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PerifAnálise: psicanalistas periféricos querem que profissão deixeflamengo e coritiba palpiteser coisaflamengo e coritiba palpiteelite:flamengo e coritiba palpite
Criado às vésperas das eleiçõesflamengo e coritiba palpite2018, diante das inquietações dos psicanalistas com os efeitos sobre a periferia da ascensão do que consideram um "discurso racista, machista e homofóbico crescente", o coletivo começou com três pessoas e um grupoflamengo e coritiba palpiteestudos.
Atualmente, a PerifAnálise já conta com oito membros e, desde 2019, oferece atendimento clínico aos moradores da periferia.
Criado por mulheres,flamengo e coritiba palpiteresposta a retrocessos
"A PerifAnálise surgiu num momentoflamengo e coritiba palpitecrise política, justamente porque um grupoflamengo e coritiba palpitemulheres, por trabalhar na periferia e no serviço da assistência, se sentiu muito provocado e atravessado pelo contextoflamengo e coritiba palpiteretrocessos que estava se apresentando ali, às vésperas das eleiçõesflamengo e coritiba palpite2018", conta Paula, que começou a iniciativa com Rosimeire e mais uma colega, que haviam trabalhado juntas com medidas socioeducativasflamengo e coritiba palpitemeio aberto.
"Fomos pensandoflamengo e coritiba palpitefazer algo com isso, que estava nos provocando, nos inquietando e angustiando, porque sabíamos que isso poderia produzir muito mais precarização do que aquilo que já víamos acontecendo na periferia. As tantas dificuldades que nós, como estudantes, como trabalhadores, enfrentamos nas regiões periféricas", completa.
O grupo começou estudando O Mal-estar na Civilização, livroflamengo e coritiba palpite1930 do pai da psicanálise, Sigmund Freud.
Enquanto isso, no centroflamengo e coritiba palpiteSão Paulo, avançava o movimento das Clínicas Públicasflamengo e coritiba palpitePsicanálise, que visavam democratizar a prática, oferecendo atendimento gratuitoflamengo e coritiba palpiteespaços públicos, como o centro cultural Vila Itororó, a Casa do Povo e a Praça Roosevelt, respectivamente nos bairros centrais do Bixiga, Bom Retiro e República.
"A gente começou a pensar: e a periferia?", conta Meire, como Rosimeire é mais conhecida.
Favela Galeria
Com Jefferson já agregado ao grupo, agora com quatro pessoas, eles passaram a pensarflamengo e coritiba palpitecomo adaptar a experiência das Clínicas Públicasflamengo e coritiba palpitePsicanálise à realidade periférica.
"A primeira coisa que nos demos conta é que, se no centro as ruas e praças estão sendo ocupadas via psicanálise, na periferia, é sobre outra coisa", diz Meire. "A periferia já ocupa bastante a rua. As casas são pequenas,flamengo e coritiba palpitegeral não têm quintal, então as pessoas já ocupam bastante o espaço público."
Em buscaflamengo e coritiba palpiteum lugarflamengo e coritiba palpiteque os moradores pudessem ter uma experiência clínica um pouco mais reservada, o coletivo encontrou o espaço cultural Favela Galeria, na Vila Flavia, comunidadeflamengo e coritiba palpiteSão Mateus que é parte da história do movimento rap e do grafitti na Zona Leste.
"Começou com as pessoas dizendo, dentro mesmo da galeria, que estava rolando PerifAnálise. O famoso 'boca a boca', fazendo a palavra circular. Depois, apostamos na rede social, no Instagram", conta Meire.
"Quando passamos a dizer: estamos aqui, venham, eles começaram a vir. E com isso, vieram as mais diversas histórias, as mais diversas vivências e estamos aí, desde então, podendo escutá-los."
Ser psicanalista na periferia
Questionada sobre qual é o objetivo do grupo, Meire responde na lata.
"É ser psicanalista na periferia. É isso que me vem à cabeça. É ser psicanalista na periferia e que as pessoas possam vivenciar a experiência da clínica psicanalítica, caso elas queiram."
Sobre a mesma questão, Jefferson elabora um pouco mais.
"Na minha perspectiva, para alémflamengo e coritiba palpiteser um analista na periferia, o objetivo é também que esse seja um ofício comum. Quando fui convidado pela Paula e pela Meire para compor o PerifAnálise, eu estava estudando no Sedes, estava estudando no AMMA Psique e Negritude, ambos no Sumaré. E a minha analista éflamengo e coritiba palpitePinheiros", conta Jefferson.
