloverestreitar laços.
Aindabetfair rolloverfóruns internacionais, o Brasil alteroubetfair rolloverposturabetfair rollovermediadorbetfair rolloverconflitos entre diferentes países e passou a assumir posições mais diretas - muitas vezes polêmicas e minoritárias -,betfair rolloverrelação a temasbetfair rolloverque antes era um interlocutor respeitado (como na questão dos direitos humanos) ou mesmo uma referência (comobetfair rollovermedidas contra o aquecimento global).
A propósito da defesabetfair rolloverliberdades religiosas e valores da família, se alinhou a países como Arábia Saudita contra a promoçãobetfair rolloveraçõesbetfair rolloverfavor da educação sexual ebetfair rolloverigualdadebetfair rollovergênero. Os diplomatas brasileiros foram orientados a substituir o termo "gênero" por "sexo"betfair rolloversuas manifestações, o que seria uma formabetfair rollovercombater a chamada "ideologiabetfair rollovergênero".
Nos EUA, Ernesto Araújo afirmoubetfair rollovermaisbetfair rolloveruma ocasião que as mudanças climáticas eram na verdade "alarmismo" para retirar soberania do Brasil sobre a Amazônia, enquanto repercutia no mundo as notíciasbetfair rolloverqueimadas e desmatamento nos biomas brasileiros. "Qual o maior desafio que nossa civilização enfrenta? Algumas pessoas dirão 'mudanças climáticas' e isso absolutamente não é verdade", afirmou Araújo,betfair rolloversetembrobetfair rollover2019,betfair rolloverpalestrabetfair rolloverWashington.
Na Assembleia Geral da ONU no ano passado, Bolsonaro disse que pressões internacionais contra o desmatamento derivavambetfair rollover"brutal campanhabetfair rolloverdesinformação contra o Brasil" e responsabilizou os povos indígenas pelas queimadas, apesar pesquisadores da Universidade da Califórnia terem mostrado, no ano passado, que as áreas demarcadas costumam ser menos desmatadas. A postura se alinhava com o que preconizava o então presidente americano Donald Trump, que havia retirado os EUA do Acordobetfair rolloverParis.
Contrariando seu histórico não intervencionista, o governo brasileiro se expressou abertamente sobre preferências eleitoraisbetfair rolloverpaíses com interesses estratégicos. Foi assim na Argentina, onde apoiou o candidato Maurício Macri, derrotado pelo peronista Alberto Fernández. Foi assim nos EUA, onde apoiou Donald Trump e chegou a falarbetfair rolloverfraude eleitoral antesbetfair rolloverreconhecer a vitória do democrata Joe Biden. Foi assim na Bolívia, onde expressou simpatia pela direitabetfair rolloverLuis Fernando Camacho, mas quem levou a presidência foi o candidatobetfair rolloverEvo Morales, Luis Arce.
O chanceler também atacou abertamente a China, maior parceiro comercial do Brasil,betfair rolloverdiversas postagensbetfair rolloverTwitter. Ao fazer uma analogia entre o novo coronavírus e o que chamoubetfair rollover"comunavírus", um suposto plano chinês para implementarbetfair rolloverideologia comunista globalmente por meiobetfair rollovermedidas contra a covid-19 tomadas pela OMS.
Ainda no tema da pandemia, o Brasil não apoiou a quebrabetfair rolloverpatentebetfair rollovervacinas contra a covid-19, proposta pela Índia na Organização Mundial do Comércio (OMC) no ano passado, colocando-se ao lado do interesse dos americanos e demais países ricos e contrariando liderança histórica do país no tema, conquistado com a quebrabetfair rolloverpatentes do coquetel anti-HIV/AIDS nos anos 2000.
E entrou no Covax, o consórcio da OMS pelo desenvolvimento e distribuição globalbetfair rollovervacinas, apenas com a cota mínima,betfair rollover42 milhõesbetfair rolloverdosesbetfair rollovervacinas. Segundo a revista Época, esse montante poderia ter ido a zero já que originalmente o chanceler, crítico da OMS, não pretendia ser parte do Covax e teria sido dissuadido pela embaixadora Nazareth Farani.
betfair rollover A tempestade perfeita do chancele betfair rollover r
Em conjunto, as ações do Brasil no exterior provocaram uma tempestade perfeita. O Acordo Mercosul-União Europeia, assinado ainda no início da gestão Bolsonaro, tevebetfair rolloverimplementação interrompida por alegadas preocupações dos europeus com a política ambiental do Brasil.
O meio ambiente também se tornou ponto prioritário do novo governo americano sob Joe Biden, que substituiu o principal aliadobetfair rolloverBolsonaro na Casa Branca. O Brasil passou a ser pressionado a se comprometer com metas ambiciosas para conservação ambiental e redução das emissõesbetfair rollovergases estufa.
Diante dos desgastesbetfair rolloverrelações acumulados nos últimos meses, EUA, China e Índia não demonstraram grande disposiçãobetfair rolloverajudar o Brasil a aumentar seus estoquesbetfair rollovervacina ebetfair rolloverinsumos para fabricaçãobetfair rolloverimunizantes quando isso se tornou urgente, a partirbetfair rolloverfevereiro. Tanto no caso da China quanto da Índia, houve atrasos e dificuldade na liberaçãobetfair rolloverdoses e insumos. Já os EUA anunciaram que liberariam 4 milhõesbetfair rolloverdoses do imunizante AstraZeneca-Oxford, hoje sem uso no país, para México e Canadá, mas não se posicionaram pela vendabetfair rollovervacinas ao Brasil, apesar da recomendação para tal da própria comunidade acadêmica do país.
