Vacinação contra a covid-19: no ritmo atual, Brasil demoraria maismotion betquatro anos para alcançar imunidademotion betrebanho:motion bet
Mas quais são as metasmotion betvacinação? E como será possível atingir a imunidademotion betrebanho no país?
Vacina como bem coletivo
Por mais que todos pensemosmotion betproteger a própria saúde quando tomamos uma vacina, o efeito dela ultrapassa as barreiras individuais.
Isso porque a imunizaçãomotion betlarga escala permite proteger toda a comunidade, mesmo aquelas pessoas que, por um motivo ou outro, não podem tomar as doses.
Esse fenômeno é conhecido popularmente como imunidademotion betrebanho, embora os cientistas prefiram o termo imunidade coletiva.
De forma simplificada, para cada doença infecciosa prevenível por vacina há uma porcentagem da população que precisa ser protegida para que o vírus ou a bactéria deixemotion betcircular naquele local.
Esse limiarmotion betimunidademotion betrebanho variamotion betacordo com vários fatores, entre eles o quanto aquela enfermidade é contagiosa, a formamotion bettransmissão da doença e a eficácia das vacinas disponíveis.
Vamos a alguns exemplos práticos. Para controlar o sarampomotion betdeterminada região, é necessário que maismotion bet95% das pessoas estejam vacinadas. Já na gripe, essa taxa fica na casa dos 50%.
Em outras palavras, se 95 pessoas são efetivamente vacinadas contra o sarampo, aquelas cinco que não podem tomar suas doses ficam protegidas por tabela, pois o vírus não encontra indivíduos vulneráveis para iniciar cadeiasmotion bettransmissão e um surto local.
E na pandemia atual?
Ainda não se sabe ao certo qual é a porcentagemmotion betvacinação necessária para atingir a imunidademotion betrebanho contra a covid-19.
Atualmente, os cientistas calculam que essa taxa deve ficar entre 70% e 90%.
Em dezembro, o imunologista americano Anthony Fauci, líder da força-tarefamotion betresposta à pandemia nos Estados Unidos, admitiu que será preciso vacinar maismotion bet90% da população para conseguir controlarmotion betvez os númerosmotion betcasos e mortes.
Esses indícios já mostram que a aplicaçãomotion betdoses aprovadas no Brasil precisa ser acelerada com urgência, uma vez que atingimos apenas 0,68% da população, segundo o bancomotion betdados Our World in Data atualizados até 28motion betjaneiro (para efeitos comparativos, Israel, um país pequeno, mas o mais avançado na vacinação até agoramotion betrelação ao tamanhomotion betsua população, já imunizou 4,56 milhõesmotion betpessoas).
Se considerarmos que a campanha começou no Brasil há 12 dias e,motion betacordo com Our World Data, 1,45 milhãomotion betbrasileiros receberam a primeira dose até quinta-feira (28), isso dá uma médiamotion bet120 mil pessoas vacinadas por dia.
Se precisarmos imunizar até 90% da população para eventualmente atingir a imunidade coletiva, no Brasil esse total corresponde a 188,5 milhõesmotion betpessoas vacinadas.
Mas, se continuarmos no ritmo atualmotion bet94 mil doses por dia, demoraremos 1.570 dias (ou pouco maismotion betquatro anos) para atingir o limiarmotion bet90%.
Lembrando que, para a maior parte das vacinas contra o coronavírus (incluindo a CoronaVac e a AstraZeneca, as duas disponíveis aqui até agora) são necessárias duas doses do imunizante.
Exemplo que vem do passado
A epidemiologista Carla Domingues foi coordenadora do Programa Nacionalmotion betImunizações (PNI) do Ministério da Saúde por quase dez anos, entre 2011 e 2019.
De acordo commotion betexperiência, o Brasil tem total capacidademotion betacelerar seu plano e vacinar um número bem maiormotion betpessoas contra a covid-19.