"Ou seja, eu gastava aíflamengo e coritiba palpiteseis a oito horasflamengo e coritiba palpitetransporte para poder me locomover para fazer essa formação. Para mim, o interesse é que tenha isso do ladoflamengo e coritiba palpitecasa. E que o lado da minha casa não seja no centro."
Atualmente, a PerifAnálise é formada por seis psicanalistas e duas pessoas no início da formaçãoflamengo e coritiba palpitepsicanálise.
A iniciativa, porém, é alvoflamengo e coritiba palpitequestionamentosflamengo e coritiba palpiteoutros profissionais da área.
"Muitas vezes somos questionados 'Isso que vocês fazem é psicanálise?' E essa pergunta revela o caráter elitista que ela tem. Porque parece que sai da mãoflamengo e coritiba palpitealguns e vai para a mãoflamengo e coritiba palpiteoutros e isso incomoda. E esse incômodo, sabemosflamengo e coritiba palpiteonde vem. Éflamengo e coritiba palpitedescentralizar ela,flamengo e coritiba palpitetornar ela popular", completa Jefferson.
Reparação histórica no Sedes
O psicanalista também é parte agoraflamengo e coritiba palpiteum grupoflamengo e coritiba palpitetrabalho sobre relações raciais no Instituto Sedes Sapientiae, chamado Grupo A Cor do Mal-Estar.
"Estamos pensando como estruturar políticasflamengo e coritiba palpiterestauração histórica no Sedes", conta Jefferson, lembrando que o instituto, criadoflamengo e coritiba palpite1977, teve um papel relevante na resistência à ditadura militar no Brasil, acolhendo perseguidos, organizando reuniões e oferecendo apoio psicológico aos afetados pelo governo autoritário.
"Mesmo tendo feito frente política à ditadura, os novos contornos vão explicitando que existem hoje outras frentesflamengo e coritiba palpiteluta e política que o Sedes está tendo um ponto cego", diz o analista.
Ele conta que estãoflamengo e coritiba palpiteestudo pelo grupoflamengo e coritiba palpitetrabalho principalmente políticasflamengo e coritiba palpitecotas.
"É uma estruturaçãoflamengo e coritiba palpitereparação histórica. Então é cota para alunos, professores negros, coordenadores, um corpo docente e discente mais diversos. O conteúdo versando com as relações raciais. Não é somente dar oportunidade a quem nunca teve ou quem foi excluído dessa lógica. Mas reestruturar a lógicaflamengo e coritiba palpitese pensar."
A questão do dinheiro
Outra diferença da PerifAnálise com relação às Clínicas Públicasflamengo e coritiba palpitePsicanálise do centroflamengo e coritiba palpiteSão Paulo diz respeito à relação com dinheiro.
"As pessoas pagam, pagam direto para seus psicanalistas, os valores possíveisflamengo e coritiba palpitecombinados com os analistas", diz Meire.
"Quando começamos a PerifAnálise, num primeiro momento, o que nos veio à cabeça é que as pessoas da periferia poderiam não ter condições para arcar com o pagamento, justamente por serem pobres", conta Paula.
"Vamos fazendo esse percurso na clínica, e essa ideia se desfaz. Claro, têm pessoas que nós atendemos queflamengo e coritiba palpitefato não podem pagar. Mas têm pessoas que podem e, mais do que isso, elas querem pagar. Elas fazem questãoflamengo e coritiba palpitepagar. Então isso é algo que a gente vai tratando muito no caso a caso."
Chegada da pandemia e migração para o online
Com a chegada da pandemia, a PerifAnálise migrou seus atendimentos para o online, atravésflamengo e coritiba palpitevideochamadas ou chamadasflamengo e coritiba palpiteáudio.
Com a mudança, as precariedadesflamengo e coritiba palpiteviverflamengo e coritiba palpiteum bairro periférico se fizeram presentes, na conexãoflamengo e coritiba palpiteinternet instável, dificuldades para as pessoas terem privacidade no atendimentoflamengo e coritiba palpitecasas com poucos cômodos e muitos moradores, e faltaflamengo e coritiba palpitedinheiro, que levou alguns analisandos que faziam questãoflamengo e coritiba palpitepagar a desistiremflamengo e coritiba palpitedar continuidade ao atendimento.
"Enquanto estávamos dentro da Favela Galeria, havia muitos ruídos lá também. A gente estava dentroflamengo e coritiba palpiteuma comunidade, onde passava o carro do ovo, o carro tocando funk. Chegamos a fazer as sessõesflamengo e coritiba palpiteanálise tendo gravaçãoflamengo e coritiba palpiteclipes dentro da Favela Galeria. Tendo circulaçãoflamengo e coritiba palpitepessoas fazendo visitação", conta Paula.