E a crise sanitária da covid se tornou também uma crisebetfair rolloverimagem para o país, até então uma referênciabetfair rolloversaúde pública graças ao Sistema Únicobetfair rolloverSaúde. No último fimbetfair rolloversemana, os três mais importantes jornais dos EUA publicavam reportagens sobre o que chamavambetfair rollover"colapso previsível" do Brasil. No domingo, o chefe da consultoria Eurasia Group, Ian Bremmer, destacoubetfair rolloversuas redes sociais que umbetfair rollovercada três mortos por covid-19 no último sábado estava no Brasil. "Pior gestão da epidemia -betfair rolloverlonge -betfair rolloverqualquer grande economia", disse Bremmer.
Os estertoresbetfair rolloverAraújo
É nesse contexto que a condiçãobetfair rolloverErnesto Araújo, considerada "insustentável" dentro do Itamaraty há meses, chega ao limite. Diante do diagnósticobetfair rolloverque a política do Planaltobetfair rolloverrelação à pandemia era um equívoco e poderia custar caro às suas pretensões eleitorais futuras, o Congresso passou a pressionar pela saída dos auxiliaresbetfair rolloverBolsonaro que representavam a fonte do que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), qualificou como "erros primários"betfair rollovergestão. O primeiro a ser desalojado da cadeira foi o general Eduardo Pazuello, até então ministro da Saúde.
Na sequência, as atenções dos parlamentares se voltaram a Araújo. "Nós tivemos muitos erros no enfrentamento dessa pandemia e um deles foi o não estabelecimentobetfair rolloveruma relação diplomáticabetfair rolloverprodutividade com diversos países que poderiam ser colaboradores nesse momento agudobetfair rollovercrise que temos no Brasil. Então ainda estábetfair rollovertempobetfair rollovermudar para poder salvar vida", afirmou Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, na última quinta, 25/3.
A declaração foi feita um dia depoisbetfair rolloverAraújo ter falhadobetfair rolloverexplicar suas ações no combate à pandemia no Senado. Maisbetfair rolloverdez senadores pediram abertamente que ele se demitisse,betfair rolloveruma situação considerada no Itamaraty comobetfair rollover"humilhação sem precedentes para um chanceler". Na mesma sessãobetfair rolloverque Araújo chegou a ser chamadobetfair rollover"office boybetfair rolloverluxo", Filipe G. Martins, assessor internacional da presidência com grande ascendência sobre Araújo, fez um gesto considerado obsceno e racista aos senadores.
Depois do episódio, a saídabetfair rolloverAraújo do posto passou a ser considerada apenas uma questãobetfair rollover(pouco) tempo temporária. Entre senadores, a percepção erabetfair rolloverque Bolsonaro tentaria mantê-lo ainda por mais alguns dias, para não admitir fraqueza diante do Congresso e para viabilizar uma saída honrosa para umbetfair rolloverseus ministros preferidos. Diante da incerteza, um grupobetfair rollover300 diplomatas do Itamaraty fez circular uma carta crítica a Araújo, iniciativa considerada inédita pelo tom e o tamanho da mobilizaçãobetfair rolloverum órgãobetfair rolloverservidores disciplinados e respeitosos da hierarquia.
"Nos últimos dois anos, avolumaram-se exemplosbetfair rollovercondutas incompatíveis com os princípios constitucionais e até mesmo os códigos mais elementares da prática diplomática. O Itamaraty enfrenta aguda crise orçamentária e uma série numerosabetfair rolloverincidentes diplomáticos, com graves prejuízos para as relações internacionais e a imagem do Brasil", dizia a carta, revelada pela Folhabetfair rolloverS.Paulo.
A comunicação expunha que Araújo já não contava com apoio consistente dentro do órgão que dirigia e não só por questões ideológicas. No começo do ano, embaixadas e consulados tiveram dificuldadesbetfair rolloverpagar contas básicas - como luz e água - por faltabetfair rolloveraprovação do orçamento do órgão. A gestãobetfair rolloverrecursos humanos e financeiros foi considerada "caótica" por um embaixador ouvido pela BBC News Brasil que enfrentou dificuldadesbetfair rolloverquitar o aluguel do prédio onde funciona a repartição no exterior que comanda.
Mas foi o próprio Araújo quem precipitou o fimbetfair rolloverseu período à frente do Ministério das Relações Exteriores com um tuíte publicado na tardebetfair rolloverdomingo, 29/3. "Em 4/3 recebi a Senadora Kátia Abreu para almoçar no Ministériobetfair rolloverRelações Exteriores. Conversa cortês. Pouco ou nada faloubetfair rollovervacinas. No final, à mesa, disse: 'Ministro, se o senhor fizer um gestobetfair rolloverrelação ao 5G, será o rei do Senado. 'Não fiz gesto algum", diz o post.
Abreu reagiu com indignação à sugestãobetfair rolloverque ela teria tentando operar lobbybetfair rolloverfavor dos chineses no certame da rede 5G brasileira, e negou que isso tenha acontecido. Chamou Araújobetfair rollovermarginal e cobroubetfair rolloverimediata demissão, no que contou com o endossobetfair rolloverseus colegas senadores.
Ainda sem posto definido, Araújo, que é funcionáriobetfair rollovercarreira e sempre foi considerado pelos pares uma figura discreta ebetfair rolloverpouco brilho dentro do Itamaraty deve submergir na estrutura do órgão. A menos que a experiênciabetfair rolloverministro o tenha convertido definitivamentebetfair rolloverdiplomatabetfair rolloverpolítico.
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