3 erros que levaram à faltaaposta na desportivavacinas contra covid-19 no Brasil:aposta na desportiva

Crédito, EPA/ANTONIO LACERDA

Legenda da foto, Primeira etapaaposta na desportivavacinação alcançou menos 6 milhõesaposta na desportivabrasileiros por causa da escassezaposta na desportivaimunizantes e do desperdícioaposta na desportivadoses

"O Brasil teria condiçõesaposta na desportivater uma oferta muito maioraposta na desportivavacina se nós tivéssemos feito o que outros países fizeram, como, por exemplo, o Chile. O Chile hoje tem três dosesaposta na desportivavacina por habitante, só que ele começou a comprar vacinaaposta na desportivasetembro", disse Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdadeaposta na desportivaSaúde Pública da Universidadeaposta na desportivaSão Paulo e fundador da Agência Nacionalaposta na desportivaVigilância Sanitária.

"Nós não começamos a comprar vacina cedo. O governo federal não fez nenhuma aposta. Se não fosse pelo Butatan e a Fiocruz (respectivamente, responsáveis no país pelas vacinas CoronaVac e Oxford-AstraZeneca) não teríamos nenhuma vacina", critica.

aposta na desportiva Governo não comprou vacinasaposta na desportiva2020

Tanto Gonzalo Vecina Neto quanto a a epidemiologista Ethel Maciel dizem que o primeiro e maior erro foi o governo federal foi não comprar vacinas antecipadamente, aindaaposta na desportiva2020.

No meio do ano passado, quando fabricantes anunciaram que estavam desenvolvendo vacinas, vários países como Chile, Colômbia, Reino Unido e integrantes da União Europeia negociaram a compra desses produtos ainda na faseaposta na desportivatestes.

Era uma aposta. A pesquisa podia dar errado, mas fechar o contrato antes significava garantir acesso às doses.

Uma das estratégias para minimizar o risco, diz Ethel Maciel, seria montar uma cesta variadaaposta na desportivavacinas. Por exemplo, comprar doses da Oxford-AstraZeneca, CoronaVac, Pfizer e Moderna.

Crédito, Fernando Madeira

Legenda da foto, Ethel Macial diz que governo deveria ter comprado vacinas antecipadamenteaposta na desportivadiferentes fabricantes

"O Brasil não fez isso e ainda recusou um acordo proposto pela Pfizer que garantiria 70 milhõesaposta na desportivavacinasaposta na desportivadezembro", afirma a epidemiologista, que é professora da Universidade Federal do Espírito Santo.

Ao falar sobre o fracasso das tratativas com a Pfizer, o governo brasileiro argumentou que as cláusulas propostas eram abusivas.

Em nota, o Ministério da Saúde citou como exemplo o fatoaposta na desportivaa Pfizer exigir que,aposta na desportivacasoaposta na desportivadesavença com o governo brasileiro, as negociaçõesaposta na desportivaarbitragem teriam que se pautar nas leisaposta na desportivaNova York, não nas do Brasil.

Outro ponto mencionado pelo governo brasileiro foi a exigência da Pfizeraposta na desportivaassinaturaaposta na desportivaum termoaposta na desportivaresponsabilidade para isentar a fabricanteaposta na desportivapenalização civil por eventuais efeitos colaterais graves da vacina.

A Pfizer rebateu, também com a divulgaçãoaposta na desportivanota, dizendo que esses mesmos termos foram aceitos por outros países que compraram a vacina, entre eles Estados Unidos, Colômbia, Chile, Reino Unido, Japão, Equador e a União Europeia.

Fiocruz e Butantan assumiram riscos

Enquanto o governo federal hesitavaaposta na desportivanegociar a compra antecipadaaposta na desportivaimunizantes, os institutosaposta na desportivapesquisa Fiocruz e Butantan tomaram essa iniciativa.

A Fiocruz iniciou tratativas para comprar a Oxford-AstraZeneca, enquanto o Butantan negociou com a chinesa Sinovac a transferênciaaposta na desportivatecnologia para produzir a CoronaVac.

Depoisaposta na desportivaconseguirem acordos com as fabricantes estrangeiras, ambos apresentaram as propostas ao governo federal.

Crédito, REUTERS/Ueslei Marcelino

Legenda da foto, Em outubroaposta na desportiva2020, Bolsonaro rejeitou acordo com Butantan para importar vacina CoronaVac

O governo Jair Bolsonaro aceitou a proposta da Fiocruz, mas,aposta na desportivaoutubro do ano passado, rejeitou uma proposta do Butantan que previa a entregaaposta na desportiva45 milhõesaposta na desportivadoses da CoronaVac até dezembroaposta na desportiva2020 e outras 15 milhões no primeiro trimestreaposta na desportiva2021- isso garantiria ao menos 60 milhõesaposta na desportivadoses na primeira faseaposta na desportivavacinação.

Na época, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, defendeu fechar o acordo, mas o presidente Jair Bolsonaro foi contra. Pesaram na decisão uma disputa política com o governadoraposta na desportivaSão Paulo, João Doria, e a pressãoaposta na desportivamilitantesaposta na desportivadireita que levantavam desconfiança sobre uma vacina produzida na China.