"Nas campanhasmotion betvacinação contra a gripe, que acontecem todos os anos, nós conseguimos imunizar 80 milhõesmotion betbrasileirosmotion betapenas 90 dias", compara.
Domingues acrescenta que o país tem cercamotion bet30 mil profissionaismotion betsaúde contratados para fazer a vacinação.
"Cada um deles consegue atendermotion bet20 a 30 pessoas por dia. Portanto, não é exagero dizer que podemos imunizar 900 mil ou até 1 milhãomotion betindivíduos no país diariamente", pontua.
O PNI também traz ótimas lembrançasmotion betoutras campanhasmotion betimunização que, ao longomotion betanos, foram capazesmotion betcontrolar e até eliminar algumas doenças do país (pelo menos temporariamente), como a poliomielite, a varíola e o sarampo.
Exemplo que vemmotion betfora
Com a aprovação das primeiras vacinas contra a covid-19, Israel logo despontou como o modelomotion betrapidez e eficiência na aplicação das doses.
Com o início da campanhamotion bet19motion betdezembro, o país conseguiumotion betpouco maismotion betum mês proteger metade damotion betpopulação.
Dados divulgados recentemente pelo governo israelense indicam uma queda significativa nas notificaçõesmotion betnovos casosmotion betinfecção e na taxamotion bethospitalização.
É claro que as escalas são incomparáveis: Israel possui um território pequeno, com fronteiras bem controladas e apenas 8,8 milhõesmotion bethabitantes.
Mas a experiência por lá sinaliza que a pandemia pode ser controlada se o planejamento for rápido e bem coordenado.
Outras nações que já avançaram bastante na vacinação são Emirados Árabes Unidos (29% da população vacinada), Reino Unido (11%) e Bahrein (8%).
Situação exige agilidade
Além da vacinação representar a única saída possível (e segura) desta pandemia, é preciso lembrar outro fator que está preocupando os cientistas: a descobertamotion betmutações do coronavírus.
Por ora, as três que chamaram mais atenção foram detectadas no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil, mais precisamentemotion betManaus.
Com a alta circulação da doença, há o riscomotion betaparecerem mutações que diminuem a eficácia das vacinas já testadas e aprovadas.
Por isso, é urgente agir com rapidez para quebrar as cadeiasmotion bettransmissão do coronavírus e evitar que essas novas variantes se espalhem e tomem conta do pedaço.
"Também não sabemos quanto tempomotion betimunidade as vacinas conferem. Pode ser que, no futuro, precisaremos vacinarmotion betnovo os grupos prioritários sem ter dado a primeira dose para todo mundo", antevê o médico virologista Amilcar Tanuri, professor titular da Universidade Federal do Riomotion betJaneiro.
O que acontece na prática?
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que a campanhamotion betvacinação contra a covid-19 no Brasil está sofrendo com falhas nos sistemasmotion betinformação.
"Nas campanhas anteriores, os profissionaismotion betsaúde precisavam apenas transmitir os númerosmotion betvacinadosmotion betcada público-alvo. Ao final do período, eles basicamente passavam às centrais municipais e estaduais informações do tipo 'hoje eu vacinei 50 idosos, 20 indivíduos com doença cardíaca, 10 com doença renal…'", exemplifica Domingues.
Na campanha contra a covid-19, esse processo se tornou bem mais complexo. Agora, é necessário preencher nome, endereço, CPF, número do cartão do SUS, dose da vacina, qual lote ela pertence, o fabricante…
Essa exigência existe porque temos duas vacinas aprovadas no país até o momento: a CoronaVac (Instituto Butantan/Sinovac) e a CoviShield (FioCruz/Universidademotion betOxford/AstraZeneca).
Ambas exigem as duas doses para conferir proteção, mas o tempo entre a primeira e a segunda aplicação é diferente.
A segunda dose da CoronaVac é dadamotion bet14 a 28 dias depois da primeira. Já na CoviShield, esse intervalo sobe para um a três meses.
