Vacinas brasileiras: o que o Brasil ganha tendo imunizantes nacionais contra a covid-19?:novibet tigrinho

Embalagem da nova vacina Butanvac

Crédito, Governonovibet tigrinhoSP

Legenda da foto, Vacina 100% brasileira: Instituto prevê fazer testes clínicos da Butanvac com seres humanosnovibet tigrinhoapenas três meses e disponibilizar 40 milhõesnovibet tigrinhodoses a partirnovibet tigrinhojulho.

A vacina obteve bons resultadosnovibet tigrinhocamundongos e os pesquisadores aguardam investimentos e a preparaçãonovibet tigrinhoum laboratório para iniciar testesnovibet tigrinhohumanos.

Outro exemplo é a vacina via spray nasalnovibet tigrinhouma pesquisa liderada pelo professor da Universidadenovibet tigrinhoSão Paulo Jorge Kalil. Ele está fazendo testesnovibet tigrinhoanimais e tenta angariar recursos com empresas brasileiras para viabilizar a pesquisanovibet tigrinhohumanos.

O governo Bolsonaro também disse que dois outros projetos que receberam verbas federais avançaram e chegaram à fasenovibet tigrinhotestes clínicos, além da vacina anunciada nesta sexta.

Mas o que o Brasil tem a ganhar com vacinas nacionais contra a covid-19? Não seria melhor importar?

Pesquisadores ouvidos pela BBC News Brasil citam 3 vantagensnovibet tigrinhocurto e médio prazo:

- Menor dependência externa

- Rapidez na adaptação das vacinas a novas variantes

- Uso do conhecimento para criar vacinas contra outras doenças

- Menor dependêncianovibet tigrinhoimportações

Pesquisadores apontam que um dos principais benefíciosnovibet tigrinhofabricar vacinas no Brasil é reduzir a dependência do paísnovibet tigrinhoinsumos importados. Atualmente, o Brasil importa maisnovibet tigrinho90% dos insumos farmacêuticos usadosnovibet tigrinhomedicamentos e vacinas, segundo dados da Associação Brasileira da Indústrianovibet tigrinhoInsumos Farmacêuticos.

O problemanovibet tigrinhodependernovibet tigrinhooutros países ficou mais evidente durante a pandemia. O calendárionovibet tigrinhovacinação contra a covid-19 sofreu diversos atrasos por dificuldades na entreganovibet tigrinhoprodutos vindos da Ásia.

As duas vacinas usadas no país, a CoronaVac, distribuída pelo Butantan, e a Oxford-AstraZeneca, disponibilizada pela Fiocruz, hoje dependemnovibet tigrinhoimportações da China e da Índia.

Essa dependência externa também se aplica à fabricaçãonovibet tigrinhooutras vacinas e medicamentos. Atualmente, só existem dois institutos capazesnovibet tigrinhoproduzir todas as etapasnovibet tigrinhouma vacinanovibet tigrinhoterritório nacional: Butantan e Fiocruz.

Mulher sendo vacinada no Rionovibet tigrinhoJaneiro

Crédito, Agencia Brasil

Legenda da foto, Atualmente, só existem dois institutos capazesnovibet tigrinhoproduzir todas as etapasnovibet tigrinhouma vacinanovibet tigrinhoterritório nacional: Butantan e Fiocruz

E das 17 vacinas distribuídas por esses dois institutos, só quatro são feitas no Brasil, sem depender da importação do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), como é chamada a matéria-prima para produzir imunizantes.

O problema é que o baixo custonovibet tigrinhoprodutos fabricadosnovibet tigrinhopaíses como China e Índia gera desincentivos para que o governo brasileiro invistanovibet tigrinhotecnologia nacional.

"China e Índia têm escala econômica e mão-de-obra mais barata que a nossa. Podem se dar o luxonovibet tigrinhopagar menos e usar um exércitonovibet tigrinhogente como mão-de-obra. Além disso, as leis ambientais são mais frouxas. Essa indústria, particularmente a química, é muito suja. Então, obter licença ambiental para uma fábrica que produz IFA (insumo farmacêutico ativo) representa custos", explicou à BBC News Brasil o sanitarista Gonzalo Vecina Neto, que fundou e foi o primeiro presidente da Anvisa.

"No Brasil temos uma preocupação maior com saúde do trabalhar e com o meio-ambiente, então há um gasto maiornovibet tigrinhosaída."

Por outro lado, depender totalmente da China e da Índia pode deixar o paísnovibet tigrinhoposição vulnerável quando precisar com urgêncianovibet tigrinhovacinas e outros insumos farmacêuticos, como ocorreu no início do ano. Conflitos diplomáticos com países fornecedores podem resultarnovibet tigrinhoretaliações e atrasos na entrega.

"Não é só uma questãonovibet tigrinhocusto e venda. Não é uma questão só econômica, é uma questão estratégica (fabricar vacinas no Brasil)", diz Tiago Rocca, gerentenovibet tigrinhoparcerias estratégicas e novos negócios do Butantan.