"Da China nós não compraremos. É decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população pelaaposta na desportivaorigem. Esse é o pensamento nosso", disse Bolsonaro no dia 21aposta na desportivaoutubro,aposta na desportivaentrevista à rádio Jovem Pan.

Depois,aposta na desportivajaneiro, o presidente Jair Bolsonaro voltou atrás e firmou acordo para comprar as vacinas do Butantan. O problema é que essa demora na negociação atrasou, também, o calendárioaposta na desportivaentrega dos produtos.

Isso porque a capacidadeaposta na desportivaprodução do Butantan, assim como a da Fiocruz, esbarra no ritmoaposta na desportivaimportaçãoaposta na desportivainsumos da China.

"O Butatan levou a proposta e, num primeiro momento, o Ministério da Saúde disse sim, depois disse que não, porque Bolsonaro foi contra a compraaposta na desportivauma vacina chinesa. E aí ficou toda aquela discussão no ano passadoaposta na desportivase era vacina do Doria ou do Bolsonaro. Isso gerou um grande desgaste ao Butantan e atrasou importações da China", relembra o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto.

No final das contas, só foram disponibilizadas,aposta na desportivajaneiro e fevereiro, 9,8 milhõesaposta na desportivadoses da CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan) e 2 milhõesaposta na desportivadoses da vacina Oxford-AstraZeneca.

E por que o governo não compra, agora,aposta na desportivaoutras fabricantes?

O problema é que, como o Brasil largou atrasado na negociação, grandes fabricantes, como Pfizer e Moderna, já venderam para outros países a grande maioria dos seus lotes.

Segundo Vecina Neto, restou para o Brasil apostar agoraaposta na desportivavacinas que ainda despertam desconfiança pela faltaaposta na desportivatransparência nos estudos ou que não concluíram a última etapaaposta na desportivapesquisa, como a russa Sputnik V e a indiana Covaxin.

A Sputnik V, especificamente, já foi alvoaposta na desportivacríticas internacionais pela faltaaposta na desportivatransparência no processoaposta na desportivafabricação do imunizante. Mesmo na Rússia o ritmoaposta na desportivavacinação começou lento, porque a população questionava a eficácia da vacina.

No início do mês, o instituto Gamaleyaaposta na desportivaPesquisa da Rússia alcançou uma etapa importanteaposta na desportivacomprovar a eficácia da vacina, ao publicar um estudo na revista científica Lancet mostrando percentualaposta na desportiva91%aposta na desportivaproteção.

Só que tanto essa vacina quanto a indiana Covaxin não divulgaram ainda os resultados da fase 3aposta na desportivatestes, quando o imunizante é aplicado num grupo grande e heterogêneoaposta na desportivavoluntários, para verificar reações adversas, por exemplo.

Faltaaposta na desportivadefinição sobre quem deveria ser vacinado antes

O segundo erro, que poderia ter mitigado as consequências da escassezaposta na desportivavacinas, foi a faltaaposta na desportivauma definição sobre quem deveria receber a vacina primeiro, dentro do grupoaposta na desportivaprioridades.

Crédito, REUTERS/Amanda Perobelli

Legenda da foto, Em várias cidades, profissionaisaposta na desportivasaúde que não atuam na linhaaposta na desportivafrente contra a covid-19 foram vacinados antesaposta na desportivaidosos

Ou seja, quem é a prioridade das prioridades. O governo federal elaborou uma enorme listaaposta na desportivagrupos prioritários que, juntos, somam 77,2 milhõesaposta na desportivapessoas. Lá há desde idosos com maisaposta na desportiva90 anos a profissionaisaposta na desportivasaúde, caminhoneiros, profissionais da área da educação e militares.

Quem deveriam ser as 6 milhõesaposta na desportivapessoas imunizadas com as doses disponíveis?

"Não tinha uma ordenaçãoaposta na desportivaquem deveria receber a vacina primeiro. No cenárioaposta na desportivaescassez total, quem seria a prioridade das prioridades? O governo federal não tomou essa decisão", diz a Ethel Maciel, que é professora da Universidade Federal do Espírito Santo.

Como não houve uma coordenação federal, cada município criou as próprias regras e surgiram distorções. Por exemplo, a lista do governo federal inclui "trabalhadores da saúde", mas não especifica quais se enquadrariam na prioridade.

Na ausênciaaposta na desportivauma definição, esteticistas, psicólogos, dermatologistas, veterinários e até instrutoresaposta na desportivapilates foram vacinados antesaposta na desportivaidosos com maisaposta na desportiva80 anosaposta na desportivaalgumas cidades.

Diante dessa situação, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, determinou, no dia 8aposta na desportivafevereiro, que o governo federal divulgasse a ordemaposta na desportivapreferência dentro do grupo prioritário.