Outro pontomotion betatenção: um indivíduo deve receber duas doses da mesma vacina. Não dá pra aplicar uma da CoronaVac e depois a outra da CoviShield, por exemplo.
Todas essas recomendações e cuidados exigem, portanto, um tipomotion betcadastro mais completo para que não ocorram confusões. O problema é que esse processo toma muito tempo e está sendo feito na hora da vacinação.
"Sabendo que a campanha iria começar e alguns grupos tomariam a vacina primeiro, o Ministério da Saúde poderia já ter começado a fazer esse cadastro com antecedência lá nos mesesmotion betsetembro ou outubro", lamenta Domingues.
Alémmotion bettodo o trabalho no preenchimento dos dados, técnicos e enfermeiros estão relatando falhas e lentidão do sistema informatizado do Ministério da Saúde.
Em alguns locais sem internet, os profissionais precisam preencher as informações à mão, num papel, para só depois digitar tudo num computador.
Portanto, é possível que o número realmotion betvacinados seja maior do que as estatísticas oficiais apontam.
O outro lado
Procurado pela reportagem da BBC News Brasil, o Ministério da Saúde respondeu por meiomotion betuma nota encaminhada pela assessoriamotion betimprensa.
O ministério informa que o planomotion betvacinação é dinâmico e pode sofrer ajustes necessários nas fasesmotion betdistribuição das vacinas, "considerando a indicaçãomotion betuso apresentada pelo fabricante, o quantitativomotion betdoses entregues e os públicos prioritários já definidos".
Na nota, também fica claro que o cronogramamotion betvacinação e como será feita a convocação dos públicos-alvo depende da disponibilidade das doses da vacina, que são entregues pelas fabricantesmotion betforma gradativa.
"Atualmente o Brasil tem 354 milhõesmotion betdosesmotion betvacinas garantidas para 2021, por meio dos acordos com a Fiocruz (212,4 milhõesmotion betdoses), Butantan (100 milhõesmotion betdoses) e Covax Facility (42,5 milhõesmotion betdoses)."
Se esse número for realmente confirmado (uma vez que a grande maioria dessas doses sequer foi fabricada), essas 354 milhõesmotion betdoses atenderiam até 177 milhõesmotion betbrasileiros.
De acordo com os cálculos feitos pelo ministério, 77 milhõesmotion betbrasileiros fazem parte dos 27 grupos prioritários definidos no planomotion betvacinação contra a covid-19.
Esses grupos são divididos por faixas etárias (acimamotion bet80 anos, entre 75 e 79,motion bet70 a 74 e assim por diante), por condições (indivíduos com diabetes, doenças cardíacas, deficiências…) e por categoria laboral (profissionais da saúde, trabalhadores da educação, forçasmotion betsegurança, funcionários do sistema prisional…).
"Lavajatismo vacinal"
Na opiniãomotion betLotufo, outro fator que tem atrapalhado o andamento da campanhamotion betvacinação contra a covid-19 é o excessomotion betpolêmicas com as pessoas que aproveitam cargos e posiçõesmotion betprestígio para tomarem suas doses mesmo quando não fazem parte dos grupos prioritários.
Em algumas cidades, como Manaus, a vacinação chegou a ser paralisada para que fossem apurados desvios e o "sumiço"motion betdoses.
"Estamos acompanhando uma espécie lavajatismo vacinal,motion betque se presta mais atenção nos casos dos fura-filas, que logicamente estão errados, do que no problema sistêmico da faltamotion betdados emotion betinformações das secretarias estaduais e municipaismotion betsaúde", diz.
O epidemiologista faz alusão à Operação Lava-Jato, o conjuntomotion betinvestigaçõesmotion betcorrupção da Polícia Federal que culminou na prisãomotion betpolíticos e empresários e contou com ampla cobertura da imprensa nos últimos anos.
"Muitos secretáriosmotion betSaúde só sabem tirar fotos. Eles precisam ser cobrados sobre o que estão fazendo para que mais pessoas sejam vacinadas logo", opina.
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