"E é muito interessante porque, na maioria das vezes, isso não impediu que o analisante continuasse falando. E eu acho que isso é muito semelhante a esses ruídosflamengo e coritiba palpiteconexão que a gente vai tendo com a internet."
Jefferson destaca que a análise parteflamengo e coritiba palpiteum desejo.
"O desejoflamengo e coritiba palpiteser analisado,flamengo e coritiba palpiteser analista,flamengo e coritiba palpiteser analisante. É um investimento libidinal que o sujeito faz para poder acontecer", diz o psicanalista.
"Muitas vezes a internet está caindo, ele vai e compra um pacoteflamengo e coritiba palpitedados, vai para um ambiente melhor na casa. Muitas vezes não tem a privacidade necessária ou a que ele gostaria, ele vai para dentro do carro, para a portaflamengo e coritiba palpitecasa, para a praça da rua. A periferia vai entrando no cenário da análise pessoal daquele sujeito."
Os membros do coletivo contam ainda que a migração para o online trouxe novas possibilidades, com a entrada para o grupoflamengo e coritiba palpitepessoas que não sãoflamengo e coritiba palpiteSão Mateus e a viabilidadeflamengo e coritiba palpiteatender pacientesflamengo e coritiba palpiteoutros bairros e atéflamengo e coritiba palpiteperiferiasflamengo e coritiba palpiteoutras cidades.
Pandemia não é uma preocupação central
Eles destacam, porém, que a pandemia não aparece como uma preocupação centralflamengo e coritiba palpiteseus analisantes, mas como um panoflamengo e coritiba palpitefundo para outras inquietações e para as dificuldades financeiras impostas pela nova realidade.
"Nas minhas experiências clínicas, o medoflamengo e coritiba palpitese contaminar não apareceu", conta Meire.
"Uma falaflamengo e coritiba palpiteuma analisante me marcou muito, porque ela trabalhava no metrô vendendo bala e ela deu uma parada na pandemia. Depois, precisou retomar e passou a perceber sintomas. Aí a preocupação dela era poder fazer o isolamento, poder ficarflamengo e coritiba palpitecasa e não levar o vírus a outras pessoas."
"Como a pandemia vai surgindo na minha clínica, é como ela vai atrapalhando essa questão econômica mesmo. De as pessoas não poderem ir trabalhar", conta Jefferson.
"Por exemplo, quando eu atendo o público direcionado à vida artística. Para esses atendidos, a arte vai ali naflamengo e coritiba palpitepulsãoflamengo e coritiba palpitevida. Não é somente o seu valor econômico, mas tudo o que se moveflamengo e coritiba palpitetorno disso. E ficar dentroflamengo e coritiba palpitecasa, ficar isolado, acaba sendo um sofrimento porque ele não tem a possiblidadeflamengo e coritiba palpiteexercer o seu ofício."
Periferia já vivia uma pandemia antes do coronavírus
Para Paula, a periferia "já vivia uma pandemia" antes da chegada do coronavírus.
"Seja na precarização, seja no sucateamento dos serviços públicos que a periferia muitas vezes não consegue acessar, seja por suas vivências na favela. Pelas suas vivências no crime, nas ações truculentas da polícia, na relaçãoflamengo e coritiba palpiteviolência doméstica", cita a psicanalista.
"As pessoas já estão habituadas com esse sofrimento, o sofrimento da faltaflamengo e coritiba palpiterecursos, da falta do trabalho, da falta do dinheiro. Ou seja, existe uma angústia presente que, claro, a pandemia atualizou."
"A pandemia vem trazer do que? Uma ameaçaflamengo e coritiba palpitefinitude. De morte. Que, para a periferia, tem outros desdobramentos, porque ela convive muito na linhaflamengo e coritiba palpitepulsãoflamengo e coritiba palpitemorte", afirma Paula, citando termo psicanalítico introduzido por Freud.
"Acho que essa é uma das coisas mais importantesflamengo e coritiba palpitefalar, porque ainda hoje vejo muita gente criticando que na periferia ninguém usa máscara. E isso também é uma realidade."
"Na assistência social, a gente faz as visitas domiciliares para as famílias e quando entra dentro das periferias, realmente, ninguém usa máscara. Isso também diz um pouco disso. Que essa periferia já vivia uma pandemia. Principalmente os pretos. O povo preto já vivia muito mais essa pandemia."
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