Crédito, EPA/ANTONIO LACERDA

Legenda da foto, Na ausênciaaposta na desportivauma definição, esteticistas, psicólogos, dermatologistas e até instrutoresaposta na desportivapilates foram vacinados antesaposta na desportivaidosos com maisaposta na desportiva80 anosaposta na desportivaalgumas cidades

Mas àquela altura, as doses da primeira remessa já estavam acabando. "A gente deixouaposta na desportivavacinar os idosos para vacinar uma amplitude muito grandeaposta na desportivaprofissionaisaposta na desportivasaúde que nem estavam na linhaaposta na desportivafrente", lamenta Ethel Maciel.

Faltaaposta na desportivatreinamento provocou desperdícioaposta na desportivadoses

O terceiro erro, segundo os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, foi a faltaaposta na desportivatreinamento e orientação às equipes que administram a vacina.

Não houve uma campanha nacionalaposta na desportivavacinação, com informações à população e treinamento específico às equipes dos postosaposta na desportivasaúde, destacam Ethel Maciel e Gonzalo Vecina Neto.

Em alguns municípios, profissionaisaposta na desportivasaúde relataram desperdícioaposta na desportivadoses, especialmente nas cidades que decidiram escalonar por idade.

No Rioaposta na desportivaJaneiro, foi amplamente noticiado que doses da Oxford-AstraZeneca foram jogadas fora por causa do baixo comparecimentoaposta na desportivaidososaposta na desportivaalgumas áreas da cidade.

Uma vez aberto o frasco para colocar nas seringas, o conteúdo da vacinaaposta na desportivaOxford só tem validade por seis horas. Já a CoronaVac dura oito horas depoisaposta na desportivaaberto o frasco.

Como não havia orientação clara sobre o que fazer na ausência do grupo-alvo da vacinação, as doses que sobravam nos recipientes abertos foram perdendo a validade.

Ou seja, alémaposta na desportivatermos pouca vacina, a faltaaposta na desportivaorientação aos profissionais levou a uma redução ainda maior do estoque.

Segundo Ethel Maciel, seria o casoaposta na desportivaorientar que,aposta na desportivasituações assim, é melhor administrar a vacinaaposta na desportivaquem estiver por lá, por exemplo, no acompanhante do idoso, a desperdiçar as doses.

"O que a gente começou a ver no Brasil? Várias doses desperdiçadas. A gente abriu um espaço muito grande para a judicialização, com a faltaaposta na desportivainstruções claras, e não houve uma informação, um treinamento para as pessoas na salaaposta na desportivavacina sobre o que fazer com os frascos abertos", afirma epidemiologista.

Brasil teria condiçõesaposta na desportivaimunizar 60 milhões por mês

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Gonzalo Vecina Neto avalia que Brasil conseguiria imunizar toda a população maioraposta na desportiva18 anos até julho, se tivesse comprado vacinas antecipadamente, como fez o Chile

Segundo Gonzalo Vecina Neto, que já foi secretário Nacionalaposta na desportivaVigilância Sanitária, se o Brasil tivesse vacina e um planejamento prévio mínimo, o Sistema Únicoaposta na desportivaSaúde teria condiçõesaposta na desportivaimunizar até 60 milhõesaposta na desportivapessoas por mês.

Como existem 159,1 milhõesaposta na desportivabrasileiros com maisaposta na desportiva18 anos, segundo a Pesquisa Nacionalaposta na desportivaSaúde (PNS) 2019, seria possível concluir as duas doses, diz Vecina Neto,aposta na desportivameadosaposta na desportivajulho. Por enquanto, as vacinas contra covid-19 não são administradasaposta na desportivacrianças e adolescentes, por isso o cálculo só considera adultos.

"Temos hoje 38 mil unidades básicasaposta na desportivasaúde com pelo menos uma salaaposta na desportivavacinação com geladeira especializadaaposta na desportivamódulos, que conserva a temperaturasaposta na desportivadois a oito graus. Na pior das hipóteses, se consegue vacinar 10 pessoas por hora", explica Vecina Neto.

"Se vacinarmos 10 pessoas por hora, num diaaposta na desportivatrabalhoaposta na desportivaoito horas, dá 80 vacinas. Então, eu tenho condição teóricaaposta na desportivavacinar 3 milhõesaposta na desportivapessoas por dia útil. Isso para 20 dias úteis, tenho condiçõesaposta na desportivavacinar,aposta na desportivaum mês, sem fazer muito esforço, 60 milhõesaposta na desportivapessoas", calcula.

O Ministério da Saúde diz que reservou mais 364,9 milhõesaposta na desportivadosesaposta na desportivavacinas com o Butatan, a Fiocruz e o consórcio internacional Covax Facility, ligado à Organização Mundial da Saúde. Mas a distribuição desses lotes vai ocorrer ao longo do ano.

"A nossa experiência com a vacina da gripe mostra que temos capacidadeaposta na desportivaimunizar rapidamente. No ano passado,aposta na desportiva2020, vacinamos 80 milhõesaposta na desportivatrês meses. Temos condiçõesaposta na desportivafazer. O que falta? Faltam vacinas", lamenta Gonzalo Vecina Neto.

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