Como a escravidão atrasou o processoodibet freebetindustrialização do Brasil:odibet freebet

Crédito, Johann Moritz Rugendas/Slavery Images

Legenda da foto, Escravizados urbanos coletando água no Brasil da décadaodibet freebet1830. Para pesquisadores, escravidão atrasou desenvolvimento do país

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Legenda da foto, Adultos escravizados recém-chegados da África sendo desembarcadosodibet freebetum porto brasileiro. Entre os séculos 16 e 19, cercaodibet freebet4,9 milhõesodibet freebetafricanos desembarcaram no país

O tráficoodibet freebetafricanos começou no Nordeste do país na décadaodibet freebet1560, com os cativos sendo empregados inicialmenteodibet freebetgrandes plantaçõesodibet freebetcana-de-açúcar nos entornosodibet freebetRecife e Salvador. Na décadaodibet freebet1590, a chegadaodibet freebetescravizados aos portos da Bahia eodibet freebetPernambuco eraodibet freebetalgumas centenas ao ano. Antes da proibição do tráfico pela Lei Eusébioodibet freebetQueirós,odibet freebet1850, esse número chegou a maisodibet freebet8 mil por ano.

O Sudeste se tornou um destino relevante para escravizados no século 18, durante a corrida do ouroodibet freebetMinas Gerais. A maioria dos africanos chegou à região através do Rioodibet freebetJaneiro, que se tornou o maior portoodibet freebetescravizados do mundo. Os desembarquesodibet freebetcativos ali chegaram a 25 mil por ano entre 1801 e 1850, com os escravizados sendo direcionados também à produçãoodibet freebetcafé nos estados do Rioodibet freebetJaneiro e São Paulo.

Números do início do século 19 sugerem que a populaçãoodibet freebetescravizados no Brasil chegou a cercaodibet freebet1 milhãoodibet freebetpessoas, num país com uma populaçãoodibet freebet3,5 milhões.

O país também foi o último do Ocidente a abolir a escravidão,odibet freebet1888, depoisodibet freebettodos os vizinhos sul-americanos e caribenhos e dos Estados Unidos (1863).

Um debate que vemodibet freebetdécadas

"Nosso objetivo é contribuir para um debate amplo que é qual é o papel da escravidão no desenvolvimento econômicoodibet freebetlongo prazo", diz Thales Pereira, professor da EESP-FGV (Escolaodibet freebetEconomiaodibet freebetSão Paulo da Fundação Getulio Vargas).

Pereira é um dos coautores do estudo, junto a Nuno Palma, Andrea Papadia e Leonardo Weller. Palma é professor na Universidadeodibet freebetManchester, no Reino Unido; Papadia é pesquisador na Universidadeodibet freebetBonn, na Alemanha; e Weller é professor da EESP-FGV. O artigo foi apresentado como texto para discussão pela Universidadeodibet freebetWarwick, no Reino Unido, e os autores esperamodibet freebetpublicaçãoodibet freebetperiódico acadêmico ainda este ano.

Crédito, Maria Graham/Slavery Images

Legenda da foto, Africanosodibet freebetum mercadoodibet freebetescravizadosodibet freebetPernambuco. Debate sobre papel da escravidão no desenvolvimento econômico começou na décadaodibet freebet1940, com o historiador Eric Williams

Segundo Pereira, esse debate começa na décadaodibet freebet1940, com o historiador Eric Williams, que discute o papel da escravidão no Caribe para a revolução industrial inglesa.

Nos últimos dez anos, ganhou força uma nova literatura sobre o tema, parte da chamada "Nova História do Capitalismo", produzida por um grupoodibet freebethistoriadores americanos, que busca analisar o papel da escravidão para o desenvolvimento dos Estados Unidos.

Para esses autores, como Edward Baptist e Sven Beckert, a industrialização dos EUA estaria ligada ao acesso a algodão barato, fruto da exploração violenta dos escravizados. "É uma visãoodibet freebetcrescimento econômicoodibet freebetque o desenvolvimento vem da exploração", avalia Pereira.

Segundo ele, apesar da interpretação desses autores ser considerada por muitos pesquisadores como extremamente falha e baseadaodibet freebetpremissas equivocadas, essa visão ganhou espaço no senso comum, daí a importânciaodibet freebettestar essas hipóteses a partirodibet freebetdados concretos da realidade.

No Brasil, produçãoodibet freebetalgodão com e sem escravizados

O Brasil ofereceu aos pesquisadores uma ótima oportunidade para esses testes. Isso porque, por aqui, houve um aumento repentino da produçãoodibet freebetalgodão a partir da décadaodibet freebet1860,odibet freebetresposta à paralisação das lavouras americanasodibet freebetmeio à Guerra Civil daquele país.

Além disso, no Brasil, houve uma situação peculiar: duas províncias vizinhas, Maranhão e Ceará, passaram por esse forte crescimento na produçãoodibet freebetalgodão, mas uma delas tinha praticamente só trabalho escravo e a outra, somente trabalho livre.