"China e Índia viraram quase produtores únicosnovibet tigrinhoalguns insumos. Se algo acontece com esses dois fornecedores, o mundo ficanovibet tigrinhojoelhos", completa Vecina Neto.

Adaptaçãonovibet tigrinhovacinas contra variantes

Uma eventual autossuficiência do Brasilnovibet tigrinhovacinas contra a covid-19 também pode ser arma importante contra novas variantes do coronavírus.

Pesquisas indicam que as vacinas que existem no mercado têm eficácia reduzida contra a variantenovibet tigrinhoManaus, apelidadanovibet tigrinhoP.1. E, enquanto houver circulaçãonovibet tigrinholarga escala do vírus, como ocorre atualmente no Brasil, novas mutações com maior capacidadenovibet tigrinhodriblar vacinas podem surgir.

Pesquisadores dizem que, provavelmente, as vacinas contra covid-19 terão que ser atualizadas todo ano, como ocorre com as vacinas contra gripe, para serem adaptadas às variantes. Portanto, a vacinaçãonovibet tigrinhotoda a população brasileira não deve encerrar a demanda por vacinas, já que dosesnovibet tigrinhoreforço podem ser necessárias.

"No início do ano passado, tínhamos só o vírus que surgiunovibet tigrinhoWuhan, na China. Neste ano, já temos três variantes que causam preocupação. Nesse período do ano que vem, poderemos ter mais variantes. Então, é possível que a vacina tenha que ser atualizada todo ano para acompanhar esse ritmo", diz o virologista Julian Tang, da Universidadenovibet tigrinhoLeicester, no Reino Unido.

Se o Brasil tiver vacinas 100% nacionais, poderá promover adaptações aos imunizantes mais rapidamente, sem depender da vontadenovibet tigrinhofabricantes estrangeiros enovibet tigrinhonovas negociações para a importação dos produtos.

Além disso, se novas variantes surgiremnovibet tigrinhodiferentes partes do mundo, os fabricantes europeus podem dar mais urgência à adaptação das suas vacinas às mutações que circulam naquele continente. Ao ter a própria vacina, o Brasil poderá ter maior independência na estratégianovibet tigrinhoimunização contra covid.

O presidente do Butatan, Dimas Covas, disse que os pesquisadores do instituto estão utilizando os aspectos genéticos da variantenovibet tigrinhoManaus nas pesquisas para produzir a ButanVac.

Jorge Kalil e Ana Paula Fernandes também dizem que o processonovibet tigrinhoelaboração das suas vacinas contemplam a variantenovibet tigrinhoManaus. Ou seja, a expectativa é que esses imunizantes brasileiros protejam contra a P1, que tende se espalhar por todo Brasil e se tornar o vírus prevalente, por ser mais transmissível que a cepa original.

Uso do conhecimento para fabricar outras vacinas

Ministro Marcos Pontes

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Governo federal anunciou que quer testar uma vacina nacional desenvolvida pela USPnovibet tigrinhoparceria com empresas

Os pesquisadores ouvidos pela BBC News Brasil dizem que o conhecimento e a infraestrutura criada para produzir vacinas contra a covid-19 no Brasil poderão ser utilizados, no futuro,novibet tigrinhovacinas contra outras doenças.

A própria ButanVac é um exemplonovibet tigrinhocomo o conhecimento desenvolvido para combater uma doença pode ser aplicada contra outra. Essa vacina contra a covid-19 vai utilizar a mesma tecnologia da vacina contra a gripe, que também é fabricada pelo Instituto Butantan.

O vetor usado é um vírus chamado Newcastle, que infecta aves. Os pesquisadores injetam nesse vírus os genes da spike do coronavírus, como é chamada a proteína que se encaixa nas células humanas para promover a infecção.

Depoisnovibet tigrinhomodificar o vírus Newcastle com a proteína do coronavírus, ele é introduzidonovibet tigrinhoovosnovibet tigrinhogalinha, onde se multiplica. A vacina contra a gripe também é produzida com o usonovibet tigrinhoovos.

Além disso, a vacina contra covid-19 vai ser feita na mesma fábrica usada para fazer imunizante contra gripe. Se outras fábricas pelo país forem construídas ou adaptadas para produzir vacinas contra covid-19, elas poderão eventualmente ser aproveitadas, no futuro, para produzir imunizantes contra outras doenças.

Ana Paula Fernandes, coordenadora do CT-Vacinas, da UFMG, diz que desenvolver esse conhecimento científico e infraestrutura vai possibilitar, por exemplo, que o Brasil produza vacinas contra doenças regionais que não despertam interessenovibet tigrinhofabricantes estrangeiros.

"Por exemplo, tem um tiponovibet tigrinhomalária que é comum no Brasil, mas nãonovibet tigrinhooutros países. Temos dengue, zika, chikungunya... Fabricar vacinas eficazes contra doenças que predominam aqui é importante para proteger a população", diz a pesquisadora.