Assim, pela hipótese da "Nova História do Capitalismo", a produção do Maranhão deveria ter crescido mais do que aquela do Ceará. Mas não é isso que os pesquisadores encontram, ao analisar dados dos ministérios da Fazenda e da Agricultura do século 19.

"Na verdade, marginalmente, a produtividade do Ceará aumentou mais do que a do Maranhão", diz Pereira, acrescentando que isso descarta a hipóteseodibet freebetEdward Baptistodibet freebetque seria a violência contra os escravos a causa do aumentoodibet freebetprodutividade nas lavourasodibet freebetalgodão.

Por aqui, afirmam os pesquisadores, com baseodibet freebetregistros históricos, o fator determinante nesse ganhoodibet freebetprodutividade foi o usoodibet freebetnovas sementes, importadas dos Estados Unidos, e a adoçãoodibet freebettecnologias inovadoras.

Escravidão e industrialização

Outra hipótese que pôde ser testada na realidade brasileira é a que relaciona a escravidão e o avanço da industrialização.

Para isso, os pesquisadores usaram dados do Censo nacionalodibet freebetantesodibet freebetdepois da Abolição, mais precisamente,odibet freebet1872 e 1920. E compararam dados municipais dos Estadosodibet freebetSão Paulo e do Rioodibet freebetJaneiro (excluída a capital fluminense, cuja realidade era muito peculiar, pelo fatoodibet freebeta cidade ter sido a capital do país entre 1763 e 1960).

Crédito, Jean Baptiste Debret/Slavery Images

Legenda da foto, Vendedorasodibet freebetAngu. Regiões com presençaodibet freebetescravizados afastavam imigrantes e o trabalho livreodibet freebetmaneira geral

"Testamos se áreas que tinham maior presençaodibet freebetescravos, no Censoodibet freebet1872, que foi o primeiro Censo nacional brasileiro, tinham mais indústrias no início do século 20", explica Pereira. "Levamosodibet freebetconta um monteodibet freebetcontroles para analisar isso."

Entre os controles utilizados estão a parcelaodibet freebettrabalhadores ocupados na agricultura, a presençaodibet freebetimigrantes, o grauodibet freebetalfabetização, se os municípios eram produtores antigos ou tardiosodibet freebetcafé, se havia presença ou nãoodibet freebetestaçãoodibet freebettrem, a distânciaodibet freebetrelação ao porto mais próximo e a desigualdade na posseodibet freebetterras.

"O que encontramos é que há uma forte correlação entre industrialização e capital humano. Tanto regiões onde os brasileiros são mais alfabetizados, quanto regiões que têm imigrantes — que à época tinham mais acesso à alfabetização —, têm mais industrialização", diz Pereira.

"Mas o que encontramosodibet freebetinteressante é que esse efeito só aparece após a abolição da escravidão. Ou seja, regiões com mais alfabetização e mais imigrantesodibet freebet1872 não têm mais indústria. Mas, onde esses fatores estão presentesodibet freebet1872, aparece a indústriaodibet freebet1920."

"Isso é o que a literatura, à exceção da 'Nova História do Capitalismo', já discutia há muito tempo: que o potencial produtivo do país era limitado pela escravidão. Então, com o fim dela, houve um melhor uso dos recursos humanos na sociedade."

'Escravidão foi um desastre e atrasou o país'

Segundo o pesquisador, a presençaodibet freebetescravizados afastava os imigrantes e o trabalho livreodibet freebetmaneira geral. Além disso,odibet freebetregiões onde havia muitos escravos, não havia incentivo municipal para a aberturaodibet freebetescolas para alfabetizar a população.

Crédito, Maria Graham/Slavery Images

Legenda da foto, Crianças e adultos escravizadosodibet freebetmercado do Rioodibet freebetJaneiro. 'Escravidão gerou riqueza para alguns, mas não gerou crescimento econômico para a sociedade', diz pesquisador

O professor da FGV diz que há evidênciasodibet freebetque houve escravizados trabalhando na manufatura e na indústria têxtil, por exemplo. Mas que havia limites para a expansão dessa industrialização, pela faltaodibet freebetum mercado consumidor, já que esses trabalhadores não recebiam salários. Além disso, não havia estímulo para empregar escravizados na manufatura, porque o retorno deles na agricultura era maior.

"Resultados como os nossos, apesarodibet freebetnão serem conclusivos, ajudam a dissipar essa ideia, que vai e volta na literatura,odibet freebetque crescimento econômico ocorre simplesmente por exploração", diz Pereira.

"Tentamos retomar a literatura que diz que isso não é verdade. A escravidão foi um desastre, um horror. Ela gerou riqueza para alguns, mas não gerou crescimento econômico para a sociedade."

"Ela não teve um efeito positivo 'oculto' como sugere a 'Nova História do Capitalismo'. Ela era indefensável. Mas por que a escravidão durou tanto? Porque ela era lucrativa para as pessoas que eram donasodibet freebetescravos. Mas isso atrasou o país."

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