Principal desvantagem é custo

Apesar das vantagens mencionadas pelos cientistas, investirnovibet tigrinhotecnologia nacionalnovibet tigrinhovacinas gera custos elevados e demanda vontade política. No final da décadanovibet tigrinho1980 e 1990, o Brasil chegou a ter pelo menos cinco institutos com capacidadenovibet tigrinhoproduçãonovibet tigrinhovacinas: Bio-Manguinhos, Instituto Butatan, Fundação Ezequiel Dias, Instituto Vital Brasil e Fundação Ataulphonovibet tigrinhoPaiva

Na época, o regime militar investiunovibet tigrinhoprodução nacional por considerar estratégico não dependernovibet tigrinhoimportaçõesnovibet tigrinhoinsumos farmacêuticos. Mas desde a abertura econômica no governonovibet tigrinhoFernando Collor o Brasil vive um processonovibet tigrinhodesinvestimento progressivo do setornovibet tigrinhovacinas, diz Gonzalo Vecina Neto, que foi o primeiro presidente da Anvisa, no governo Fernando Henrique Cardoso.

Atualmente, só Butantan e Fiocruz fabricam vacinas, do início ao fim do processo, no Brasil.

"O boom das commodities estimulou os governos a navegarnovibet tigrinhoáguas tranquilas e se fiar na exportaçãonovibet tigrinhoprodutos agrícolas. Por que FHC e Lula não investiram na autossuficiêncianovibet tigrinhovacinas? Faltanovibet tigrinhovisãonovibet tigrinholongo prazo. Nenhum dos dois tirou o pé do curto prazo, do populismo local, da reeleição no quarto ano."

Atualmente, o déficit na balança comercial brasileiranovibet tigrinhoinsumos farmacêuticos énovibet tigrinhoR$ 2,1 bilhões (dadonovibet tigrinho2019), segundo a Associação Brasileira da Indústrianovibet tigrinhoInsumos Farmacêuticos (Abiquifi).

Como o Brasil passou por maisnovibet tigrinho30 anosnovibet tigrinhodesinvestimentos no setor, seria preciso um investimento pesado do poder público para reverter esse cenário.

'Vale da morte'

Ilustração do coronavírus

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Conhecimento e a infraestrutura criada para produzir vacinas contra a covid-19 no Brasil poderão ser utilizados, no futuro,novibet tigrinhovacinas contra outras doenças

Os cientistas brasileiros até criaram uma expressão para caracterizar o abismo que eles enxergam entre a descoberta científica e a transformação delanovibet tigrinhoproduto final: "vale da morte".

Ana Paula Fernandes, que é professora da UFMG, diz que o Brasil têm conhecimento científico para produzir vacinas com tecnologianovibet tigrinhoponta, mas falta dinheiro para testarnovibet tigrinhohumanos e fábricas para produzirnovibet tigrinholarga escala.

"Temos capacidade técnica, pesquisadoresnovibet tigrinhoponta, mas existem gargalos que impedem que as descobertas se transformemnovibet tigrinhovacina. Temos conhecimento técnico para fazer vacinas como a da Pfizer e Moderna contra a covid-19, mas não temos matéria-prima, investimentos e fábricas para produzir", resume.

"Nós temos uma ciêncianovibet tigrinhoexcelência no Brasil, mas precisamos atravessar o vale da morte, que é ir da descoberta científica nos laboratórios acadêmicos para a fase final, da industrialização", completa Kalil, que também é diretor do Laboratório Incornovibet tigrinhoImunologia e ex-presidente do Instituto Butantan.

Se o Brasil conseguir transpor esse abismo, alguns pesquisadores enxergam uma possibilidadenovibet tigrinhoconquistanovibet tigrinhomercados na América Latina e países pobres. O presidente do Butantan disse, ao anunciar a ButanVac, que a intenção é exportar a vacina para paísesnovibet tigrinhorenda média e baixa, depois que os brasileiros tiverem sido imunizados.

A produção da ButanVac vai ser feita num consórcio que inclui uma fabricante vietnamita e outra tailandesa, embora 85% da participação nesse grupo seja do Butantan. Portanto, esses dois países deverão receber doses da vacina fabricada no Brasil.

"O Butatan tem o compromissonovibet tigrinhofornecer essa vacina para paísesnovibet tigrinhorenda baixa e média. Se o mundo rico combate o (coronavírus) porque tem recursos e vai ficar relativamente livre do vírus, os paísesnovibet tigrinhorenda baixa e média poderão manter a pandemia. Então, temos que ter vacina para esses países, para globalmente sermos bem-sucedidos", defendeu.

Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Anvisa, também enxerga a possibilidadenovibet tigrinhoo Brasil exportar vacinas, mas ressalta que isso vai depender muito da capacidadenovibet tigrinhogestão e diplomacia do país, já que Índia e China também competem por mercados na América do Sul, África e Ásia.

"Vamos ter um produto mais caro que Índia e China, mas vamos gerar emprego internamente e reduzir a dependência externa. E, dependendo da política compensatória, podemos conquistar alguns mercados. Mas, lógico que vamos ter que brigar com cachorro grande."

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